Eu tenho a mentalidade pacífica.
Meus desejos são: uma cabana humilde com telhado de palha, mas uma boa cama, boa comida, os mais frescos leite e manteiga; flores diante de minha janela, e umas poucas belas árvores diante da minha porta.
Eu tenho a mentalidade pacífica.
Meus desejos são: uma cabana humilde com telhado de palha, mas uma boa cama, boa comida, os mais frescos leite e manteiga; flores diante de minha janela, e umas poucas belas árvores diante da minha porta.
É curioso que as pessoas digam que o governo Lula deveria dar emprego aos pobres, e não assistência. Conceito tão bonito, e aparentemente tão correto, que eu até poderia assinar embaixo, caso essas pessoas conseguissem responder uma pergunta simples. Se entre os leitores houver um empresário talvez ele possa responder.
O senhor daria um emprego a um sujeito analfabeto, que nunca teve um emprego regular na vida, que mora no fim do mundo?
A resposta sincera é não. Ele provavelmente responderá que sua empresa não é filantrópica, que isso cabe ao, bem, governo.
São as contradições que fazem a delícia do pensamento de direita brasileiro, se é que se pode chamar a isso pensamento.
O problema é que é justamente esse público que o Bolsa Família atende. Ainda que fosse meramente assistencialista, como eles teimam em dizer que é, seria necessário. Na Noruega, por exemplo, o governo oferece bolsas do tipo, durante o inverno, quando parte da população fica impossibilitada de sair de casa. Por isso, querer que o Brasil não realize um programa desses é mais que imbecilidade, é canalhice. E expõe bem o ideário neo-liberal em relação a problemas sociais graves como os brasileiros. São as mesmas pessoas que chamavam Franklin Roosevelt de comunista durante o New Deal.
Em vez de simplesmente reconhecer a validade do Bolsa Família, o que a oposição tem feito — e as pessoas repetem sem saber direito do que se trata — é distorcer e minimizar o programa.
Primeiro, reduzem o Bolsa Família a um projeto eleitoreiro. Falam dos “nordestinos que estão votando em Lula porque recebem o benefício”, como se fossem um bando de idiotas. É a forma tucana de evitar dizer o básico: eles estão votando porque agora estão comendo, o que não acontecia durante o seu governo. Mas comer, mas para eles, é apenas um detalhe dentro de um processo macro-econômico.
Quando concedem em admitir a necessidade de programas de assistência social, primeiro tentam argumentar que projetos semelhantes existiram durante o governo Fernando Henrique. Bobagem. Na verdade, projetos assistencialistas existiram em todos os governos brasileiros da história. O governo FHC, pelo contrário, freou os investimentos nesse setor. Como disse Lula, a neo-UDN entende mesmo é de vender barato o que não lhe pertence. FHC fez menos do que devia. E o pouco que fez, fez mal feito.
Há uma diferença grande entre o Bolsa Escola tucano, por exemplo, e o Bolsa Família. O Bolsa Escola era dado a crianças que freqüentassem a escola, ponto. O benefício era suspenso quando ele completasse 14 anos, independente de sua situação. Resultado: não resolvia o problema, e muitas às vezes até agravava, porque acabava diminuindo a renda de famílias inteiras. Isso, sim, era esmola.
Quando os tucanos falam que o Bolsa Família aprofunda a miséria, é porque partem do exemplo do projeto pífio que conseguiram realizar. Se baseiam na própria incompetência para julgar a competência dos outros. O Bolsa Escola é só o que eles sabem fazer, e só o que conhecem. E não concebem que alguém possa fazer algo melhor.
Apenas para informar: o que faz a diferença entre o Bolsa-Família e outros projetos sociais de governos anteriores pode ser resumido em uma palavra.
Condicionalidade.
Para que uma família se habilite a receber o Bolsa Família, ela precisa cumprir algumas condições, além da óbvia que é estar comendo o pão que o diabo amassou com o rabo. Condições simples, como manter os filhos na escola, seguir o calendário de saúde, e participar dos programas de capacitação profissional e geração de renda. Ou seja: em vez da esmola que o PSDB dava a uns meninos por aí, o Bolsa Família é um processo amplo e conseqüente de inclusão social.
Além disso, o Bolsa Escola é dado às famílias, não a indivíduos. Às mães, preferencialmente, por serem elas as cabeças da maior parte das famílias pobres e porque, quando há um chefe masculino, ele não é exatamente confiável. Curiosamente, isso acaba modificando bastante as relações de gênero (ah, se as pseudo-feministas, que não sabem nada da realidade brasileira, soubessem pelo menos disso…). E não tem prazo de validade. É dado enquanto as famílias precisem delas, e suspenso definitivamente apenas quando sua faixa de renda muda. Ou seja: quando melhoram de vida.
Finalmente, o Bolsa Família movimenta a economia. As pessoas compram em suas comunidades. Fortalecemo comércio, que sabe que vai receber no dia certo.
Ou seja: é um programa completo, que vai muito além do meramente “assistencialista”, como gostariam os tucanos olhando com saudade para o seu Bolsa Escola, que para outros é apenas a prova de sua incompetência na área social. E por isso a crítica a ele é feita ou por ignorância ou por má fé.
Depois eles ficam se perguntando por que Lula está com 61% das intenções de votos válidos, e o Chuchu com 39. Uma pista talvez seja o fato de que o povo brasileiro não gosta de cuspir no prato em que, finalmente, comeu.
Algo que sempre me incomodou, e que a Criss repete agora, de maneira inequívoca: aqueles que não votaram em Lula em 2002 por ele ser “um partido de denúncia e ter sempre erguido a bandeira contra a roubalheira, coisa e tal”, e que agora não votam porque “ele incorporou, adotou, assimilou a mesma cultura liberalzinha de araque do governo anterior, que é o que ele mais combatia antes”.
São pessoas para quem, se Lula quita a dívida com o FMI, está errado. Se decretasse a moratória, também estaria errado.
Ah, não. Como dizia certo príncipe, “assim não pode. Assim não dá.”
Há 52 anos, um homem cunhou uma frase belíssima sobre um então candidato a presidente. “Juscelino não pode ser candidato, se candidato não pode ser eleito, se eleito não pode ser empossado, se empossado não pode governar.”
O nome do sujeito era Carlos Lacerda. Homem absurdamente brilhante — certamente mais brilhante que a grande maioria da oposição de hoje –, mas também um dos maiores cancros que a sociedade brasileira já produziu.
Felizmente, apesar dos apelos de Lacerda, Juscelino foi candidato, eleito, empossado e realizou um governo memorável.
O golpismo de Lacerda, no entanto, não acabou ali. Tinha atrás de si uma vitória, ser um dos principais responsáveis pelo suicídio de Getúlio Vargas. Já tinha conseguido alguma coisa. Nos dez anos seguintes, Lacerda pediu incessantemente o golpe militar. Foi atendido em 1964, mas foi também uma de suas primeiras vítimas.
Carlos Lacerda morreu em 1977, politicamente destruído, vários anos depois de o partido de que era símbolo, a UDN, ter sido extinto pela ditadura da qual foi um dos principais artífices. Os militares sabiam que não podiam contar com aqueles golpistas. Aquelas vivandeiras eram muito pouco confiáveis.
Mas agora, quase 30 anos depois, o seu cadáver de triste lembrança foi exumado pela oposição tucana. Desesperados diante do que tudo indica será uma derrota incontestável, os tucanos sobem às tribunas para pedir, sem nenhuma vergonha, o golpe puro e simples, como o venerável senador sergipano José Almeida Lima, ex-prefeito e homem hoje rico, que utilizou a tribuna do Senado na semana passada para declarar que “não podemos tolerar a vitória da corrupção” e que o governo de Lula “tem que ser interrompido”. Assim como a UDN naqueles tempos, o discurso tenta usar disfarces democráticos. Mas as entrelinhas são grandes demais. E são golpistas.
O raciocínio é simples: se a gente não consegue ganhar no voto, vai ganhar no grito.
E assim cai o véu. O jogo democrático não interessa a eles. O discurso da vontade soberana do povo, para eles, é só isso: discurso. Vestindo a túnica puída da UDN, o PSDB sobe às tribunas pedindo o golpe. O povo, para eles, só sabe votar quando elege um tucano. Quando deixa claro que acredita no governo e que acha que, com Lula presidente, vai comer algo melhor que chuchu ao molho FHC, os neo-udenistas se acham no direito de recorrer ao golpe e à destruição da democracia.
Essa é a nova UDN, vestida de azul e amarelo.
Durante os primeiros anos do governo Lula, o tucanato elevava a voz para falar do seu republicanismo. Dir-se-ia serem vestais a serviço da democracia. Se não havia diálogo com o governo, era porque o governo Lula tinha tendências autoritárias, tinha voltado as costas para o social (é engraçado e estranho ouvir o PSDB dizer isso, mas na oposição a gente pode falar o que quiser). Com o escândalo do mensalão, eles passaram a ter algo mais concreto nas mãos. Mas a verdade é que a nova UDN ainda não está acostumada a fazer oposição, e errou na medida.
Por isso o ódio udenista da oposição passou dos limites. Com sua histeria e ferocidade, acabaram criando uma certa repulsa por parte de quem interessa: o povo. O que as últimas pesquisas do Ibope, do Datafolha e do Vox Populi indicam é que, apesar de tudo, apesar de ano e meio de campanha cerrada, o povo continua dizendo não às múmias udenistas. Apesar de todos os ataques a Lula dos últimos meses, o povo brasileiro continua reconhecendo uma coisa simples: para ele, o governo Lula foi o melhor dos últimos tempos.
Enquanto a oposição bate há tempos e de maneira burra na tecla do baixo crescimento econômico do Brasil, o que o povo entende é outra coisa: que as classes mais baixas, nesses quatro anos, melhoraram e muito de vida. O que ele percebeu — e por isso é chamado de ignorante — é que há uma diferença ideológica clara entre o governo Lula e a nova UDN, diferença traduzida no crescimento econômico para quem mais precisa dele. É por isso que hoje, ao contrário do que acontecia até o início de 2005, a oposição abandonou o discurso de que Lula voltou as costas para os pobres. Não que tivesse algum pudor em apelar para isso: mas a dissonância cognitiva é tão grande que até eles, nesta reta de final de campanha tentando tirar o último caldo de virtualmente todos os escândalos acontecidos no país nos últimos tempos, sabem que não funciona mais.
Mas o pior, mesmo, é ver o deboche com que a nova UDN trata instituições que dizia sagradas, como o voto popular. São capazes de insinuar uma tragédia para o Brasil, a destruição de tudo o que foi construído nos últimos 20 anos — inclusive com a sua participação, por sinal nada desprezível — apenas para se ver novamente no poder. Aquele republicanismo tão propalado se revelou uma farsa, como a democracia udenista nunca passou de falácia, e como a recém-descoberta honestidade do PSDB é tão falsa quanto a crença no voto soberano.
Perdendo de vez seus escrúpulos, a nova UDN se igualou ao seu aliado, Garotinho (aliança justificada pelo príncipe dos sociólogos aos dizer que “eu também fiz alianças, assim como Lula”), cujos conselhos programáticos para Alckmin são os de deixar de usar fitinhas do Senhor do Bonfim e evitar tomar banho de pipoca, coisa de altíssimo nível político; o mesmo ser deletério e que há alguns meses tentou fazer do Brasil uma república de bananas, pedindo observação internacional para as eleições, em meio à greve de fome mais ridícula de todos os tempos.
A UDN que se alcunha PSDB, hoje, é uma vergonha para o Brasil.
Republicado em 15 de julho de 2010
Na finada Primeira Leitura, volta e meia o ex-Ministro do Exterior Celso Lafer, aquele que se humilhou nos Estados Unidos tirando os sapatos no aeroporto, como um cucaracho qualquer, descia a lenha na política externa de Lula.
Era até feio, porque pega mal um ex-ministro — ainda mais diplomata — bater sistematicamente em outro. Melhor fez o Rubens Ricúpero, aquele honesto o suficiente para dizer que “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”, que tem suas críticas à política exeterior de Lula, mas reconhece suas qualidades. Uma entrevista sua no último número daquele boletim oficioso do PSDB era até engraçada: o repórter tentando arrancar uma condenação à política de Lula e o Ricúpero insistindo no pecado mortal, para a Primeira Leitura, de se ater à verdade.
Lafer insistia que a política externa de Lula estava totalmente errada e nos levaria ao desastre. Tudo partia de uma diferença de concepção de país. O governo FHC — e, pelas suas propostas, em 2007 um improvável governo Alckmin — raciocinava assim: eles acreditam que se matricularem o Brasil no Santo Inácio nós deixaremos de morar em Bonsucesso. Por isso privilegiavam as relações com os países ricos.
Esses países, como se sabe, têm mercados extremamente abertos para primos pobres como nós. A França não subsidia sua agricultura, uma das mais competitivas do mundo. Os Estados Unidos tampouco subsidiam seus produtos, como o algodão que chega ao Brasil por um preço menor que o custo de produção por um passe de mágica, e não empurram agressivamente os seus produtos enquanto fecham o país para, por exemplo, o aço brasileiro.
Infelizmente, alunos pobres em colégios de elite costumam ser é humilhados.
Quando Lula estabeleceu uma política externa privilegiando as relações com países em desenvolvimento, gente como Lafer se apressou em condenar a decisão. Aquilo não poderia dar certo. O Brasil perderia tudo o que tinha conquistado nos anos anteriores.
Hoje, as exportações brasileiras são o dobro do último ano de FHC. Passaram de 60,3 bilhões de dólares em 2002 para 120 bilhões. Obviamente, os defensores do PSDB dirão: “ah, mas isso é resultado do cenário internacional favorável”. (Tudo no país, de acordo com eles, é resultado de “um cenário internacional favorável”. É a melhor forma de negar qualquer competência ao governo Lula. O “cenário internacional favorável” é eleitoralmente o que a “mão mágica do mercado” é em discussões econômicas. O que quer dizer que, para eles, se o Brasil tivesse mantido a mesma política externa hoje exportaria mais que a China.)
Ainda dentro da filosofia tucana do “faça o que eu digo, não o que eu faço”, a imprensa passou os últimos 3 anos e meio batendo em Lula por “abandonar” o Mercosul. Isso não era bem verdade, mas em campanha vale tudo. Agora, em seu programa de governo, Alckmin avisa que vai voltar a privilegiar os países do norte.
Assim como FHC, Alckmin não gosta de andar com pobre.
Comentário do Grande Líder da Silva a este post:
O problema não é má gestão das estatais, mas o fato de elas serem usadas pelos políticos para cabide de empregos e corrupção.
O credo liberal de que as empresas privadas são exemplos de ética, contrapostos à corrupção endêmica na maioria das estatais, é provavelmente uma das maiores bobagens desse sistema. Porque não são. O objetivo de qualquer empresa é o lucro e para isso tudo, ou quase tudo, é válido. Se para conseguir lucros uma empresa precisar ser corruptora, ela será. É simples assim.
Não é preciso citar muitos nomes envolvidos em escândalos de corrupção para lembrar que isso não é bem verdade. Planam, Banco Rural, tantas outras. Todas essas são empresas privadas. E todas elas, segundo a imprensa, são corruptoras. O Grande Líder que me desculpe, mas a privatização não resolveu o problema da corrupção.
E nem poderia. Porque o problema não está na natureza de uma empresa, seja ela estatal ou privada. Nesse caso específico, está na relação das empresas privadas com o Estado.
Há alguns meses, uma empresa — privada — de telefonia assinou um contrato com o Governo de Sergipe que no momento é escorraçado para fora da vida pública. O valor original do contrato era de 60 milhões de reais. De alguma forma, e sem razão aparente, esse mesmo contrato passou a custar 90 milhões para o Estado.
Na maioria dos casos de corrupção em todo o mundo, os envolvidos são empresas privadas em relação com o Estado. A Halliburton, por exemplo, não é uma empresa pública.
Nos últimos 20 anos, apesar do que possa parecer, o Estado brasileiro deu grandes passos no sentido de uma melhora nesse aspecto. Hoje, é muito mais fácil para alguém conseguir um emprego numa empresa privada por indicação que no Estado, com exceção de cargos de confiança. A crença pueril de que um Estado menor, ou o fim das estatais, resolveria a corrupção não se sustenta.
E aí é que começa a bagunça: se uma empresa estatal é envolvida em algum caso de corrupção, lá vem a litania privatista de sempre. Mas não há grita semelhante em relação às empresas privadas, quando estão metidas na mesma confusão. Essas podem estar envolvidas em qualquer tipo de corrupção, que sua natureza “ética” não é questionada.
Há muito tempo este blog fala que corrupção é um problema de toda a sociedade, não apenas do governo, qualquer governo. A sociedade é, por natureza, corruptora — e algumas pessoas até afirmam que um certo nível de corrupção é benéfico, uma posição no mínimo discutível.
É justamente esse o papel do Estado: controlar e evitar a corrupção. É aí que se pode fazer críticas ao governo Lula, ao modo como se deixou engolir pelo sistema secular de trânsito entre público e privado, um dos seus principais pontos programáticos. Mas isso não pode ser feito contrapondo-se o seu exemplo a uma honestidade inexistente do PSDB.
No governo FHC a corrupção campeou solta. Qualquer tentativa de CPI era sabotada, e houve muitas: qualquer pessoa pode se lembrar de 3 ou 4 exemplos. O procurador Geraldo Brindeiro recebeu um apelido adequadíssimo justamente por isso: “Engavetador Geral da República”. O PSDB tinha melhores condições políticas de impor a impunidade, e não hesitou. Os indícios de roubalheira estavam em todos os lugares, mas além de o governo impedir que eles fossem investigados — o que o governo Lula não fez, a propósito, ainda que por impossibilidade –, contava com uma imprensa afável e simpática, para não dizer submissa.
A questão é simples: bater em estatais ignorando-se o papel da empresa privada no tráfico de influência e na corrupção é simplesmente uma idiotice.
Na Veja Online de ontem:
Para FHC, Lula “manchou a própria história” com o objetivo de manter-se no poder. “Transformou-se em político corrupto. Ele fez isso pra ganhar a eleição”.
Deixa eu ver se entendi: Fernando Henrique foi o autor de uma das decisões políticas mais nocivas para o país em toda a história, a criação do instituto da reeleição, inédita no Brasil mas adequada às suas pretensões principescas. Para isso, comprou parlamentares de maneira descarada, caindo no mais baixo fisiologismo — aquele que hoje, com todo o cinismo do mundo, finge desconhecer.
Este é o mundo em que eu vivo. Um mundo em que ACM Neto ameaça bater no presidente, dizendo-se “indignado” por uma suspeita de grampo telefônico — ele, o neto de ACM, o sujeito que grampeou a Bahia inteiro por causa de uma amante –, e não é sequer processado. (Mesmo assim falam do “autoritarismo do governo Lula”.)
Um mundo em que as vestais prostituídas do PSDB falam soberbamente dos sanguessugas, quando 70% das ambulâncias superfaturadas da Planam foram liberadas durante as gestões Serra e Barjas Negri no Ministério da Saúde de FHC.
Um mundo em que Geraldo Alckmin se sente com autoridade para falar em segurança — ele, o homem que com sua incompetência no governo do São Paulo possibilitou o terrorismo do PCC em maio deste ano, e cuja única medida “efetiva” para o combate ao crime foi a tentativa de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Agora é Fernando Henrique Cardoso, presidente que quase destruiu seu governo para garantir a própria reeeleição e cujo homem forte foi o modelo de honestidade ACM, que se sente com autoridade ética e moral para falar de sustentação no poder. Sem a mínima vergonha.
Eu não entendo mais nada.
A Criss está enganada quando fala que a “grande Petrobras” independe de visão política. Pelo contrário. Aliás, essa é a justificativa de toda e qualquer privatização: a de que políticos não sabem gerir empresas.
Dentro desse enfoque a Veja desta semana parte para o ataque, em um artigo tipicamente intitulado “Vivam as privatizações!” (com ponto de exclamação e tudo). É talvez a única coisa boa nesse segundo turno: a diferença ideológica entre os governos Lula e do PSDB, que sempre foi negada pela direita, fica mais clara. E na matéria, em que a defesa da privatização volta com força total, eles se lamentam que a Petrobras não pode ser privatizada porque o mercado não tem como comprá-la. É cara demais.
Obviamente, o governo do PSDB tentou dar um jeito nisso. Afinal, vender algo por 15 bilhões é mais fácil que vender por 70.
Durante 8 anos, a Petrobras foi sucateada de todas as formas legalmente possíveis. As contratações cessaram, e boa parte dos serviços foram terceirizados, segurando ou diminuindo o valor da empresa. O cenário internacional, claro, tem efeitos na sua valorização, como lembrou o Fred; ajudou, por exemplo, no fato de em 2002 a Petrobras atuar em 9 países, e hoje estar presente em 21. Mas é inegável que a mudança de enfoque durante o governo Lula, fortalecendo a empresa, também teve um efeito importante nessa valorização. Isso diz respeito ao modo como o governo federal encarou a missão da Petrobras. Durante o governo Lula ela voltou a contratar gente, além de readmitir vários que foram postos para fora por FHC. Para que se tenha uma idéia, durante aqueles 8 anos pouco mais de 300 novos empregados foram contratados, já no final do governo. Isso numa empresa que tem mais de 50 mil funcionários, e emprega quase 200 mil em todo o mundo.
Alguém realmente esperava que a Petrobras pudesse crescer dessa forma? Não é, como disse a Criss, “quase afirmar que a galera faz corpo-mole quando chefiada por esse ou aquele presidente, e trabalha mais quando liderada por outro, só pelo fato do cargo ser político”; é apenas dar condições aos empregados de fazerem sua parte.
Quando a Criss fala da “alta competência técnica” da Petrobras, ela tem razão. E essa competência orgulha tanto o pessoal que trabalha lá que eles não gostam de ser chamados de “funcionários da Petrobras”. Preferem os termos “empregados” ou “trabalhadores”, porque isso os diferencia do simples funcionário público. Eles são bons no que fazem, e sabem disso.
Daí porque é incompreensível que tenham sido boicotados pelo governo Fernando Hernrique. Foi a terceirização, segundo esses mesmos empregados da Petrobras que todos apontam como competentes, a principal causa da série de acidentes que a Petrobras sofreu durante aqueles anos. Gente despreparada e mal paga, que não tinha condições de desempenhar adequadamente aquele trabalho. E isso não deveria ser sequer discutido. Basta comparar as notícias de jornais durante aqueles tempos — o nome P-36 lembra alguma coisa a alguém? Ou a expressão “desastre ambiental”? — com a falta de notícias do tipo no noticiário dos últimos 3 anos e meio.
É aí que está o principal erro da Criss: ao dizer que não devemos “culpar o Governo de A ou de B pelos acidentes, que isso não tem nada a ver”, ela está negando a importância que a administração de qualquer empresa tem no seu funcionamento, ao tomar decisões. Isso é a negação do próprio funcionamento de uma empresa. Pior: parte do princípio de que a Petrobras é absolutamente independente do governo. Como se não fosse uma estatal.
Foi a orientação do governo Lula que fez a Petrobras, por exemplo, aumentar seus investimentos na área social, principalmente com o Programa Petrobras Fome Zero. O impacto social da empresa em várias regiões — em Sergipe isso é facilmente notado — foi enorme.
Há outros dados, que mostram também essa diferença na abordagem do papel da empresa. Por exemplo, durante o governo Fernando Henrique, o preço do gás de cozinha subiu assutadoramente. Em dezembro de 2001, custava menos de 20 reais. Em janeiro de 2003, mais de 30. Enquanto isso, nos últimos quase 4 anos ele subiu apenas 4 reais, em média, muito abaixo da inflação.
Quanto à postura do governo brasileiro em relação à crise da Bolívia, eu recomendaria que lessem o blog do Sergio Leo, que foi até lá acompanhar o imbroglio. O fato é que, como disse o Marcus, a postura do governo brasileiro tem sido sensata e conseqüente. Mas isso é assunto para outro post.
O Elton lembrou o caso da tentativa de mudança de nome da empresa para Petrobrax. Foi o mesmo raciocínio que levou algumas pessoas a sugerirem que o Banco do Brasil tivesse seu nome mudado para “Banco Brasil”, negando seu caráter nacional e tornando mais fácil a sua privatização. O que a Criss chama de “imbecilidade das mais improváveis” foi tema de amplos debates durante a era FHC — e, se não conseguiram a privatização, conseguiram pelo menos a quebra do monopólio. É curioso que o mesmo pessoal que durante a crise da Bolívia se arvorou em defensor do patrimônio nacional e encarou a nacionalização do gás boliviano (basicamente o mesmo que fizemos aqui há pouco mais de 50 anos) como quase um motivo para declaração de guerra, eram os mesmos que nos anos 90 defendiam a privatização da Petrobras.
Os tempos, afinal, mudaram.
Quando Zé Eduardo Dutra assumiu a presidência da Petrobras, em janeiro de 2003, a empresa valia 15 bilhões de dólares. Em junho de 2005, ao deixar a empresa, seu valor de mercado era de 54 bilhões. Hoje, sob a presidência de Sergio Gabrielli, a Petrobras já vale mais de 70 bilhões de dólares.
Com esses dados, assinale a resposta correta:
a) O governo do PSDB foi incompetente ao gerir a empresa, o que se pode ver na série impressionante de acidentes ocorridos durante aqueles oito anos e que hoje acabaram;
b) O governo Lula foi competente no gerenciamento da empresa — a propósito, Zé Eduardo Dutra era sindicalista.
c) Na verdade o governo do PSDB também foi competente, porque o seu objetivo era esvaziar a empresa para vendê-la a preço de banana;
d) Nenhuma resposta acima;
e) A, B e C estão corretas.
E assim acaba mais uma sessão de republicações.
Infelizmente, porque é nesses momentos que o blog fica com uma média de qualidade altíssima.
Ainda não descansei o que mereço, mas o fato é que acabaram-se os posts bons, então eu tenho que voltar à labuta diária.
Segunda-feira este blog está de volta. E nada como uma sexta-feira 13 para fazer esse anúncio.