Prestação de contas

Há tantas coisas de que, se não me arrependo, certamente não faria de novo: ficar pendurado no capô de um Maverick a 100 por hora em um carnaval, mandar gente demais à merda, mergulhar de lugares altos demais, caminhar sozinho de madrugada pela Saúde, não ter dito “não” mais vezes, estar ao lado de uma amiga prestes a jogar um coquetel molotov na polícia, ser grosso com umas pessoas e não ser com outras, viajar de Aracaju a Petrópolis com 500 cruzados — equivalentes a 20 coca-colas –, namorar quem não devia, não namorar quem devia, pegar um táxi no aeroporto de Veneza, dormir ao relento na entrada de Aracaju com a bunda para baixo por medo dos travestis que rondavam o lugar, montar uma égua chucra e ser jogado, humilhado, a alguns metros de distância, ser expulso de bares por comportamento impróprio, entrar no fosso dos jacarés, acordar sem saber onde estava, explicar a uma militante da UJS o trotskismo na visão do PCdoB em um ônibus cheio de professores paulistas trotskistas da Apeoesp, não ter feito a campanha de 1998, fazer um strip-tease coletivo no Cine Palace durante um filme dos Trapalhões, sair correndo do bar porque o sujeito que estava com aquela moça tinha um revólver na mão, vandalizar todo o condomínio com requintes pirotécnicos, mandar o sujeito que me assaltou tomar no olho do cu; e no entanto, à medida que o tempo vai passando e o corpo não quer mais que um sofá confortável com suco de mangaba e uma ruga fica cada vez mais tempo entre as sobrancelhas, isso é tudo o que sobra, porque de todo o resto eu esqueci, as coisas de que me arrependo e as que faria de novo, as coisas que deveria ter feito e fiz, e nenhuma delas me faz sorrir, hoje.

18 thoughts on “Prestação de contas

  1. Liberou geral! Fase balzaca essa? Falando sério, quem não tem a sua lista de coisas por fazer ainda que pareçam extremamente absurdas? Contravenção da moral, esse post tem cara e corpo de divã 🙂

  2. Eu acho que a memória boa que nós guardamos é aquela refente às besteira que a gente faz, exatamente como vc relatou neste post. Assim, se quiser ter do que se lembrar na velhice, o negócio é enfiar o pé na jaca.

  3. Pois é, Rafael,
    O mais notável disso tudo, é que de nenhuma delas você esqueceu. Não faria de novo, mas valeu! E como valeu!
    Caso contrário, tudo isso teria caido no esquecimento.
    Como dizia meu professor de filosofia, esses, sim, são os acontecimentos da vida. O resto…apenas o resto.
    Abração
    fernando cals

  4. Cacete…devo ter o quê? Uns 10 anos a menos que você…e já fiz muitas das coisas que você fez…

    Christ…

    Tenho que parar.

  5. Um senhor currículo, né? O q mudança de idade faz e traz à lembrança, véio … 😉

    Beijão,

  6. Desde pequeno (há cerca de 500 anos) sou fã do Superman. Mas quando lembro que ele foi criado com fins de promover a política norte-americana pelo mundo…mas enfim…
    gd ab e ot carnaval

    P.S. Valeu por ter linkado o Arte de Odiar. E tem conto novo lá. Dê uma olhada.

  7. Pegar taxi em Veneza é pagar um senhor mico, mas eu já viajei sozinho do Rio a Manaus e depois Porto Alegre, com uns 100 reais. Voltei três meses depois com uns mil e quinhetos. Coisas que a gente só faz quando tem 17 anos, uma mochila, umas miçangas pra vender e nenhuma idéia do que fazer nas férias.

  8. incrivel o qto rio aqui …

    ” .. explicar a uma militante da UJS o trotskismo na visão do PCdoB em um ônibus cheio de professores paulistas trotskistas da Apeoesp … ”

    rsrsrsrsr

    pq não fazer de novo?

    rs

    já namorar que não devia e vice-versa … tá certo! .. q merda

  9. lendo até o fim .. e os coments ..

    realmente eu sou um bunda …

    e o fim .. ta triste? (ou é impressão?)

    qto ao sair correndo do bar …. foi pelo revolver, pelo correndo, pela moça acompanhada de um cara com revolver ..

    duvida cruel

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