Tortura 24 Horas

Já falei sobre o seriado há quase um ano, mas vendo uns pedaços dia desses voltei a me espantar.

“24 Horas”, estrelado por Kiefer Sutherland, tem uma estrutura genial: 24 episódios por temporada, cada um com 1 hora, transcorrendo em tempo real. É brilhante, um dos poucos seriados realmente inovadores dos últimos tempos.

Isso não impede, no entanto, que seja absolutamente canalha. Claro, seria injusto esperar outra coisa de o seriado da Fox, rede de TV mais direitista que a “Semana do Presidente” levada ao ar por Sílvio Santos durante a ditadura.

Acontece que “24 Horas” defende, cada vez mais escancaradamente, a tortura como método de combate ao terrorismo.

A impressão que se tem vendo o seriado é que os Estados Unidos são, hoje, um país cujo governo trabalha duro para destruir algumas das mais notáveis conquistas históricas da humanidade. É como se todo aquele papo de liberdade individual fosse válido apenas quando o pau quebrava no quintal dos outros.

Sob esse aspecto, “24 Horas” não é mais que a versão moderna e soturna de Why We Fight.

“24 Horas” é a transcrição de uma visão de mundo minoritária, que assume seu imperialismo abrutalhado sem nenhum pejo. Já não se trata de disfarçar a política intervencionista sob a justificativa de que se há de levar a democracia para os povos do mundo: desceu-se ao nível mais básico, o de aceitação plena de uma situação que julgam consolidada — a dos EUA como suseranos do mundo –, e agora se trata de utilizar quaisquer meios necessários para garantir sua permanência.

Até há alguns anos, a hipocrisia de Estado americana fazia com que, enquanto técnicos da CIA vinham ao Brasil ensinar métodos de tortura mais eficientes à linha dura do regime militar, o discurso oficial fosse sempre o das liberdades democráticas. E pelo menos dentro do seu país (frase de um ex-presidente chileno: a razão pela qual não há golpes de Estado nos EUA é que lá não há embaixada americana) esse discurso valia — se deixarmos de lado, claro, a segregação racial como política de Estado.

O descarte desse discurso, apesar do que dizem os esquerdistas ferrenhos de plantão, é ainda mais nocivo ao mundo do que a velha hipocrisia americana. Porque antes havia ao menos um ideal a ser almejado. Agora, parece não haver mais nada.

11 thoughts on “Tortura 24 Horas

  1. Vixi… Ja ouviu falar de ficcao Rafael?
    Se vc for levar ficao a serio, e pior ainda, ficar tentando desenhar paralelos com o mundo real, vc vai ficar maluco rapidinho.

    E alem disso, nao acho que tortura seja glorificada na serie. Acredito que eles tentaram ser realistas. Mas vc deve ter percebido que eles tentam mostrar as consequencias negativas.

    E so mais uma coisa. O canal Fox nao eh a mesma coisa que o Fox News. Eles so sao parte da mesma corporacao, mas a programacao eh totalmente diferente. Eh a mesma coisa que comparar ABC e ESPN (que sao parte da Disney alias).

  2. Paulo, durante todas as crises americanas a mídia — principalmente o cinema, mas hoje também a TV — representou um papel importante. É ingenuidade achar que nesses momentos ficção é só ficção. (Isso vale não apenas para eles: “O Salvador da Pátria” era só ficção?) Usaram o cinema em esforços óbvios como a série “Why We Fight”, mas a propaganda pró-americana e anti-nazista (a anti-nipônica é um caso à parte e foi muito mais virulenta, embora menor em volume) não se restringiu a isso: permeou grande parte do cinema na primeira metade dos anos 40.

    Até agora, sempre houve um limite que os “mocinhos” americanos respeitaram. Afinal, eles eram os mocinhos. Com 24 Horas, de maneira repetida, esse limite acaba, porque se você é americano e levou a porrada de ver o World Trade Center cair, é muito fácil para você justificar quaisquer atos. Há uma série de bons exemplos espalhados pelos blogs americanos. Vi gente muito boa tergiversar sobre aquilo.

    Não estou dizendo que o seriado é uma encomenda da CIA, porque essa linha vem sendo seguida desde antes de Abu Ghraib. Mas é uma mudança importante no jeito como os americanos olham para si. Ou, pelo menos, a representação de uma certa mentalidade americana que se sente realmente ameaçada pela primeira vez e resolveu mandar o discurso para o alto.

  3. Rafael,
    Acho que vc esta vendo o que quer ver, e no caminho esquecendo um numero de coisas que vc talvez nao queira ver.
    Quem eram os “viloes” das 3 temporadas de 24? Brancos (uma mulher e um homem) europeus que ja foram aliados. O Presidente era um negro democrata. A tortura que vc cita, foi feita ate mesmo num membro do governo, o que quase levou o presidente ao impeachment. O Jack, que quebrava a lei em todos os sentidos, foi punido tanto legalmente quanto “historicamente” (morte da mulher).

    Vc pode olhar toda essa historia e achar que na verdade 24 era uma critica contra o atual governo.

    E eh isso que vc tem em um pais democratico. Vc tem os Moores da vida, tem os conservadores, e tem ficcao que mistura tudo que acontece pelo mundo. Achar que eh tudo uma conspiracao da midia para controlar o povo eh uma bobagem na minha opiniao.

    [ ]s

  4. Paulo, não se diz que os EUA são um país anti-democrático (apesar dos esforços em contrário de Bush). Mas que há sinais — não só na mídia, mas em vários setores da sociedade americana — de que estão se esforçando nesse sentido.

    No caso específico de “24 Horas”, não é a identidade dos vilões que me preocupa. É a mudança de comportamento em geral. E eu considero a assimilação de conceitos como tortura um bom indicativo das mudanças que os EUA vêm passando.

    Bem ou mal, Jack Bauer é o mocinho da história. Ela é escrita para que você torça por ele. O fato de que você acaba justificando suas atitudes, principalmente em um momento de crise absoluta como este, leva a uma avaliação mais complacente das atitudes de seu próprio governo.

    Não é o fato de a tortura ser feita num membro do governo: é o fato dela ser corriqueiramente aceita como método de atuação. Diz menos respeito ao episódio, em si, do que à atmosfera geral de todo o seriado.É essa a questão em “24 Horas”. Conscientemente ou não, reflete a linha de pensamento de um setor social que tem o poder nas mãos e que vem agindo de maneira extremamente prejudicial ao seu próprio país e ao resto do mundo.

    O que você tem é a capitalização de uma mudança na sensibilidade pública que vem do 11 de setembro. Enquanto as guerras eram travadas lá longe, tudo era mais aceitável. Mas quando um de seus maiores símbolos é derrubado e 3 mil pessoas morrem, a coisa muda de figura. É aquele negócio de você ser contra a pena de morte até alguém lhe dar um chute no saco. Um dos melhores exemplos é o blog do Jeff Jarvis, o BuzzMachine. O sujeito, que faço questão de ler todo dia, tem algumas posições políticas com as quais não concordo absolutamente. Um post dele, de umas duas semanas atrás, diz que essas posições mudaram quando ele se viu engolfado e sufocado pela poeira que o WTC levantou ao cair. É nesse ambiente que surge “24 Horas”

    A sensação de ser atacado, de uma forma ainda mais covarde que Pearl Harbor, possibilita que mudanças no teor da mensagem sejam absorvidas muito facilmente. Há uma agenda política clara, hoje, e historicamente os meios de comunicação são correias transmissoras dessas mudanças. A produção artística reflete seu tempo: e por isso “Easy Rider” não poderia ter sido produzido antes, nem “Amargo Regresso” depois do que foram.

  5. Bom, tenho que repetir o que disse anteriormente: vc esta querendo ver certas coisas num contexto muito maior. A tortura nao eh “corriqueiramente aceita” nem no seriado nem na sociedade americana no geral. Tanto que esse rolo de Abu G. esta dando o que falar. Se fosse aceita deixariam de lado e pronto.

    Isso sem contar que inumeros filmes, series, etc, ja mostravam tortura bem antes que 9/11.

    []s

  6. eu sou faxinada por 24 horas, é dificil descrever a emoção que se sente quando se está assistindo 24 horas!!!!!!!!!

  7. Procurei sobre informações e críticas (sérias) sobre o seriado 24 horas, e não achei quase nada! Sinal evidente do grau de alienação, tanto dos americanos, e principalmente dos nossos “nendertais” tupiniquins. Os comentários acima – sei que são antigos e talvez ninguém leia, revelam isso. Mas como essa foi a única crítica séria (feita por Rafael Galvão, o qual não conheço, mas que está de parabéns) resolvi deixar esse post. As idéias do defensor da série Paulo, só podem ser de alguém sem o mínimo de cultura histórica e conhecimento sobre a realidade latina e de todos os outros países subdesenvolvidos. A ficção que ele apregoa é arte separada, portanto alienada, o que obviamente não existe, perdão, ela existe sim, na mente dos alienados. A série é sobretudo banal, frente aos problemas reais da política americana, pois a destruição do World TRade Center foi real, aconteceu, as torres não existem mais, e desculpem os hipócritas, lá morreram somente filhos do capitalismo, burgueses, bem nascidos e no máximo as faxineiras da américa, infinitamente mais ricas do que os mineiros da Bolívia, ou os índios brasileiros dizimados… A série é perfeita em seu propósito: o entretenimento. Em cada episódio (esparsos) que assisti ficou evidente toda a ideologia americana, funcionários neuróticos, arrogantes, especialistas e técnicos, que longe de viver em uma democracia, defendem sem saber – pois são completamente alienados – o projeto de Estado total. O diálogo do “mocinho” com a terrorista, que afirma que não irá discutir, pois acredita em sua causa é emblemático. É exatamente isso que os EUA não percebem, só eles acreditam que vivem em um país e em um mundo livre.

  8. nussa .. isso jah faix tanto tempo .. q axo q ngm leia .. mais u q vale eh a intenção ..
    axo q todos devem aceitar a opiniao de todos ..
    uns nao gostam .. otros amam de paixao ..
    eu Amo assistir 24 horas .. ele ti deixar intretido nos misterios … nos suspenses ..
    nao acredito q ali queira passar algo de importante .. nunk q akilo seria verdade .. um presidente negro num país q eh puro racismo ..
    entre outras coisas …
    axo q foi o melhor seriado q jah inventaram na face da terra ..

  9. Não é só o 24 HS que faz apologia à tortura. O CSI é um absurdo..e vários outros seriados…
    É pura formação de uma subjetividade doente, que arruina sim algumas conquistas da civilização.
    A continuar como está, logo voltaremos à barbárie, só que dessa vez teremos Estados totalitários à impingí-la!

  10. rg; nahpta e ricardo paiva, me digam onde conseguiram essa, ela e da boa heim. vcs fumaram juntos foi.
    caraca cada qual com seu cada qual.
    nunca vi tanta idiotice junta, me desculpa rg tinha vc ate em alta estima mas depois dessa, ainda continua, mas cara nessa vcs viajaram legal.

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