O que terá acontecido à Reader’s Digest?

De repente, o destino da Reader’s Digest me incomodou tanto que resolvi parar numa banca de revistas para dar uma olhada nela.

Ela se diz, em 2004, a revista mensal de maior circulação no Brasil, mas não conheço ninguém que ainda a leia.

Era diferente nos anos 70.

Eram tempos de guerra fria, e a Reader’s Digest — ou Seleções, como a chamavam —, mais que revista, era um instrumento de propaganda americana. Na minha casa ela nunca entrou, mas havia várias na casa de minha avó. Não sei de que ano eram, mas não deviam ser novas.

Eu gostava da revista. Gostava do formato dela, e principalmente do conteúdo. Sempre havia uma matéria de interesse humano, e várias seções fixas que me deixavam interessado. Por exemplo, foi nela que fiquei conhecendo os pilotos da RAF na II Guerra Mundial. E talvez tenha sido nela que vi a tal menção a Schliemann, que citei num post antigo sobre Tróia; não tenho certeza, é só uma impressão que me veio agora. De forma torta e tendenciosa, havia um certo cosmopolitismo na Reader’s Digest.

E assim paro na banca querendo saber o que foi feito dela. Dou uma olhada no índice. Para meu alívio, as sessões de que eu gostava continuam lá: “Piadas da Caserna”, “Ossos do Ofício”, “Rir é o Melhor Remédio”. Provavelmente as frases construtivas estão lá também (mas hoje eu prefiro as que estão no canto superior direito do Tiro e Queda).

Fora isso, a revista mudou muito. Agora é uma revista claramente dirigida a pessoas de meia idade, quando não da terceira; é o que justifica tantas matérias sobre saúde. Pelo que pude perceber, também, é a rainha do marketing direto.

Sem a necessidade de vender o american way of life, a revista se tornou uma entre tantas, indistinta e insossa. Nos tempos da guerra fria era melhor.

8 thoughts on “O que terá acontecido à Reader’s Digest?

  1. Não só lia como continuo lendo.
    Apenas um comentário, Rasti: a Reader´s Digest realmente deixou de ser uma leitura apropriada para todas as faixas etárias, até porque o mercado editorial evoluiu (ou regrediu) e segmentou-se. Contudo, creio que a estratégia de dirigir-se às pessoas de meia-idade e da terceira idade não seja completamente equivocada, pelo menos no curto prazo. Observe que não há, no Brasil, praticamente nada voltado para esse público. (Escrevi isso num post de 03/04/2004). A maior parte dos jovens de hoje não têm nível intelectual para acompanhar a Reader´s Digest.
    Boa parte das famílias estruturadas continuam apreciando a Reader´s Digest – e a iniciativa de trazê-la para casa vem dos pais e mães. Os filhos acabam lendo… é o meu caso. Provavelmente, daqui a 20 anos, será uma revista que eu também apreciarei bastante – se continuar com essa linha editorial.

  2. A revista Seleções é sim um meio, ainda que disfarçado da propaganda americana. Mas percebe-se nela um certo cosmopolitismo.
    Se é revista para meia-idade ou terceira idade, não é por culpa dela, mas por conta do baixo nível de boa parte do pessoal mais jovem, que, em sua maioria, não parece muito afeito a leituras. Assim como também não sabe apreciar um bom cinema, uma boa comida, uma boa música.
    Eu diria que é uma versão “Cultura Geral” da National Geographic.

    Quanto ao marketing direto agressivo, isso é uma característica americana. E parece ter que ser realmente assim, pois a concorrência com publicações de apelo mais popular é muito forte.

  3. EU NAO SEI OQUE E URL MAIS QUERO DIZER QUE FUI UMA PESSOA QUE COMPREI MUITOS PRODUTOS DA READER` DIGEST E SEMPRE LI OS LIVROS SELEÇOES TEM MUITOS DELES QUARDADOS EU GOSTO MUITO DA LEITURA E DE TUDO DESTES LIVROS EU GOSTARIA DE SABER COMO EU ADIQUIRO DENOVO OS PRODUTOS DELA OIS TENHO VARIS PRODUTOS E GOSTARIA DE COMPRAR UMAS FITAS QUE EU TINHA MAIS ESTRAGARAM COM O TEMPO
    ME ENFORME POR FAVOR O PARADEIRO DA RIDER`S DIGEST

  4. OI, Galvão (perdõe a intimidade). Engraçado é que ao iniciar a leitura do teu texto, achei que você ia dar uma de anti-americano, o que em absoluto me incomoda, mas tão somente por perceber (equivocadamente) uma sutil intenção de isentar-se, dizer-se “anti”. A impressão me veio do seguinte trecho “”e a Reader’s Digest — ou Seleções, como a chamavam –, mais que revista, era um instrumento de propaganda americana. Na minha casa ela nunca entrou, mas havia várias na casa de minha avó.”” Mas não é o caso e não estou participando por isso. Gostei da tua matéria. Ela me trouxe lembranças gostosas. Comprei muitas, li muito. Tenho ainda alguns exemplares espalhados pelos cantos da casa, entre as minhas tralhas e de vez em quando, a título de faxina, a mulher grita lá de onde estiver: “Pai, posso jogar essas revistas velhas fora?”. Como eu já sei do que se trata, respondo imediatamente: “NÃO!” Juro, nunca liguei para esse chavão de propaganda americana e a carga pejorativa que traz sobre os americanos quererem fazer a cabeça do mundo. Isso não me incomoda, pois percebi muito cedo a sutileza e intuitivamente, teci a minha própria impressão sobre eles, que não destoa, ainda bem, da maioria das pessoas de bom senso, pelo menos as da minha faixa etária (63). Mas, voltando ao que interessa, afora as sessões que tu citaste, as outras lembranças, digo, entre os artigos comprados na mocidade, através “dela” e que até hoje guardo com muito carinho (e ciúme), estão uma coleção de bons livros (best sellers, clássicos da literatura mundial) e duas coleções de músicas clássicas em discos de vinil, estes comprados em 1970. Uma só de Tchaikoviski e a outra de variados autores, onde descobri, para meu deleite, a mais linda versão de Cavalleria Rusticana, de Mascagni (Pietro), que ouço a todo volume e que me leva ao enlevo. Só este detalhe me faz sentir que comecei bem o dia de hoje. Obrigado por me proporcionar isto (se você me permite, vou ouvi-la mais uma vez, em tua homenagem). Um Bom Dia!

  5. Eu lia, mas só até eu começar a receber prêmios indignos de duzentos mil reais a torto e a direito. Aí eu apelei e exigi que aumentassem o prêmio, porque duzentos mil eram muito pouco. Foi quando parei definitivamente de receber as revistas em casa. Estranho…

  6. Eu sou uma das que ainda lê. Conheci na casa do meu avô, que tinha uma coleção gigante, foi uma das minhas primeiras leituras. Gostava tanto qto de gibis.
    Tem muitas sessões ótimas, fora essas clássicas que vc mecionou, há umas novas bem legais, vc não tem comprado mais não?
    Só não assino de raiva, ficaria mais barato do que comprar. É meu protesto silencioso contra as muitas cartas e agora, emails, que recebo, dizendo que pertenço aos o,3% de felizardos da minha região que podem ganhar aqueles super-prêmio. Todo ano recebo, será que eles não cansam?

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