Novamente o Oscar 2009

Depois de assistir a todo os filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme, dá para ter uma idéia do que foi a cerimônia.

Primeiro, a constatação óbvia: “Benjamin Buttom” recebeu exatamente o que merecia. Não mais, não menos. Que o oblívio da história descanse sobre ele.

O mesmo não pode ser dito de Slumdog Millionaire, que ganhou a estatueta de Melhor Filme. Slumdog é um filme fraco, apelativo. Talvez não seja tão ruim quanto muitos dizem, porque afinal acaba chamado a atenção para a sua história óbvia e piegas, mas nem de longe é tão bom quanto quer o Luiz Carlos Merten, do Estadão.

“Frost/Nixon” é um bom filme, mas tampouco escapa de clichês e forçações de barra. Na verdade ele é carregado nas costas pela excepcional interpretação de Frank Langella, um daqueles atores brilhantes e injustamente relegados a segundo plano. Um amigo, o Leal, o acha um canastrão; mas basta ver seu desempeho em Nixon para ver como ele consegue encarnar à perfeição o seu personagem.

Já “Milk” é um filme mediano e demagógico, mais uma daquelas biopics que fazem a festa do cinemão americano. Gus Van Sant já teve uma certa reputação — mas ao longo de sua história fez o que pôde para acabar com ela. “Milk”, no entanto, tem um ator maravilhoso fazendo um dos melhores papéis de sua vida. A interpretação de Sean Penn é antológica pela sua riqueza e delicadeza.

No fim das contas, o melhor filme entre os indicados era mesmo “O Leitor”, o mais firmemente dirigido, o mais redondo. No entanto seria demais esperar que ele ganhasse o Oscar, quando havia um concorrente piegas como Slumdog no páreo. É mais ou menos como esperar que um livro como “Ulisses” venda mais que um livro qualquer de Sidney Sheldon ou Paulo Coelho. Ou, para lembrar um exemplo caro aos brasileiros, esperar que “Central do Brasil” vencesse “A Vida é Bela”.

Mas a grande surpresa para mim foi “Doubt”.

Não é que Kate Winslet não merecesse o Oscar de Melhor Atriz. Merecia. É uma atriz brilhante e faz um trabalho admirável no papel de Hannah. Mas eu não teria dado o prêmio a ela. A melhor interpretação feminina deste ano cabe à hors-concours das atrizes americanas: Meryl Streep, por seu papel em Doubt.

Winslet faz um trabalho admirável como Hannah. Mas o seu personagem é o mesmo durante todo o filme, a sua expressão é basicamente a mesma.

Em Doubt, Streep faz uma freira que acusa um padre de abuso sexual de um garoto. Seu personagem é definido em uma cena no início do filme: ela só se benze ao final do sermão do padre brilhantemente interpretado por Phillip Seymour Hoffman depois de se assegurar que todos os alunos estão em seus devidos lugares. Seu dever vem antes de sua fé. O pouco de bondade que mostra é dirigida apenas à mais velhas das outras freiras.

Pois é esse personagem que Streep, em um diálogo com a mãe do menino que ela suspeita estar sendo moelstado pelo padre, desconstrói com absoluta perfeição. A imensidão de emoções demonstradas, a capacidade da atriz de, inesperadamente, mostrar um lado insuspeito do personagem que até minutos atrás ela construía — também com brilho — em uma direção totalmente diferente, tudo isso faz da sua interpretação uma verdadeira aula de como atuar.

Doubt é um filme melhor que boa parte dos indicados ao Oscar de Melhor Filme — o que, cá entre nós, não quer dizer muita coisa. Mas vale a pena, mesmo, pela chance de ver uma grande atriz em seu auge.

5 thoughts on “Novamente o Oscar 2009

  1. assisti Slumdog e fiquei impressionado com a obviedade do filme. é bom, mas é muito, muito óbvio. não é digno de tantas premiações.

    O Leitor achei fraco. na verdade, acho que eu não devo ter entendido o filme, porque ele pra mim não faz nenhum sentido: todo o dilema do guri, pra mim, não tem nenhum nexo.

  2. O oscar pra mim nunca teve muita graça e passou a ser patetico depois que o filme do porquinho venceu.

    Ps.: Benjamin Button eh quase um Remake de Forrest Gump, com o adendo de que o protagonista nasce velho e morre jovem.

  3. não te disse que penn era o melhor?
    :>)
    o texto de doubt é muito bom. os diálogos são incríveis e a streep realmente encarna.
    mas os filmecos foram mesmo fracos, no geral.

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