De jornalistas e ascensoristas

Durante anos agências de notícias, mercado publicitário e a propriedade dos meios de distribuição da notícia garantiram o florescimento de uma indústria jornalística inchada e redundante. A internet mudou tudo isso e está acabando com esse modelo.

São mudanças que não afetam apenas o ganha-pão de jornalistas. Afetam o meu, também. Minha formação profissional se deu em um mundo de mídia de massas em que uma campanha publicitária era normalmente bem resolvida com comerciais de TV, spots de rádio, anúncios de jornal e outdoors. Atualmente a publicidade vive uma crise de modelos importante, em que esse esquema de mídia começa a implodir; vive também a pior crise criativa de toda a sua história, e a internet tem um papel fundamental em tudo isso. Espero que isso não me faça suspeito de dizer justamente o contrário do que vou dizer abaixo.

A repercussão da queda da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista tem me impressionado. Não exatamente por causa de jornalistas com medo de que padeiros tomem o seu lugar, como disse o Leandro Demori. Mas porque eles vêm na decisão do Supremo o apocalipse para a sua profissão.

Eles estão enganados.

O apocalipse está vindo, sim. Mas não vem de Brasília (antes de mais nada: as pessoas, de maneira tendenciosa, tentam associar o nome funesto de Gilmar Mendes à decisão. E convenientemente esquecem que Joaquim Barbosa e Carlos Britto também votaram pela queda). É a falta de visão de vários jornalistas em analisar de maneira correta a realidade, a insistência em reclamar de uma garoa enquanto não vêm o furacão que se aproxima, que me impressiona.

Explicando da maneira mais didática possível o que eu vejo como futuro provável:

1 – Jornais impressos caminham para a extinção porque não faz sentido comprar hoje a notícia lida ontem de graça na internet.

2 – Ao migrar em sua totalidade para a internet a notícia se transforma, definitivamente, em commodity. Nem todo mundo tem uma prensa; qualquer um pode ter um blog, um site, pode dar uma notícia no Twitter. Jornais vão concorrer com milhares, milhões de pessoas que vão amplificar e depurar a notícia original.

3 – Por ser commodity, o seu “ecossistema de produção” forçosamente encolhe. Todos os dias passo os olhos em vários jornais e revistas impressos, locais e nacionais. Não ouso dizer que leio porque 80% das notícias não me interessam. Mas posso afirmar que, de modo geral as mesmas notícias estão em todos eles, com raríssimas — e normalmente pouco importantes — exceções.

4 – A mera existência dessas pessoas repassando informações torna a existência de vários jornais redundante.

5 – Em um mundo em que a competição é mais acirrada, essa redundância perde o sentido, ao menos do ponto de vista financeiro. As pessoas não vão pagar por informação geral porque a receberão de graça. O número de leitores de cada site, que precisa de dinheiro para sustentar a sua estrutura jornalística, cai.

6 – Caindo o número de leitores, cai a receita publicitária.

7 – Sem dinheiro a grande maioria dos jornais, impressos ou eletrônicos, fecham.

8 – Em outros termos, isso significa o fim de uma indústria.

Não é mais uma questão de o que é desejável para uma categoria profissional, e discutir isso é como discutir o tempo — goste ou não da chuva, ela vai continuar a cair independente do que você acha. É sobre o que é possível, ou provável.

O fim dos jornais, no entanto, não significa o fim do jornalismo — ou, usando um termo que talvez venha a se mostrar mais apropriado, da produção da notícia. TVs fazem jornalismo. Rádios também. Levando-se em consideração a força das redes sociais, não é difícil que em um modelo provável a notícia crua seja dada pelas redes de TV — ou o que as suceda na internet, muito provavelmente uma salada multimídia em que os conceitos de rádio, TV e jornal perdem o sentido — e repercutida pelas redes na internet em análises, opiniões e links.

No entanto não haverá mais lugar para essa variedade de empresas jornalísticas. Do ponto de vista da notícia, aquela pequena quimera que se tornou a tábua de salvação putativa da indústria jornalística, não há necessidade de tantos meios de comunicação. Isso era necessário quando havia um público diverso e com poucas opções. O jornal era, basicamente, o melhor meio de distribuição de notícia que existia — mas foi superado por um meio mais eficiente, a Internet, que por acaso tem a gratuidade nas suas veias. Há muito pouca gente cobrindo os fatos, na verdade; o resto é interpretação e copidescagem — aquilo que blogs e sites fazem de graça e em profusão, com qualidade variável.

Falta aos jornalistas a coragem — ou a clareza de pensamento — de aceitar que o que faz a indústria jornalística é, na verdade, centenas ou milhares de pessoas dizendo a mesma coisa como se fosse novidade. A mudança que parece estar vindo é a probabilidade de, cada vez mais, isso ser feito pela própria sociedade, dona de seus próprios meios de produção e distribuição da informação, de uma forma que não possibilite a concentração de recursos suficientes para o estabelecimento de estruturas empresariais verticais como um jornal.

Na ausência da grande indústria jornalística, a notícia procurará outros canais de distribuição. Podem ser blogs de jornalistas independentes. Podem ser sites de organizações não governamentais dedicadas a um ou outro assunto. Podem ser sites de jornalistas que, com estrutura reduzida, farão exatamente o mesmo papel que um grande jornal hoje faz, ainda que de maneira fragmentada e provavelmente bastante especializada.

Mas esses produtores primários de notícias — que já não serão únicos e talvez sequer os mais importantes — existirão, muito provavelmente, em uma escala infinitamente menor do que a existente hoje. É isso que significa “o fim da indústria jornalística”. Não é o fim da produção e distribuição de notícias. É apenas o fim de um grande ecossistema empresarial de distribuição de um produto.

É por isso que é improvável que a figura do repórter profissional, do sujeito que é pago para buscar a notícia, desapareça. O que está sendo superado neste momento não é um valor universal — a necessidade humana de informação — mas um valor histórico: a formação de uma estrutura para o suprimento dessa necessidade. Durante muitas décadas, os jornais foram o veículo ideal para realizar essa função. Não serão mais.

Pode-se citar como exemplo a figura do correspondente estrangeiro. Pode-se perguntar: e para que correspondentes estrangeiros, mesmo? Eles fizeram sentido (e ainda fazem, embora bem menos) em um tempo em que a distribuição da notícia era cara e complexa. Isso acabou. A formação de redes sociais cada vez mais intrincadas e consistentes elimina essa necessidade. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento do mundo, alguma técnica de investigação de fatos e acesso a redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, pode narrar com precisão e talento determinado fato acontecido no Azerbaidjão ou no Sri Lanka ou em Cabrobó. O Pedro Dória está fazendo justamente isso na cobertura do resultado das eleições no Irã; o Idelber fez durante os ataques israelenses à Palestina, dando inclusive furos de reportagem como a utilização de bombas de fósforo por Israel.

Mas, aparentemente, a grande maioria dos jornalistas não consegue se enxergar fora de uma estrutura que se consolidou ao longo dos últimos 150 anos. Cada vez mais, lembram ascensoristas desconsolados diante do surgimento de elevadores automáticos, em pânico diante da superação dos elevadores com alavancas e portas pantográficas.

O que eles não parecem perceber é que a palavra-chave dessa nova configuração de mundo não é a notícia. De certa forma, nunca foi — porque ao contrário do que alguns jornalistas parecem acreditar, a notícia e a sua propagação não dependem exclusivamente deles. O que realmente vai definir o futuro da informação são as redes sociais que a internet possibilita. E se eu fosse jornalista, estaria mais preocupado em entendê-las e me localizar dentro delas do que em reclamar de uma decisão do Supremo que, afinal, não vai mudar muita coisa.

30 thoughts on “De jornalistas e ascensoristas

  1. Grande texto, como habitual. A comparação entre o trabalho do correspondente internacional com a cobertura do Pedro Doria e do Idelber foi perfeita.

    Talvez esses correspondentes atualmente só sejam necessários na televisão, porque têm acesso a mais imagens das TVs estrangeiras para editar em seus boletins. De qualquer forma, quando houver uma forma estruturada de distribuição dessas imagens pela internet, mesmo eles poderão ser dispensados.

  2. Muito boa análise, muito boa, mesmo.

    Mas tenho uma dúvida: a internet não é passível de uma apropriação privada ou corporativa da informação? A internet como alavanca de uma nova indústria, logo, de “um grande ecossistema empresarial de distribuição do produto-notícia”? (Como? Não sei, pois senão não teria perguntado — hehe).

    Faço essas observações, porque tenho dúvida a respeito de algumas posições sobre a internet — posições que colocam a democratização da informação na internet como um dado objetivo, como se fosse um resultado inevitável do sistema. As “redes sociais” têm a capacidade objetiva, por definição, de evitar o surgimento de novas formas de propriedade da informação?

    Abs. Artur Perrusi

  3. Ao que eu saiba, o Dória nunca foi sequestrado por terroristas(Coisa comum no meio) e não apanhou de uma multidão(Caso de Robert Fisk). Uma coisa é coletar vídeos no Youtube, outra coisa é arriscar sua própria pele no Afeganistão ou no Paquistão. Aliás, se o Dória sabe ler farsi/árabe eu não sei, e fluência nestas línguas é algo obrigatório para correspondentes de guerra.

    Mas isso explica melhor meu ponto:

    http://blog.nj.com/njv_paul_mulshine/2009/01/ambulancechaser_should_try_cha.html

    But that’s not what really ticks me off about this particular parasite. Reynolds has made a career of criticizing real journalists who risk their lives reporting from the Mideast. And he has also made a career of arguing that amateurs like himself can perform the job of journalists.

    To which I say: Get off your fat ass, Glenn, and go cover the war. If you think you can make a better war correspondent than, say, Tom Ricks of the Washington Post, well just hop on a plane and prove it.

    Anyone can report as a freelancer from any war at any time. I did in Central America in the 1980s. I used to get an old car and an old typewriter and head south. There were wars in Guatemala, El Salvador and Nicaragua and there was much to be learned from each. I used to report back for the Philadelphia Daily News among other publications. I think it’s safe to say that my debunking of the Sandinistas in Nicaragua upset every liberal in Philadelphia.

    Which brings me to the photo above. I took it in a little village called El Llano at 10,200 feet in the Cuchumatanes Mountains of Guatemala. I hiked there with the legendary British journalist Ambrose Evans-Pritchard.

    To get there, we had to hike through six miles of mountains along what was then called the Ho Chi Minh front of the Ejercito Guerillero de los Pobres, the Guerrilla Army of the Poor. They were a shadowy Marxist group that had never been encountered by any journalists, though some had tried.

    Tthe men in the photo, which I took by the fire in the house of the village leader, are patrulleros, members of the militia that guarded the village against the Marxist guerrillas.

    See that rifle? There is an excellent chance that rifle had been used to murder the last journalist who came through the village. His name was Nick Blake and he was a friend of Ambrose. Blake disappeared in 1985 and had last been seen in the El Llano area. There were numerous reports as to what happened to him, but as of 1987, when I took this photo, he and his photographer, Griffith Davis, were lost without a trace.

    The civil patrol leader, Mariano Cano, was quite hospitable to Ambrose and me. But it later turned out that he seems to have ordered the murders of Blake and Davis. There is an excellent chance that one or more of them men in this photo was among the killers, though they didn’t volunteer that information at the time.

    Fortunately for Ambrose and me, these guys had apparently decided by this point that they’d killed quite enough gringos. So we hiked out the next day. As for Blake and Davis, their remains weren’t found until 1992.

    Por fim, como o caso da Família Frost demonstra(Quando uma família que tinha dado um depoimento favorável a um plano de saúde para crianças pobres patrocinado pelos democratas foi caluniada pela internet quando blogueiros conservadores os atacaram dizendo que a família não era carente porque morava num bairro rico de Baltimore – eles tinham comprado a casa quando o bairro estava degradado e valiam bem menos – e estudavam numa escola particular – eles tinham bolsa) as coisas são bem mais complicadas.

    Jornalismo se faz na rua, não ficando o dia inteiro atrás do computador(Certo, poucos jornalistas brasileiros perceberam isso)

  4. João Ricardo,
    Não custa nada ler o post anterior, né?

    Bia,
    A questão da imprensa regional independe de jornalistas formados ou não. Depende, sim, de condições econômicas, políticas e de donos de jornal — que não precisam ser formados em jornalismo.

    Perrusi,
    Se eu soubesse a resposta à sua pergunta eu estaria a caminho de ficar milionário. 🙂

    André,
    Você está falando de que mundo, mesmo?

    Ser seqüestrado é condição para ser correspondente? Não, André, isso é condição para ser azarado ou imprudente. 90% dos correspondentes de guerra jamais foram seqüestrados ou coisa parecida. Se você avalia talento e capacidade a partir disso, você está com problemas. E não se discute uma situação global a partir de algumas poucas exceções.

    Quanto a jornalismo se fazer na rua… Bem, I. F. Stone talvez discordasse de você; jornalismo se pode fazer a quilômetros de distância, apenas analisando documentos.

    Mas eu concordo, em linhas gerais. A questão é que ninguém precisa de diploma para ir para a rua, em primeiro lugar, e em segundo lugar você está simplificando em excesso o funcionamento de redes. Me parece que você acaba conhecendo pouco do cotidiano de redações, de como elas funcionam. E caindo bonitinho no conto da mistificação do jornalista.

    De qualquer forma, deixa eu explicar como funciona a rede: o que interessa aos leitores, em um caso como esse, não é se o repórter foi ou não preso. É a informação que ele pode passar. Se alguém no teatro de guerra pôde narrar a alguém, e essa informação foi passada através da tal rede, e checada e cruzada com outras, isso é o que importa. Você está raciocinando em termos de adaptação de uma situação atual, da manutenção da função de correspondente de geurra. Não é necessariamente assim.

    Além disso, eu não estou falando de situações ideais. Estou falando de realidade, gostemos ou não dela. Explicando melhor: eu podia até achar o Betamax um formato melhor. Mas o que venceu foi o VHS.

    De qualquer forma, o Pedro está cumprindo o papel do jornalista: informando. Me parece que jornalismo é isso. Não ser preso ou ser seqüetrado.

  5. Não sei…tu tem razão que a notícia, a informação e a divulgação, nesses tempos de internet, não são mais restritos ao pessoal com diploma de jornalismo.
    Mas ainda acho injusto com quem estudou e muitas vezes gastou uma grana para se formar. Não existiria um meio termo possível?
    Sou favorável a não exigência daqui pra frente. Mas aqueles que já se formaram e que tiraram o diploma partindo do princípio de que era necessário para a divulgação da notícia?Esses foram prejudicados e acho que mereciam um proteção jurídica.
    Me parece que há aí uma maculação da segurança jurídica.Se for nesse caminho, daqui a pouco não vai nem valer a pena fazer outras faculdades (direito incluído), porque o estudante sempre correrá o risco de, no futuro, ver que foi em vão a formação profissional específica.
    bjo

  6. Por exemplo, tenho uma amiga que, nos tempos de cursinho, estava em dúvida entre direito e jornalismo. Optou pelo segundo. Foi extremamente prejudicada, como ela me disse esses dias “se eu soubesse que isso ia acontecer, tinha cursado direito. Seria uma advogada e ainda poderia ser jornalista”.

  7. Acho que o problema aqui é que um jornalista formado deveria, em tese, ser imparcial, coisa que blogueiro nenhum consegue (nem eu, confesso). Informação de blog é, por princípio, parcial e imprecisa. Eu quero informação assinada, com o nome e o número do diploma do repórter que a coletou, para poder acreditar na coisa. Idelber criticando israelenses é falácia. É paixão pura, como as narrações do Galvão Bueno.

  8. Muito boa sua análise, aqui há uma brisa fresca, só se lê chavões por ai.
    Eu não sei bem o q pensar a respeito- tantos jornalistas da antiga sem diploma- os melhores…mas é complicado. Eu sou da área psi e acredito que para atender pessoas em crise é preciso fazer um curso de psicologia ou medicina- mas há mta gente sem estes cursos com tabuletas na porta-Psicanalista. Um perigo- há quem surte. E ai? culpa do ingênuo qu efoi parar lá?
    abs, Elianne

  9. Excelente análise. Para mim o melhor texto que li sobre a questão da não exigência de diploma para jornalistas.

    Parabéns.

  10. Caro Rafael,
    Antes preciso dizer faz muito sentido tudo isso que você falou com relação à internet e que ok, não vejo nada de errado na não obrigatoriedade do diploma de jornalista. A exigência do diploma é um cerceamento à liberdade de expressão. Mas acho que, como você mesmo diz, os jornais são uma indústria e, como tal, possuem credibilidade, esta repassada a seus profissionais (ou ao contrário, os profissionais repassam sua confiança à empresa jornalística). Acredito que as outras indústrias e a sociedade de modo geral precisam da credibilidade de quem está passando a notícia, coisa que um blog dificilmente alcança.

  11. Mr. Teeth,
    Por que as pessoas têm a tendência a julgar a imprensa em termos ideais (“eles devem ser imparciais”) e os blogs em termos reais (“eles não são imparciais”)? Se a análise fosse igualmente baseada na realidade, você provavelmente teria um susto ao ver como funcionam redações no país inteiro. O discurso de querer informação com diploma é bonitinho, mas vamos lá: você não sabe quem escreve a maior parte das informações que você lê em jornais, e nem quer saber. Isso fez diferença para você até hoje? Não é diferente de ler blogs em cuja capacidade você confia. De qualquer forma, você pode pegar essas informações sobre o pessoal que escreveu as reportagens sobre a Escola Base. Ou os jornalistas da Veja.

    Cris,
    Já se perguntou por que as faculdades de jornalismo sobrevivem nos países onde não há exigência de diploma? O fato de não haver necessidade do diploma não quer dizer que não haja necessidade de gente que saiba o que está fazendo. E a minha opinião é que quem se arrepende de ter feito um curso porque o diploma não é mais exigido não dá valor ao aprendizado. E não entende que sem diploma, aí é que o conhecimento passa a valer muito mais.

    Alessandra,
    Acho que você está julgando jornais e blogs como mais do que eles são: ferramentas de distribuição de um produto. Quer dizer então que os blogs de órgão jornalísticos sérios como o New York Times não têm credibilidade?

  12. @Rafael Galvão

    Mas eu não falei que ser sequestrado é um pré-requisito para ser correspondente, falei que você *invariavelmente* corre esse risco como um. Resumindo: enquanto o Dória fica o dia inteiro com a cadeira em frente ao micro um correspondente de guerra arrisca sua pele para obter informações de forma original.

    E resultados? Não acho que o trabalho do Dória se compare com de correspondentes medios sobre o assunto, como o de Richard Engel da NBC ou mesmo da Christiane Amanpour da CNN(E olha que eu odeio a Amanpour). Se você colocar gente como Robert Fisk ou Patrick Cockburn no meio a coisa fica ainda mais desleal. Um sujeito que fica pescando links em casa nunca escreveria algo como o The Great war for Civilization.

    E não estou romantizando as redações(Aliás, acho que é bem menos romântico que parece ser correspondente de guerra), mas acho perigoso romantizar blogueiros também. Com relação ao diploma, sou virulamente contra a obrigatoriedade e a maioria dos nomes que eu citei não é formada em jornalismo.

  13. Rafa,
    A questão da IMPRENSA EM GERAL independe de jornalistas formados ou não, mas sim de condições econômicas, etc…, e de donos de jornal que não precisam e quase nunca são formados
    Na IMPRENSA GERAL, o diploma, o sindicato, a justiça, são mecanismos que podem garantir, proteger, auxiliar o jornalista no desempenho da sua função.
    Na imprensa local, nem da regional eu digo, falo da local mesmo, de cidades com 20, 30, 50 mil habitantes e dois jornais, geralmente de grupos políticos diferentes, etc… o jornalista formado ainda consegue se proteger dentro de alguns limites por conta do diploma, do sindicato…
    Não sou contra, reitero, que jornalistas não-formados, trabalhem na imprensa.

  14. Bia,
    Cidades com 20 ou 30 mil habitantes, quando e se têm jornais, têm ainda menos condições de proteger qualquer coisa, porque as oportunidades são ainda menores. Assim como você, eu conheço razoavelmente a realidade desses mercados. E poderia dizer que nada faz tão mal à ética e à dignidade da profissão de jornalistas, formados ou não, quanto essas pequenas realidades.

    Kenji,
    Do ponto de vista do consumidor, não interessa como a informação foi conseguida. Interessa a sua qualidade. Se foi conseguida através de conversas no Twitter ou in loco, tanto faz. Também não acho justo comparar o trabalho de jornalista ao de um pesquisador. Os dois se propõem a coisas diferentes. O que me interessa é: a informação do Pedro Dória é confiável? A do Idelber é? Esse é o ponto. É isso que significa rede. E ninguém está romantizando blogueiros. Pelo contrário.

  15. Do ponto de vista do consumidor as diferenças são gigantes. Tecnicamente a maioria dos filmes e fotos tiradas pelos manifestantes em Teeran são terríveis e como foi colocado no Reliable Sources da CNN apartir do momento em que se dependeu do Twitter a coisa passou a funcionar do “rumores de tal coisa estar ocorrendo”, “há rumores”, etc.

    E há um detalhe terrível que a alta popularidade de Ahmaninejad entre a população pobre que não tem internet foi ignorada pelos nossos correspondentes via Twitter, por exemplo. E falando de forma franca, desconfio que você precisa acompanhar o noticiário de forma mais apurada se acha que o Dória substitui correspondentes internacionais.

  16. Talvez os meus dizeres sejam dispensáveis ou passem despercebidos em meio a tão longos e profundos comentários, mas gostaria de deixar para reflexão algumas palavras do escritor e jornalista Zuenir Ventura, que tem muito a ver com o que até aqui foi dito sobre o assunto em questão: “Essa história de que a televisão acabou com a literatura, o computador acabou com o livro, a Internet acabou com não sei o quê, isso é uma constatação apocalíptica que não tem o menor sentido. E já que estou falando em apocalíptico, vou lembrar de Umberto Eco, que é um dos maiores homens de letras. Ele diz que a Internet [ao contrário do que mtos pensam] veio para salvar a palavra escrita. Se a televisão a estava matando, a Internet pode salvá-la. É um raciocínio interessantíssimo. Realmente, nunca se escreveu tanto como se escreve hoje. Eu não sei se estão escrevendo melhor, mas a verdade é que estão escrevendo muito. E isso é bom, é melhor do que não estar escrevendo como a geração anterior, antes da Internet, que ficava [apática] diante da televisão”.

  17. Só pra complementar: Não podemos deixar de assumir que a Internet proporcionou um acesso à informação de maneira única. Profetizar sobre o fim do jornalismo impresso coloca em cena o futuro do fazer jornalístico. Como será o dia-a-dia de um repórter que não apura na rua sua matéria? Que não entrevista ninguém, apenas desempenha uma função de copydesk e
    “empacota” uma reportagem que “sobe” em dez minutos para a rede? Como preparar o leitor para receber informações em diversos protocolos de leitura – bem diferentes dos tradicionalmente conhecidos, aqueles com suporte concreto como o jornal, a revista, o livro, a TV?

  18. Oi,gente!
    Sou estudante de jornalismo e adorei a análise.Sei bem o impacto que a queda do diploma causou na minha vida( nunca fui tão desistimulada por pressões externas quanto dessa vez)…Entretanto, acredito que a verdade é mais óbvia e muito menos desastrosa do que muitos estão fazendo parecer.Mesmo antes da queda do diploma, o número de pessoas que exerciam o “jornalismo” sem o mesmo era grande e, sinceramente, não acredito que agora mude muita coisa.A empresa jornalística está, e ao que tudo indica sempre esteve, muito mais interessada em capacidade do que em diploma.Vai continuar vencendo o velho dizer: quem é bom tem vaga.Quanto ao absurdo de que agora as faculdades não terão mais nenhum propósito, diria que é muito pelo contrário…Se antes qualquer um com diploma tinha alguma chance no mercado agora, apenas os capazes(que agradarem aos chefes) a terão. Concordo com quem disse que AGORA é que a faculdade term valor de fato.Não acho que exista realmente algum risco de que um jornalista perca seu emprego para um padeiro e, sinceramente, se um padeiro, sem formação, conseguir escrever e apurar fatos transformando-os em notícia melhor que um jornalista,é melhor que o padeiro esteja mesmo na redação.Só acho difícil de se encontrar tal padeiro que anseie pela carreira jornalística…
    Na verdade, uma das poucas coisas que me parecem ruins ante a queda do diploma é a perca de certos direitos como, por exemplo, a extinção de concursos públicos de nível superior para jornalistas. Apesar da vida como jornalista em certos órgãos públicos ser um tanto quanto broxante, é menos uma opção…

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