O fundamentalismo nas Laranjeiras

Ia escrever um post sobre a atitude de Rosinha Matheus ao ofender o Zé Eduardo Dutra (que, levando-se em consideração seu temperamento, foi extremamente educado em sua resposta) no caso das plataformas da Petrobras.

Um jornalista sergipano, no entanto, escreveu sobre o assunto antes e melhor do que eu poderia, na edição de hoje do Jornal da Cidade:

A MULHER QUE SURGIU MESMO DAQUELA COSTELA DE ADÃO
Luiz Eduardo Costa

Nas escolas do Rio de Janeiro, por determinação da lúcida, iluminada governadora Rosinha Garotinho, trevosos professores fundamentalistas ensinam que a raça humana descende mesmo de Adão e Eva, e que a mulher surgiu a partir de uma costela retirada daquele que foi o primeiro homem.

Esses mitos sobre a criação do universo e o surgimento do homem existem em todas as culturas, e são belíssimos alguns deles, recolhidos das histórias contadas e recontadas pelos nossos índios, que chegaram aos ouvidos atentos de indigenistas ou antropólogos dedicados a investigar hábitos e costumes das tribos em processo de extinção. As diversas religiões do mundo incorporaram esses mitos, em alguns casos até como forma um tanto poética de explicar a criação, como por exemplo nos livros dos Vedas e dos Upanishads dos hindus, ou na Bíblia dos cristãos, no Corão dos muçulmanos, no Torá dos judeus.

A própria Igreja Católica não se atrita mais há muito tempo com as teorias científicas que buscam explicar o universo e o ser humano, entendendo que o essencial é a crença em um Ser Supremo, que para alguns seria o Deus criador, para outros até a sublime harmonia da mecânica universal. Deus é algo assim intuitivo para o ser humano, pequeno e assustado como Blaise Pascal diante da imensidão do universo. Um grande teólogo e religioso católico, Teilhard de Chardin, deu valiosíssima contribuição às ciências do homem e do universo.

Em qualquer escola onde o pensar não seja proibido, nenhum professor iria ousar impor aos alunos a crença de que a mulher saiu de uma costela de Adão, ou a maçã devorada seria o fruto proibido do pecado que levou a raça humana a perder o paraíso. As igrejas cristãs preferem hoje entender e interpretar a Bíblia à luz da constatação de que os textos são antiqüíssimos, e contêm narrativas que incorporam lendas e mitos. Isso não se faz em detrimento do valor e da importância do livro maior dos cristãos.

O fundamentalismo é algo trágico, retrógrado, resultante daquele clima de ignorância, ódio, vingança, dominação e medo, nascido lá no fundo dos séculos mais tenebrosos da História humana.

O fundamentalismo, ou seja, aquela forma rígida, sem imaginação, sobretudo inculta de interpretar textos sagrados, responde pela intolerância, pela cegueira do ódio que movem vários grupos religiosos pelo mundo a fora. O fundamentalismo chega ao Rio de Janeiro por obra e graça, ou desgraça, de um casal funesto, os Garotinhos, ele hoje secretário da baderna da segurança pública, ela governadora, todos entronizados, talvez, pela forma equivocada como historicamente os eleitores fluminenses têm escolhido os seus representantes.

A teoria da evolução das espécies está definitivamente vetada nas escolas cariocas. A governadora Garotinho não quer ouvir falar em “struggle for life”, a luta pela sobrevivência das espécies que levou à prevalência dos mais aptos, e desceu das árvores o primata para, andando, definir as funções precisas de pés e mãos, tornar-se humanóide, e conquistar o mundo.

Isso é heresia feia, coisa de inimigos da fé, teoria de excomungados, hereges, que somente escapam da fogueira expiadora das culpas porque, felizmente, os Garotinhos não conseguiram ainda empalmar o poder dos Inquisidores. Mas que eles têm uma enorme vocação para Torquemadas, disso dão provas todos os dias.

Talvez tudo isso explique aquela atitude intolerante, arrogante, deseducada, da governadora Garotinho, ao protestar porque não recebeu da Petrobras o privilégio de ter construídas no Estado todas as plataformas marítimas, como se existisse somente na federação brasileira um único integrante a ser beneficiado. O Rio ficou com mais de setenta por cento das obras que vão ativar estaleiros que estavam parados, empregar milhares de pessoas. Mas a governadora, fundamentalista, intransigente, não aceita que parte das plataformas seja construída também na Bahia, no Espírito Santo, em São Paulo, no Paraná, Estados que têm metalúrgicas paradas ou trabalhando com enorme capacidade ociosa, e também enfrentam o problema do desemprego.

Faz parte do fundamentalismo essa visão unilateral das coisas.

Mas, de qualquer forma, a governadora Garotinho é, ela mesma, a própria demonstração viva, a prova irrefutável de que a mulher, pelo menos no seu caso, saiu mesmo da costela de um homem.

Como o modelo original não era lá essas coisas, o resultado é o que se vê.

8 thoughts on “O fundamentalismo nas Laranjeiras

  1. Minhas condolências ao povo do Rio. Sempre me perguntei o que levava os cariocas e fluminenses a votarem tão mal. Tiveram e tem de tudo: Jânio, Brizola, Cesar Maia, Garotinho e Garotinha… Puxa! Tá certo que votar errado não é previlégio deles, mas, acho que nenhum outro Estado teve tantas figuras que chegam a ser folclóricas…

  2. incrível! ainda agora estou escrevendi um artigo falando sobre a GUERRA entre fundamentalistas evangélicos e maçons neoliberais. essa de não poder ensinar o evolucionismo na escola é foda!

  3. Roger, Jânio foi um privilégio dos paulistas.

    Eleitores fluminenses costumam votar mal, mesmo. Basta lembrar que substituíram o chaguismo pelo brizolismo. Mas não acho que seja um privilégio deles, não: Adhemar de Barros, Maluf, Pitta… Acho que todo Estado brasileiro tem sua cota de más escolhas recorrentes. O que acontece no Rio é que, como cariocas acham que seu umbigo é o centro do mundo (no que estão errados; o centro do mundo é o umbigo dos baianos), e a situação lá é aparentemente mais caótica, o resultado é que as cagadas de lá aparecem mais.

  4. Não tenho nada a acrescentar, apenas dizer que o texto é brilhante e muito inspirador.

    Não gosto de generalizar, mas os evangélicos parecem às vezes incapazes de pensar por sua própria cabeça, preferindo explicar tudo à sua volta através de passagens literais da Bíblia.

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