Gabeira

Há muitos anos, um amigo — eu tinha 18 e ele uns 40 — me contou um episódio interessante de sua vida.

Rio de Janeiro, 1968. Num bar, um amigo o convida para uma ação revolucionária: seqüestrar um determinado embaixador.

Esse meu amigo olha para o grupo e solta: “O quê? Esses malucos e aquele viadinho ali, seqüestrando um embaixador? Esqueçam meu nome.”

O nome do “viadinho” era Fernando Gabeira.

Os anos passaram e esse amigo meu morreu, por excesso de uísque e de cocaína, mas principalmente por excesso de angústia, desconfio. E esse tempo serviu para ir me acostumando aos poucos ao Gabeira.

O Gabeira que conheci era aquele “viadinho” de tanguinha de crochê, que voltou do exílio com umas conversas esquisitas; aquele a quem me acostumei era o defensor do cânhamo e de outras bobagens de importância nula no Congresso Nacional, o ponta de lança de todos os babacas do país. Não era alguém que eu, definitivamente, respeitasse. Hay que endurecerse — e o resto frase não importava.

Mas como dizia Collor, devidamente citado no discurso de Gabeira de anteontem, “o tempo é senhor da razão”.

A dignidade que o Gabeira demonstrou ao sair do PT, simplesmente por discordar dos caminhos que o governo está seguindo, é praticamente o contrário da postura barulhenta dos Babás e Genros da vida. E sem deixar de respeitar seus ideais e sua história com uma elegância e uma coerência que não se viu entre os radicais livres. Mais que isso, dá à sua trajetória uma força que, até agora, eu não reconhecia.

Eu, pessoalmente, não faço nenhum reparo ao discurso de saída de Gabeira. E agora, ao ver que aquele sujeito é muito mais do que eu pensava, tenho a certeza de que o “viadinho” que embarcou naquela aventura em 1968 se tornou um homem. Um grande homem.

8 thoughts on “Gabeira

  1. E se ele te ouvir falando de radicais livres, vai estremecer… são os radicais livres que envelhecem a pele e provocam rugas… CRUZES!

  2. É isso aí-na mosca! Faço minhas as suas palavras. O Gabeira realmente nos surpreendeu!

  3. Ele é ótimo quer legalizar também a prostituição. Muito legal! Quero pedir à ele que legalize também o roubo e o assassinato.

  4. E agora, ao ver que aquele sujeito é muito mais do que eu pensava, tenho a certeza de que o “viadinho” que embarcou naquela aventura em 1968 se tornou um viado. Um grande viado.

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