Nosso complexo de inferioridade

É lugar-comum falar do complexo de inferioridade que os brasileiros têm.

Costumamos reclamar que não levamos a sério as nossas coisas, que damos importância desmedida à opinião dos outros. Quer dizer, costumamos, não: uma parcela do que agora chamam de elite e que na minha época era reconhecida apenas como burguesia costuma dar.

Essa opinião não condiz com a opinião que o resto da América do Sul tem a nosso respeito. Para eles, nós somos os arrogantes. O papel que reservamos à Inglaterra e aos Estados Unidos, por exemplo, como as grandes potências imperialistas e agressoras, é ocupado por nós no Paraguai — e considerando o papel indigno e sujo do Brasil ao final da guerra de 1865, não é algo injusto.

Na verdade nós nos achamos superiores. Talvez nossos valores não sejam os mesmos, e nos orgulhemos de nossa cordialidade e de nossa tropicalidade enquanto outros se orgulham de algo totalmente diferente; mas ainda assim nos achamos melhores, e esperamos que o mundo reconheça isso imediatamente, sem esforço; porque Deus é brasileiro e não parece admissível que os outros não percebam isso e se ajoelhem a nossos pés.

É o mínimo que se pode esperar, porque somos todos fidalgos, amantes da inteligência não-aplicada, válida por si só.

Também temos um grande complexo de vencedores. Gostamos apenas daquilo que fazemos bem. Ninguém dava um penico furado pelo vôlei, até que a geração de Bernard, William e Montanaro apareceu. E de repente o Brasil passou a gostar do esporte (provavelmente o único caso de esporte que mesmo perdedor conquistou as graças do Brasil tenha sido o futebol. Mas futebol e brasileiros são o único exemplo que me faz acreditar em almas gêmeas).

Depois das eleições presidenciais de 1989, por exemplo, um analista estrangeiro que acreditava nessa bobajada disse que Lula perdeu as eleições por causa do complexo de inferioridade dos brasileiros. Teríamos preferido votar no europeu bonito personificado em Collor.

Foi Elio Gaspari quem mostrou a grande fraude nesse raciocínio: Collor era brasileiro. Lula perdeu, na verdade, para o imensurável complexo de superioridade do brasileiro.

E da próxima vez que alguém me vier falar da baixa auto-estima do brasileiro, eu juro que dou as costas.

26 thoughts on “Nosso complexo de inferioridade

  1. “Talvez nossos valores não sejam os mesmos, e nos orgulhemos de nossa cordialidade e de nossa tropicalidade enquanto outros se orgulham de algo totalmente diferente […]”

    Penso que esse é o ponto: nos orgulhamos dos valores errados. Nos orgulhamos de nossa “alegria”, “hospitalidade”, “calor humano” e bobagens tais qdo os valores que conduzem ao desenvolvimento são o trabalho árduo, a poupança, a noção de mérito individual, etc. E, não comungado de valores que nos levariam à riqueza, nos ressentimos dos que, por comungarem dos valores “certos”, lá chegaram – e os tachamos de “frios”, “individualistas”, “gente que só pensa em trabalho”, etc.

  2. Será que uma brincadeirinha com esse “dou as costas” é forçar muito a barra? 😛
    Ah… tô tão carente…

    Não sabia que os hermanos de baixo nos viam como arrogantes! 🙂

  3. Ficamos preso à ideia de que, se formos super simpáticos e hospitaleiros, qualquer outro erro que possamos ter é pequeno. Nossa ignorância, nossa falta de civilidade e até mesmo higiene são coisas completamente irrelevantes quando podemos mostrar que nós brasilieiros somos os mais alegres e receptivos do mundo. Balela. 🙂

  4. Penso que como todo lugar comum, o erro está em se tratar como absoluto o que é relativo. Em relação ao Paraguai sim nós somos arrogantes, mas em relação ao americano ou europeu nós somos sim subservientes. Nós temos porém algo muito positivo que é uma capacidade de mudança muito rapida. O que nos falta de tradições nos permite desviar a rota facilmente. Dos valores que foram citados, vejo que muitas pessoas falam disso e se incomodam com isso. Aposto que em breve estes paradigmas serão mudados.

  5. Concordo com o Flavio. Usando um ditado popular, “quer parecer magro, anda com gordos”. Se somos arrogantes perante o Paraguai e outros paises latino-americanos, e talvez ate sejamos, com relacao a paises do norte, europeus e norte-americanos, “maiores e mais fortes” que nos, temos essa subserviencia, essa coisa de “eles sao melhores que nos”.

    Acho sim, que o brasileiro tem um complexo de inferioridade, e vejo muito isso com relacao a brasileiros que sairam do pais. Eh so visitar um orkut qualquer da vida, numa comunidade de brasileiros no exterior, para ver isso: eh muito frequente ler coisas como “nao te aproxima de brasileiros” “brasileiro quer levar vantagem em tudo” “jeitinho brasileiro” (num sentido pejorativo) “o Brasil eh uma bosta” etc.

    Em resumo, eh uma relacao de amor e odio que o brasileiro tem com o seu pais: se sente infeior por um lado e compensa exaltando outras caracteristicas (“apesar da violencia, de nada funcionar, temos o calor humano”, por exemplo, sao coisas que li).

    abraco

  6. Eu sou a típica brasileira orgulhosa, adoro o meu país. Mas sou crítica sei que tem muita coisa pra mudar. Eu acho que nôs smos mesmo hospitaleiros, “gente boa” e Deus deve ser brasileiro. Agora arrogantes eu não, na verdade o sentimento que existe entre os países latinos é semelhante ao que existe entre a Argentina e Brasil, uma rivalidade disfarçada que acaba sendo convertida em antipatia com relação ao Brasil.
    Mas eu fiquei surpresa esta semana ao ler uma reportagem sobre o Chile e perceber que é um país “timído” nas relações com países do sul mas que cresce mais que o Brasil pelo fato de ter uma boa relação com países desenvolvidos.
    É interessante a postura digamos “discreta” deste país.

  7. “Na verdade nós nos achamos superiores. Talvez nossos valores não sejam os mesmos, e nos orgulhemos de nossa cordialidade e de nossa tropicalidade enquanto outros se orgulham de algo totalmente diferente; mas ainda assim nos achamos melhores, e esperamos que o mundo reconheça isso imediatamente, sem esforço; porque Deus é brasileiro e não parece admissível que os outros não percebam isso e se ajoelhem a nossos pés.”

    De um ponto de vista estrangeiro, acho isso verdadeiro. Encontrei Brasileiros muito simpáticos, mas de modo geral percebemos para com nós atitudes que vão da franca indiferença até à hostilidade latente (especialmente quando a gente vem dos países desenvolvidos). O que surpreende muito porque vocês têm essa reputação de calor e de cordialidade. Pode ser que haja esse calor e cordialidade, mas como o diz o trecho acima para quem se ajoelhou ! O senti no web e também na vida real ; quando os Brasileiros ficam juntos, ninguém de fora se sente bem vindo. Eu tive meia entrada em grupos brasileiros por ter mostrado o meu entusiasmo pela cultura – isto é porque fiz o esforço. Penso que para sentir realmente o calor a gente tem que virar Brasileiro. Mas o caminho é difícil, pois os Brasileiros gostam de quem se ajoelha, mas gostam ainda mais de desfazer de quem o faz ! Finalemente, depois de uma vida comprida, toda dedicada às coisas brasilicas, deve ser possível a um estrangeiro ser levado a sério e receber um pouquinho de consideração da parte do Brasileiro. Em teoria…

  8. Nunca acreditei nesse história de baixa auto-estima, até porque (por que/ porquê/ por quê) raramente vejo um brasileiro modesto. A maioria orgulha-se muito, mas nem sabe do quê nem porque (por que/ porquê/ por quê).

    Ah, e obrigada pelo link.

  9. Inclusive virou o maior hype em certa esfera aí descer “espirituosamente” o malho em qualquer coisa made in Bananão, mais como pose do que princípio. Well, you know what I’m talking about.

  10. É exatamente o que vejo inserido na mente da maioria da população acadêmica desse país. Vejo cartazes contra-Bush; vejo protestos anti-protecionismo de pessoas que nem sabem o que é protecionismo; vejo gente amarela com sorriso amarelo dizendo que o que falta é o povo se unir, mas depois, primeiro desce mais uma, garçon. Enfim, uma inversão de valores como disso o Alfred E. Neumam no primeiro comentário. Nos escondemos de nossos defeitos dentro daquilo que julgamos o melhor de nós: a superioridade.

  11. Todos gostamos de mostrar o q fazemos melhor, isso não se aplica a mim q sempre me mostro cometendo erros.
    Abraços
    Boa semana

  12. Pois é, acho curioso que sempre que alguém critica os paulistanos, por exemplo, fica falando de como paulistano só pensa em trabalho, em ganhar dinheiro… bonito no Brasil é ser pobre e ter orgulho disso, bonito é ser subserviente e ter orgulho disso. Várias vezes escutei comentários de como eu, por exemplo, sou “arrogante” ou “tenho o ego grande demais” porque “não sou humilde” e sempre falo que trabalho bem, que meu trabalho tem qualidade. As pessoas que me criticam dizem que eu deveria ser mais humilde e menos ego e não ficar me “auto-elogiando”. Acho isso engraçado. Depois são essas mesmas pessoas que reclamam que não tem dinheiro, que o chefe não os valoriza, etc.
    O Brasil tem mesmo uma distorção estranha de valores, como se ninguém precisasse de dinheiro pra nada. Aliás, o que combina com o dito popular de que “dinheiro não traz felicidade”. Só no Brasil mesmo que alguém cunharia uma frase como essa! Mas depois ficam todos querendo ganhar na sena ou ter nascido rico!
    Não era muito mais fácil valorizar o trabalho?

  13. Psicologicamente falando, já que se está falando em complexos, a principal característica do complexo de inferioridade é a tentativa inconsciente de mascará-lo com uma postura de superioridade. Aqueles que possuem o complexo de inferioridade apresentam-se como arrogantes, seguros, etc. E vice-versa para o complexo de superioridade. O complexo (qualquer um), sempre se manifesta por um comportamento oposto ao que ele designa.
    É provável que a maioria das pessoas que usam o conceito de Complexo para falar do povo brasileiro não tenha uma noção básica do seu significado psicológico, aí fica difícil explicar uma coisa por outra que se desconhece.

  14. Sabe o que não gosto aqui na nossa terrinha? Gente que come sardinha e arrota caviar. Exemplo: mulheres (ataca mais os espécimes do nosso sexo) que vão alugar um quarto na casa de alguém e se acham as rainhas, querendo mandar em tudo. Ora, se é tão maravilhosa assim, compra tudo do bom e do melhor, porque não vai morar sozinha? Porque não tem m.. no c. pra cag. né?! Estou desabafando.. Repara não! 🙂

    Gente que vem da roça e humilha todo mundo; com esses eu não dou mole. Acho pior até do que rico querendo de fazer de pobre é pobre se fazendo de rico. Se complexo de inferioridade matasse.. tem um povo por aí que´já tava é enterradinho pra deixar de se auto-exaltar. Aliás, adoro este ditado do Don Marquis, um ex-estadista sueco: “Humildade é tanto o oposto de auto-humilhação quanto de auto-exaltação”. Então, melhor tentar o caminho do meio, sem se jogar no lixo como a Dani disse. Eu aprendi a duras penas a não me jogar fora.. apesar do gênio ruim! Bisous 🙂

  15. Então todos têm, o brigatóriamente, ou complexo de superioridade, ou complexo de inferioridade???

    (Adoraria que me respondessem… =])

  16. Creio que possa estar havendo um equívoco na interpretação da obra Freudiana…
    Complexo de Inferioridade – vejam bem, “Complexo” remete a não ser simples – nada mais que aquilo que uma pessoa/sociedade/nação consiga operar sendo sabedora de limitações de alguma ordem (intelectual, material ou física). Vejamos dois exemplos continentais neutros no embate anglo-lusitano [ou luso-anglicano]: Holanda (Europa) e Japão (Ásia) – países que, em sua ‘inferioridade’ (territorial) são países de projeção global, ao passo que países como Índia e, mesmo, China, não gozam da mesma potencialidade econômica que os ‘nanicos’ citados, por mais que detenham gigantismo demográfico ou territorial na comparação direta.
    Logo, constatamos em relação ao Brasil o caso raro sobre o qual nem Freud ousou dissertar: “Complexo de Superioridade”, que é a pessoa/sociedade/nação
    que, sabedora de uma realidade privilegiada, menospreza-a, achando que sempre há o que mehlorar, mesmo sendo detentora de uma exuberância física, intelectual, natural, religiosa, econômica, territorial, culutral, populacional, ‘futebolística’, desportiva em geral, nunca se dá por satisfeito com as benesses que tem, buscando quase sempre pejorar situações que estejam no limite da benesse a ser desfrutada, fitando auto-crítica ao que não esta ideal, embora seja um cenário inimaginável por outros povos.
    Às vezes, quaisquer povos – sobretudo o brasileiro – precisa que outros lhe digam o que tem de bom em seu país para que o nativo destas terras meridionalis perceba o quanto desperdiça nos atributos citados.
    Cito Evgen Bavcar, que tem uma citação adequada ao Brasil – e à humanidade, independentemente do complexo que cada um tenha exacerbado:
    “Somos todos um pouco cegos de nós mesmos; sempre precisamos do olhar do outro para nos vermos – mesmo que este olhar seja o do espelho”. Tu perguntarás agora: “quem é esse tal de Eugênio Baucar (pronúncia em português castiço)??? Supreenda-se ao saber que, além de esloveno, Evgen é um… FOTÓGRAFO CEGO!
    Quem ficou curioso, pergunte mais…

  17. Um comentário da Dinamarca. Obviamente não tenho a mesma perspectiva sobre o assunto como um nativo brasileiro. No entanto posso contar como eu, como estrangeira no Brasil, entendi o complexo de inferioridade/superiordade. Achei a inferioridade muito dominante até tanto que muitas vezes me senti acusada de ter opiniões negativas sobre brasileiros que nunca na minha vida tive. Para mim parecia que muitos brasileiros pensam que a gente pense que são inferiores, o que não é o caso. Acho uma pena se existe um preconceito auto-destrutivo sobre o que os outros pensam. Outras vezes senti que agiam numa forma superior, e sim, como disse a Angelita, poderia muito bem ter sido para compensar. As minhas experiências com pessoas da elite foi muito rium, achei que eles perderam a nocão (perdão, não há c cedliha no meu teclado) com muitas éticas básicas, apesar disso, há no Brasil um grande número de pessoas das classes médias super inteligentes com todas as atitudes certas para levar o país em frente, é essa classe que deixa me acreditar que o Brasil pode muito bem ultrapassar, ou no mínimo chegar ao mesmo nível econômico, quanto os países do Primeiro Mundo, pelo tamanho do país, pelos recursos e mais que tudo, pela atitude das classes médias. O desafio maior não é combater pobreza, o desafio maior é combater a riqueza (deu sentido? – perdoe o meu português)

  18. Nosso complexo de inferioridade pode vir também, atraves de alguma palavra de maldição de um amigo ou de algum familiar, como por exemplo: “Você não serve para nada mesmo”.
    Esse tipo de expressão acaba construindo um complexo ou até mesmo alimentando mais e mais.
    Já os grandes filosofos e pensadores dizem que a palavra tem poder, e nesse caso eu concordo muito. Então o que devemos fazer para mudar esses complexos de que não somos suficientes capazes para algo, é mudar o nosso interior, como?? Acreditando mais em nós.Isso mesmo!!! Temos que colocar desafio no nosso dia a dia para que possamos vencer aquele medo que nos atormenta. Pois se nos não acreditarmos em nós quem vai acreditar??
    Devemos parar de olhar para a vida dos outros, esqueçer os conselhos dos outros, dizer um DANE-SE para o que os outros pensam, e viver uma vida de liberdade, acreditando em nós, e construindo uma história nova!!!

    Eu acredito em mim, eu posso, eu consigo e você??

  19. eu + do q nunca posso falar disso……pois sou uma vitoriosa….sempre fui 1 pessoa pessimista + posso dizer q já supperei tdo isso c coragem e sem medo de errar
    Se acreditarmos em nosso EU vençeremos tdo isso podem acreditar….

  20. Na minha opinião o nosso país, é um país que tem o queijo e a faca na mão… onde ele tem um potencial extraordianario para crescer, mas infelismente observamos que a realidade em que a maioria do seu povo vive. não condiz com oque é possivel se conseguir em relação a um desenvolvimento sustentavel, onde esta situação é ocasionada por N fatores (Miséria, corrupção, violência,concentração de renda etc) Acredito que esses fatores são responsaveis de certa forma por um complexo do nosso povo. mas acho que para tudo existe uma solução, é óbvio que nada acontece da noite para o dia, mas acredito que é possivel ainda nós vivenciarmos dias melhores… pois tenho obervado que existem pessoas idealistas com pesamentos “Grandes” que desejam ver o Brasil, num lugar onde condiz com sua magnitude ,pois um país riquissimo como o nosso, onde não á guerras , fenomenos naturais de grande proporções, “Lindas mulheres” (Não posso deixar de comentar isso,rsrs) não pode ser visto como um país subdesenvolvido… tenho 18 anos e sou o futuro como milhares de outros jovens desta nação e acredito que o país tem engatinhado ,rumo a seu desenvolvimento oque precisa é dar mais vitamina a ele ( educação, estrutura e organização) Obs: Acredito que não devemos nos fechar a opiniões, pois o ser humano ele não muda ele evolui… e com isso necessitamos nos socializar… e devemos seguir exemplos bons…e filtra as coisas boas de tudo, pois tudo se tivermos sensibilidade aprendemos e tiramos lições tanto das coisas boas como das más…

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