Anti-semitismo

Em uns comentários a um post no Empatia, eu percebi uma coisa engraçada. E agora, com o anúncio da retirada dos assentamentos israelenses da Faixa de Gaza, o que era impressão se tornou certeza.

É difícil criticar Israel sem ouvir, velada ou claramente, que se está sendo anti-semita. E não há acusação pior para qualquer pessoa que se julgue decente e conheça um tiquinho só da história da perseguição aos judeus.

(Não, eu não faço parte dos que acham que os judeus foram o povo mais perseguido da história; pelo menos não tenho notícia de dezenas de milhões de judeus trancafiados em navios negreiros durante dois séculos. Mas o anti-semitismo é talvez ainda pior, porque por uma necessidade teológica do cristianismo eles foram associados ao próprio Mal. Isso é aterrorizante. Uma boa explicação sobre isso está na introdução de “Os Carrascos Voluntários de Hitler”. É, aliás, a única parte verdadeiramente brilhante de um bom livro extremamente tendencioso.)

Isso é ainda pior porque Israel é, hoje, um Estado criminoso e racista. Quando promulgou uma lei proibindo israelenses de casarem com palestinos, ano passado, não fez mais que reeditar algumas das Leis de Nuremberg de 1936, que também proibiam os puríssimos alemães de casarem com judeus imundos. E embora as coisas nunca sejam assim tão simples, pode-se até alegar que as Leis de Nuremberg, uma das maiores aberrações morais do século XX, eram melhorzinhas: ser casado com um alemão protegia um judeu; ser casado com um palestino, hoje, prejudica um judeu.

Não adianta alegar que Israel tem lá suas razões para se proteger e descer a lenha nos palestinos. Os nazistas também acreditavam ter, e tinham quando menos o respaldo político interno que essas investidas contra a comunidade judaica lhes davam. Um crime é um crime, seja lá qual for sua justificativa.

Talvez por isso, pela sombra do anti-semitismo, todos nós tenhamos uma tendência a ressaltar que uma coisa é o Estado de Israel, outra é o povo israelense. E não são. É fácil criticar o Sharon, como este blog, aliás, se esbalda em fazer; mas ele hoje, se vendo diante de uma situação cuja única saída é obviamente a desocupação da Palestina, está apenas tentando garantir sua sobrevivência política. Os protestos contra a decisão de efetuar a retirada são o melhor exemplo disso. Assim como Lula é cobrado por decisões que a sociedade, na verdade, não quer que ele tome, Sharon se vê às voltas com uma situação que, se ele ajudou a criar, hoje sabe insustentável.

De modo geral, Sharon tem se mostrado um político em uma sinuca de bico, porque há setores muito mais radicais do que ele, a escória de um sionismo expansionista, racista e cruel. Isso não limpa seu passado sanguinário e infanticida, mas joga alguma luz sobre a tensão naquele barril de pólvora. Se a linha-dura do Likud é quem perpetra os crimes que Israel vem cometendo, o povo que elegeu esses parlamentares é o grande responsável, em última análise. É o mandante do crime. E em nenhum país do mundo isso é tão verdadeiro quanto em Israel, em que Estado e religião são praticamente indissociáveis.

Não é a primeira vez que este blog diz isso, mas nunca é demais repetir: o que Israel vem fazendo com os palestinos é um crime contra a humanidade, como foi o Holocausto. Mesmo que aqueles setores judaicos mais radicais e idiotas queiram tomar para si o monopólio da dor.

9 thoughts on “Anti-semitismo

  1. Não, eu não faço parte dos que acham que os judeus foram o povo mais perseguido da história; pelo menos não tenho notícia de dezenas de milhões de judeus trancafiados em navios negreiros durante dois séculos. Mas o anti-semitismo é talvez ainda pior, porque por uma necessidade teológica do cristianismo eles foram associados ao próprio Mal. Isso é aterrorizante.

    É isso aí. Uns conseguem, pelo motivo que seja, conquistar a posição de vítimas eternas do mundo. E isso é muito complicado. Os palestinos ainda por cima carregam a, no mínimo dos mínimos, prevenção que o mundo ocidental tem com relação àquele povo. Aí tem gente que enxerga verdadeiros mísseis nas pedras que aqueles meninos jogam nos soldados israelenses. Ô, mundinho complicado!

  2. Ola, Rafael,
    concordo sobre o uso de anti-semita sempre que alguem critica Israel (se bem que tenho a impressao que grande parte do pessoal que critica Israel e meio anti-semita sim).

    Quanto ao resto… vou ficar só neste parágrafo:
    “Quando promulgou uma lei proibindo israelenses de casarem com palestinos, ano passado, não fez mais que reeditar algumas das Leis de Nuremberg de 1936, que também proibiam os puríssimos alemães de casarem com judeus imundos.”
    Não entendi a comparação. Depois li o seu comentário no Empatia e entendi. Você parece achar que a nova lei proíbe casamentos entre judeus e palestinos, mas não é isso. A lei “só” impede um palestino da Faixa de Gaza ou Cisjordânia mude para Israel ao se casar com uma israelense (supostamente palestina). É uma lei discriminatória, mas não exatamente racista como você diz. Bem mais razoável que as leis de Nuremberg.

    Judeus não podem se casar com palestinos, é verdade, mas não por causa _dessa_ lei. Em Israel só casamentos religiosos são reconhecidos. Creio que você também acha essa lei injusta (eu acho), porque quem não é religioso tem que submeter a uma cerimônia religiosa pra se casar, e quem quer casar com alguém de religião diferente, não pode. Mas, de novo, não é racismo. Anyway, duvido que você encontre muitos casais de namorados judeu-palestinos por lá.

  3. Rafael,

    Bonito nome o seu, hein? 🙂

    Acho que se não há proibição de direito, há de fato; dizer a um israelense que se ele casar com um palestino vai ter que ir morar em um lugar que deixa o Complexo do Alemão parecendo um bairro rico da Suécia é, sim, uma forma de proibição; não tão radical quanto a Lei de Proteção ao Sangue e Honra Alemães de 35, por não colocar em palavras o que quer dizer, mas muito parecida com leis anteriores como o Arierparagraph.

    E é uma lei racista, sim, já que seu objeto é a regulação de relações entre duas “raças” diferentes.

    O curioso é que eu não sei se o reconhecimento único do casamento religioso é exatamente injusta. Porque se são essas as leis do país, e sempre foram, as pessoas têm mais é que aceitar. Ou então irem embora. Certo que isso nào é lá muito democrático e lembra muito aquela idéia do “Brasil”Ame-o ou Deixe-o”, mas isso é problema deles.

    Outro aspecto que acho importante é que essas leis reforçam a idéia de que, por Israel ser um Estado teocrático, isralense e judeu são a mesma coisa. Acho isso perigoso e ruim, porque uma coisa é o povo judeu, outra é o Estado canalha que eles montaram.

    Além disso, esse é, também, o melhor argumento de anti-semitas: “nosso racismo é decorrente do racismo deles”. E esse é um terreno meio nebuloso, porque fica complicado definir até onde vai o anti-semitismo de alguém e até que ponto opiniões contrárias são isentas.

    De qualquer forma, deixa eu colocar aqui um trecho o livro “Os Soldados Judeus de Hitler”:

    Em 1936, Stuckart e seu auxiliar, o Dr. Hans Globke, do RMI, disseram que as leis raciais nazistas pouco diferiam das leis judaicas: “O povo alemão quer manter seu sangue puro e unido como os judeus têm feito desde que o profeta Esdras ordenou que ofizessem.” Independente do que diziam as autoridades nazistas, essas leis inflingiram humilhação e sofrimento a judeus e Mischlinge.

    Acho que isso continua valendo. A diferença é que os judeus de hoje são os palestinos.

  4. Rafael

    É você que coloca a questão nesses termos. É óbvio que uma critica a Israel não é por si só uma critica anti-semita. O problema é que em muitos comentários pretende-se atingir o colectivo judaico e não a nação israelita. Como termo de comparação é o mesmo que afirmar que sendo a maior parte dos detidos nas penitenciárias brasileiras cidadão negros isso demonstra uma predisposição da raça negra ao crime. Absurdo não ?

  5. “Acho que se não há proibição de direito, há de fato”

    OK, é uma proibição de fato, mas tive a impressão que você não leu ou não entendeu meu comentário. O que estou dizendo é que o objeto da proibição _não_ é ´a regulação de relações entre duas “raças” diferentes´. O que a nova lei proíbe não é casamentos de judeus com árabes; teoricamente um judeu israelense ainda pode se converter ao cristianismo e se casar com uma palestina cristã, por exemplo, desde que ela seja israelense.
    O que a lei proíbe, na prática, é o casamento entre árabes israelenses e árabes que moram nas áreas ocupadas.

    Israel não é um Estado teocrático. Os cristãos, muçulmanos e judeus seculares não tem que seguir as leis dos judeus ortodoxos.

  6. Sou judeu de origem francesa e vivo neste momento em Portugal e consigo ter uma perspectiva imparcial sobre o que se passa em Israel mas com o conhecimento também do que a religião defende e no que ela está envolvida no que se refere à governação de Israel. De facto, Israel tem cometido ao longo da sua curta história (como país) crimes, que ousarei dizer, contra a Humanidade, que resultam de um poder imperialista que é exercido pelo governo. O sonho do “Grande Israel” é ainda muito actual para algumas facções mais extremistas mas que, e que se entenda bem, são uma minoria à qual não deveria ser dada tanta atenção. Eu como judeu e defensor da existência do Estado de Israel no território que sempre foi sagrado para nós ao longo dos milénios, apesar da diáspora, defendo também a criação de uma Palestina independente mas a cima de tudo que exista cooperação entre os dois povos, que exista aceitação, consciência de que a guerra só irá prolongar o que é inevitável. A guerra é a voz da ignorância e da demonstração fácil e estúpida do poderio económico e/ou militar (como são todas as guerras no mundo). Tal como todas as alas reformistas e inovadores do Judaísmo, que tornam a religião extremamente flexível e que se adapta a qualquer meio, também o Governo terá que se vergar às evidências e pensar em encontrar uma resolução que garanta a estabilidade da região onde não sejam permitidos extremismos nem de um lado nem do outro. Que o povo Israelita seja também flexivel ao ponto de pressionar o governo ou fazer com que as politicas mudem de uma vez por todas. Os anos de perseguição nunca serão desculpa para agredir outro povo, mas sim mais uma forma de procurarmos a paz e a união com os outros povos. Sempre foi isso que a religião defendeu, paz, a sabedoria, o desenvolvimento das nossas capacidades individuais e o respeito pelo outro, mesmo que não-judeu, e é assim que terá que ser e que o governo deverá também seguir as suas politicas, respeitando para depois poder ser respeitado( tendo em conta que a religião tem muito peso na governação). Acredito também que o anti-semitismo é muitas vezes confundido com criticas ao estado de Israel ou então pela ignorância de alguns grupos que criaram estereótipos dos judeus como se pensássemos que somos o unico povo escolhido ou que nos achamos uma raça diferente ou mais inteligente. São ideias insustentáveis e que não correspondem de todo à verdade. Eu como Judeu, continuarei a defender a paz no médio oriente e a criticar Israel sempre que agredir ou não respeitar outro povo ou país. Temos direito a nos defender, mas nunca a atacar.

    Sei que é um comentário muito tardio, mas não resisti em escrever algo e dar a minha opinião.

  7. Prezado Rafael,
    Apenas hoje tomei conhecimento de seu blog. Infelizmente não acompanhei a publicação dos comentários anteriormente. Todavia, apesar de não ser judia, senti-me extremamente ofendida com os seus comentários que no meu entender são profundamente racistas e anti-semitas, apesar de suas explicações nos parágrafos iniciais. Primeiramente, apesar de você não ter escutado felizmente (diga-se de passagem) a notícia “de dezenas de milhões de judeus trancafiados em navios negreiros durante dois séculos”, imagino que tenha o conhecimento de que em menos de cinco anos mais de seis milhões de pessoas – incluindo nesta cifra crianças, adultos e idosos – foram aniquiladas, apenas por acreditarem em uma crença. Imagino que você saiba que seria impossível trancafiar “dezenas de milhões” de judeus em navios negreiros por dois séculos, pois infelizmente não existiriam judeus suficientes para tal. Todavia, se desejas mencionar escravidão imagino que tenha conhecimento dos quarenta anos de escravidão deste povo no Egito.(Resolvi não mencionar aqui o número de pessoas queimadas em fogueiras durante a Idade Média, o número de pessoas exterminadas em regiões do Leste Europeu nos chamados “Pogroms” e todos os demais massacres perpetrados face a esse povo ao longo da história, pois faltaria espaço para tal. Não menciono ainda as inúmeras humilhações como a impossilidade do povo israelita estudar nas mesmas escolas que os demais. Imagino que saiba que pelo menos desde 1920 era vetada a entrada de crianças judias às escolas em localidades polonesas. Existiam cotas mínimas para este povo que permanecia à mingua e podia apenas adquirir estudo com aulas ministradas por outros membros da comunidade judaica).
    De qualquer maneira, gostaria de afirmar que há impropriedade nos dados apresentados por você nesse espaço. Não existem leis em Israel tal como você mencionou. Existe um número expressivo de judeus israelenses casados com árabes-israelenses. Todavia, como a lei que regulamenta os casamentos é a religiosa e não a civel, pessoas de diferentes religiões não podem casar-se. Assim como a constituição de nosso país que não permite que pessoas de mesmo sexo sejam casadas ou tenham direito aos bens do companheiro em caso de sucessão hereditária ou separaçao, ainda que comprovem uma união estável. Nem por isso devemos comparar nossas leis com as de Nuremberg. Ainda, gostaria de saber de onde vc tirou essa idéia de que “ser casado com um alemão protegia um judeu” durante a Segunda Grande Guerra…ora, de maneira alguma ser casado com alemão ajudava a um judeu. Em verdade, o alemão era rebaixado de “categoria” e virava “pizza” no mesmo forno de seu amante, esposo, companheiro, enfim, do que fosse. Em outras palavras, se tivesse algum laço com um judeu, morria junto.
    Como professora universitária de história, choco-me com os seus comentários. Estes me entristecem pelo desconhecimento, agressão e discriminação.
    Espero que vc possa ler mais para comentar dados históricos. Quanto a sua opinião, respeito-a, afinal você pode ser pró-Osama, pró-Hitler, pró quem você quiser, afinal, vivemos em um país democrático. Mas independente de que opinião você siga (mesmo que eu e a maioria de pessoas com discernimento discorde radicalmente), manifeste-a com respeito e sem ódio. Essa raiva “trancafia” pessoas em navios negreiros e prende-as em campos de concentrações…

  8. Senhor Rafael Galvão.
    O senhor desconhece inteiramente a história do povo judaico e ousa ofender-lhe, com que direito o faz? Exijo que respeite a dor, o sofrimento deste povo que foi e continua sendo perseguido por pessoas como o senhor que tece comentários inverídicos, com que intenção? Quem é o senhor para falar do povo judaico, com que conhecimento de causa, não sabe nada . Que prove o que menciona em suas palavras maldosas para com o povo judaico!

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