Eu não sei nada sobre leis

Mas se não me engano, qualquer pessoa pode comentar fatos. E qualquer pessoa pode relatar sua experiência pessoal desde que não impedida por ordem judicial.

Foi baseado nessa presunção que o frouxo aqui tomou coragem para comentar o absurdo que vem acontecendo aqui na última fronteira.

Um grupo de advogados e relações públicas está correndo a Internet em busca de possíveis alvos de achaque infrações dos direitos autorais de seus clientes.

Acharam o Amarula com Sucrilhos. A empresa que fabrica o licor mandou um e-mail para ela pedindo para parar de usar sua marca no blog. A Cora Rónai já declarou que não bebe mais aquilo.

Acharam o Cris Dias. Um relações públicas mandou para ele um e-mail cheio de erros ortográficos bisonhos, exigindo que retirasse determinado post do ar. Bastou o Cris Dias falar grosso que já foram amaciando.

Nos Estados Unidos isso tem um nome bonito, racketeering. Aqui é só ameaça, e deve ser tratada como tal.

Acharam o Edney do Interney. Ali o nível de ameaça desceu ao mesmo das utilizadas por traficantes e outros bandidos sem curso universitário. O pessoal da Dow Right utilizou a “Técnica Don Corleone de Persuasão Aplicada”:

“Meu irmão eu só quero que vc tire algumas informações de seu site que estão nos prejudicando, se vc não quiser discutir esse assunto perante um Juiz, FUI CLARO.”

Na verdade o que a está prejudicando são as suas práticas, de acordo com a revista Você S. A e com a TV Bandeirantes. Mas isso não é problema deste blog, é problema deles com a mídia e com a justiça. Isso aqui é só um comentário sobre fatos de domínio público — ressalto isso para mais tarde não ter que discutir com um advogado da Dow Right ou de qualquer outra empresa. Mas fico pensando se a Dow Right não perdeu alguns futuros clientes com isso.

Exemplo da extrema inteligência com que se portaram foi o fato de, do dia para a noite, o Interney se tornar ponto de encontro de pessoas que se consideram lesadas pela Dow Right. Fizeram questão de dar seus depoimentos, dizendo como teriam sido iludidos e enganados pela Dow Right e — em menor número — outras empresas de RH. O adjetivo mais bonito que deram à Dow Right foi o de estelionatários; e ofereceram sua solidariedade e ajuda jurídica. Foi exemplo cabal de marketing negativo.

Eu não sei nada sobre leis; não porque goste da ignorância, ainda mais quando não posso alegar seu desconhecimento, mas porque carrego traumas da faculdade que me fizeram desprezar e generalizar (às vezes injustamente) advogados como seres de parca inteligência e menor senso de ética. Infelizmente ainda lembro de algumas, e recomendaria que os advogados dessem uma olhada nelas antes de saírem ameaçando as pessoas por aí: título II, capítulo I, art. 5º, incisos IV e IX e título VIII, capítulo V, art. 220, parágrafo 1o da Constituição Federal; lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967; e lei n nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

No seu lugar, eu faria isso antes de dar incertas na internet como justiceiro sem razão.

One thought on “Eu não sei nada sobre leis

  1. Em 2003, eu quase caí no golpe desses caras. Para me vingar, escrevi um romance que se chama “A Noite da Caça”. É a história de um homem que caiu no golpe e resolve se vingar, fazendo a consultora que o enganou de refém. O livro está sendo lançado esta semana pela Editora Rocco. Enfim, dei meu troco e ainda ganhei um dinheiro com isso. Devo ser um dos raros casos de alguém que conseguiu se dar bem por causa desses estelionatários! Se você quiser conferir o livro…
    abç,
    Cláudia Mattos

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