Quando eu encontrar uma mulher moderna

Ontem teve texto meu no Kit Básico da Mulher Moderna.

O texto é o seguinte:

Quando eu encontrar uma mulher moderna

O problema é definir o que é mulher moderna.

E eu não consigo, juro.

Certo, conheço as definições. Aquela conversa de três turnos. Aquele papo de ser mulher, mãe, profissional.

Bobagem.

Tavez eu seja machista. Talvez. Mas isso, no fundo, não me importa muito.

Talvez eu ache apenas que não existe mulher moderna, antiga ou qualquer coisa do tipo. Existe apenas mulher.

Que seja machismo dizer, por exemplo, que por mais belas que sejam suas conquistas, ainda não há nada melhor que cafuné numa tarde fresca de sábado, só você e ela, esquecidos do mundo e da vida. Tudo bem, eu não ligo. Eu sou só um paraíba, mesmo, e na minha terra as coisas ainda são simples, tão simples que às vezes a gente se assusta com essas coisas de modernidade.

Que seja machismo dizer que não há nada melhor do que olhar no olho dela, e se perder em tudo o que ele consegue dizer sem palavras, e perceber de repente que não há nada mais importante que aquilo.

Que seja machismo achar que não há nada tão bom quanto o gosto de uma mulher, quanto o seu cheiro. Que não há nada tão bom quanto ouvir sua respiração bem pertinho do ouvido, que nao há nada tão bom quanto sentir sua mão no seu rosto, passeando com calma, perdida e sem direção.

E posso ser machista, sim, mas essa acusação não vai me fazer deixar de achar que não há nada como se perder no olhar da mulher amada, que nao há nada como ver o seu sorriso, que nao há nada como sentir movimentos involuntários e incontroláveis.

Eu sou machista. Fazer o quê?

O resto? Ah, o resto não é tão importante. O resto são as circunstâncias. E as circunstâncias apenas tiram de uma mulher o que ela tem de melhor. A capacidade de enfrentar desafios, de dar o melhor de si, de se superar.

Mas isso não quer dizer que ela seja esse segmento de marketing que chamam de mulher moderna.

Não quer dizer porque ela não precisa disso.

Talvez seja por essas razões sem juízo que eu ache que isso de mulher de moderna, se não é errado, não é tão certo assim. Para mim, não existe isso de mulher moderna, de mulher antiga. Existe apenas mulher.

Graças a Deus.

Cajueiro dos papagaios

Semana retrasada a produção do programa do Paulo Lobo, que fala sobre as ruas de Aracaju, me convidou para dar uma entrevista rápida. Quando fomos gravar, Paulinho me disse: “Quando me contaram eu pensei: mas logo o Rafael? Ele não gosta de Aracaju!”

Fama é uma coisa horrorosa, embora nem sempre seja verdadeira. A minha é de que não gosto de Aracaju. Paciência. Agora parece que ela está se espalhando. Uma moça chamada Joilma deixou este comentário aqui:

Olá Rafael,
Como pude perceber seu grande problema não é ‘praia’ e sim, o local onde está a praia. Aracaju tem praias belíssimas,a orla mais bonita do Brasil e cada um aproveita essa beleza como pode e como gosta. Nada impede que vc pesque, nade, caminhe horas e horas, só depende de vc, que aliás, é vc que tem que se adaptar ao lugar e não o lugar aos seus costumes. Do contrário, meu caro, mude-se para Salvador ou pegue um ônibus todos os finais de semana caminhe chupando picolé ou tomando suco de limão e retorne no fim da tarde.
Afinal, se a prainha da Barra é tão maravilhosa e inesquecível porque mudou-se de lá?
Ter o privilégio de comer caranguejo e os melhores frutos do mar na orla mais bonita e estreuturada do Brasil é para poucos,é privilégio daqueles que sabem ver a antureza com os olhos da diversidade. Reveja seus conceitos.
Até breve!!!!!

Fui olhar o post para ver se tinha batido demais em Sergipe. Não tinha. Apenas contei que tinha perdido o hábito de ir à praia quando vim para cá. E que as praias daqui são feias. Só isso.

Ah, mas isso é inaceitável. Não gostar de tudo o que é sergipano é um ataque imperdoável à “sergipanidade”, seja lá o que ela for. Não dizer que esta é a cidade mais bonitinha do Brasil é fazer com que alguns sergipanos mais sem noção subam nos tamancos — ou nas alpercatas — para defender os brios de sua terra e as belezas inexistentes de sua cidade.

Nesse aspecto, Sergipe foi amaldiçoado pela natureza. As praias de Aracaju são feias, de águas turvas. Há várias explicações para isso. Uma é o rio São Francisco, cujas águas são trazidas para o sul pelas correntes marinhas. O resultado, como pode ser visto na foto ao lado, é trágico. Acima fica Alagoas, cujas praias são provavelmente as mais belas do Brasil. Abaixo, com as águas barrentas já se dissipando, fica a Bahia. A outra explicação é a inexistência de recifes na costa para evitar as partículas em suspensão.

Isso não são conceitos, são fatos, e fatos não podem ser revistos, apenas aceitados mesmo que batam de frente com seus conceitos.

A Joilma tem razão quanto à orla. É bonita, e está ficando linda; ficaria ainda mais se o governo não desviasse tanto dinheiro da obra. Tavez não seja a mais bonita do Brasil porque uma orla não se define de maneira tão simples, mas está entre elas. O detalhe é que a intervenção humana (e mesmo assim apenas a parte da praia; atravessando a rua já no primeiro quarteirão a feiúra impera) não consegue dar um jeito nas águas feias da praia de Atalaia.

Isso é o que existe de mais engraçado em alguns sergipanos. Essa suscetibilidade imediata, e a capacidade de se irritar sempre que alguém ousa falar que Aracaju não é a cidade mais “bonitinha” do Brasil, a revolta com tudo o que fala de Aracaju sem reverências descabidas.

Pois bem, Joilma, deixa eu te falar uma coisa. Aracaju é uma cidade bonitinha porque é agradável, boa de se morar, arrumadinha e porque seu povo, quando não cospe seu eventual complexo de inferioridade, é bastante simpático. Mas isso não quer dizer que ela seja lá grandes coisas do ponto de vista estético. Para começar, é um “deserto arquitetônico” — e a expressão nem é minha, é de um guia turístico inglês. Seu traçado quadriculado, à la Manhattan, impede grandes variações urbanas — e isso sem a exuberância arquitetônica novaiorquina.

Aracaju foi fundada há 150 anos, mas existe, mesmo, há uns 50 — época em que investimentos públicos a reboque da descoberta de petróleo em Sergipe trouxeram um pouco mais de desenvolvimento para a cidade, através da Petrobras e o BNB. É até hoje uma cidade eminentemente de classe média, baseada no funcionalismo público. Tem qualidades como um déficit habitacional mínimo se comparado a outras cidades. Aracaju não sobe muito alto, mas também não desce muito baixo.

O problema é que alguns sergipanos, com uma auto-estima talvez baixa por morarem em um Estado que não tem a proeminência de vizinhos ilustres como a Bahia ou Pernambuco, não conseguem perceber que isso é uma qualidade e resolve inventar algumas inexistentes. Acabam vendo beleza onde ela não existe.

Mas embora a Joilma mostre um certo grau incômodo de burrice quando diz que meu “problema não é ‘praia’, e sim o local onde está a praia”, já que em todos os anos morando no Rio eu fui para a praia menos vezes do que os dedos que o Lula tem na mão esquerda; que eu tenho que me adaptar a um lugar quando isso nunca esteve em questão; quando pergunta com aquele ar de ignorância arrogante por que eu saí de Salvador quando mais inteligente seria perguntar por que eu me mudei do Rio; mesmo com tudo isso, talvez ela tenha razão. Eu vou fazer como a Lucia Malla, cujo avô é nome de avenida aqui mas nem isso faz com que more em Aju City. Eu vou me mudar para a Coréia.

A propósito: eu não costumo comer caranguejo. Comida trabalhosa e suja demais. Mas, se os sergipanos têm esse orgulho todo de seus crustáceos, não serei eu a contar que o caranguejo do Beach Park, em Fortaleza, é muito melhor que o que você encontra em qualquer bar sergipano. E que a casquinha de caranguejo do Bar no Marcelo, na praia da Tabuba, também no Ceará, é a melhor que alguém já provou.

Se eu disser isso a Joilma me processa. Ou então se suicida.

The Who

Reza a lenda que quando o Who foi gravar My Generation Roger Daltrey, ainda sem saber direito a letra da música, gaguejou involutariamente em “Why don’t you all f-f-f-fade away“. Isso fez a música.

E estragou, também. Toda a música é gaguejada. Enche o saco. Não sabiam que, como dizia o Bauhaus, menos é mais.

Falo isso porque voltei a ouvir bastante o Who depois de muito tempo.

Eu torço o nariz para Keith Moon. Acho exagerado. Nisso estou na excelente companhia de Pete Townshend, que depois reclamaria que nunca pôde escrever uma grande balada para o Who porque Moon só sabia descer a porrada. Quando o usam como ponto de comparação para descer a lenha em Ringo Starr, eu sempre lembro que os ex-beatles, mesmo quando emaranhados em uma rede de processos e contra-processos, xingando-se publicamente uns aos outros, sempre foram unânimes em dizer que Ringo era o melhor baterista do mundo; e sempre que monto minha superbanda pop imaginária coloco Ringo na bateria.

(A saber: Robert Plant no vocal, John Lennon na guitarra base, Eric Clapton na guitarra solo, McCartney no baixo, Elton John calado nos teclados, Ringo Starr na bateria, Jimmy Page e Brian Wilson produzindo canções individualmente e George Martin supervisionando tudo; e antes que reclamem da falta de Hendrix, e mesmo de Bonzo Bonham, lembrem que eu estou montando uma banda, não uma constelação. A coisa tem que funcionar, e funcionar bem).

Roger Daltrey é um vocalista no nível de George Harrison. No baixo nível. Para mim, o Who é uma belíssima combinação de três grandes talentos e um vocalista bonitinho que balançava o microfone de uma forma meio gay mas muito eficiente.

Mas o Who tinha dois gênios.

Não conheço grandes solos de Pete Townshend. Alguém conhece? Mas o sujeito tem uma importância que, com um pouco de boa vontade, quase chega perto da de Chuck Berry e Jimi Hendrix na definição do papel da guitarra no rock.

E John Entwistle. Não é segredo que considero McCartney o maior baixista pop do mundo. Mas quase aceito quando colocam Entwistle nesse posto. Se alguém quer saber como o Who conseguia aquele som tendo um só guitarrista, basta prestar atenção ao baixo.

E no entanto, mesmo sendo brilhante, mesmo sendo uma das bandas mais influentes da história, o Who soa limitado, com características definidas que não mudam de disco para disco. Foi isso que sempre me fez desconsiderar muito de sua contribuição para a música.

Mas eu vivo em uma época em que bandas que fazem a mesma coisa, disco após disco, são aclamadas como a salvação do rock a cada semana. Minha opinião tem mudado assustadoramente.

A rosa púrpura da digitalização

A essa altura todo mundo já sabe que os projetores de cinema de 35 mm estão condenados. Em no máximo uma década devem ser substituídos por projetores digitais, que exibirão não rolos de filmes, mas um arquivo digital.

A digitalização, à primeira vista, parece trazer apenas vantagens. As cópias não se deteriorarão com o uso. O custo de distribuição vai baixar, porque copiar um arquivo digital não custa nada, ao contrário das cópias em celulóide. Na hora em que um filme estiver disponível no Brasil todos os Estados poderão exibi-lo ao mesmo tempo, não precisarão mais esperar a disponibilidade de cópias. Filmes de baixo orçamento não precisarão mais ter lançamentos restritos por outras razões que não as de mercado.

Mas essa mudança deve trazer, logo, outra discussão.

Até há uns 20 anos, os filmes exibidos pela TV eram telecinados, exibidos diretamente de um projetor para a TV através de uma máquina especial (o telecine, óbvio). Traziam riscos, sujeira — fios de cabelo, por exemplo. Aí eles começaram a transferir os filmes para vídeo. O primeiro filme que assisti assim foi “Nunca Fui Santa”, com Marilyn Monroe e Rock Hudson, em 1986.

Parecia uma coisa maravilhosa, porque aquela limpeza era uma grande novidade. Mas havia um detalhe: se celulóide e videoteipe eram praticamente antagônicos (o celulóide oferecia mais profundidade e maior espectro de cores, entre outras vantagens, mas o mais importante, do ponto de vista do espectador, sempre foi a textura superior do filme), essa diferença havia baixado. Agora o filme tinha um quê de vídeo.

Filmes são exibidos a uma razão de 24 quadros por segundo. É um pouco menos que o vídeo, de 30 — mas bem menos que a maioria dos videogames, que passam bastante disso.

A digitalização torna definitivamente possível uma outra mudança, dessa vez importantíssima: o aumento no frame rate, fazendo com que filmes sejam captados a uma razão de, sei lá, 150 quadros por segundo, tornando-o cada vez mais semelhante ao olho humano.

É isso que me incomoda. Porque eu não quero um cinema cada vez mais parecido com a vida real. Eu quero cinema parecido com cinema. Não quero me imaginar como o personagem de Mia Farrow em “A Rosa Púrpura do Cairo”, misturando uma coisa e outra, até a mais completa loucura.

A maravilha da vida em derredor

Nem sempre concordo com aquele trotskista vingativo, mas os posts e a discussão sobre racismo e cotas que estão se desenrolando n’O Biscoito Fino e a Massa são uma das melhores coisas que o Idelber já publicou.

Este blog já bordejou o assunto algumas vezes. Mas nunca com a concisão, categoria, correção acadêmica e contundência do que se está vendo no Biscoito.

Ali está a blogosfera que faz diferença, que discute o país. E que mostra que o que realmente faz um blog são os seus comentários.

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O NemoNox acabou de lançar um projeto brilhante: A Casa das Mil Portas é um projeto literário contendo microcontos (ou seja, contos com no máximo 50 letras) de uma infinidade de autores.

O resultado é fascinante. E vale a pena participar.

Um exemplo de microconto — e para mim, o maior conto que Hemingway não precisou escrever — é esse:

For sale. Baby shoes. Never worn.

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O André Kenji montou uma lista de discussão por e-mail, a blogprog, para juntar o pessoal que ainda não consegue ver o fim da história. Até agora, fazemos parte eu, ele, o Idelber, o Smart Shade of Blue.

Se você quer participar, deixa um comentário aqui.

Um clone no pantanal da América

Chico Anysio diz que crítica de TV é a coisa mais idiota do mundo.

Ele explica. A função da crítica é servir de guia. Ela serve para você decidir se vai ver aquela peça de teatro que ficará um mês em cartaz, se vai comprar aquele livro que continuará nas estantes da livraria.

Não haveria sentido em criticar, por exemplo, um episódio de Chico City, porque esse episódio passou, não será repetido. Criticar o passado é perda de tempo.

Ah, sim: tem as novelas, você diz.

Mas criticar novelas me parece ainda mais idiota. Porque é uma obra aberta, porque tem seus rumos definidos não pela crítica, mas pelo Ibope. Novelas são a coisa menos infensa à crítica que existe em televisão. Novelas são a caravana que passa enquanto os críticos falam palavras difíceis.

E ainda mais inúteis.

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Mesmo sabendo de tudo isso, não dá para evitar comentar “América”, a novela da Globo

O pau comendo entre Glória Perez e Jayme Monjardim pode ter chegado às ruas mas, decididamente, não é a razão pelo fracasso de audiência.

Não que Monjardim não tenha culpa no cartório. Sua direção é catastrófica. O produto que ele levou ao ar é um pastiche de produções passadas que poderia ser mais apropriadamente chamado de “O Clone no Pantanal da América”. Os atores, com poucas exceções, são uma espécie de quem-é-quem da má representação. Os gemidos de Deborah Secco seriam muito apreciados em outro lugar e em outra situação; a inexpressão de Murilo Benício, nem isso.

Mas o verdadeiro problema não está na direção. Está na concepção e no roteiro da novela.

O interior de São Paulo pode ser rico, mas ao resto do Brasil interessa pouco ou nada. É um mundo à parte, repleto de elementos que o Brasil urbano olha com escárnio, como chapéus, fivelas escandalosas e peões de boiadeiro.

Mas há algo muito pior, provavelmente o principal problema da novela: o núcleo cucaracho.

Nós que costumamos reclamar de filmes americanos que mostram brasileiros falando inglês ou espanhol — ou de Mickey Rourke indo de Salvador ao Rio em 45 minutos, em “Orquídea Selvagem”– deveríamos ter vergonha dos mexicanos da novela de Glória Perez.

Esse recurso “multinacional” já foi muito usado nos primeiros tempos das telenovelas brasileiras, em que tudo era amadorístico. Hoje soa apenas falso, amador. E se as novelas são um produto criativo ruim, elas não podem ultrapassar o limite do real, do crível.

Glória Perez juntou em “América” todos as suas características: a celebração de uma carioquice que o medo destruiu, como o boteco da dona Jura e um bairro que não existe (ninguém mora no Andaraí. Pode verificar. Nego sempre puxa uma, duas ruas e diz que mora na Tijuca ou no Grajaú); um elemento qualquer sobre o qual fazer uma campanha politicamente correta, como o vício em drogas ou transplante de coração; e algo que pareça exótico (a cigana Dara, a Internet, o Marrocos). Mas dessa vez a mistura foi tão indigesta que nem mesmo o cigano Ígor poderia agüentar.

O fisiologismo somos nós

O resultado da enquete do início da semana não me surpreendeu. Eu imaginava que a maioria estaria dividida entre o voto nulo e Lula (a única surpresa foi a aparição de Heloísa Helena; mas essa eu também considero voto nulo).

Sem nenhuma credibilidade científica, essa enquente serve, de certa forma, para que se tenha uma visão do que anda pensando a classe média. E parece simples: ela está decepcionada com Lula, mas ao mesmo tempo não consegue ver muita diferença entre as alternativas existentes.

É aí que está uma das duas conclusões, se é que alguma pode ser tirada, dessa enquete: mesmo decepcionando seus eleitores, e mesmo sem conseguir agradar aqueles que não votaram nele, Lula ainda é o candidato da classe média identificada com a esquerda. Nesse setor a força de Lula está no fato de, ainda que tenha feito o que identificam como uma guinada à direita, à sua esquerda existir um vácuo que o PSOL e o PSTU não conseguem ocupar, pelo arcaísmo e sectarismo de suas posições.

Se eu fosse fazer uma previsão, diria que boa parte dos indecisos, e até alguns que esperam votar nulo, devem acabar votando em Lula. A não ser que no último debate presidencial pela TV ele dê um tiro em seu oponente, é praticamente impossível que ele perca a eleição. Mas isso importa pouco. Não é a classe média que elege presidentes. Por outro lado, seus adversários não estão mortos. A taxa de rejeição do Serra, 37%, não significa muita coisa. São apenas os seus primeiros seis meses de governo. Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte; o que parece improvável, apenas, é que a ponte caia.

Mas o comentário que mais me chamou a atenção, por colocar as coisas no devido lugar, foi o do Fred Silva.

Costumamos nos preocupar com a eleição presidencial a partir da posse. Enquanto isso, deixamos passar as eleições proporcionais. Em uma situação como esta, em que as provabilidades de reeleição são enormes, estamos perdendo uma oportunidade de avaliar com mais atenção os candidatos à Câmara e ao Senado.

Pode ser ingenuidade minha, mas acredito que nenhum presidente, se pudesse escolher, gostaria de entrar nos jogos de troca tão a gosto do Congresso. O Congresso é o melhor retrato da sociedade brasileira, é a mais perfeita representação dos nossos conflitos de interesses. E isso pode se dar de maneira honesta, através da ocupação legítima de espaços políticos, ou a forma abjeta materializada no mais baixo fisiologismo. E essa escolha é nossa.

Somos nós que elegemos os Ildebrandos Pascoais e depois reclamamos que o governo é obrigado a ceder aqui e ali. Esquecemos que fomos nós que demos o poder a eles. O fisiologismo somos nós.

(Vale a pena ler os posts, sobre o mesmo assunto, do Rei Açúcar (que, repito, é uma grande novidade), do Me, Myself and I e do Uivemos!.)

Balanço de campanha

Devo ter algum problema. Sério.

O Alex pede fotos de pés de mulheres e recebe. Eu, que nunca tive nenhuma tara, quebro a cabeça até achar uma digna deste nome e peço fotos de cotovelos. Ninguém me manda uma sequer. Nem daqueles mais ásperos e esturricados. Nada.

Aí eu continuo olhando o blog do Alex e vejo que seus leitores compram nos seus links do Submarino, derramando um treco na sua conta bancária. Resolvo seguir seus passos, inclusive com uma ameaça bem concreta.

Recebo aguma coisa? Só o que Rosa ganhou no beco. Espertinhos como o Allan e o Ricardo aproveitam a penúria deste pobre blogueiro para tirar suas lasquinhas.

Cafajestes.

Tudo o que recebo é R$ 1,50 da Mônica. Dá para pegar um ônibus. Mas só a passagem de ida, porque pelo visto a Mônica quer me ver pelas costas.

Mas nem tudo está perdido. A Ninfeta do Demônio e a Mocinha Ingênua, penalizadas com a situação deste pobre blogueiro pobre, perceberam que o meu coração precisava de um pouco de calor e generosidade. Au au para vocês também. Vocês restituíram minha fé na humanidade.

Campanha da Fraternidade 2005

Eu podia estar roubando.

Eu podia estar matando.

Eu podia estar elegendo um político corrupto.

Mas estou aqui escrevendo um blog.

Infelizmente, blog não dá dinheiro. Mas blogueiros continuam precisando viver. Cabe a você ajudar essa espécie a não entrar em extinção.

Contribua com um pobre blogueiro pobre. Doe o quanto puder. Ajude um marqueteiro a sobreviver neste mundo insensato onde não há eleição todo ano.

Doe livros caros, discos raros, mulheres cachorras.

Se você não me ajudar a juntar 50 mil reais até o dia 1 de julho de 2005, eu vou eleger um deputado ladrão em 2006.

Eu posso até reeleger o Severino.

E aí vai ser pior para todo mundo.

Doe. Porque senão vai doer.