Neo-nazistas, agora do outro lado

A. Hit.. Ops, SharonDurante as eleições americanas, quando alguns mais exaltados chamavam Bush de nazista, logo apareciam vozes gritando que não se podia fazer essa comparação, porque o nazismo foi muito mais que isso, etc.

Essa sacralização do nazismo como algo único, impossível de ser repetido, sempre me pareceu um erro. Pressupõe a idéia imbecil de que foi uma excrescência histórica sem explicação, uma espécie de Anunciação do mal. Descarta todo o processo histórico que o criou.

A maioria dos nazistas não era louca, não era alucinada de ódio. Era gente perfeitamente normal, com preconceitos comuns em sua época e lugar que foram amplificados além do “aceitável” em um momento específico. Muitos eram só oportunistas. E o próprio Hitler mostrou que era extremamente racional em seu ódio: “Se os judeus não existissem, precisariam ser inventados”, ou algo assim. Louco ou não, arcaico ou não, Hitler era um político, e um bom político para aquele momento específico da história alemã. Independente de seus próprios preconceitos, sabia que o anti-semitismo era uma plataforma importante para o crescimento do partido nacional-socialista.

Erro grave, esse. Esquecer o contexto histórico em que algo se desenvolveu pode permitir que essas mesmas ações se repitam.

Este blog já comparou a ação de Israel às dos nazistas e foi criticado de algumas pessoas. Talvez por isso dê para imaginar a surpresa ao ver Yosef Lapid, que viveu no gueto de Budapeste durante a II Guerra, comparar a ação de Israel na Faixa de Gaza a ações nazistas semelhantes: “Vi na televisão uma senhora [palestina] procurando seus remédios numa casa destruída em Rafah, e ela me lembrou minha avó”. (A matéria completa, que fala sobre o declínio dos direitos humanos, é assinada por Silio Boccanera e está na Primeira Leitura de novembro de 2004).

Ainda assim Lapid seria só mais um sujeito a se indignar com o que Israel anda fazendo na Palestina, não fosse ele o ministro da Justiça do seu país. Agora, o Pedro Dória mostra o exército israelense tratando um violinista palestino da mesma forma que nazistas trataram judeus nos anos que precederam a II Guerra Mundial. A semelhança é impressionante. As imagens de judeus lavando o chão, cercados por soldados e transeuntes que riem de sua humilhação, deveriam ser mostradas a todos que menosprezam a maldade humana; e a essa imagens deveriam ser juntadas as do violinista Wissam Tayem.

Claro que se pode dizer que não há comparação, que Israel não construiu campos de morte como Auschwitz e Dachau. Mas por uma questão de metodologia, a Solução Final não define o nazismo. Define o Holocausto, o momento mais baixo da história da humanidade. O que realmente define o nazismo é a série de leis e, principalmente, de atitudes que o Reich empreendeu nos anos 30. O Holocausto não teria acontecido se, antes, o nazismo não fosse se fortalecendo através da perseguição e humilhação de milhões de judeus, se Chamberlain não deixasse esses pequenos detalhes passarem enquanto aceitava com protestos débeis os avanços de Hitler.

Hoje, Israel é um Estado opressor. Prepara o genocídio de uma raça. Se torna progressivamente racista à medida que seu povo aprende, desde o berço, que palestino é perigoso. E se isso não o faz cada vez mais parecido com o regime que fez o seu povo sofrer como poucos outros na História, então eu não entendo mais nada.

Originalmente publicado em 2 de dezembro de 2004

2 thoughts on “Neo-nazistas, agora do outro lado

  1. Sim meu velho e caro blogueiro “tarado”. Você entende de muitas coisas. E tem razão na comparação. Não podemos tb, é claro, esquecer as condições históricas que criaram esse racismo opressor de Israel.

    Você com certeza deve conhecer estas condições. Obviamente que isto jamais justificará qualquer opressão por parte de ISrael.

    Como havia já escrito em meu blog, o conflito árabe-israelense é uma plataforma política. Para ambos os lados. Existe uma retroalimentação cruel e desumana da violência por líderes pouco preocupados em religião ou qualquer outra coisa.

    O que esses grupos querem é (parece antigo, mas é verdade) poder. Eles querem poder. Se destruir uma nação é o melhor caminho para isso que seja.

    Ainda mais em mundo altamente policiado como o nosso em que opiniões, charges e o pensamento são cerceados pelo emburrecedor “deus chamado todo mundo” do politicamente correto.

    O terrorismo nada mais é do que uma mistura de ódio, violência, ganância como pano de fundo para a obtenção de poder.

    Abs…

  2. Sem mais delongas,penso que os manuscritos “Sábios de Sião” Resumem de forma clara e contundente os motivos do extermínio de judeus…
    Jan Nazorek…

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