O Superman voltou

Quem ainda não assistiu a Superman Returns, vá assistir. Corra. Pegue a próxima sessão.

Desde a primeira cena, Superman Returns deixa claro que o seu principal referencial não são os quadrinhos. Ele não tem compromisso com aquela lógica, e sim com o universo criado pelos dois primeiros filmes com Christopher Reeve, dirigidos por Richard Donner. Essa genealogia está presente em toda a estrutura de Superman Returns, mas principalmente nas constantes referências ao seu antecessor. Jonathan Kent, por exemplo, continua morto. Tudo ali indica que ele é uma continuação, que faz parte do mundo próprio criado pelos filmes anteriores, com seus defeitos e qualidades. Frases inteiras são retiradas do filme inicial. Aqui e ali aparecem referências a momentos vividos mais de um quarto de século atrás.

Talvez essa seja a decisão mais acertada do filme: não renegar seu passado cinematográfico, e se inserir no universo criado por Richard Donner. Há referências aos quadrinhos, claro — o pulso eletromagnético remete a “O Cavaleiro das Trevas”, uma foto é homenagem à capa da Action Comics onde o Superman fez a sua estréia —, mas as principais são aos filmes de 1978 e 1980.

O início de Superman Returns é brilhante ao conseguir criar a atmosfera necessária para o filme. Pela música, uma das melhores que John Williams já escreveu e que, aos seus primeiros acordes, é capaz de trazer arrepios. Pela participação póstuma de Marlon Brando, cuja voz inconfundível dá humanidade a um filme que fala de um semi-deus. E pelo ritmo, perfeito, mais propriamente uma conquista da tecnologia do que do talento do diretor: já se vão longe os tempos em que o personagem era filmado contra um filme em exibição, e em que os cortes eram feitos em moviola.

A primeira aparição do Superman no filme é apoteótica. Como no primeiro filme, o Homem de Aço entra em ação para salvar Lois Lane de um acidente aéreo. Mas 30 anos de desenvolvimento em efeitos especiais fazem uma grande diferença, extremamente bem-vinda em um filme de super-herói. Além disso, já nessa cena Superman Returns traz um elemento essencial ao personagem, por mais que as pessoas esqueçam disso: humor. O mesmo humor que sempre fez parte da relação entre Lois e Clark e que foi bem aproveitado nos filmes anteriores. É o humor que alivia as dimensões sobre-humanas do personagem e que lhe garante alguma sobrevida.

Uma das decisões mais acertadas diz respeito à escolha de Brandon Routh. Ele não esconde que imita descaradamente Christopher Reeve (a quem o filme é dedicado), inclusive nos trejeitos. E o resultado é, para os mais velhos, uma transição indolor; para os mais novos, um Superman bastante adequado aos novos tempos. Falta a Routh, claro, o talento de Reeve; mas da maneira como o filme é construído essa é uma falha menor, e quase imperceptível.

Algumas participações especiais abrilhantam o filme. Como Frank Langella — um ator excepcional — no papel de Perry White, e a Peta Wilson num papel pequeno. Basta ouvir a voz da Peta (que fazia a Nikita no seriado de TV) para que uma pessoa normal pense besteira imediatamente.

O filme tem defeitos, claro. Brandon Routh e Kate Bosworth parecem jovens demais para seus papéis, mas isso se explica pela necessidade de permanência da série. O novo arranjo da música de John Williams a enfraqueceu — é no que dá quando se tenta reinventar a roda.

Por outro lado, um bocado de críticas foram feitas ao plano mirabolante de Lex Luthor. No entanto, é essa provavelmente a maior concessão aos quadrinhos feita pelo filme — e mesmo assim por seguir à risca a linha do filme de 1978. O plano de Luthor é uma versão atualizada do que a sua versão de 1978 empreendeu. E é isso que faz dele algo adequado. Esse Lex Luthor pertence a outros tempos, é um tipo de vilão que, em vez de preocupado em destruir o mundo, quer mesmo é ganhar muito dinheiro de forma muito rápida. Talvez um “super” seja suficiente em um filme só, não é necessário outro. Nesse caso, a humanidade e a mesquinhez de Lex Luthor são adequadas. E Kevin Spacey faz um bom trabalho, à altura do original de Gene Hackman — inclusive nas perucas.

O principal problema do filme, na verdade, é a absoluta unidimensionalidade do Superman. Ele não existe como pessoa, e isso empobrece a obra. Mesmo diante de dramas claros — sua volta e a impossibilidade momentânea de retomada do relacionamento com Lois Lane, além de outra mais importante perto do final —, seu personagem não tem absolutamente nenhuma profundidade emocional. É o que, à primeira, faz Brandon Routh parecer melhor Clark Kent que Superman; o Superman é etéreo, irreal. Ao mesmo tempo, o próprio Clark Kent é mal aproveitado, o que faz alguém se perguntar para que, afinal, o Superman precisa dele.

Mas mesmo com defeitos, Superman Returns é um belo filme de super-herói.

15 thoughts on “O Superman voltou

  1. A Peta Wilson foi a única coisa boa do filme.

    A cena ‘mais comédia’ foi uma com a Lois na cozinha, quando ela se abaixa, fica claro a deficiência de gluteos da atriz, todo o cinema gargalhou…

  2. Eu adorei esse filme! Me apaixonei pelo Superman do Brandon Routh tanto quando o do Christopher Reeve.A única coisa que me incomodou (um pouquinho) é que o Brandon R. não tem os olhos azuis e a computação gráfica (ou lente)as vezes ficava falsa. Boa parte da ingenuidade do primeiro Superman, pra mim, vinha dos olhos azuis fantásticos do Christopher Reeve.

  3. Salve Rafael:

    Na verdade o Blog (Cronologia do Rock) não acabou. Só dei um tempo, por absoluta falta de tempo. Estou tentando redigir uma dissertação e não consigo pensar em outra coisa.

    Na verdade os textos já estão escritos, há muito. Já colocá-los no ar…

    É isso.

    Um forte abraço e obrigado pela consideração, por perceber a “ausência”.

    Jorge Miguel

  4. Pergunte ao Super-homem quem ele levaria para uma ilha deserta!!
    O ator mais parece um boneco, não vi interpretação!! (rs*) Não precisava, já que se baseia em quadrinhos?
    Achei chata a mesma música tocando por mais de duas horas.
    Em algumas cenas, sem parecer piegas, lembrei de Christopher pela aparência do ator e fiquei emocionada. Sempre gostei desse super herói.
    Beijus

  5. Saí do cinema com a cabeça dando voltas. Vou escrever com calma uma resenha sobre as mil coisas que fiquei pensando sobre ele, mas enquanto isso convido os interessados a conferirem essa discussão no fórum de cinema que eu participo. Fiquei plenamente satisfeito. Agora, comentando o que você escreveu:

    a) o humor existe (é um grande diferencial em relação às outras franquias), mas foi um pouco podado em relação aos filmes originais. Esse novo tem uma grandiosidade épica tão acentuada e é tão “moderno” que fizeram por bem diminuir um pouco o tom escrachado.

    b) no primeiro encontro entre Lois e Superman, depois daquela cena, Brandon Routh está idêntico a Christopher Reeve.

    c) você tem razão, esse filme em alguns momentos copia descaradamente a história do primeiro, mas não vejo isso como tão ruim assim, dada a enorme distância temporal entre ambos. É mais ou menos como “lembrar” os mais velhos da mitologia original e usá-la de novo para encantar os mais novos.

    d) o Homem Aranha do segundo filme é um personagem bem mais complexo que Superman, mas no cômputo geral eu achei esse filme melhor. Talvez essa falta de profundidade do herói seja proposital, sei lá, ele é o mais bem-acabado arquétipo de uma divindade, entre todos os personagens de quadrinhos. Deuses têm várias faces?

    e) você foi absolutamente profético nesse trecho do outro post: “Ao que parece, cometeram um erro bobo ao dar um filho a Lois Lane; no universo dos quadrinhos, famílias e filhos costumam ser um problema estrutural que atrapalha as possibilidades dramáticas a longo prazo”. Bem, eu não chamaria de erro bobo, eu chamaria de um problemão para os roteiristas dos próximos filmes. Mas um problema criativo, dos mais instigantes.

  6. É… o filho vai ser um problemão.
    SPOILER:
    E achei lindo o marido de Lois indo salvar os dois… Um homem sem poderes, mas lá… segurando os dois… tão lindo… 🙂

  7. fui ver.
    acho que o problema é que o herói envelheceu mal. realmente, superman é um herói que não se adaptou aos novos tempos… não tem a profundidade existencial do batman, não tem a angústia juvenil do homem-aranha… poderia se adequar, devo fazer post sobre isso.
    :>)

  8. Bah, cheguei atrasada. Passei o findo viajando e só acessei agora. Não quero ser redundante.

    Eu vi Superman na cabine para jornalistas uma semana antes da estréia nacional e, em minha opinião, o filme é EXATAMENTE como vc o descreveu.

    Concordo plenamente. Aliás, concordo inclusive com o post anterior.

    Eu nunca gostei do SH dos quadrinhos (e vc sabe disso) justamente por achá-lo raso emocionalmente, deveras inumano. Não costumo admirar divindades. Haja visto que meus super-heróis prediletos são Batman e Demolidor.

    Mas um ponto interessante que notei no filme foi justamente a relação dos humanos para com ele.

    Não achei que o filho de Lois tenha sido um impecilho ou um erro, mas sim uma cartada ousada dos roteiristas.

    Vamos ver como isso vai se desenrolar nas sequëncias.

    No geral, tenho a mesma opinião que você: Superman é um ÓTIMO filme de super-herói, com fotografia, efeitos e atuações dignas de nota. Feliz no que se propõe.

  9. Acabo de ver o filme. Na abertura, quando toca o tema original, notei-me com um largo sorriso, emocionado de pela primeira vez ouvir aquela melodia num cinema (Superman – O Filme estreou quando eu estava para nascer). A música, o estilo dos créditos, a voz de Brando/Jor-El, tudo evocou a primeira vez que vi um filme do Super-Homem, com 5 ou 6 anos, na TV da sala com minha mãe. Foi realmente emocionante.

    Como filme de super-herói, este é sem dúvida bem diferente dos já citados X-Men, Homem-Aranha e mesmo Batman Begins. Todos esses personagens apelam para uma identificação, atraem por suas “falhas” — a obsessão vingativa de Batman, o azar do Homem-Aranha, a marginalização dos X-Men. Mas, depois de ver “Superman Returns”, dei-me conta de que ele é um personagem muito diferente. O filme o apresenta não como alguém com quem devamos nos identificar — fazemos isso mais com Clark Kent que com Kal-El –, mas alguém que, verdadeiramente, é um semideus. Em várias cenas, é assim que ele é mostrado: imponente, belo, poderoso. E isso a gente nota também pela reação que desperta nos habitantes de Metrópolis, o senso de absoluto espanto e veneração por um homem que salva aviões, moças em carros desgovernados etc. O Homem de Aço não existe para o nosso lado negro, como o Batman, ele é pura luz, o que justificaria, talvez, a unidimensionalidade que lhe dão.

    Claro, acho que o lado Clark ficou muito pouco explorado em relação aos outros filmes, e a idéia do filho de Lois cheira a dor de cabeça. Luthor tamém não aparece tanto (mas a cena em que ele encontra Lois é realmente impagável), e soa mais como alívio cômico que como o megavilão que foi criado para ser. Pena que não reviveram aquele assistente dele do primeiro filme.

    Já o final é simplesmente tocante, mais do que qualquer coisa desses heróis mais “mortais” poderiam oferecer (exceto, talvez, pelo Amigão da Vizinhança Peter Parker).

    Em suma, “Superman Returns” não é um filme perfeito, mas é um filme histórico de uma franquia histórica. Merece ser visto. E que venham outros!

    Um abraço,
    Rodrigo.

  10. Tenho profunda aversão por super-heróis.
    Ainda mais por logomarcas travestidas de pseudo-humanidade.
    Passo longe dessa tralha.
    Prefiro pornografia. É mais autêntica.

  11. Tudo bem,

    Eu sou muito suspeito para falar sobre os filmes de Superman, pois, tenho um verdadeiro fascinio sobre as historias, porém, lendo alguns comentários acima pude me identificar com alguns e discordar de outros, penso que é assim mesmo que deve ser, problematico, discutivel e insatisfatorio. Não nesta sequencia é claro… Mas, eu acho que é isso que o autor quer despertar em nos. Acredito que o filho de Lois Lane e Clark(Superman), trará aos proximos filmes a tão esperada ação de deixou a desejar no Superman Retorno.

    Por Pedro 03 de Agosto 2006

  12. eu achei o filme superman o retorno,otimo. Brandon Routh soube apresentar muito bem o personagem,e ele e muito lindo.
    me tornei fa do Brandon Routh.
    um super beijo pra ele.
    e eu que nao era muito fa do superman,esse agora eu adorei.
    parabens

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