Twitter

A Aline perguntou se eu iria para o Twitter.

Eu adoraria. Mas não vou.

Não é uma questão de dilema existencial como o que o Hermenauta atravessa. O Twitter fez o Hermê se tornar o Hamlet da blogoseira brasileira, dividido entre o desejo do novo e a compreensão da realidade. No meu caso, é em primeiro lugar uma questão de falta crônica de tempo, mesmo.

Mais precisamente, faltam dois tipos de tempo. Jorge Semprún dizia que, mais que o tempo objetivo, é preciso tempo interior para escrever algo. Eu nunca acreditei em quem se diz ocupado demais para fazer certas coisas, mas sei o que é falta desse tempo interior de que o sujeito fala. Quem já passou pela experiência tenebrosa de abrir um livro e não conseguir entender as frases escritas ali porque a cabeça teima em não voltar de outro lugar sabe exatamente o que é isso.

Talvez seja por essa razão que olho para o Twitter como quem contempla uma brincadeira de criança que nunca viu antes. Pode parecer coisa de velho que não consegue compreender direito o progresso, e talvez seja, mas vejo o Twitter como algo para quem passa o dia inteiro ligado na internet e que tem esse tempo disponível. Gente que consegue encontrar sites e notícias interessantes para compartilhar. Que tem algo a dizer. Que consegue fazer sentido da rede social que se cria ali.

Não é o meu caso. Eu sinceramente não tenho tanto a dizer. Indo um pouquinho além, acho também que a imensa maioria das pessoas que usam o Twitter tampouco têm; mas isso não interessa, porque não cabe a mim ou a ninguém dizer o que as pessoas devem fazer com seu tempo.

Além disso, a internet não me interessa tanto assim. De certa forma, nunca interessou: eu nunca consegui ver graça no Orkut; nunca consegui me mover no Facebook. Um pouco disso, certo, é só cansaço; quantas bobaginhas anunciadas como revoluções eu já vi passar apenas nos últimos dois ou três anos: del.icio.us, Digg, Tumblr — e as pessoas voam de um para o outro como mariposas encantadas por uma luz mais forte, uma luz que mais cedo ou mais tarde se apagará e será substituída por outra. Há também as “verdadeiras”: em quase 15 anos de internet, eu já devo ter assistido — às vezes de camarote — a várias dessas revoluções: homepages, IRC, MSN, blogs. É revolução demais para uma vida só — principalmente para um baiano que, por índole e por talento, gosta de ver essas novidades deitado numa rede e achando graça da ligeireza das pessoas. Ninguém precisa de tanta revolução.

Não que o Twitter seja igual a essas novas novidades que citei agora. Também não digo que não é: mas certamente acho que existe um grande exagero em tudo isso — e é aí que entra o tal cansaço de que falei antes, a impressão de que se eu ficar paradinho a moda vai mudar e eu não vou ter perdido muita coisa. Um exemplo foi a importância que deram a um sujeito que narrou seu resgate do avião em que estava, e que tinha acabado de amerissar no Hudson, como uma revolução jornalística: e aquilo não era nada, porque não era relevante, não fez diferença. É só a neurose da informação de última hora, a ditadura vazia do “real time“. Não acho que alguém precise realmente disso.

Que me desculpem todos aqueles que gostam do Twitter, mas não vejo sentido em tanta informação. Por dever de ofício, leio alguns jornais por dia; por prazer, leio alguns blogs. Por graça, tento escrever um blog; por tristeza, namoro as lombadas dos livros que comprei e que não tive tempo para ler. O Twitter iria estragar essa rotina simples. Tudo isso é mais informação do que consigo processar.

Finalmente, há uma outra razão: eu gosto deste blog. Anda ruinzinho que dói, esparso como nunca, mas eu gosto dele. São quase 6 anos e alguns milhares de loucos que por alguma razão ainda gostam de ler isto aqui. O Twitter acabaria com ele. Se houve um tempo em que havia novos posts todos os dias, às vezes mais do que um, hoje se consigo colocar um ou dois por semana eu me dou por feliz. Com o Twitter, não teria nem isso. E quando este blog morrer não vai ser porque eu o canibalizei. Pelo menos isso eu devo a ele.

De qualquer forma, a esperança de tempos mais tranqüilos permanece, e já reservei o meu lote ali. Um dia, se ele ainda existir daqui a algum tempo, eu entro no Twitter. Mas vai demorar. Eu sou só um baiano preguiçoso.

36 thoughts on “Twitter

  1. Eu ia fazer um comentário meio mimimi, mas é impossível. Eu só consigo rir com o que vc escreve. Adoro seu blog, adoro. E acho que é modéstia demais vc dizer que não tem tanto a dizer, mas vá lá, eu aceito o argumento e dou a pergunta por respondida.
    E a próxima pergunta é: vc, pastor da universal, nem pensar? 😀

  2. Você não precisa ser um “producer” para estar no Twitter. A questão de tempo você pode gerenciar a seu modo. Além do mais, um twitter não acaba com um blog, são esferas distintas. Principalmente para você que escreve textos longos e bem elaborados.

    Uma das grandes vantagens do Twitter são os searchs. Só compreendi o poder do Twitter quando instalei um client desktop do serviço.

    Uso o Seesmic Desktop – http://desktop.seesmic.com

    Tenho vários “searchs” e tenho feito boas descobertas.

  3. Também tive medo do futuro do meu blog depois que passei a usar o Twitter com maior frequência. Mas depois vi que o blog não vai acabar, pelo menos pra quem tenta produzir um conteúdo mais adequado a um texto maior do que 140 caracteres.

  4. Rafael
    Além de não dispor de tempo para usar o Twitter, não consegui até hoje ver graça nele. Em cada 100 mensagens, vem 1 que vale a pena ler… não entendi até hoje a sua utilidade. Fico de semanas a meses sem acessá-lo. E vejo que não perco nada. Mas se o abro, perco tempo precioso.

    Maysa

  5. Acabei de achar seu texto pelo… twitter. E o seu blog acabou de ganhar mais uma leitora. Adorei o texto.

  6. Rafael,
    além de baiano, tenho outro defeito: Sou arcaico. Sou de um tempo em que tweeter era um negócio que a gente botava no som do carro para, como disse o menino Zeno, “vitaminar o rodstar vindo do Paraguai”.

  7. Blogs e Twitter têm funções totalmente diferentes.
    Não precisa ficar com medo. O blog forma opinião, o twitter espalha informação. Sempre haverá lugar para os dois.
    Minha dúvida hoje é se vale a pena ler jornais, que são totalmente controlados e ideológicos.

  8. Haha, chega a ser engraçado. Vou te explicar melhor o porquê. Há alguns anos atrás eu morei no Japão e mantinha um blog(inclusive já tive um link no seu blog, como você teve no meu) mas, não sei exatamento o motivo, minha conta simplesmente sumiu, e eu deixei de lado. Passaram-se alguns anos e eu procurei os velhos blogs que eu acompanhava, entre eles o seu, mas não achei, na época a URL do seu era do Blogger, talvez tenha sido por isso. Enfim, não achei. E mais algum tempo passou, talvez anos também, e agora blogando e twitando, te encontro! Através de um Tweed do Inagaki, que postou o link deste seu post. Taí a prova de que realmente, como você disse, é muita informação espalhada, tudo está cada vez mais ligado, mais próximo, mais fácil de achar, se é que precisamos procurar! Porque cada vez mais a coisa toda vem até nós sem que façamos esforço algum e periga cada dia mais, isso tudo fazer com que o cérebro fique preguiçoso, haha!

    O blog que eu mantinha no Japão era: O agnóstico. Não sei se vai lembrar! Grande abraço e bom te encontrar, até.

  9. Aline,
    Pastor da Universal, não. Jamais. Muito melhor que a Universal é a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões . Aguardo contribuições. 🙂

    Fred,
    A questão é que, por experiência própria, eu sei que escrever vários textos curtos acabam a vontade de escrever um texto longo. E quanto ao tempo, nos últimos eu tive que dar uma geral até nos meus feeds RSS.

    Marcellus,
    Eu sou baiano porque nasci em Salvador, e paraíba porque sou sergipano por adoção. 🙂

    Tuzi,
    Eu lembro, sim. Bem vindo de volta. Mas cá entre nós, não precisa do Twitter pra isso: é só digitar “Rafael Galvão” no Google. 🙂

  10. @Rafael Galvão
    sim, mas não lembrava. E o endereço tinha seu nome na época? Não era pensamentos mal passados? Algo assim? Não lembro.. Tinham dois blogs também que eu amava ler, “equívoco” e “ato falho”. E estes também nunca mais achei, mas tenho certeza que eles ainda escrevem. Abraços.

  11. em tempo, entrei nesse post porque pensei que vc ia fazer o twitter. Eu ia seguir, se bem que, pelo método do rss do blog já sigo, então o twitter meio que perde a eficácia.

  12. “alguam razão”??
    e qual seria cabra, senão aqueles trocos que vc insiste em me depositar, pra que eu venha aqui diuturnamente, falar bem dos teus pontos de vista?
    oras … verdade seja dita!

  13. ok, verdades ditas … vamos a algumas considereichions
    gosto do orkut pela rede, q no fundo no fundo, muda nada ou quase nada
    conheci ali uma so pessoa q valeu a pena … de resto, nada
    outra utilidade, essa bem mais gostosa, e no meu entender, interessante, é reencontrar pessoas
    aí sim … “rever”, etc … muito legal
    twiter não sei oq é, tenho raiva de quem sabe
    blog eu conheço, mas de ler, pq escrever, xé ….
    tenho alguns em conta de bons, esse, do bia, no alex, no ina, do morroida, do cardoso …. e otros más ….
    quando falam do fim do jornal ou midia … a exemplo
    pode ser, mas vou aos jornais para pincelar noticias q me atraiam, e para ler os articulistas ou colunistas, o que prefiram (coisa do genero)

    revista tbm .. uma boa matéria, seus escritores (como o luis fernando seguido do jo, na veja … etc)
    blog pra mim é uma grande revista ou jornal, rechada ou só com articulistas, e dos bons, pelo q tenho lido
    tuiter?
    a … valha-me

  14. Eita. Teu blog não tá ruinzinho, não. Teus textos continuam afiados.
    Palavra de fã que lê há 4 anos.:)
    bjos

  15. Rafa, como tudo, o Twitter quase que diariamente passa por transformações. Primeiro as pessoas fazem de tudo para conseguir seguidores, depois que conseguem divulgam pra todos e vendem seus shows, serviços e blá blá blá, ficou chato. Mas na verdade nada importa. Eu não consigo ler mais jornais. Não consigo ler mais seu blog. Não consigo mais nem escrever no meu blog, nem mais falar mais de 2 minutos no MSN. Tudo o que eu leio é sobre marketing, TI, Mobile Content e afins. Então com twitter ou sem twitter, com blog ou sem blog, com certeza de todas as “perdas” da minha leitura diária, seu blog é a mais dolorosa delas…beijos

  16. rafael, já vi gente narrando shows pelo twitter, peloamordedeus, vá a porra do show e curta, esquece isso, esse frenesi pra ser o primeiro a informar as coisas, ser a pessoa que está no lugar certo na hora certa, isso não existe, estamos todos onde deveríamos estar, eu particularmente tb prefiro ficar quietinha, e de preferência numa rede, fazendo nada. o seu blog é um assunto muito melhor, eu entrei aqui por acaso, devo ser uma das alegrias que o google te deu (hehehe) e não parei de vir aqui desde então. adoro!!!!!!!!!!!!!!

  17. falam de ti por lá. é, és celebridade.
    :>)
    não gosto nem desgosto. uma constatação tenho que fazer: alguns blogueiros que pouco postavam e muito tinham a dizer, estão se revelando por lá. se não for para escrever, talvez o twitter possa ser interessante para ler.
    inscreva-te!
    ;>)

  18. Ah Rafael, não sou muito de comentar, mas acompanho desde 2005 teu blog. E muitas vezes, por falta de tempo, nos ultimos meses tenho lido até bem menos do que gostaria.

    Então, agora com o twitter, sempre que você postasse algo novo eu seria “twittado” (como a nossa lingua é versátil) e logo em seguida já clicaria e começaria a leitura àquele instante.

    Ah, e eu ainda uso o delicious, acho ótimo, e algumas outras “geekices” que passaram feito o Furacão 2000…

    Entao, pra quê tanta resistência! Adere logo =D
    Quero ler o proximo post: nao sei o que me deu pra entrar no twitter…

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