Jorge Amado da Bahia

Só tenho um livro de Jorge Amado: “Bahia de Todos os Santos”. É provavelmente o único autor de quem já li quase tudo, sem que tenha comprado seus livros. Comecei a ler em 1982, “Capitães de Areia”. Ainda faltam alguns.

É curioso que eu não tenha comprado os livros de Jorge Amado. Uma tia tem uma daquelas coleções que a Record lançou ao longo do tempo (de cabeça consigo lembrar de pelo menos 4 séries diferentes, todas em capa dura, uma das quais belíssima e pouco encontrada em sebos).

Para mim, mesmo sabendo que praticamente toda a crítica discorda, ele foi um dos maiores escritores brasileiros do século XX. Acho que nenhum escritor brasileiro conseguiu descrever tão bem o seu povo, nem transportar tão perfeitamente para a língua escrita o falar cadenciado que ouvia nas ruas. Mais que isso, “Seara Vermelha”, se você esquecer aquela última parte em que o pobre Jorge se obriga a fazer sua incursão no realismo socialista e louva a Revolução de 35, é o testamento definitivo do Nordeste. É claro que é um julgamento muito, muito pessoal; mas se tentar ser realmente objetivo corro o risco de ficar em Machado de Assis — um escritor do século XIX que por acaso publicou alguma coisa nos 1900.

Gostando tanto assim de um autor, o mais óbvio seria comprar seus livros. Mas há uma boa explicação.

Em primeiro lugar, essas coleções em capa dura terminam em algum momento dos anos 70, começo dos 80 — pelo menos as que vi até hoje. Não chegam a “Tocaia Grande”, de 1984, seu último bom romance. Recentemente eles começaram a fixar o texto definitivo: em tempos de editoração eletrônica não há mais espaço para erros tipográficos, para Balzacs reescrevendo livros inteiros enquanto corrigem as provas, ou para Joyces gastando seus últimos fiapos de olho para corrigir os erros de “Ulysses”. (Pensando bem, não há mais tipografias.) No entanto, o projeto gráfico desses livros é fraco, além da apresentação em brochura com uma sobrecapa vagabunda.

Tenho a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, alguém tenha piedade de Jorge, o Amado, e relance seus livros com tipologia decente, paginação sem frescuras e uma boa capa dura, como fizeram entre os anos 60 e 80. Abrangendo tudo, de “O País do Carnaval” a “A Descoberta da América Pelos Turcos”.

Eu espero. Eu tenho tempo. Enquanto isso, uma sugestão: “Seara Vermelha” deve ser encurtado. Façam um favor à memória de Jorge de Oxóssi, cortem a parte em que ele conta o destino do último irmão, o comunista revolucionário. Terminem com o belíssimo combate entre beatos e cangaceiros. E então ninguém mais terá coragem de dizer que “Terras do Sem Fim” é o melhor livro de Jorge Amado.

11 thoughts on “Jorge Amado da Bahia

  1. Rafael, mto legal o seu blog. Parabéns!!! Venho sempre aqui, via ‘O biscoito…’ do Idelber, e sou baiana como o amado Jorge. Uma correçãozinha: ‘Capitães DA areia’, viu? Bjo, Cipy.

  2. Quando li “Terras do Sem Fim” achei Jorge Amado o máximo. Mas a cada livro parece que ele só reescreve o que já escreveu antes. Chegou uma hora que eu parei de lê-lo, não tinha mais paciência. Com respeito ao formato, coloquei essa questão em dois posts do meu blog, um sobre a Cosacnaify e outro sobre “O Tempo e o Vento” de Cia das Letras.

  3. Tivemos experiências parecidas. Eu li Jorge Amado em uma dessas coleções, uma belíssima edição em capa dura com uma medalhinha de metal com a cara do velho em cada um dos livros. Presente da minha mãe — os mais recentes, posteriores à edição, eu não li.

    Pra minha adolescência foi um deslumbre, principalmente a fase “crônica de costumes”, a partir de Gabriela. Tieta do Agreste é um dos melhores folhetins já escritos no Brasil, se não o melhor.

    Mas o Leandro está certo, existem fórmulas lá que se repetem até o ponto da impaciência… Por outro lado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, como adaptação dessas mesmas fórmulas para o contexto infantil, ficou muito bom.

    Meu “salto qualitativo” seguinte foi ler Garcial Márquez. Depois de Balzac e Dostoievski, ficou difícil voltar para algo semelhante…

  4. fico deliciada em me saber não única leitora voraz de Jorge na adolescência.. eu achava q tinha algo errado comigo por ler assim aos 12 anos, mas acabo de achar espécies semelhantes…em ritmo de extinção!!! dá dó de ver a molecada q nao le e se perde por aí…drogas, pra que? eu viajava bem na literatura. Só ficou chato agora q eu to mais grande e não dá tempo de ler tudo o que existe… balzac até li.. depois… serve fernão capelo?? tava por ali, na mesinha do dentista… beijos

  5. Capitães De Areia foi o primeiro romance que li; meus livros favoritos dele são Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus e, principalmente, Seara Vermelha, que acho que não fica prejudicado
    com o final a la realismo socialista.

  6. Eu sou parte da geração que estudou letras olhando Jorge Amado meio com um muxoxo, o que é péssimo, porque pode ser que uma geração de críticos tenha chegado à conclusão de que não gosta depois de ler, mas o preconceito chega a um ponto que você começa a formar uma geração que ‘não leu e não gostou’, aí é foda.

    Por isso é legal reabilitá-lo, porque sem dúvida o cara é grande. Só há pouco tempo comecei a curtir Jorge Amado. Meu favoritos são Mar Morto, A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Agua e Farda Fardão. É o Jorge Amado sedutor/brincalhão. A fase que começa com Gabriela eu gosto tambémb, embora eu nunca tenha lido nada depois de Tocaia Grande.

    Agora, os romances realistas-socialistas dos anos 30 eu não gostei (Jubiabá em especial eu lembro detestar) e aí acabou que eu nunca cheguei a Seara Vermelha. Vou conferir.

  7. Eu li quase tudo de Jorge Amado ainda na adolescência e quando entrei na faculdade aos 17 e comecei a ler Proust, Borges, Márquez, confesso q tinha certa vergonha de admitir q gostava do velho Jorge. Bobagens, o cara é muito bom e um mestre em retratar a Bahia como só Caymmi na música.

  8. eu passei! não li quase nada, não me interessava e agora acho que interessa menos ainda… acho que não fez falta… o que tem de essencial no jorge? capacidade descritiva? liguajar das ruas? não creio, não foi o que senti quando li… acho que foi mesmo supervalorizado por ser comunista.

  9. Jorge Amado fez com que eu me apaixonasse pela Bahia e fez com que eu me sentisse orgulhosa de ser eu mesma. Não sei explicar isso. Acho que é porque com tantos escritores magníficos que existem no mundo, temos o nosso: ele. Jorge, que define o brasileiro mas não o brasileiro do Sul/Sudeste – existe essa tendência umbilical do Sul/Sudeste achar que é grande coisa nesse país, you know.
    Eu li essa coleção mesmo, capa dura, branca, com uma medalha em dourado. Adorei Doan Flor, adorei Capitães, Tereza Batista, adorei todos. Não tenho mais essa coleção, não sei que fim levou, não era minha, era de meu pai – e ele faleceu há 20 anos.
    Preciso reler tudo, na verdade. Mas ficaria contente mesmo com a edição de bolso.
    Grande Jorge.

  10. pois é
    tbm amo o cara, mas li muito pouco, o arroizinho com feijão de gabriela, tieta, capitães, e teresa batista ….
    mas o cara é show

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