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As coisas em Cuba continuam complicadas para o Alex.

Não bastasse a censura que ele está sofrendo em seu blog — alguém já notou as fotos bucólicas que ele anda publicando? Até parece que Cuba é um país em que as pessoas não são fuziladas na rua o tempo todo; isso só pode ser a ação dos censores, esses desgraçados —, a vida na Castrolândia está cada vez mais difícil.

Pelo último e-mail que me mandou, parece que ele bem que tentou se comportar como cubano. Primeiro, abandonou o cachimbo e passou a fumar, cada vez mais, os charutos de um peso que todos os cubanos parecem adorar. Até deixou de usar aqueles sabonetes Phebo fedorentos em que é viciado. Nos últimos dias pela manhã ele se levantava e ia direto para a Biblioteca Nacional José Martí, onde está pesquisando sobre os tais romances abolicionistas.

O problema começou quando ele se deparou com referências à santería, e como bom católico carioca não sabia do que se tratava. Agora ele se lamenta, e diz no e-mail: “Porra, se eu soubesse que era macumba não precisava ir atrás de ninguém, a avó do Bia é macumbeira, é até mãe de santo”. O Alex, poucos sabem, é filho de Oxóssi. Mas Oxóssi não reconheceu a paternidade.

Aquela jinetera que tomou o Alex sob os braços indicou um bom brujo para ele. Um tal de Don Miguelito Herrera, que já tinha feito até especialização em vodu no Haiti. Sabe como são esses acadêmicos, um título no exterior sempre cai bem.

A casa do pai de santo fica num subúrbio de Havana. A jinetera disse que não o levava lá, mas deu o endereço. O Alex bateu na porta do macumbeiro no comecinho da manhã de ontem.

Quando viu o Alex, o santero tremeu. A energia daquele brasileño meio viado era muito forte, foi o que disse. Pediu para o Alex sentar e jogou os búzios. Disse o de sempre: que ele ia voltar a ser rico e feliz, que o Oliver ia virar macho, que alguém próximo tinha muita inveja dele, que ele ia comer todas as cubanas que quisesse e que tinha um amigo no Brasil que estava sacaneando o seu blog (o que, desde já, eu repilo como mentira vil e soez).

O brujo pediu licença e sumiu casa adentro. Quando voltou disse ao Alex: “Nuestro jefe está muy mal. Muy mal, el pobrecito. He hablado con los orishas y ellos han dicho que lo que hace falta para que Fidel se ponga bien és una buena mamadita en los pies. Pero nadie le quiere hacerlo porque si no se recupera, el infeliz que le haya chupado gañará el paredón. Tú has sido elegido para salvar nuestra madre Cuba!”

Antes que Alex pudesse responder, de trás das cortinas de contas que separavam a sala de atendimento de pai Miguelito da cozinha saíram dois homens barbudos. “¡Polícia secreta de Fidel!”, eles gritaram.

Mas o Alex já era gato escaldado. “Ustedes piensam que soy otário? Ustedes no son secretas. Ustedes tienes barba. Yo quiero ver los pentellos.”

Os agentes arriaram as calças. Eram imberbes. “Ahá! Ustedes no son policiais ni con un carajo!”, exclamou o Alex, triunfante. Os agentes viraram as costas e mostraram umas bundas extremamente cabeludas. “Nosotros somos de la división de actuación em la retaguarda.”

O Alex foi levado ao palácio presidencial. Os agentes o fizeram entrar em um quarto cheio de guardas. Uns quinze, mais menos. E lá no canto, em uma cama com dossel, Fidel Castro jazia quase inerte. Trazia uma sonda na barriga, a boca aberta que respirava com dificuldade babava, e fumava um charuto. O Alex esperava sentir o perfume do bom tabaco cubano, mas era uma catinga miserável de maconha. Um baseado deste tamanho. Envergonhado, o agente disse que era por indicação médica.

Nos estertores da morte, Fidel respirava com dificuldade. Com um esforço extremo, levantou um pouco a cabeça, olhou para o Alex e sorriu. Mais um esforço, agora ainda maior, e botou o pé para fora do cobertor bordado com a cara de Che Guevara.

Aquele era o pé da revolução, o pé do último grande herói do século XX. Aquele pé tinha desembarcado em Las Coloradas; tinha subido a Sierra Maestra e de lá comandado a redenção cubana. Aquele pé tinha transformado o bordel dos Estados Unidos em um país digno e importante. Aquele pé era horroroso, disforme, calejado e tinha um cheiro de chulé que parecia remontar aos tempos de Fulgêncio Batista.

“Chupame… Chupame… Chupa mi piezito, Alequito de mi corazón… Chupamelo”, disse o grande Fidel com voz entrecortada.

O Alex suava, horrorizado ante aquele pé imenso, tenebroso. Olhou para trás e os dois agentes de bunda de fora olhavam feio para ele. Um deles falou:

“Chupalo bien rico, bien sabroso, maricón. Chupa y serás un heroe de la revolución, con derecho a una fotita de Alberto Korda.”

Se fosse a Margareth Thatcher, o Alex encarava. A coroa até que dava um caldo. O Alex encarava até a Havanir, aquela do Enéas. O Alex não ligaria em pagar um boquete no pé de um velho de oitenta anos, ex-militante do Partido Integralista. Mas em um comunista, ah, não. Isso, nunca. O Alex tem princípios. Não sei direito quais, mas ele tem. Ele jamais chuparia o pé do Fidel. Não tanto pelo pé horrendo, mas pelas sérias divergências ideológicas.

“Fidel, mi compañero… Vaya a ralar el cu en la ostra, que mi boquita no fué achada en el lixón!”

Fidel gemeu. Os agentes armaram suas pistolas e apontaram para o Alex, que finalmente percebeu que a coisa não era brincadeira. Mas de repente as portas do quarto abriram com um estrondo. Seis homens irromperam sala adentro, empunhando Kalashnikovs 1976, e dizimaram os agentes de Fidel.

Com o terreno limpo, Raúl Castro entrou na sala.

“Él no va a chuparte los pies, Fidel.”

Raúl se sentou ao lado de Alex, que mais uma vez exalava aquele cheiro esquisito das calças. Alex esperava a morte, sem direito a pelotão de fuzilamento. Mas então Raúl começou a chorar.

“No puedo matar mi hermanito. Yo amo Fidel como no he amado a nadie más, nunca. Pero ahora me toca ser más. Yo voy a ser el presidente de Cuba, y juro por Dios que voy a hacer discursos más largos aún que los suyos.”

Olhou com carinho para o irmão que, como era de se esperar, continuava jazendo na cama, babando o baseado enorme. Enquanto fazia um carinho em sua cabeça, continuava:

“Desde muy niños, Fidel tenía todo y yo me quedaba con los restos. Nuestra mamacita — que Dios la tenga — le compraba ropas y yo vestia los trapos que no les servían más. Cuando joven él follaba las bailarinas de rumba y yo me quedaba con las camareras. Mientras yo hacia um discurso de 5 horas, él muy listo me sobrepasaba con uno de 7. Ahora és mi turno. Tócate a morrir, hermanito, y nosostros vamonos a construir el socialismo.”

Virou-se para o Alex.

“Ahora tú, brasileño de mierda. ¿Eres comunista?”

Naquele exato momento o Alex tinha tido uma epifania e se tornado comunista desde criancinha.

“Si, señor. Soy afilhado de Apolônio Carvalho, soy neto de Astrojildo Pereira e fui así con João Amazonas, e militei en PCB, en PCBR, en PSTU, en PSOL, en PCO y en PQP.”

“Entonces te has ‘se fodido’, como dices. Los rojos son peligrosos. Tienen unos mariconeos de revolución y yo no quiero eso ahora. Voy a sepultar todos los rojos com Fidel. Pero eres un brasileño de mierda y me atraparías en un problema diplomático con el compañero Lula, aunque yo no comprenda porque él se iba preocupar con un maricón como tú. Ahora mismo hablé con Bush y él me dijo que te va a recibir en Guantánamo. Fíjate, eres un preso político.”

Os agentes de Raúl pegaram o Alex e o colocaram de novo no carro. O Alex saiu gritando: “No hacias esto comigo! Yo soy tu hijo bastardo, papá Raulzito! Mira mi nombre! Castro! Castro!”, mas o Raúl já não ouvia, ajeitando o cobertor sobre o irmão com um olhar enternecido.

Os agentes enfiaram Alex em um macacão laranja — não sem antes limpar sua bunda, que estava em petição de miséria.

Quando o Alex entrou em Guantánamo, os presos se amontoavam em seu banho de sol diário. No canto do pátio, um comunista era torturado; enquanto isso, um muçulmano era estuprado perto da entrada do refeitório por três dançarinos de salsa de Miami liderados pelo Robby Rosa, especialmente empregados para esse mister macabro.

Os presos, alguns com o crescente no uniforme, outros com a foice e o martelo, se aproximaram. Queriam ver quem chegava. “Eres un comunista o terrorista, coño?”, perguntou o que parecia ser o líder.

O Alex se assustou. Percebeu que o destino dos comunistas era melhor que o dos muçulmanos. Era uma boa ser comunista. Mas esses muçulmanos são uma raça complicada, invocada, e também era bom não se indispor com eles. A merda era que o Alex não sabia a letra da Internacional (“De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da Terra”), nem uma daquelas palavras de ordem típicas. Algo no seu cérebro de menino rico mimado impedia que ele conseguisse pronunciar frases como “Reforma agrária já” ou “Abaixo o imperialismo”. Tampouco sabia algum verso do Alcorão. O jeito era improvisar.

“Por Alá, eu estou grávido de Luiz Carlos Prestes!”

Os presos começaram a rir. Só um pequeno grupo, de umas doze pessoas, continuou sério, medindo Alex de cima a baixo.

Os guardas vieram e o levaram. Com a cara de pau de quem pede fotos de pés, o Alex pediu um computador com acesso à Internet. Ele queria mandar um e-mail para a namorada, para os amigos e para a Xuxa. Claro que o guarda não ia liberar o acesso assim, mesmo sabendo que o Alex lhe daria o .cu. A negociação foi dura. Depois de quase duas horas, o Alex conseguiu corromper o guarda com um sabonete Phebo, um tubo de Crest e uma camisa da seleção brasileira de futebol comprada na rua Uruguaiana.

Ele estava escrevendo esse e-mail que transcrevo aqui quando aquele bando de presos, o que não riu, entrou na sala. Andavam lentamente, com um gingado esquisito. Olhavam fixamente para ele e cantavam, com o mesmo olhar lúbrico que o Alex faz quando vê um pé: “Guantanamera, guajira guantanamera…”

Mais o Alex não diz. O e-mail foi enviado às pressas, sem nenhuma revisão; ele sequer assinou. Estou esperando o próximo. E o filho da puta ainda não mandou meu Cohiba.

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Republicado em 26 de agosto de 2010

15 thoughts on “Mais notícias do .cu

  1. na verdade, vc tem que dizer irmão, a problematica toda foi porque ele mentiu.
    disse que foi a cuba à pequisa, mas na verdade foi atras de cubana, uma cadela poodle que disseram poderia salvar o oliver, mas que no fim serviu aos instintos baixos do alex (já bem conhecidos, e que quase o fode de novo se não fosse seu pai bastardo), em meio aos quais, sim, é que foi pego pela “retaguarda”, algo abominável para los cubanos, e não só pelo nome de batismo da cachorra.
    e tenho dito.

  2. Genial! Cara tô tendo de tomar cuidado pra não rachar o bico em pleno horário de trabalho …
    Depois você podia fazer uma compilação de todos os e-mails do Alex, segundo seus resumos, e ppublicar .. faria sussesso :p
    Marlon

  3. hahaha… Ah sim, a melhor coisa dessa viagem do Alex talvez seja esse especial .cu
    “soez” taí uma palavra que eu não via há muito tempo. E imagino todos os personagens com bigodes mexicones. hohoho

  4. Esses posts tão de matar de rir.

    Ah, tudo bem com o Cohiba, mas se ele voltar de Cuba sem nenhuma garrafa de Havana Club, merece mesmo voltar pra Guantánamo.

  5. Pela publicação destes posts, ele tinha que te mandar muitos Cohibas…quem sabe se o Raul reconhecer a paternidade?…aí o cara passa a ser um menino rico mimado cubano…isso não vai dar certo!

  6. Pelo amor de Deus! O Marcos me intimou a vir aqui saber das novidades.cu e agora eu estou passando mal de tanto rir!

    Rafa, tenha piedade de nós…

    Beijocas,
    da Lontra

  7. Depois do comentário da Bia imaginei o Alex com bigode mexicano, fazendo cosquinhas nos pés da mulherada… 😛
    Rafael, Guantanamera lúbrica foi demais… Só você mesmo… 🙂
    E que bom que o Alex leva na esportiva os relatos das aventuras dele em Cuba. 😉
    Beijo.

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