Branca de Neve

O Google me trouxe esse presente ontem: historia branca de neve contada pelo anao. OK. Foi você quem pediu.

Naquela noite a gente chegou tarde. Cansado pra caralho, puto porque o Soneca não parava de peidar.

Quando a gente entrou em casa, e viu tudo arrumado, foi um tal de um olhar pro outro, desconfiado. Macho não perde tempo arrumando casa. Muito menos macho velho. A gente tem uma história, sabe? Tem uma reputação a zelar. Aquilo só podia ser coisa de viado. Aí a gente olhou pro Dengoso, que foi logo dizendo que não tinha sido ele.

É claro que a gente ficou com a pulga ficou atrás da orelha, né? Não deu outra: o Atchim ouviu uns barulhos estranhos lá em cima, então a gente subiu as escadas na maciota pra não fazer barulho — quer dizer, só o puto do Soneca que não parava de peidar. A gente entrou no quarto e viu aquela cena: um monte de passarinho, esquilinho e veadinho, e então não dava mais pra ter dúvida: a gente comeu o Dengoso de porrada pra ele parar com essas frescuras.

Foi quando o Atchim viu uma menina dormindo. A gente deixou o Dengoso estiradão lá no canto e foi olhar pra ela.

A menina era muito branca e tinha cabelos bem pretos, curtinhos. Eu não gosto muito de branquela, sabe? Sou chegado é numa negona, com aquele bundão bom de pegar, peitão farto pra fazer espanhola. Mas rapaz, ela até que tinha uns peitinhos interessantes. Peitinho de menina, sabe como é, de menina-moça. Durinho. Ela era toda organizadinha, toda gostosinha. O Soneca levantou a saia dela e a gente viu que ela tinhas umas pernas de respeito. Só não deu pra ver mais nada porque ela usava umas calçolonas de velha. O Feliz, que é sonso pra caralho, foi logo apalpando a menina. Você precisava ver o jeito como ele tremia. O Feliz tava babando, bicho, tava babando mesmo.

Aí ela acordou. Tomou um susto quando viu aqueles anões de pau duro olhando pra ela — você já ouviu essas histórias sobre anões? Pois é verdade. É tudo verdade. Quer ver? Tudo bem, tem problema não, eu entendo.

Onde é que eu tava, mesmo? Ah, sim. Aí ela acordou, viu a gente e tomou um susto. O Dunga tava mamando o dedão do pé dela, aquele mané sempre foi apressadinho. Com o susto a menina deu um chute na boca do Dunga e quebrou um dos últimos dentes dele. Puta que pariu, a gente riu pra caralho. A gente ria, o Dunga sangrava e o Soneca peidava.

Ela disse que o nome dela era Branca de Neve. Porra, a única Branca de Neve que a gente conhecia era a tal princesa. Você acha que uma princesa ia dar uma sopa dessas, deitadinha na cama da gente, só esperando a gente chegar, suadão, pra cair matando? Nem fodendo. O Dengoso sacou logo a dela: “Essa aí tá é fazendo doce pra cobrar mais caro.” Mas o Soneca já tinha visto a menina pegando água no poço e disse que era ela, mesmo. Aí a gente acreditou.

Branca de Neve disse que sua madrasta, uma coroa gostosa que eu já tinha visto uma vez, tinha mandado o caçador dar um fim nela, mas que ele era um homem bom e tinha deixado ela fugir. Fala sério, você acredita numa história de joão sem braço dessas? Pois é. O Zangado falou na hora: “Sei. No mínimo ela pagou um boquete pro sujeito e se livrou”.

A gente então ficou sem saber o que fazer. Aquela menina era chave de cadeia. A gente tinha ouvido falar que a Rainha era chegada nuns candomblés, batia tambor pra Angola, de vez em quando apareciam uns ebós nas encruzilhadas. Ela recebia santo e tudo. Se aquela macumbeira soubesse que a Branca de Neve tava com a gente eu não quero nem imaginar o tanto de merda que ia dar.

Foi quando o Atchim, que sabe das coisas, chamou a gente num canto e bateu a real: “Olha, vai ser meio complicado, mas ela é mais gostosinha que o Dengoso”.

Aí a gente se tocou. A gente nunca tinha reclamado do Dengoso antes. Não tinha por quê, né? Era o que a gente tinha à mão; quem não tem cão caça com gato, você sabe. Mas com a Branca de Neve ali, deitadona, peitinho subindo e descendo, foi como se a gente finalmente descobrisse que tinha coisa melhor no mundo. A rainha que se fodesse, quem não arrisca não petisca.

Só quem implicou foi o Dengoso, disse que aquilo ia dar em confusão. Na hora a gente não entendeu a parada, pensou que era medo da bruaca velha. Era medo da concorrência, isso sim. Ele sacou que a gente ia deixar ele de lado.

Aí a gente fez o seguinte: propôs um trato pra Branca de Neve. Ela arrumava a casa e cozinhava e em troca a gente dava casa e comida pra ela. Na hora o Zangado disse “De dia você come cobra, de noite a cobra te come”, mas ela não ouviu, ou se ouviu fingiu que não. Ela topou e a gente saiu rindo escondido, porque a última empregada que a gente tinha tido ganhava tudo isso e mais uns 300 paus pra parar de se virar. Sem contar uns presentinhos quando fazia favor, sabe como é, né? Olha, a gente tinha feito um puta de um negócio. E ainda ia ganhar uns agrados, entende, eu pelo menos tinha certeza disso. A gente até apostou quem ia comer primeiro.

Mas a guria era osso duro.

A gente tentava umas entradas, a Branca de Neve fingia que não era com ela, e aí a gente ia se resolver na mão. Porque ela atiçava, sabe? Vestia aquela sainha amarela, deixava ver um pedacinho de coxa aqui, um peitinho pulando ali, deixava até a gente passar a mão, dar umas encoxadas como quem não quer nada. Aí, quando a gente achava que ia se dar bem, ela se saía de fininho, parecendo que não tinha percebido.

O máximo que ela deixava era a gente passar à vera a mão nela quando dormia. De vez em quando ela se mexia e a gente dava uma parada, mas eu aposto que ela via a gente descascando uma ali. Era ela dormindo e a gente lá. Toda noite.

O que eu sei, mesmo, é que ninguém ganhou o dinheiro da aposta. A sacana deu uma volta na gente direitinho.

Mas eu vou te contar uma coisa: eu acho que aqueles putos me enganaram. Se quer saber, eu acho que pelo menos o Feliz comeu. Aquele filho da puta é sonso pra caralho, quem vê não diz. Ele vivia rindo, ria o tempo todo. A gente lá, morrendo na mão, e ele rindo. Porra, não tinha do que rir. Mas o Feliz ria. Então ele comeu.

E acho que o Dunga comeu também. Acho que a Branca de Neve deu pra ele por pena, sabe? Careca, desdentado, aquele estrupício ia comer quem? Dizem que mulher tem dessas coisas, dá por pena. Pois eu nunca comi ninguém por pena.

Não, o Zangado eu não sei. Só sei de uma coisa: eu não comi. E é claro que o Dengoso também não comeu.

Como é que é? Ah, porra, é claro que o filme conta a história diferente. Você acha que a Branca de Neve ia contar a vida dela como foi, de verdade? Porra nenhuma. Ela conta do jeito dela. Eu vi o filme. Ela mostrou a gente como uns retardados. Aquela puta.

Bem, pra encurtar a história, a gente viveu um tempão assim. Foi foda. De vez em quando rolavam uns paus, o Zangado até apelou pra umas cabras que tinha por ali, a gente tava meio ouriçado. Mas dava pra viver. A casa pelo menos tava arrumada. E dava pra bolinar a Branca de Neve, desde que bolinasse com jeitinho, que não desse muito na vista.

Aí deu aquele revertério todo de que você já sabe.

Andaram contando uma história de um espelho aí, uns malucos disseram que foi o pai de santo daquela puta velha, mas isso é tudo invenção. Certeza, certeza eu não tenho, mas filho da puta se não foi o Dengoso que foi lá no castelo, dedurar a gente. Ficou com ciúme da Branca de Neve, sabe como é. Tava se achando rejeitado, a moça.

Aquele escroto ainda por cima é um ingrato. Foi a Branca de Neve quem ensinou ele a se maquiar. Antes ele parecia uma pombagira, puta de quinta, sabe? Hoje não, hoje ele tá até ajeitadinho.

Mas eu não posso dar certeza, então é melhor eu fechar o bico. O que rolou é que a vagabunda da rainha se vestiu de bruxa e levou uma maçã envenenada pra Branca de Neve. A Branca de Neve comeu e aí, bau-bau. Se fodeu direitinho.

Ei, não! Nada disso! Quem foi que te contou essa história? A gente não teve porra nenhuma a ver com o sumiço da velha! A gente tava na mina, tava lá, ganhando o pão da gente — e o filho da puta do Soneca peidando –, a gente não teve merda nenhuma a ver com o sumiço da velha. Sei lá como ela morreu, porra! Sei nem se ela morreu, vai ver fugiu com o circo. Sei lá. Tenho cara de fiscal de bruxa? Vá se foder. A história que tão contando por aí não tem nada a ver. Nada a ver. A gente tava na mina e só foi saber do que tinha acontecido quando chegou em casa e viu a Branca de Neve esparramada no chão, é isso. Tô falando sério.

Você quer ouvir a história ou não? Então vamos. A gente construiu um caixão de vidro pra poder continuar olhando a Branca de Neve. Era como nos bons tempos: ela dormia e a gente batia uma. Pra falar a verdade não tinha muita diferença. De vez em quando a gente abria a tampa do caixão pra passar a mão nela, e fechava de novo e voltava pra mão. Era como nos velhos tempos.

Aí apareceu aquele mauricinho escroto e a Branca de Neve foi com ele. Aquela vagabunda. Só foi porque o filho da puta era rico. Como? Não, nada disso. Jovem um cacete. Eu sou velho mas dou no couro, entende? Naquela época não tinha Viagra, mas você acha que eu precisava? Porra nenhuma. Ela foi com aquele filhinho de papai porque ele era rico. Você acha que ela ia trocar sete por um só assim, de graça? Aquela piranha regula a gente um tempão e dá pro primeiro menino que aparece? Grana, bicho. Ele era novinho. Não sabe metade do que a gente sabe. E eu dou o rabo se o meu pau não for maior que o dele.

Aí a gente teve que voltar a pegar o Dengoso. Tô reclamando, não, é melhor que nada. Mas de vez em quando eu lembro dos tempos da Branca de Neve e olha, eu juro: se eu não fosse macho eu chorava.

Caralho, que saudade daquela menina.

Originalmente publicado em 17 de outubro de 2004

Pequena proposta canalha de solução para o Sudão

Os relatos sobre o genocídio no Sudão já pipocavam blogs afora, e esta semana foi a vez da Veja consolidar os fatos para os brasileiros. A opinião pública, especialmente a do povo lá de cima, começa a se articular pedindo intervenção americana ou, pelo menos, da ONU, alegando inclusive que é mais justificável que a invasão do Iraque.

Eu tenho uma teoria que não deve ser muito simpática para a maioria das pessoas. E mesmo sendo um tema sobre o qual o Antonio Carlos e o Guto podem falar com mais propriedade, eu faço questão de deixar clara essa posição.

Me parece que o problema da África, mais que a exploração pura e simples pelas potências européias, é de ordem cultural. O processo evolucionário do continente, com suas idas e vindas, foi interrompido pela Europa. E não estou me referindo ao estabelecimento de uma grande infra-estrutura para o tráfico de escravos no Golfo da Guiné, por exemplo, mas ao processo colonial propriamente dito. O domínio europeu não apenas retirou riquezas do continente, principalmente da África sub-saariana, mas colocou em choque duas culturas diferentes e em estágios de evolução tão díspares que o resultado foi simplesmente a aniquilação da cultura africana.

A Europa precisou de 1500 anos para se tornar o que é hoje, construindo-se sobre as ruínas do Império Romano. Não foi exatamente um processo delicado: por causa da última grande guerra deles uns 50 milhões foram empacotaram em 6 anos. Sem contar os outros tantos que foram morrendo ano a ano nos últimos milhares de anos, de guerrinha em guerrinha.

Na África, no entanto, esse processo tem sido obrigado a se dar em poucas décadas, imposto de fora para dentro. Quando, a partir da segunda metade do século XX, os países da África conquistaram sua independência, se viram às voltas com uma estrutura institucional que não era sua, que não foi criada por eles. O resultado foi a sua fragmentação e, em vários casos, a destruição dessas estruturas.

Falando da maneira mais cínica possível, o que acontece hoje na África é apenas o que aconteceu ao longo de tantos séculos na Europa. As pessoas estão se matando para descobrir qual é o seu lugar no mundo.

Os exemplos mais óbvios são as divisões políticas e geográficas que colocam no mesmo saco nacional etnias diferentes, como tutsis e hutus. Descontando-se as proporções, é como colocar ingleses e franceses na mesma cidade.

Talvez por isso, sempre que vejo alguém falando de ajuda humanitária, ou pior, alguém pedindo intervenção, olhando para a África como quem olha para a Europa ou mesmo para a América e para a Ásia, eu torço o nariz. Se eu fosse delegado da ONU votaria, claro, a favor de uma intervenção. Não seria eu a mandar os sudaneses baterem papo com Jesus, Maomé ou Omolu. Mas eu não tenho essa responsabilidade e posso dar uma opinião, talvez tão frágil que nem mesmo eu seguiria.

É uma opinião simples: deixem que eles se matem.

Parece cruel? É, sim. Muito. Posso garantir que se eu morasse no Sudão faria todo o possível para vir ao Brasil e dar uma porrada no idiota que dissesse isso, porque não seria o dele na reta. Mas a impressão que tenho é que intervenções ocidentais farão muito pouco para resolver a situação. Na melhor das hipóteses atrasarão um pouco o processo. Em vez de morrerem 1 milhão em um ano, morrerão 100 mil por ano, durante 10 anos. É o que um motorista de ônibus, delicadamente, chamaria de freio de arrumação. Não é algo bonito de se dizer, mas talvez a África precise disso.

Inclusive porque há ainda — sempre há — uma hipótese pior: essas intervenções podem simplesmente criar mais ódio, mais revolta. E mais mortes no futuro.

Deixem a África em paz. Ela mesma deve resolver seus problemas, descobrir sua própria identidade. O mal causado pelo Ocidente ao continente vai demorar muitos até ser remediado. Mas cada vez mais tenho a impressão de que é necessário que a África descubra, por si só, o seu próprio processo evolucionário. Parece a expressão de um darwinismo cruel e equivocado, eu sei, mas deixem que eles se matem.

Originalmente publicado em 14 de outubro de 2004

Eu já

Atendendo ao pedido do Alexandre, resolvi entrar nessa onda confessional e aqui vai o meu “Eu Já”.

Eu já comi arroz
Eu já comi feijão
Eu já comi carne
Eu já comi macarrão

Eu já comi alface
Eu já comi berinjela
Eu já comi brócolis
E brigadeiro na panela

Eu já comi doce de caju
Eu já comi goiabada
Eu já comi doce de leite
Eu já comi marmelada

Eu já comi porco
Eu já comi javali
Eu já comi búfalo
Cobra não, nunca comi

Eu já comi caranguejo
Eu já comi siri
Eu já comi ostra
Eu já comi sushi

Eu já comi lagosta
Eu já comi pitu
Eu já comi escargot
Ah, que rima feia eu ia fazer

Eu já comi pão
Como eu gosto de pão
Eu já comi pão
Eu já comi pão

Eu já comi rã
Gosto muito, até
Tanto quanto de coelho
E eu já comi jacaré

Eu já impliquei com garçom
Porque ele não trazia carneiro
E quando trouxe, deixei de lado
Porque sempre fui encrenqueiro

Eu já comi espaguete
À bolonhesa e à marinara
Ao alho e óleo e quatro queijos
Mas gosto mesmo é à carbonara

Eu já comi sashimi
Eu já comi camarão
Mas até hoje desconfio
Que aquele peixe não era salmão

Eu já comi feijão, já disse
Mesmo sem gostar nada
É que eu não gosto de feijão
Mas encaro uma feijoada

Eu já comi pimentão
Eu já comi ervilha
Eu já comi rúcula
Eu já comi lentilha

Eu já comi acarajé
Eu já comi abará
Cocada branca e morena
No Tempero de Dadá

Eu já comi bolinho de estudante
(Que a Dadá, engraçadinha
Resolveu, com muito mau gosto
Chamar de punhetinha)

E como comi sanduíche
De todo tipo: bom e ruim
Mas gosto mesmo é de comida baiana
Só não gosto de xinxim

Já comi comida grega em Paris
Prova de que éramos burros
Adoro pastel velho, de boteco
E sempre gostei de churros

Eu já comi tanta coisa
Inclusive o que não devia
Mas o mais engraçado, mesmo,
É que tudo vai embora no outro dia

Essa é a minha filosofia.

Originalmente publicado em 15 de outubro de 2004

Lições

Um amigo entrou numa fria.

Estava saindo com uma menina de seus 20 anos, 10 a menos que ele.

Até o dia em que ela veio com aquele papo estranho. Disse que não estava preparada para um relacionamento a longo prazo. Que era muito nova para namorar a sério.

Então esse amigo disse o que 11 entre 10 homens diriam nessa hora:

“Tudo bem, a gente sai sem ser a sério.”

É claro que a menina se revoltou, como se revoltariam 11 entre 10 garotas na faculdade. “Tá pensando o quê? Eu não sou dessas, não!” Ele não conta o resto, mas gosto de imaginar a moça, insultada, levantando-se calada, chapéu à la Ingrid Bergman, abandonando-o de uma vez e para sempre, saindo do bar com a dignidade das grandes mulheres.

(Pode ter sido diferente e ela estava em motel e teve que esperar bufando ele tomar banho para irem embora e ainda lhe pediu que comprasse um sanduíche, mas a minha imagem, cá para nós, é mais bonita.)

Se serve de consolo ao amigo, cumpre notar que a moça já saiu de casa naquele dia com a firme disposição de terminar tudo. Nada do que ele dissesse poderia resolver. Se ele respondesse que queria “namorar a sério”, levaria a mesma tabocada nas fuças. Ela não era muito nova para namorar a sério. Ela era muito nova ou muito velha para namorar com ele.

Mas há algumas lições a serem retiradas desse episódio.

Caso uma garota diga o mesmo para você, caro senhor, não fale nada. Porque qualquer coisa que você disser vai dar em merda. Olhe no fundo dos olhos dela, como se estivesse buscando as profundezas do seu ser, admirando a pessoa maravilhosa, única, especial que ela é. Se maravilhosos nela forem os peitos e a bunda e o remelexo, tire isso da cabeça imediatamente: tais lembranças costumam acarretar reações fisiológicas inadequadas a esse momento. É preciso afetar sinceridade, a mais perfeita, a mais absoluta sinceridade, sinceridade casta como freira feia.

O tal olhar é fácil de fazer. Olhe fixo nos olhos dela e não pense em nada, por desnecessário: ela vai concluir que você está pensando coisas mil em meio a sua dor, talvez indagando-se o que fez para merecer tamanha infelicidade, talvez buscando no fundo dela suas mais secretas vontades, talvez simplesmente arranjando coragem para dizer o quanto a ama. O nada e o infinito são tão parecidos, e a vaidade costuma torná-los ainda mais semelhantes.

Vai parecer que por trás desse olhar que lhe desnuda a alma há algo profundo, denso, misterioso. Provavelmente depois de alguns momentos, confusa, ela lhe peça para falar alguma coisa, porque o seu silêncio digno e enigmático vai despertar, nela, uma sensação incômoda de que está fazendo uma grande sacanagem com um bom sujeito (se não despertar corra, porque ela é uma psicopata e na TPM fica pior); ela vai precisar de alguma palavra sua para achar que está tudo bem.

Se recuse então, porque se você disser que “tudo bem” ela se sentirá desculpada, e se começar a chorar sua dor ela vai achar que você é apenas um viadinho enjoado que merece mesmo ser jogado fora. Portanto diga que não há nada para falar — mas por favor, não insista muito nessa linha ou você vai se ferrar. Quando ela insistir pela segunda vez, e ela insistirá, saia pela tangente. Fuja do assunto e diga que ela é maravilhosa, que é isso e que é aquilo. Elogie. Elogie o quanto puder. Se for verdade, ótimo. Menos um pecado nas suas costas. Mas se não for, elogie do mesmo jeito. Minta. Minta até o fim, sem nenhum pudor. Não tenha escrúpulos em mentir descaradamente. Talvez Deus não lhe perdoe por uma mentira tão venal, mas se Deus é pai ele sabe que pecado maior é sair de casa achando que vai cair na putaria e em vez disso levar um pé na bunda.

A partir daí é preciso um pouco de calma. Vai depender dela e de um mínimo de sensibilidade de sua parte. Talvez ela se veja pensando que “tudo bem, talvez seja melhor dar uma chance a ele”. Talvez ela simplesmente vá embora.

Mas as chances são de que ela volte atrás.

E aí você consegue o que queria. Continua traçando a garota, e falando para os amigos: “Bicho, tô comendo uma ninfeta de 20 anos!”. Agora sem o peso de uma namorada.
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Este serviço é uma cortesia da GhostLovers, Inc.

Originalmente publicado em 10 de outubro de 2004

Marketing político

Augusto Nunes em nominimo:

Como os jornalistas, como os advogados, como todos os cidadãos, também a turma do marketing político precisa entrar na roda. Pode um publicitário alugar a cabeça ao candidato que sabe não ser o melhor, que não mereceria seu voto, mas ofereceu vantagens financeiras inacessíveis ao concorrente a quem sobram virtudes mas faltam verbas? O pessoal do marketing político está à margem da ética? Leva quem paga mais? Perguntas desse gênero pedem, aos gritos, respostas imediatas.

O Augusto Nunes faz boas perguntas, mas faltam algumas: eu, por exemplo, queria saber se médicos só devem cuidar de pessoas que admirem, se dentistas só devem obturar dentes de gente em quem acreditam (sem contar aqueles do SUS que simplesmente arrancam os cacos cariados dos que não podem pagar o amálgama), se engenheiros só podem construir casas para pessoas que amem.

Se fossem seguir esses ensinamentos, para fazer um anúncio de absorvente feminino todos os publicitários do mundo precisariam usar Sempre Livre.

A crítica do Augusto Nunes não é justa, mas para mim tem explicação. Apesar de toda a conversa sobre “imparcialidade”, jornalistas costumam assumir posturas ideológicas, tão mais firmes quanto mais firmes forem seus caracteres. Esqueça a teoria. Na prática, bons jornalistas acreditam ter uma missão, a de informar o público e, com sorte, balizar a pauta nacional. Se acostumam a ser agentes políticos, na acepção mais ampla. Por isso uma candidatura, vista da ótica deles, só pode ser defendida por quem acredite nos ideais do candidato. E parecem achar que publicidade e jornalismo são disciplinas irmãs. Não são. O jornalismo deve ser imparcial, a publicidade não. Se fosse para apenas relatar os fatos, não seriam necessários publicitários no mundo: bastaria abrir mais jornais.

Basicamente, marketing político é técnica, e técnica independe de opinião. Por outro lado, política é convencimento. Alguém precisa convencer o eleitor de que é o mais preparado para gerir o Estado ou o município, ou representá-lo no parlamento. Não cabe a um “marqueteiro” definir a política — e qualquer bom jornalista sabe bem que política é muito mais que isso. Não foi o Duda quem inventou o Pitta: foram as circunstâncias. Tudo o que o “marqueteiro” faz é traduzir o pensamento do candidato, dar uma forma atraente ao conteúdo já definido.

O curioso é que até a chegada dos publicitários, os jornalistas eram os principais responsáveis pelos programas políticos. Mas, como eu já disse, jornalismo e publicidade não são a mesma coisa. Para aproveitar tudo o que a TV tinha a oferecer, era preciso gente que conhecesse o meio; e para dar maior ressonância ao discurso do candidato, era preciso gente que soubesse fazer essa tradução. Parece que todo o engajamento de jornalistas comprometidos não era suficiente. Entraram os publicitários na história e, de repente, começaram a chover críticas sobre os tais “marqueteiros”.

Mas a cada dia me convenço mais de que a entrada de gente como Duda Mendonça e Nelson Biondi foi um dos maiores serviços já prestados à democracia.

O avanço técnico das campanhas, a melhoria do nível de qualidade deram uma contribuição imensa ao debate político. Chamou a atenção do povo. E como as pessoas passaram a assistir mais, passaram também a questionar o que viam. Se tornaram mais conscientes do seu papel, e a forma de se fazer política mudou bastante graças a esse espírito crítico, que aumentou porque os programas ficaram mais interessantes. Pelo menos no que diz respeito às candidaturas majoritárias, as pessoas votam cada vez melhor, sim.

E isso, que me desculpe o Augusto Nunes, é mérito dos “marqueteiros”. Talvez porque eles normalmente evitam compartilhar essa opinião elitista de que povo é burro. Povo, meu amigo, é quem sustenta você, seja você quem for. Ele não é burro. Como dizia David Ogilvy, “Não subestime o consumidor. Ele é a sua mulher”.

Quem acha que um mundo sem os tais “marqueteiros” seria melhor, lembre dos programas eleitorais do PSTU. É um programa sem nenhuma participação dos malditos “marqueteiros”, feito por gente que tem um compromisso ideológico muito grande com a candidatura. Vejam como foram bons, como foram longe, como convenceram mais e mais pessoas a votarem em suas propostas de não à Alca, não a isso e não àquilo. Como acrescentaram tópicos importantes ao debate político nacional. Nas próximas eleições votem neles, porque contra burguês, vote 16.

É por isso que cada dia mais vejo essas críticas dos jornalistas como um elogio, infelizmente exagerado. Eles parecem acreditar que o pessoal que faz marketing político é capaz de milagres, de ressuscitar Lázaros e curar leprosos. Não são. Mas eu é que não vou dizer isso a eles. Vou é tentar aumentar meu cachê na próxima campanha. Porque milagre custa mais caro, sabe como é.

***

Há um aspecto interessante em tudo isso. Olhando pesquisas qualitativas, salta aos olhos o fato de que são apenas as classes A e B que fazem referências aos “marqueteiros”. O tempo todo, na verdade; eles olham o programa não como se fosse do candidato, mas da equipe que o produz. Obviamente, se acham mais espertos por isso.

Feliz ou infelizmente, não são: a consciência de que os programas dos candidatos são feitos por “marqueteiros” raramente altera sua percepção do que foi dito. Podem até achar que sabem mais. Mas no fim das contas avaliam as coisas como o povão; o que influencia seu julgamento são outros aspectos, que não dizem respeito ao programa em si. E se engana quem acha que povo, as classes C e D, olha um programa eleitoral como idiotas. Ele costuma ter uma percepção acurada de suas necessidades e das propostas apresentadas, e muitas vezes surpreendem a nós, que julgamos saber quase tudo.

Nas próximas eleições, esqueça que existem “marqueteiros”. O programa não é deles, porque máquinas de escrever não escrevem livros. É do candidato. Faça como o povo, que sabe disso há muito mais tempo.

Originalmente publicado em 10 de outubro de 2004

Se não me falha a memória

Eu chegava ao cinema cedo, para a primeira sessão da tarde, e as luzes estavam acesas e as poltronas estavam vazias, e de trás da tela vinham arranjos instrumentais de clássicos do american standard, talvez interpretados por Ray Conniff.

Eu sentava e pensava na vida, e mesmo não tendo muito em que pensar me aplicava a esse exercício com a seriedade dos que decidem os rumos do mundo, mas ao mesmo tempo com a leveza dos que sabem que não precisam carregar o mundo nas costas.

Então a música parava, infelizmente no meio de Night and Day, felizmente no meio de Besame Mucho, e eu sabia que imediatamente as luzes se apagariam e a voz, sempre a voz de Jorge Ramos apareceria em sua grandiosidade de Cinemascope.

Se não me falha a memória, primeiro vinham os cinejornais. Normalmente atrasados em muitos dias, às vezes semanas.

Que bonito era o Canal 100, com imagens grandiosas de jogadores dançando ao redor da bola em meio a um Maracanã mal iluminado, e a locução de Cid Moreira. De que importava que o jogo fosse antigo, que se soubesse de cor e salteado o resultado? O Canal 100, percebo agora, não era um cinejornal. Era uma declaração de amor do cinema ao espírito do Brasil, o casamento entre duas grandes artes.

Eu não sabia, mas aquele era o último suspiro de uma época que havia sido enterrada pela televisão. Não haveria mais cinejornais. Eu estava assistindo aos últimos momentos de uma arte que nasceu e morreu no século em que nasci mas ao qual sobrevivi.

Depois vinha um curta-metragem. Se eu soubesse o que era a Embrafilme na época resmungaria contra a política cultural do governo, contra aquela tentativa de me infligir aquelas coisas, mas eu não sabia sequer que existia governo, e só conseguia suspirar e esperar que o suplício acabasse logo, como um menino que termina o seu dever de casa enquanto ouve os amigos chamando por ele. Mas mesmo odiando-os a todos, não me saem da lembrança um pequeno documentário sobre o São Cristóvão, campeão em 1926, um meio surrealista que depois seria inspiração para um comercial de tintas (fundo branco infinito, e o artista enlouquecido joga as tintas desvairadamente cenário afora) e o melhor de todos eles, em que a divina, divina Denise Dumont, sonho inalcançável de infância, pega um ônibus lotado e se abaixa para a delícia dos passageiros e dos espectadores, e aquela visão calipígia fazia valer todo o dinheiro economizado durante a semana.

Era antes do DiVX, antes do DVD, antes mesmo do video-cassete, e os cinemas costumavam exibir reprises de grandes sucessos; se passei batido por “… E o Vento Levou” assisti a dois, três desenhos da Disney, e vi o trailer de Help! dos Beatles, sem saber o que era help e sem saber quem eram os Beatles.

E então vinha, finalmente, o certificado de censura atestando que aquele filme tinha sido liberado para menores de 14 anos. Eram parecidos com os da TV. E para mim faziam parte da programação normal. Não evocavam a ditadura, não me faziam pensar em liberdade de expressão. Eram apenas um aviso de que o filme ia começar, de que a espera havia terminado. Um aviso, só isso, como o leão da Metro, os holofotes da Fox ou o cume nevado da Paramount.

Era uma época em que o cinema impunha menos regras, porque se podia fumar, comer, beber, namorar nas poltronas do fundo. Mas eu era criança para namorar, e desde aquela época eu gostava de ir ao cinema sozinho, e ainda que tivesse namorada não iria ousar as ousadias que se ousam no cinema, e minha mão não desceria dos seus ombros, cautelosa, hesitante, esperando a reação ou o suspiro dela, ela que nem seios teria.

E bolinar a namorada em meio a um filme dos Trapalhões é simplesmente errado.

E então, quando os créditos finais terminassem de subir a tela, com as luzes já acesas, e se fosse bom o filme, eu esperaria uma nova sessão, sem que nenhum lanterninha falsamente gentil e eficiente viesse me convidar a sair.

Se não me falha a memória, essas lembranças vão completar um quarto de século.

Originalmente publicado em 07 de outubro de 2004

Loucura

Um site oferece um teste para que você saiba que tipo de gênio louco é.

Eis a definição de loucura do site:

“E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.”

Mesmo levando-se em conta que essa frase parece fora do seu contexto original, essa é uma das grandes bobagens que as pessoas falam sobre loucos. Parece que vêm na loucura um certo glamour outsider, uma espécie de protesto contra uma sociedade que julgam idiota porque nem sempre concorda com elas.

Essas pessoas que vêm tantos atrativos na loucura nunca visitaram um manicômio.

Porque se visitassem veriam que não há beleza, não há glória, não há nada na loucura. Há apenas degradação e, principalmente, solidão.

A solidão da mulher bonita que anda nua pela clínica e, brinquedo sexual dos outros loucos, pare anualmente como quem defeca — acocora-se, pare e sai andando, esquecida do que deixou para trás.

Do homem vestido apenas com uma camisa, boca aberta mostrando os poucos dentes cariados e pênis semi-ereto que avança em direção ao visitantes sem realmente os ver.

Da velha com pernas cheias de feridas sentada no chão e encostada à parede, olhando ausente para as pessoas que passam.

Do homem que come as próprias fezes e as dos outros.

Pois não há graça na loucura, não há. E, principalmente, não é uma questão de escolha. Ninguém “prefere ficar louco”, e essa é a principal mentira dita pela frase. As pessoas enlouquecem a despeito de si próprias, a despeito da vontade de serem normais. Loucura é, acima de tudo, sinônimo de solidão, de alheamento. Loucura é a negação de tudo o que nos faz humanos. É a retirada de toda e qualquer dignidade individual.

Que me desculpem esses poetastros que se pretendem loucos quando não são mais que absolutamente, mediocremente normais, mas loucura não tem beleza nenhuma. Para eles a loucura parece ser uma forma de alcançar a genialidade que um Shakespeare, que um Balzac alcançou dentro da mais comum normalidade, mas que para eles deve ser praticamente impossível de alcançar. Falam do que não conhecem, do que se recusariam a conhecer, e a realidade seria um balde de água gelada em seus delírios ignorantes.

Só falam porque nunca visitaram um manicômio.

Originalmente publicado em 19 de setembro de 2004

Da arte de dar bons conselhos

Fulana diz:
Eu queria ganhar dinheiro conversando. O problema é que não existe muita gente com saco pros meus assuntos.

Rafael diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!

Fulana diz:
O legal é que eu digito super rápido. Então, daria para atender vários clientes ao mesmo tempo.

Rafael diz:
Ué, faz um MessengerSex. Não tem phone sex? Daqui a pouco os tarados vão pagar pra fazer sexo virtual. Nunca subestime essas coisas.

Fulana diz:
HEHEHEHEHE!!!! Que idéia boa!!!

Fulana diz:
Se bem que eu correria o risco de enjoar de sexo. Principalmente se os caras fossem burrões, se escrevessem muito errado…

Rafael diz:
Enjoa não.

Rafael diz:
Se fosse assim puta não se apaixonava.

Fulana diz:
Ah, mas você acha que eu ia ter algum cliente de alto nível? Até parece! Imagina eu me apaixonando por alguém que escreve: “oi putinha eu sinto uma tezaum enorme por vc. quero tranzar com vc, gostoza.”

***

Beltrana diz:
Rafa… qual o segredo prum cara se apaixonar? De verdade?

Rafael diz:
Um bom boquete.

Beltrana diz:
Não entendo onde é que eu erro.

Beltrana diz:
hauahuahuahuahuah

Beltrana diz:
não hehehe

Beltrana diz:
pra ele querer que eu seja dele, e de mais ninguém hehehe

Rafael diz:
Ah, aí só dando a bundinha.

Sério? Eu só queria saber o que faz uma pessoa me pedir conselhos a essa altura da minha vida.

Originalmente publicado em 16 de setembro de 2004

Os macaquinhos de Curitiba

Só fui para Curitiba duas vezes em toda a minha vida.

Da primeira vez, há uns 15 anos, participei de um congresso de estudantes.

Fiquei com a impressão indelével de que aquela cidade tinha um povo pernóstico e elitista. Me parecia bonitinha, bem arrumada, talvez arrumadinha em excesso, com uma temperatura agradável no verão (começo de fevereiro, isso). Mas o povo era, como dizíamos, meio “seboso”. Olhava para a gente com cara de quem comeu e não gostou.

Talvez tenha sido só impressão. Talvez se devesse às roupas de militantes estudantis — o que significa calça jeans, sapatos escangalhados e camisetas com golas inevitavelmente esgarçadas e algum dizer significativo, tipo “Liberdade para Kuala Lumpur” — e pelas caras de fome que todos nós ostentávamos com o orgulho ascético dos que lutam pela liberdade.

Mas com todo o seu esnobismo, Curitiba tinha lá seus eventos realmente interessantes.

O que mais me impressionou naquela viagem foram uns macaquinhos vistos no Passeio Público. Na verdade, um macaquinho e uns macacos adultos. Por alguma razão, o macaquinho tinha caído nas preferências orais de uns macacos mais velhos, que o perseguiam por toda a jaula.

Eu já conhecia a fama de onanistas dos macacos. Mas não sabia desses rompantes de homossexualismo, nem da sua preferência por menininhos. E enquanto os outros congressistas discutiam a salvação do país e os novos rumos do movimento popular na ressaca da eleição de Collor, eu ficava encostado à grade, embasbacado, acompanhando o balé dos macaquinhos gays.

De vez em quando o macaquinho, que gostava muito de ser tão requisitado, cansava daquela brincadeira e fugia dos seus amantes. E as bocas dos macacos, vazias e sequiosas, o seguiam pela jaula, saudosos da virilidade símia juvenil.

Em algum lugar, ali perto, as pessoas discutiam coisas sérias.

Da segunda vez, 8 anos depois, fui gravar um comercial. E então fui extremamente bem tratado, porque as pessoas costumam tratar bem aquelas de quem vão tirar algum dinheiro. Mas não pude ver os macaquinhos gulosos, e a viagem teve um pouco menos de graça para mim.

Curitiba tinha perdido aquilo que a fazia humana.

Originalmente publicado em 14 de setembro de 2004