Pequenos pensamentos malévolos

Em Aracaju não são permitidos motéis no perímetro urbano.

Mas como a necessidade de saliência não diminui de acordo com a vontade (correta, nesse caso) dos legisladores, o jeito são as pousadas mais permissivas. Muitas são iguaizinhas a qualquer motel, indevassáveis com portões de entrada e saída.

Uma dessas pousadas fica bem em frente a um terminal de integração de ônibus, na praia de Atalaia.

Os rostos cansados e expressões carregadas daqueles que esperam o ônibus que nunca chega na hora contrastam, ou devem contrastar, com o brilho no olhar dos casais que entram na pousada.

E de repente, enquanto olhava para eles, me senti solidário com sua dor. É um desrespeito que aquelas pessoas, tristes, cansadas, condenadas a um eterno esperar do qual a demora dos ônibus é só um pequeno exemplo, sejam obrigadas a conviver com a felicidade carnal de pessoas que se preparam para a troca de fluidos corporais, algumas vezes ilícita, com alegria e desejo.

Mas é fácil se solidarizar e virar o rosto. Difícil é fazer alguma coisa para mitigar essa dor. E eu decidi vingá-los.

Algum dia eu vou passar algumas horas ali, naquele terminal de ônibus, fotografando as placas de quem entra na pousada, e depois vou colocar na Internet.

Em “cidade de muro baixo”, como dizem ser Aracaju, onde dificilmente você anda incógnito na rua, isso talvez tenha resultados interessantes.

2 thoughts on “Pequenos pensamentos malévolos

  1. Cada um faz o que quer da vida, eu acho uma bobeira as pessoas se preocuparem com a vida dos outros e se preocupar com quem entra ou sai de qualquer lugar. Perca de tempo cada um colhe o que planta.

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