Adendo ao post sobre marketing político

A Carta Capital é uma das melhores revistas semanais do país. Mas esta semana, em matéria passando o rodo nas eleições, aparece com algumas pérolas que merecem ser comentadas:

Nas últimas eleições, São Paulo escolheu prefeitos do PT em duas oportunidades, mas esse fato não enfraquece a tese do perfil conservador do eleitorado paulistano. Em 1992 não havia segundo turno e Luiza Erundina acabou eleita com menos de um terço dos votos (31%).

A matéria foi escrita por dois jornalistas, Phydia de Athayde (quanto H e quanto Y numa pessoa só) e Sérgio Lírio. Nenhum dos dois parece ter percebido que Erundina foi eleita em 1988.

Mas ainda piora.

Além disso, o governo de Fernando Collor, com quem Lula disputou as presidenciais em 1989, caminhava para o colapso, o que aumentava o cacife da oposição — e do próprio PT.

Errar na checagem dos fatos é um erro grave, ainda mais quando é simples como esse. Mas elaborar uma teoria sobre as circunstâncias que envolveram as eleições que nunca houveram é demais. Ainda mais quando o governo de Erundina, pessimamente avaliado, foi um dos fatores que prejudicaram Lula em São Paulo.

Mas isso é jornalismo. Agora vamos falar de marketing político. Outra matéria na mesma revista, desta vez de José Roberto de Toledo:

(…) a soma das votações de todos os candidatos a prefeito do PT e do PL mal chega à metade dos 39,4 milhões de votos obtidos por Lula no primeiro turno da eleição presidencial de 2002. Em que pese a recém-adquirida “capilaridade” petista identificada pelo ministro Tarso Genro, Lula segue sendo muito maior que o partido.

Avaliar números brutos de uma forma tão simplória é uma ofensa à inteligência de quem quer que tenha conversado uma só vez com qualquer candidato. É como o candidato a deputado federal que teve 50 mil votos e, na eleição seguinte, espera ter os mesmos 50 mil votos para deputado estadual.

Acontece que são eleições diferentes. O próprio Lula, se fosse candidato a deputado federal por São Paulo, teria muito menos votos dos que os que teve para presidente. Qualquer vereador de cidade com 10 mil eleitores sabe disso.

Pelo que pude entender, os autores dessas matérias tinham lá suas teorias e saíram atrás de fatos que pudessem comprová-las, ainda que equivocadas. Deveria ser o contrário. Depois as pessoas não entendem por que jornalistas perderam a primazia de campanhas para os famigerados “marqueteiros”.

4 thoughts on “Adendo ao post sobre marketing político

  1. Rafael,
    Quanto à comparação entre os votos do Lula e os do partido na última eleição, me recuso a acreditar que quem escreveu o artigo desconhece os mecanismos que diferenciam as eleições avaliadas. A outra alternativa, obviamente, é a má fé.
    Ciao.

  2. A carta capital também desaprendeu a fazer contas, como na grotesta falsificação da matéria sobre a dívida argentina. A despeito dos aposentados de lá perderem renda, e de percentual superior a sessenta por cento da dívida estar nas mãos de bancos e investidores individuais, a revista insiste que o grosso da dívida argentina está na mão de fundos abutres, e que o acordo só não sai porque esses fundos não deixam. Tem que rir de um negócio desses.

  3. Phydia de Athayde nao é coisa de numerologia não?
    E esse ano essa coisa de pesquisa errou feio mesmo em sampa .. foram uns 8 pontos.
    um xero
    Cris

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