Karol Wojtyla

Um dos homens que mais admiro chama-se Karol Wojtyla e é conhecido como Papa João Paulo II.

Não tem nada a ver com religião. Tem a ver com a minha fé no ser humano, no que ele tem de bom e de ruim.

Em julho de 1980, quando o papa veio pela primeira vez ao Brasil, minha avó foi até Salvador para vê-lo. Acabei acompanhando-a. Ele passou por nós no seu papa-móvel — que na época ainda não era blindado — e acenando para aquele bando de bobos.

Aquela visita foi provavelmente o maior acontecimento de 1980, pelo menos que eu me lembre. O Brasil inteiro, na época ainda um país católico, estava emocionado. Ainda lembro da música que compuseram para ele e que tocava o tempo todo:

A bênção, João de Deus
Nosso povo te abraça
Tu vens em missão de paz
Sê bem-vindo,
E abençôa este povo que te ama

João Paulo II conseguiu ser ainda mais importante que João XXIII. Pela sua determinação em se tornar um evangelizador à antiga, pela sua atuação política e importância no processo que levou à queda do Muro de Berlim. João Paulo II é um homem de direita, um reacionário, e não tem vergonha disso.

Acho que todo mundo está só esperando a hora em que o velho vai morrer. Há anos a impressão que ele passa em suas cerimônias é a de um sujeito que assim que disser o último amém da missa cai e não levanta mais. O sujeito vem há anos agonizando em praça pública.

Mas é aí que entra a outra faceta do papa que eu admiro: o seu total e absoluto apego ao poder. Se alguma coisa ainda segura aquele velho neste mundo é o apoio que encontra em seu cetro. Ele está velho e moribundo, mas ainda é o papa, é o homem mais poderoso de sua religião. É isso que o faz continuar vivo apesar de tudo o que seu corpo lhe diz. Ele sabe que, existindo ou não vida após o empacotamento, ele vai deixar de ser papa.

Claro que João Paulo não tem a beleza de um Alexandre Bórgia. Não fez orgias monumentais no Vaticano. Não tem histórias de intrigas empolgantes como as de tantos outros. Mas seu amor desmesurado ao poder, a força que extrai disso, faz dele algo grandioso.

***

Além disso, João Paulo II é o homem que me roubou 30 mil liras.

Visitei o Vaticano no último dia de minha única viagem à Itália. No meio da visita ao Museu do Vaticano, fomos evacuados rapidamente por causa de uma ameaça de bomba. Eu ainda não tinha chegado à Capela Sistina, que era a única coisa que eu realmente queria ver.

Obviamente fui pegar meu dinheiro de volta. A bilheteira carimbou meus ingressos e disse que eu poderia voltar no dia seguinte, mas o dinheiro, que era bom, ela não devolveria.

Pensando bem, era de se esperar. Todo mundo sabe que é impossível tirar dinheiro de padre. O conto do vigário não tem esse nome à toa.

Saí reclamando, o mais alto que pude, que “o papa me roubou 30 mille lire“.

Por muito menos Marx disse que a religião é o ópio do povo.

Mas eu não fui o único enrolado ali. Lá fora, em Roma, em frente a uma daquelas ratoeiras de souvenirs para turistas, uma velha em péssimo estado tentou me vender uns chaveiros com a efígie do papa em metal vagabundo, por um preço irrisório. Os chaveiros não valiam nada, mas comprei por causa dos dentes que a velhinha não tinha.

Quando pude entregar os chaveiros a minha avó e à mulher que tinha sido empregada de minha bisavó, ambas muito pias, contei emocionado sua história: eu os tinha comprado no Vaticano, e o papa os tinha abençoado numa missa, com água benta legítima do Vaticano. Bênção do papa deve valer mais que a bênção do padre Amaral. Disse também que, segundo a lenda, aqueles que tivessem um chaveiro do Vaticano com a bênção do papa, e o conservassem sempre consigo, teriam vida longa e próspera, e um lugar assegurado no céu. Minha avó, mais cética do que qualquer outra pessoa que eu conheça, fez um gesto indicando que aquilo era uma grande besteira — mas guardou o chaveiro.

Acho que essa pequena mentira ajudou a fazer os últimos anos de dona Nenê mais agradáveis. Quanto à minha avó, ela jamais poderá dizer que eu a enrolei. Ela está viva. E eu posso garantir que é por causa do chaveiro.

13 thoughts on “Karol Wojtyla

  1. Mentir pra velhinhas é pecado, viu? hehehe Inclusive deve ser pecado qualificado, assim como mentir pra criança. Se bem que vc tem o atenuante do relevante ou irrelevante valor moral do ato… hehehe

  2. Agora, falando do Papa, lembro, e minha mãe também faz questão de me lembrar vez ou outra, que quando ele esteve aqui a primeira vez eu disse que quando crescesse seria Papa. hehehe “Oh! Deus! Quanta desilusão… A segunda geração da família a estudar no mesmo colégio católico e a dez anos não passa nem na porta de uma igreja!”. “Em pensar que todos os seus tios fizeram seminário…” hehehe Não sei quem teve mais sorte vc, que pelo que disse de sua avó não vem de família católica tradicional, ou eu. Mas acho que ninguém sai incólume por uma educação tradicional, “o morno eu o vomitarei – disse Jesus”, pois é, ou vc sai em busca do Papado ou ateu, morno jamais…

  3. Poxa! Você mexeu mesmo com as reminiscências da minha infância… Olha eu comentando denovo… Acho difícil julgar o que se passa no interior das pessoas. Não sei se o que segura o Papa é o amor pelo poder. Ele com certeza é um ideólogo conservador, mas, abraçou de corpo e alma a tese da caridade oriunda das teologias da década de 60/70, como a Teologia da Libertação etc. Não sei até que ponto é o poder ou o dever que o mantém vivo.

  4. Esse é o primeiro blog em que tb encontro um “moon phases” igualzim ao meu.
    Sobre João d eDeus, eu o vi quando ele foi à NAtal, no Congresso Eucarístico Nacional. Subi nas costas do meu pai para vê-lo melhor (sem papa móvel), e vi até as ruguinhas, que ainda não eram tantas. Gostei dele, olhado daquele ângulo parecia um ursinho de pelúcia.

  5. Sabes que discordo dessa sua visão um tanto qto superficial do nosso amigo…rs
    Tbém o vi passar aqui em Floripa,mas isso foi mais recentemente…anos 90 se não me engano.
    Obs. Minha mãe me deu um chaveiro desses que vc falou,com o Vaticano de um lado,e o Papa do outro.(Só que ela não mentiu…rs)

  6. Espero q vc esteja muito arrependido de todas essas besteiras que falou do nosso Pai (pai de todos os Cristãos, que realmente crêem no Cristo Vivo e REssussitado, e que Crêem quando Cristo falou a Pedro: “TÚ ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA”) , o agora ausente SANTO PADRE O PAPA JOÃO PAULO II, sucessor de Pedro Apóstolo. Se até os mais pecadores e descrentes de Cristo, os fiéis depositadores de salários dos “SACERDOTES” das mais variadas “IGREJAS??!?” reconhecem a importância deste homem, e a falta que ele irá fazer, você, ó mísero pecador, o q tem de ficar falando besteiras de um dos maiores homens que a humanidade ja teve depois de JESUS CRISTO? Sem dúvida a morte de JOÃO PAULO II, nosso Pai espiritual, cabeça da nossa igreja, nosso apóstolo maior, será sentida por toda igreja, mais especialmente por alguns q como eu choram a morte deste grande homem. À você só me resta rezar.

    • RETIRO TUDO O QUE DISSE. Que o Senhor perdoe minha ignorância daqueles dias. Hoje tenho a consciência que só irei ao Pai por Jesus. E ele me resgatou. E Hoje, eu e minha casa servimos ao Senhor.
      aleluia.

  7. huahuahuahua

    Dei muita risada!
    Muito legal, cuidado com as “bençãos” do papa, você pode morrer ou perder tudo ou sofrer ou ser difamado etc… Veja Ronaldo, Lady Di etc.

  8. rs
    mas sem brincadeira, a musiquinha (e a visita de 80) me fizeram chorar muito
    e depois eu nem catolico fui …
    mas nem primeira comunhão
    quer saber?
    é mesmo pra “pegar”!

  9. Caro Rafael:
    A parte inicial de seu comentário achei bastante interessante, porém, respeitosamente, gostaria de discordar de seus comentários dos parágrafos finais. Se avaliarmos o Papa João Paulo II, na fase final de sua vida, estaremos desconsiderando a sua bela trajetória como pessoa, religioso que foi e na avalíação da maioria das pessoas(não só Cristãs) como um Papa que deixou marcas positivas na humanidade. Aliás, nós Ocidentais, na sua maioria não damos o devido valor aos velhos. Temos vários exemplos de intelectuais que aparecem na mídia e são em seguida deixados de lado e logo são esquecidos e até dizemos “o brasileiro é um povo sem memória”! Entendo que o contraditório é muito importante para a formação da cultura de um povo, e pra cada um de nós entender o ponto de vista do outro, nem sempre é fácil. Um abraço. José Rutikoski, membro da Sociedade de São Vicente de Paulo. Cristo esteja sempre contigo!

  10. Olá, gostaria de escrever um monte de baboseira para essa tal rafael, mas o respeito que tenho para com a individualiadade do outro me faz calar, apenas o falo uma coisa em relação ao Papa João Paulo II:

    Foi um dos maiores dirigentes que a igreja católica conheceu, desde Pedro, nosso 1º Papa. João Paulo II, ficará na história e lembrança de todo povo como o grande Papa. Respeite-o, não o use para sua própria promoção.

    Promova-se apenas de seu trabalho.

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