Pequeno post melancólico e quase nostálgico

O Idelber vai voltar. Ele já parou antes e voltou, deixa só a barra folgar um pouco e ele volta, nem que seja para escrever sobre o melhor time que ele já viu em sua vida, o Flamengo de Zico e Leandro e Adílio e Júnior e Andrade.

Mas a sua despedida, neste momento, faz com que eu lembre que o tempo está passando, e passando rápido. Se o Idelber parasse sozinho eu não acharia nada, mas aí vou ao blog do Bia e não vejo nada, e o do Ina e não vejo nada, e o Bruno parece ocupado com outras coisas.

Os ciclos de vida parecem mais curtos aqui. E agora eu paro e me lembro daquele inverno de 2005 — o inverno de que Serge Gainsbourg fez a trilha sonora, o inverno das brigas na blogoseira, dos astrólogos de Maria e pseudo-feministas no meu pé, dos encontros histéricos no Rio onde o Alex lambia os pés de uma lourinha antes de ir para os estrangeiros fugir de furacões, e o Doni que tinha tempo para aparecer de surpresa no Rio, e o Hermê que mandava malucas para o hospital a beliscões, e a Tata que ainda era carioca de Copacabana com o sotaque de zona sul, e a Carol que chicoteava os moços e dizia “não vá colocar isso no seu blog!”, e o Bia que tentava comer todo mundo fazendo experimentos com pequenas pílulas azuis e se sentindo uma mistura de Aldous Huxley e Jack Kerouac.

É engraçado lembrar disso, porque hoje o Alex é um sujeito que agora sabe que o racismo existe, e a Carol também foi para lá longe porque a ninfeta do demônio cresceu e encontrou o homem de sua vida e resolveu ir para onde ele fosse, e o Doni é um psicólogo que chega para as meninas da faculdade e joga um “quer ver o tamanho da minha subjetividade?”, e o Bia é um homem sério que trabalha o tempo todo e empresta sua cara à TV e daqui a pouco vai estar fazendo churrascos para os amigos no quintal de casa, conversando sobre qual carro é melhor para uma família daquele tamanho, e eu continuo aqui na minha cidadezinha, olhando da varanda o rio que corre aqui em frente e tentando adivinhar se hoje vai ter vento.

E aí, enquanto a gente olha em volta e vê que todo mundo cresceu, fica a sensação de que é tudo tão chato, todo mundo falando as mesmas coisas com a mesma seriedade e a mesma sensação de importância, um bocado de gente se levando a sério demais e valorizando em excesso seus poucos caraminguás, que a blogoseira anda tão chata. Mas nunca é bom esquecer que quando alguém acha algo chato, pode ter certeza de que há 50% de chances de que o chato seja ele. Na verdade as chances são maiores, bem maiores do que eu gostaria que fossem, e a história parece ter superado todos nós.

Assim estamos todos morrendo, porque parece que nessa blogoseira tudo é rápido demais, que as pessoas vivem aqui em um ritmo diferente daquele lá fora, e nascem e crescem e morrem rapidinho como efêmeras, e a sua morte nunca é um câncer tomando conta do fígado, ou um corpo jogado numa esquina, é apenas cansaço e desistência, e ao perceberem isso elas lembram como a vida lá fora é tão melhor e mais pragmática. E se alguém perguntar ao Bia se existe vida após a morte ele vai dizer que sim, que depois de morrer virou um senhor burguês que junta a família para assistir à Bela Adormecida nos sábados à tarde.

É o spleen de fin de siècle, versão blogoseira. Mas como não tem Baudelaire para escrever um poema, ficam só os arquivos do Blogger e do WordPress e do Movable Type, e pairando sobre eles uma certa falta de vontade de escrever, uma sensação de que afinal de contas tudo o que tínhamos para dizer já foi dito e redito. Um cansaço que agora parece atávico, uma sensação de que não há nada a fazer diante do w.bloggar. E aí, vou escrever o quê? O Bia desistiu há meses, o Alex não se preocupa mais com suas prisões, agora o Idelber resolveu parar.

De repente me vêm à visão os 80 anos, os meus 80 anos, e me vejo pedindo a prostitutas feias e já em fim de carreira que fiquem mais um pouco, que conversem comigo. Sobre qualquer coisa. Que inventem uma história sobre como foram parar nessa vida, que dêm a um velho sozinho e solitário um pouco de companhia, algo pelo qual ele tem que pagar por causa de tudo o que fez em sua vida.

Aí eu começo a rir, porque essa do velhinho foi de matar, e se minha mulher ler isso vai me encher de porrada.

35 thoughts on “Pequeno post melancólico e quase nostálgico

  1. lindo.
    acho que foi o trasel quem escreveu que começamos há 6, 7, 8 anos escrevendo em blogs, sites, etc… nesse tempo, crescemos, crianças adultas que éramos, passamos a adultos de fato, com compromissos & família. blog virou segundo plano.
    mas ei, eu e inagaki conversamos recentemente e esperamos retomar tudo em breve. um “movimento benjamin button”, manja?
    ;>)

  2. eu continuo vivendo como adolescente…. estudante profissional e tudo… mas a bolsa soh vai ateh ano q vem, depois fudeu

  3. excelente post. sou leitor de vários dos citados e sinto algo de falta deles, principalmente do Bia.
    abração

  4. Hehehehehehehehehehe Esse tempo que transforma todo amor em quase nada! Envelhercer é sucks!

  5. uns vão e outros chegam com coisas interessantes tb. e tem aqueles q permanecem e continuam dando canelada na vida e esbanjando vigor. vcs ficaram velhos mesmo e o q parece é q o espirito do chicobuarquismo tomou conta de voces q acreditavam e amavam tanto a revolução. e a revolução, vcs nunca perceberam e sinto vos dizer, nunca existiu. vide fidel, hugo chávez. viraram tiranos.

  6. Os astros me dizem que todo mundo volta, cada um a seu tempo. Nem que seja pra meia dúzia de perseverantes.
    E um pouco de silêncio também tem seu valor, não?
    Saudade até que é bom…

  7. Não sei nem o que dizer. Já faz isso tudo de tempo? Caramba. Tempo é complicado rapaz.

    Mas eu acho que seu tiver metade das “drogas” que o Fiscal aí tá tomando, eu volto a ter mais idéias do que blogar.

  8. Mesmo sentimento por aqui. Eu, que já estacionei há dois anos, tento me animar mas aí vejo que tudo é saudosismo, e pinta ainda aquele cansaço. E a impressão de que nossa geração já é velha, e temos que passar o bastão adiante. Eita velhice precoce, não? Cansamos depressa demais? Nem isso sei responder.

    E hoje foi a vez do Pedro Dória.

  9. E ontem parou mais um, Rafael.
    O boteco do Pedro Dória, o Weblog, fechou as portas, deixando um bando de bebuns sem ter onde se encontrar. Um bando de órfãos. Numa semana o Idelber e o PD, parece que combinaram. Putz!
    :(((

  10. o silêncio tem seu valor, tá escrito ali em cima.

    e eu espero muito que todos esses voltem. mesmo que diferente, mas voltem. e você, meu caro, se sustente. porque senão, só sobra a blogoseira pobre de idéias e lirismos. e a gente não precisa disso.

    soube por boa fonte que hoje não venta. 😉

  11. Eu acho que a questão é que a gente faz isso de graça. Nem sempre dá pra manter desse jeito, o Idelber precisa escrever os livros para a carreira dele, o PD não vai deixar de ser chefão lá no Estadão, etc. Mas acho que o pessoal acaba voltando para o blog, porque funciona como linha de continuidade entre os vários projetos profissionais que o cara vai tendo na vida.

    A propósito, belo post.

  12. Os lamentos são sempre um bom registro multidimensional e um modo de canalizar o momento, mas é quase como lamentar uma criança crescida. É claro que é tudo muito rápido, mas é tudo muito assim. Sei lá. Mas o fim é aquele mesmo, o registro, e aqui está (postado, no caso).

  13. Um texto que me faz suspirar triste. Que me encontra num momento de definições e elaborações sobre quem sou e o que faço. Detesto me descobrir finito, e detesto virar história.

  14. “E se alguém perguntar ao Bia se existe vida após a morte ele vai dizer que sim, que depois de morrer virou um senhor burguês que junta a família para assistir à Bela Adormecida nos sábados à tarde.”

    Você só pode estar de sacagem. E mais, eu faço churrasco em casa, sim senhor. E daí, vai encarar? 🙂

    Mas é melhor mesmo parar enquanto é tempo. Senão você acaba indo parar no Twitter, para falarmos em destinos piores do que a morte.

  15. Eu semprei encarei o meu blog como a continuidade de uns rascunhos que eu fazia na sala de aula. E assim continuo, depois de 5 anos após o primeiro post. Entendo a melancolia do pessoal que viveu a blogosfera no sentido de inciar e reforçar amizades através de seus posts: um citando fulano, outro linkando sicrano, quase todos se encontrando em botecos e por aí vai. Tiveram história. E isso acabou. Mas, quem achar que ainda tem algo interessante para relatar, seja lá o que for, que continue. Sempre vai ter alguém para ler. E, sobretudo, comentar.

  16. Pode ser que quando alguma coisa parece chata geralmente é porque quem acha é que é chato. Já o passado, imagino, tende sempre a parecer um tempo bom que não volta mais. Talvez leve um pouco de otimismo, de lembrar mais das coisas boas. Talvez um pouco da nossa herança portuguesa, de sentir saudades.
    Eu também, até pensando em termos de blogues, já lembro de bons velhos tempos…

    []´s

  17. belo post, esses dias também pensei sobre como os ciclos na blogosfera são curtos, creio que no fim da contas, o que gera tudo isso é um cansaço em relação às possibilidades da blogagem; saímos de um ‘mundo real’ – onde a própria possibilidade do diálogo se esvai diante de um modo de vida cada vez mais neurótico – para tentar criar espaços fomentar o debate no mundo virtual e nos deparamos com a imperfeição das relações humanas aqui dentro também – e que, no fundo, toda realidade é virtual e o mundo daqui não é nada diferente do mundo de lá fora, ao contrário, é um mero apêndice dele. também a outro fator não menos desprezível que é a questão profissional mesmo, ainda mais num cenário de crise, onde os ‘bloggers’, em geral certa parte mais sofisticada da classe média que tem tempo livre para blogar, se vê diante de um cenário em que esse tempo se esvai – sim, a blogosfera é fruto de um avanço do capitalismo, num cenário onde é projetada uma classe suficientemente instruída e livre do trabalho em uma parte do dia para poder produzir algo.

    * dos blogs que andaram fechando, sim, o idelber fará muita falta, mas o doria há muito tempo só fazia média quando não bancava o relações públicas de israel.

  18. Um pedido de um leitor assíduo: não nos abandone você também! Nos últimos anos, tenho recomendado enfaticamente às pessoas que leiam o que eu chamo de “A Santíssima Trindade” dos blogs: você, o Bia e o Alex. Vocês não sabem o retorno…
    Continue olhando o rio da sua varanda, mas – vez por outra – escreva aí umas bobagens…

  19. Tive q entrar nos blogs citados, fazer uma espécie de pesquisa para entender esse post…mas,sim, entendi, e sinto que sua blogosfera anda uma coroa enferrujada…fiquei sabendo que até o John hughes morreu (diretor dos clássicos dos anos 80),vc espera o que??? Eu continuo a gostar de ler posts, e acho o twitter muito chato.Enfim, se eu começar a te ler ,vc não vai parar,não é???rs

  20. Entendo perfeitamente o o tom melancólico do seu post. Mas prefiro ser Pollyana e ver o lado bom: entender que são ciclos (curtíssimos, que horror!), me deliciar com as memórias dos encontros maravilhosos e olhar pra frente esperando que as novidades vindouras também sejam tão excitantes.
    Lindo, lindo, lindo post.

  21. Rafael, veja que a maioria citada ‘deu um tempo’, por falta de tempo, isto não quer dizer que irão parar de blogar – Fazem parte de uma turma que gosta de escrever e de conversação. Os novos blogues são mais visuais, como vitrines, numa falsa exposição, quer dizer, as pessoas se expõem mas não falam delas e o twitter veio para intermediar essa postura.
    O twitter como novidade, tem seu tempo de experimentação e o blogueiro que se envolve inicialmente com ele, se perde na blogosfera, para depois com o tempo aprender a usá-lo com moderação. O twitter é uma janela sugadora de tempo.
    Estou citando o twitter, porque essa turma que você citou, está lá e se for parar de blogar, melhor você não ir.
    Quando achamos que os assuntos estão velhos, precisamos de um ‘refresh’, novos olhares e novas músicas. Você sabe! Beijus

    Beijus

  22. Vim aqui no rastro da Luma e ela tem razão, o Twitter tem culpa no cartório. Só não concordo muito no caso da exposição porque sempre há a hipótese de se criar um personagem e começar a falar na terceira pessoa atuando como expectador. Depende da capacidade de cada um avaliar o quanto há do blogueiro naquele personagem. Já contei muitas experiências pessoais, eu era apenas um personagem.

    Para concluir, o clássico elogio: você escreve muito bem. Num texto nem muito longo nem breve desenvolve um tema apaixonante e polêmico. Eu, por enquanto, sou 90% Twitter e 10% blogueiro. Penso muito em transformar o microblogging em posts do blog e vice-versa. Talvez eu chegue a um meio termo

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