José Serra não está preparado para ser Chefe do Estado brasileiro

O que mais chama à atenção nas declarações recentes de José Serra sobre o presidente da Bolívia, Evo Morales, é que elas servem, quando menos, para comprovar uma constatação que vinha tomando corpo nos últimos anos.

É uma constatação muito simples, mas fundamental para a compreensão do cenário político atual: a direita brasileira não apenas foi incapaz de trazer o Brasil ao estágio de desenvolvimento em que ele se encontra. Infelizmente, ela é também incapaz de administrar esse novo país — mais rico, mais justo, mais importante.

Já há algum tempo, vinha ficando cada vez mais claro que o PSDB/DEM tem dificuldades em entender o país em que vivemos atualmente. Suas investidas contra a participação do Estado na economia mostram que, mesmo que os fatos desabem sobre suas cabeças, eles não conseguem enxergar além de suas fórmulas de administração de país subdesenvolvido, condição que, historicamente, é a favorita da direita brasileira. Mesmo depois do crash de 2008, quando a atuação eficaz do Governo impediu que o Brasil seguisse os passos de países tradicionalmente mais ricos e atolasse em um dos maiores lamaçais financeiros da história — enterrando de vez as lembranças amargas das crises em que o governo de Fernando Henrique Cardoso, padrinho de Serra, enfiou o Brasil.

Se essa situação já estava suficientemente clara em termos de política interna, agora Serra se encarregou de demonstrar que a incapacidade do grupo que representa não conhece limites. E mostrou que é realmente um candidato globalizado, como o PSDB/DEM gosta de ser: sua estupidez demonstra estar em expansão constante, e não consegue se limitar a meras fronteiras nacionais.

Ao acusar um Chefe de Estado estrangeiro de cúmplice de traficantes, José Serra fez muito mais que cometer uma gafe diplomática. Mostrou, acima de tudo, a sua completa incompetência em política internacional.

Já se sabia que, como virtualmente toda a direita brasileira, Serra não consegue enxergar as diferenças óbvias e cruciais entre Evo Morales e Julio Cesar Chávez, não consegue entender as condições objetivas de governo de cada um deles, suas necessidades políticas e suas retóricas diferentes. Por isso, por não compreender o que vê, trata a ambos como criminosos.

Mas agora o caso se torna mais grave. Ao tratar um líder legítimo e importante para a história de seu país como Evo Morales de uma forma indigna, ofensiva e caluniosa, enquanto fecha os olhos para os crimes verdadeiros cometidos pelo grupo do colombiano Álvaro Uribe, com quem tem muito mais afinidades ideológicas, Serra deixa antever a extensão da catástrofe que seria um eventual — e cada vez mais improvável — mandato seu em termos de política exterior e comercial.

Não se trata mais de discurso e presunções: falamos, agora, de atitudes concretas. Já temos indícios suficientes de que, se fosse eleito, Serra se encarregaria de devolver o Brasil à posição com a qual essa direita encabeçada pelo PSDB/DEM se sente mais confortável: a de um país subalterno e subjugado, envergonhado e resignado à condição de pobre da periferia — um país que assume completamente o seu complexo de vira-lata.

Insultando Evo Morales e colocando o Brasil como alvo de críticas justas, pela primeira vez em muitos anos, José Serra demonstrou que não é capaz de desempenhar dignamente a função de chefe de Estado. De nenhum país, nem mesmo de Honduras — mas, principalmente, se mostrou incompetente para governar um país em consolidação econômica e ascensão no cenário internacional como o Brasil.

Justiça seja feita: o feito que Serra conseguiu não é para qualquer um. A inserção internacional que o Brasil conquistou, contrariando as recomendações do PSDB/DEM, foi pela primeira vez em muitos anos abaladas pelas declarações absolutamente infelizes de um candidato que se pretende uma alternativa viável de poder.

Alternativa ele acaba de provar que é. O problema é que não é a melhor possível; não é sequer uma alternativa desejável para um país que se respeite.

Robin Hood, de Ridley Scott

Tudo bem, Robin Hood é uma lenda, e com uma lenda pode-se tomar as liberdades que quiser.

Mas não é uma lenda qualquer. E não apenas por ter quase mil anos. Junto à do rei Arthur, é uma das lendas fundadoras da identidade inglesa. Enquanto aquela diz respeito aos nobilíssimos ideais nacionais, a lenda de Robin Hood é, de certa forma, a visão que o povo inglês tem de si mesmo: rebelde, bravo, debochado, justo. Na Wikipedia se pode achar um bom resumo da confusão que se faz em tentar definir uma origem clara para a lenda; mas isso importa pouco. A existência histórica de Robin Hood chega a ser desnecessária: o que importa realmente é que nele o povo inglês pintou um retrato excelente de si mesmo, ou ao menos do que gostaria de ser.

Na prática, a idéia do sujeito ousado que rouba dos ricos para dar aos pobres é a sua verdadeira razão de ser. Sua versão consolidada, a que chegou até os dias de hoje (contada, entre outros, por Monteiro Lobato), reza que o jovem Robin Hood, tendo seus direitos usurpados pelo xerife de Nottingham durante a regência do príncipe que mais tarde seria o rei João Sem Terra, forma um grupo de foras da lei na floresta de Sherwood e se dedica a caçar cervos que são propriedade do rei, roubar dos ricos que passam por ali para distribuir entre os pobres oprimidos, e desafiar e insultar seus grandes inimigos, o xerife e o bispo de Nottingham — ou seja, o Estado e a Igreja —, com bom humor, ousadia e inconsequência. Se apaixona por uma jovem dama chamada Marian, e quando o rei Ricardo Coração de Leão volta das cruzadas, o perdoa. Mais tarde irá morrer nas mãos de uma freira, filha do próprio xerife, mas isso é praticamente outra história.

Essa é uma lenda que demorou mais de 500 anos para ser criada. “Robin Hood”, o novo filme de Ridley Scott com Russell Crowe, Cate Blanchett e John Hurt, joga tudo isso no lixo, e o resultado é uma mixórdia medíocre e confusa. Em duas horas, Ridley Scott consegue destruir uma lenda secular por pura e simples incompetência.

Do ponto de vista cinematográfico não há muito que se falar de “Robin Hood”. Não há nada nele que o distinga da super-produção média de Hollywood. É mais do mesmo, filme igual a tantos outros pseudo-épicos que vieram às telas nos últimos anos. Alguns críticos o compararam a “Gladiador”, do mesmo diretor e com o mesmo ator principal; mas as referências mais sólidas do filme estão estão em filmes mais recentes e que abordam a mesma Idade Média, como “Cruzada”, também de Scott, e “Rei Arthur”. Esteticamente, são praticamente o mesmo filme. É quase como se fossem feitos pela mesma equipe: diretor, roteirista, diretor de fotografia e diretor de arte.

A confusão histórica criada pelo enredo desafia qualquer tentativa de compreensão, a começar pela representação simplista, esquemática e falsa das relações entre França e Inglaterra. Que ninguém tente entender a história da Inglaterra naqueles anos dos Plantageneta através deste “Robin Hood”, porque tudo o que se vê ali é, virtualmente, imaginação do roteirista. Essa barafunda tem reflexos também na construção dramática do filme. Uma das cenas mais comentadas, a tentativa de invasão francesa, é alegadamente uma referência à invasão da Normandia como retratada em “O Resgate do Soldado Ryan”, de Spielberg. Mas mas ao ver aquelas barcaças movidas a remo, e sem o brilho de edição e sonoplastia que fizeram da cena dirigida por Spielberg uma das mais impactantes da história do cinema, a imagem que vem à lembrança é a dos Flintstones e suas paródias da tecnologia moderna. (E um detalhe bobo: qual almirante tentaria a invasão de um país por uma praia com uma única saída, como a do filme? É praticamente suicídio, mas em nome do visual grandioso Ridley Scott é capaz de qualquer coisa.)

A atuação de Russel Crowe é catastrófica. Se a versão de Michael Curtiz, de 1938, trazia um Errol Flynn elegante, irônico e alegre, Crowe faz um Robin Hood tão chato quanto Kevin Costner quase vinte anos atrás; mas enquanto Costner tinha também uma cara inamovível de banana, Crowe agrega ao seu uma ferocidade trazida diretamente dos seus tempos como gladiador no Coliseu romano. Se a lenda fosse respeitada, em vez de encarnar o protagonista Crowe poderia fazer Guy de Gisborne, um de seus antagonistas. Seria mais adequado. Porque Robin Hood é, acima de tudo, um boa-vida. E seu grupo, “vestido no verde pano de Lincoln”, era conhecido como “Robin Hood and his Merry Men”.

Mas o trabalho canastríssimo de Crowe não é o principal problema de “Robin Hood”. O que assusta, mesmo, é a capacidade impressionante de Ridley Scott para destruir a essência de uma lenda fantástica.

Agora Robin Hood é Robin Longstride, arqueiro de Ricardo Coração de Leão que deserta depois de castigado. A demagogia populista contemporânea tira do homem que um dia foi Robert de Locksley a sua nobreza hereditária — o que em tese o aproxima mais de suas eventuais raízes reais: historicamente, o mais provável é que a sua origem seja algum Robert que não passaria de um yeoman. Em algum momento deu-se a ele um título de nobreza que lhe teria sido usurpado; e disso nunca se conseguiu passar.

Mas a tradição de nobilitação de Robin Hood é antiga demais para que se consiga sair dela. E mais uma vez tenta-se dar uma origem nobre, de alguma forma, ao personagem. Ridley Scott vai mais longe do que alguém já sonhou, e agora, além de guerreiro experimentado no Oriente com um certo de tipo de ligação real, Robin Hood é filho do homem que, nem mais nem menos, escreveu a Carta Magna de João Sem Terra, o documento precursor da democracia moderna.

Se era para esculhambar dessa forma, poderiam ter dito que Robin Hood era Artur da Bretanha, o sobrinho em que o Rei João deu um sumiço jamais explicado. Seria mais decente, mais nobre e historicamente mais acurado.

Como se não bastasse, a própria razão de ser de Robin Hood — o homem que tomava a justiça em suas mãos, roubava dos ricos e dava aos pobres — é virtualmente eliminada. De acordo com Scott, Robin Hood é um sujeito que ajuda os barões em sua busca de consolidação do feudalismo, em vez de roubá-los. O único roubo de Robin Longstride (sem contar o saque de alguns mortos, algo perdoável porque o Inferno não cobra entrada) é para beneficiar a sua amada da pequena nobreza rural.

Scott conseguiu criar um Robin Hood que trabalha dignamente para a classe média, e não é fácil imaginar um destino mais indigno para o pobre sujeito.

As alegrias que o Google me dá (XLII)

qual é a melhor posição para foder bem uma mulher de 30 anos
Diga que ela não vai mais arrumar um marido. Ela vai ficar deprimida por uns três anos.

como e chamada a profissao de quem faz doce
Filho da puta. Porque quem faz doce é filho da puta.

ninfeta espiritual
Ninfeta espiritual deve ser aquela vadia velha que deu para meia cidade mas que, em espírito, ainda se considera uma menina pura e inocente.

pesoas vestidas de coelhas transando
São pessoas de sorte, porque conseguiram achar um sujeito que não caiu na gargalhada com elas.

foto de garotas de chorrochó
É uma questão de gosto. Tem gente que procura fotos de garotas de Chorrochó (para quem não sabe, cidade no sertão da Bahia). Outros preferem fotos de chorrochós de garotas. Como dizia o velho Valois, tem gente para tudo nesse mundo, e ainda sobra um para comer merda.

o que fazer eu era testemunha de jeová e me arrenpedi porque sair e fui crente
Matemática básica: como Testemunha de Jeová você só tinha que ir encher o saco de pessoas em suas casas, pregando a palavra do Senhor. (Duas delas bateram na minha porta uma vez num domingo de manhã, algumas décadas atrás, e tiveram que aturar uma preleção sobre o Corão; eu não sabia nada, mas elas sabiam menos ainda, e eu pude mentir à vontade. Quase converti as moças. Foi uma manhã de domingo divertida.) Mas agora, como crente, você tem que dar a porra do dízimo, e quando viu o dinheiro indo para o bolso do bispo você naturalmente se arrependeu. Mas olha, podia ser pior: você podia ter virado católico e sido assediado pelos padres.

capador de cabra
Sempre que vejo um sujeito vestido de bicho de pelúcia distribuindo panfletos na rua fico pensando nas coisas que a gente é obrigado a fazer para ganhar a vida. Mas a partir de agora passo a achar que aqueles que aguentam esse pequeno martírio são pessoas de sorte, porque há sinas piores no mundo.

google o que aconteceu com o pastor q chutou a santa
Foi promovido pelo bispo Edir Macedo, encheu o rabo de dinheiro e agora se dedica a cuspir em Cristos crucificados.

quem tem tireóide nome do remédio que pode tomar para moderar a ansiedade e o apetite
Agora fiquei preocupado. Eu tenho tireóide. Aliás, todo mundo que conheço tem tireóide. Bicho, será que há uma epidemia de tireóide grassando por aí?

frase para a juventude dourada dos anos 70
“Os bons tempos não voltam mais”. E vocês, cocotas e pães que nos anos 70 desfilavam bronzeados por aí, 40 anos depois estão velhos e acabados, pelanca para tudo quanto é lado, o cabelo caiu, estão um caco, hein? Ô vida. Como diz o Gama, o tempo é um fazedor de monstros.

tenho depressão mandaram parar de fumar não é pior
Claro que é. O idiota que te falou isso devia ser processado e preso. Você já é deprimido pela vida merda que leva; vai ficar deprimido também pela falta de nicotina? Seu médico é um açougueiro e merecia ter seu CRM cassado.

a atual do meu ex quer tc comigo no msn oque devor fazer ou falar
E você ainda tem alguma dúvida? Minha filha, você vai mesmo perder essa chance de esculhambar aquele cachorro? Conte as verdades sobre ele, basta fazer isso. Transforme a vida dele num inferno e se vingue por tudo aquilo que ele te fez passar.

fotos homes de penisduro
Penisduro, para quem não sabe, é uma cidadezinha mineira, ali pertinho de Cordisburgo. Cidade que, pelo visto, anda com uma certa falta de homem.

mulher chega em casa com o cabelo molhado traição
Encha a cara dela de porrada. Não por causa das galhas com que ela te enfeitou, mas por causa da burrice dessa imbecil. Essa idiota não sabe que todo motel tem secador de cabelo justamente para isso? A não ser, claro, que ela tenha ido para uma birosca de dar medo em padre pedófilo, daquelas que em vez de banheira têm uma bacia para as putas se lavarem; e aí encha a cara dela duplamente de porrada, que te cornear com um pé rapado já é falta de respeito.

qual é a importancia de que os universitario participam de movimentos estudantis lei
É importante para o fortalecimento da democracia. Infelizmente, alguns se dedicam apenas ao movimento e esquecem o estudantil, e o resultado é um anafalbeto como você.

sobre o que as mulheres gostam de conversar no msn
Putaria. MSN é o toalete cibernético.

penis não sobe muito o que é?
E a galera responde: “É meia-bomba! É meia-bomba!”

resposta de kassab p/ marta sobre sobre sua opção sexoal
“Não é da sua conta, rachada hor-ro-ro-sa.”

google eu gostaria de fazer um blog so que eu nao sei fazer
E olha a sacanagem que o Google fez contigo: te trouxe aqui, um exemplo de tudo o que um blog não deve ser.

adoro pau fino
Mentirosa.

porque a queimadas é uma pratica que ilude o agricultor
Porque logo no comecinho, quando essa leviana está pegando fogo, faz parecer que a vida vai ser uma maravilha para o pobre lavrador. Mas logo depois a triste realidade se estabelece, e então o iludido homem do campo descobre que de tudo aquilo, afinal, só restaram cinzas.

qual o tempo certo para tirar a barba
Depende muito, sabe? Porque se você for mulher, o tempo certo foi ontem.

.simpatias feito com cenoura para o homem broxar
Essa é tão óbvia que não dá vontade nem de responder. É a Simpatia do Mário Gomes.

o que a história da branca de neve uer nos passar?
Que se você for uma princesa e sua madrasta for uma bruxa e você achar sete anões morando juntos, você está fodida e é melhor cortar maçã da sua dieta.

porque foi criado o estado de israel
Porque alguém tinha que ferrar com aqueles palestinos.

se voce fosse um vegetal qual voce seria e porque?
Eu seria professor de direito.

marcelo mastro padre no confessionario
Marcelo Mastro, mesmo? Ah, tá. Entendi. Era assim que esse padre se apresentava para os menininhos dos quais ia abusar, não é? Espertinho.

por que paris é chamada de cidade luz????
Porque os franceses pagam suas contas certinho, sempre em dia, e a Light nunca corta a energia elétrica de ninguém.

o foder
Eis um poeta, um verdadeiro poeta, e eu acho que ele é baiano, porque foi o baiano Caetano que fez “O Quereres”, e esse grande poeta anônimo, bebendo das mais finas tradições do também baiano Gregório de Matos, fez “O Foder”, e a gente sem imaginação como eu resta apenas imaginar que versos divinos, maravilhosos, podem ter saído de tão lírica cabeça. Ou não.

michael jackson estava com boa aparencia no caixão
Estava sim, mas por pouco tempo. Ninguém sabe, mas o seu último desejo foi que alguém consertasse aquela bisonhice que era o seu nariz: ele acreditava que ia para o céu e, como lá é cheio de anjinhos pueris, queria estar bonito para fazer a festa. No entanto ele foi para o círculo do inferno reservado a padres, e aí já não podia reclamar.

para que serve o genocidio?
Para que israelenses possam invocar o Holocausto: “Mas não foi a gente que começou!”

como ficar curado do bolo na garganta devido a ansiedade
Engula uma coca-cola e uma velinha. Depois cante “Parabéns a você”.

ver mulher transando anao com a morroida para fora
Eu juro pelo que há de mais sagrado, juro até por São Lula, que eu começo a rir quando tento visualizar essa cena.

se eu tomar dois valium 10mg durmo rapido?
Por que só dois, bobo? Tome vinte e durma para sempre.

cocotas menores fazendo sexo
Olha só, um velho tarado. Cocota é expressão dos anos 70. Mesmo assim esse velhote, já passado o seu tempo, ainda insiste na sacanagem. Sinceramente, não sei é motivo de admiração ou riso.

como escrevo anderlaine simbolo
Anderlaine tem cara de nome de menina do subúrbio, filha de um senhor que, ao anotar um e-mail pela primeira vez (“olha, seu Gilson, é creuzinha com Z anderlaine silva arroba ig ponto com ponto beérre”), achou o nome bonito como a Creuzinha, e adequado a um bebê que, afinal de contas, seria a irmãzinha da Gislaine. Escreva como quiser, vão rir da cara dela de qualquer jeito.

como almentar o penes naturalmente de graça
Se você está perguntando como alimentar o de cujus, três refeições de xoxota ao dia. E tenho dito.

qual o nome do classico do cinema que conta a historia de uns corredores cegos?
“Batendo a cara no poste”, clássico dirigido por Jorge Luis Borges e estrelado por Stevie Wonder e Ray Charles. Foi um fracasso. Ninguém viu.

é serto o sistemas de cotas nas univercidades para estudantes de escola publica?
Considerando que você deve ser aluno de escola particular, para estar tão preocupado com isso, eu mudo neste instante de opinião e passo a achar que não. O nível da concorrência, pelo visto, é muito baixo.

e meu rinoceronte morreu de amor…
Se apaixonou por um cone de trânsito, coitado, e passou um dia e uma noite parado no meio da rua, e foi atropelado por um caminhão do Greenpeace.

eu hoje acordei com vontade de fuder
Volte para a cama que isso passa.

morreu de amor
Foi um caso triste e belo, porque não se morre mais de amor neste mundo cínico e endurecido. E dois anos depois a viúva casou de novo, e é feliz até hoje, e esqueceu de levar flores ao seu túmulo no último dia de Finados.

o rafael e feio?
É, mas a culpa não é dele.

Defendendo Dunga

Assisti ao final da convocação a seleção brasileira de futebol para a Copa da África do Sul, e à coletiva posterior.

A primeira impressão que tive foi a da qualidade impressionantemente baixa do jornalismo esportivo perpetrado neste país. As perguntas eram feitas no seguinte tom: “Você tem sua opinião, Dunga, e ninguém é obrigado a concordar, mas…” e “Graças a Deus você não era técnico da seleção em 58, porque senão Pelé…”. Nível baixo demais, de confronto, feito por gente que deveria ter vergonha de pronunciar a palavra “profissional”.

Logo depois foi a vez das mesas redondas nos canais esportivos. Normalmente, mesas redondas são cenários de bobagens ditas com ar de autoridade e ânimos exaltados, mas a animosidade contra Dunga, as críticas exacerbadas, tudo isso passou a impressão de que a escalação foi uma surpresa absoluta. Naquele momento, Dunga parecia ser o arauto do futebol-arte que, de repente, tinha traído seus ideais e abdicado do futebol brilhante que o Brasil pode jogar em função de uma covardia repentina, de uma mudança súbita para um futebol sem surpresas e feito para, antes de tudo, defender. O sujeito que, depois de três anos e meio fazendo de sua seleção algo de dar inveja a Telê Santana, jogou fora os seus jogadores para catar cabeças-de-bagre retranqueiros.

Eram os mesmos jornalistas que vinham elogiando o sujeito, ainda que com um muxoxo, porque ele vinha ganhando as competições que disputava.

A única opinião sensata foi dada pelo Juca Kfouri. Segundo ele, Dunga montou a seleção que se esperaria dele, definida em função de um objetivo bem específico: ganhar a Copa do Mundo. Não era a seleção que o Kfouri convocaria, mas era uma seleção respeitável e, acima de tudo, competitiva.

Dunga tem sido perseguido pela imprensa desde sempre. Em 1990 foi tomado para Cristo de uma seleção que não era sua culpa, em 1994 o ridicularizavam quase que por reflexo condicionado– e sequer conseguiam reconhecer que ele não apenas desempenhou bem o seu papel naquela copa, como até mesmo surpreendeu com lançamentos excelentes para Romário.

O mais engraçado é que, do jeito que esses jornalistas sérios e competentes falam, ficou parecendo que essa é a primeira seleção “de resultados” que se monta no Brasil. Que até a véspera da convocação este país era o palco de seleções que jogavam como em 1982, ou ainda melhor. A se acreditar nos jornalistas brasileiros, as seleções de Lazaroni, Parreira, Zagallo e Scolari foram prodígios do toque de bola solto e do ataque inconsequente. Fiquei com a impressão de que a minha memória me traía, e nenhum deles convocou seleções medianas; umas melhores, outras piores. Eu achava que desde 1982 não via uma seleção que realmente enchesse os olhos, apenas eventualmente seleções que claramente tinham chances de ganhar, como a de 1994; eu estava enganado, porque esses jornalistas me disseram.

Afinal de contas, esperavam o quê? Ganso, Robinho e Neymar no ataque? Quem ainda esperava isso em maio de 2010 acompanhou ainda menos que eu o futebol brasileiro nos últimos quatro anos. Dunga convocou o que se podia esperar que ele iria convocar. O Milton Ribeiro, por exemplo, acertou virtualmente todos os convocados. Aqui e ali algumas surpresas realmente estranhas, como Grafite e Kleberson. Mas nada que não pudesse ser previsto.

Ao que parece — e aqui falo sem muita certeza porque não acompanhei — esses anos de preparação de Dunga foram, ao menos, mais sérios que as eliminatórias disputadas por Luxemburgo e Scolari — Léo Costa, Tinga, lembra? E ao que me dizem foi uma seleção que venceu tudo o que disputou. No mínimo, Dunga é digno de admiração por não ter ouvido o cacarejar da imprensa esportiva, que se deleita em pedir os times que atendem a suas idiossincrasias ou interesses e crucifica qualquer um que não ganhe a Copa– e não faz uma conta entre esses dois aspectos, beleza e competitividade, porque isso não lhes interessa.

Eu, pelo menos, lembro ainda das críticas que Telê Santana enfrentou em 1982. Jô Soares tinha um quadro humorístico em que ele implorava a Telê, de um orelhão — na época ainda se usava orelhões — que levasse um ponta-direita. Mais ainda, lembro da crucificação de Telê depois da derrota, da sua demissão e substituição primeiro por Parreira, depois por Evaristo de Macedo, e sua volta às vésperas da Copa de 86. Logo depois da derrota para a Itália ninguém apareceu com a conversa de “futebol-arte”, de como era melhor perder mas jogar bonito. Em vez disso reclamaram do burro, do idiota, do jumento do técnico.

Ontem mesmo, diante da virada do Grêmio sobre o Santos, os mesmos que esculhambaram Dunga já falavam que o time de Ganso, Robinho e Neymar é lindo no ataque mas, ao precisar se defender, se perde.

Se alguém quer minha opinião, acho essa seleção de Dunga medíocre no sentido clássico da palavra, mediana. Ao mesmo tempo, é como disse o Juca Kfouri: uma seleção competitiva, escolhida para tentar ganhar a Copa do Mundo. Não questiono, de modo geral, as suas escolhas. É um estilo de jogo e pronto, e nem sequer é inédito entre as seleções brasileiras. Acho apenas, como o jornalista Paulo Vinícius Coelho, que ele errou no banco de reservas, que poderia ter sido mais criativo ali, até porque em algum momento pode vir a ser necessário uma mudança de estilo de jogo. Um jogador excepcional como Ganso teria lugar em qualquer seleção, com qualquer idade. Finalmente, Zidane provou ao Brasil — duas vezes seguidas — que um meio-campo criativo é capaz de destruir qualquer esquema tático, mas nenhum técnico brasilerio parece ter aprendido a lição ainda.

O que mais irrita é saber que, se qualquer um dos sábios que esculhambou Dunga fosse técnico profissional e tivesse que convocar uma seleção para uma Copa do Mundo, provavelmente faria a mesma escolha: um time que aposta no futebol de resultados porque o verdadeiro objetivo para a CBF é vencer, ainda que jogando feio. É para isso que ele é contratado. Infelizmente, não acho que vá conseguir. O Brasil vai chegar classificado ao terceiro jogo, contra Portugal. Dificilmente será desclassificado nas oitavas; o mais provável é que chegue às semi-finais. No entanto, o Brasil não vai ganhar essa Copa, porque algo no mapa astrológico da FIFA me diz isso, e porque a festa brasileira está reservada para daqui a quatro anos.

(Obviamente, torço para estar errado.)

Eu, pessoalmente, prefiro ver o futebol de 82, ou mesmo o que o Santos tem jogado. Mas também gosto de comemorar uma vitória de Copa do Mundo, e para quem viu a sua primeira com uma seleção como a de 1994, qualquer coisa já é lucro. Se puder ter os dois ao mesmo tempo, ótimo. Se não puder, a esta altura da vida, me contento com qualquer um dos dois.

A maior parte das pessoas, no entanto, prefere vencer. Os jornalistas também, apesar do seu discurso hipócrita — e se viram hipocrisia e forçação de barra nos apelos ao “comprometimento” e ao “patriotismo” de Dunga, eu vejo também na sua grita incansável, pronta a detonar qualquer técnico que não vença, jogando feio ou bonito.

Easy Riders, Raging Bulls

Eu tinha acabado de começar a ler American Radical: The Life and Times of I. F. Stone, livro até agora bastante interessante, mas o Bia me encheu tanto o saco que fui comprar

“Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock ‘n’ Roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind, cujo título original é o que encima este post.

O livro, velho de 12 anos mas só recentemente lançado aqui, é uma história de parte da geração dos anos 70, encabeçada por cineastas como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Conta a ascensão desse grupo e do seu estilo de fazer filmes, e a sua superação pelas mãos dos que Biskind aponta como os mais medíocres dessa geração, George Lucas e Steven Spielberg.

Por convenção, os anos 70 foram os tempos do “cinema autoral” em Hollywood, quando o studio system entrou em colapso criativo e esgotamento de marketing, e cineastas mais ou menos influenciados pelo cinema europeu deram as cartas. Foi um período curto, enterrado quando multidões de idiotas fizeram fila para assistir ao primeiro “Guerra nas Estrelas”.

O assunto poderia dar origem a uma grande investigação sobre a evolução do cinema naqueles tempos. No entanto, “Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock ‘n’ Roll Salvou Hollywood” está mais para um programa sensacionalista da E! Television do que para uma coletânea de artigos de Robert Warshow. Talvez isso se explique pela própria origem de Biskind: ele era editor da finada Premiere americana, que nunca foi exatamente uma Cahiers du Cinèma. Página após página, nos vemos às voltas com escândalos, com sexo, com a megalomania de gente que, embalada por excesso de dinheiro, poder e drogas, se achava genial e se comportava de acordo.

Isso faz do livro leitura instigante, é verdade. É difícil, se você gosta de cinema, conseguir largá-lo. Mas ao mesmo tempo essa abordagem o diminui. Para um livro que pretende afirmar a idéia de que aquele foi um período único na história do cinema americano, ele começa mal, porque é um exemplo claro e acabado do tipo de cultura dominante na indústria cultural de hoje.

Escândalos de qualquer tipo não eram uma novidade em Hollywood. Da garrafa de coca-cola enfiada na vagina de uma figurante numa festa de Chico Bóia ao assassinato de Johnny Stompanato pela filha de sua namorada Lana Turner — passando por Gloria Grahame encontrada na cama com o filho de 13 anos de seu marido, Nicholas Ray —, Hollywood sempre foi pródiga em escândalos, nem sempre controlados pela sua máquina de relações públicas. Um ambiente machista, selvagem, competitivo e canalha. Qualquer mulher em Hollywood sempre soube que o meio mais fácil de subir ali não era lutando e mostrando o seu talento, e sim deitando e abrindo as pernas (a propósito, como bem sabem tantas estrelinhas da TV Globo, não é muito diferente no Brasil). No entanto, Biskind quer fazer parecer que aquela geração dos anos 60/70 inventou tudo isso. Que era mais selvagem, mais louca, mais inventiva.

Biskind fala de um tempo “mágico” em que diretores conquistaram o poder e derrotaram os produtores. É uma ilusão: os produtores sempre estiveram ali, e mesmo entre essa geração que proclama que ia tomar o poder, eles sempre foram parte fundamental e imprescindível do processo de criação no cinema. Cinema é indústria, e indústria requer dinheiro.

O mais importante, no entanto, é que o que Biskind tenta fazer passar por uma explosão criativa sem precedentes é apenas um interregno na história de Hollywood.

Biskind falha em perceber que, em primeiro lugar, o movimento de renovação de Hollywood não começa com “Sem Destino” — filme que, à parte sua importância histórica, tem muito poucos méritos. As mudanças que se processaram em Hollywood foram um processo razoavelmente lento, do qual o próprio Coppola fez parte com seu You’re a Big Boy Now, e do qual se pode ver traços estéticos já em filmes como “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”. Ao longo da segunda metade dos anos 60 — e com o caminho timidamente aberto pelas comédias sexuais da primeira —, o cinema em Hollywood foi se adaptando aos novos tempos, e deixando para trás os faroestes e os grandes dramalhões que foram sua espinha dorsal nos anos 50, como “A Caldeira do Diabo” ou “Tudo o que o Céu Permite”. Pode-se acusar Hollywood de quase tudo, menos de burrice, e ela já tinha reconhecido o surgimento de uma geração de consumidores com novos critérios estéticos e filosóficos. Biskind louva o surgimento da produtora BBS, mas esquece de colocá-la em seu contexto histórico: a BBS surgiu anos depois de proposta semelhante e muito mais radical, a Apple dos Beatles e seu “comunismo ocidental” — iniciativa que àquela época já tinha ido para o buraco por absoluta inviabilidade de sua proposta.

Outro dos problemas do livro está na hipérbole. Biskind escolheu um grupo de cineastas, com alguns laços em comum, e tentou transformá-los na alma de Hollywood, a razão de ser do próprio cinema. Isso ajuda a explicar as trajetórias desses indivíduos, mas não ajuda a explicar a evolução do cinema nesse período. Ao excluir gente como Woody Allen, Stanley Kubrick e Paul Mazursky, por exemplo, Biskind faz parecer que foi o seu pequeno grupo de cineastas que fez todo o cinema realmente importante em Hollywood. Biskind os exclui porque sua mera existência faz cair a sua teoria de um pequeno grupo de desajustados que fizeram uma revolução. Seu herói Bert Schneider, por exemplo: era pouco mais que um arrivista balzaquiano, mas aos olhos de Biskind acaba adquirindo ares de um David O. Selznick.

Talvez por isso Biskind não consiga elaborar uma gênese para sua “Nova Hollywood”. Não entende direito, por exemplo, a dimensão real da influência francesa sobre aqueles realizadores — embora perceba que, quando os americanos tentavam fazer um filme “europeu”. o resultado era quase sempre canhestro. Não consegue entender, realmente, as relações entre aquela geração, o seu tempo, a consolidação da televisão como meio de entretenimento de massa e a influência do cinema europeu, principalmente o francês. Ele sabe que está lá, mas não sabe explicar.

Definitivamente, ele não compreende o papel da televisão na formação de um novo padrão temático e formal em Hollywood. Certo, aponta que em determinado momento Hollywood aprendeu a usar a TV a seu favor, revolucionando o seu esquema de divulgação e possibilitando o surgimento da era dos blockbusters — embora não elabore esse ponto suficientemente. Em algum momento dos anos 70, o cinema americano finalmente descobriu a fórmula para garantir audiência e a sua permanência. Percebeu que havia possibilidade de melhorar a estratégia de distribuição de novos filmes, fazendo lançamentos maciços em vez de construir a distribuição aos poucos — sistema que funcionava quando os estúdios ainda eram donos dos cinemas —, e que a TV poderia funcionar como aliada através de comerciais.

A questão é que isso é pouco mais do que Hollywood sempre fez: se adaptar aos novos tempos.

Ainda pior, Biskind não consegue perceber que talvez haja mais por trás desse processo: que ao oferecer ao público médio dramaturgia abundante, barata e de acordo com os padrões hollywoodianos de antigamente, a TV forçou o cinema a buscar novos caminhos. O cinema pretensamente autoral dessa geração foi um primeiro passo, mas o caminho definitivo só seria achado mesmo quando o cinema descobriu a mina de ouro dos blockbusters. E uma nova estética, que ele acertadamente define e lamenta.

Correndo justamente para o outro lado, em um estilo típico da indústria da fofoca, Biskind cria seus próprios deuses para depois tentar destruir seus altares. Tem um prazer quase mórbido em fazer a crônica da decadência de seus heróis e mostrar como os medíocres Spielberg e George Lucas tomaram o posto de grandes estrelas de Hollywood. Mas mesmo nesse momento, mesmo com todos os elementos à mão, ele não consegue fazer uma análise correta e abrangente do significado histórico de tudo aquilo cujas peripécias ele acabou de narrar.

O livro tem alguns heróis, além de Bert Schneider. Warren Beatty — sobre quem Biskind escreveu uma biografia respeitosa há pouco tempo — é um deles, e seu papel na criação dessa “Nova Hollywood” é justamente ressaltado, embora até o ponto do exagero: Biskind baba por Shampoo, dando-lhe uma importância que o filme não merece. Por outro lado, além de apresentar alguns personagens como vilões exagerados, desmistifica mas ridiculariza além do necessário Pauline Kael — uma crítica muito acima da média mas que não estava acima das vaidades típicas do pior jornalismo (e talvez isso explique a sua implicância com Billy Wilder, por exemplo).

Mas é preciso lembrar que a maioria dos protagonistas do livro se perdeu pela vida. Robert Evans é uma massa amorfa e bizarra de cirurgias plásticas que fazem as de Michael Jackson parecerem obras-primas. Coppola faz filmes ruins nos intervalos do gerenciamento de sua vinícola. Scorsese, que até o início dos anos 90 ainda tinha o que dizer, perdeu tudo o que tinha em “Cassino”, foi brutalizado pelas “Gangues de Nova York” e hoje seu trabalho mais significativo é o engajamento na preservação de filmes antigos. Michael Cimino, que faz uma ponta no livro com o seu maravilhoso “O Franco-Atirador” (e com o malfadado “O Portal do Paraíso”), é um hoje um transexual praticamente banido do cinema.

Para quem se pretendia grandes revolucionários criativos, sua chama se queimou rápido demais.

O livro termina sem oferecer respostas suficientes e sem conseguir justificar a sua assertiva. Para quem gosta de fofocas — como saber que Margot Kidder dava para qualquer um, que Coppola não podia ver uma assistente na sua frente, e principalmente a história deprimente do mais medíocre de seus heróis, Peter Bogdanovich —, é um prato cheio. Mas se você quer entender a história do cinema, ou entender melhor o que faz de um filme algo realmente bom, é provavelmente melhor ler uma coletânea de artigos e resenhas do Andrew Sarris.

No fim das contas o livro acaba se tornando um exemplar fiel daquilo que a tal geração rock ‘n’ roll mais odiava: um típico blockbuster, feito para entreter, nem que para isso apele para a baixaria e o sensacionalismo. Talvez não pudesse ser diferente.

Sobre o Bolsa Família

O Bolsa Família se transformou em uma das principais pedras de toque do governo Lula por uma razão: ele funciona, como nenhum outro antes dele.

Maior programa de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família estabeleceu uma quebra de paradigma importante no modelo de assistência social. Até a era FHC, assistência social era basicamente dar um dinheirinho a famílias em situação de miséria e esperar que o pai não gastasse tudo em cachaça. Com o Bolsa Família, o governo Lula estabeleceu diferenciais importantes que transformaram o programa em uma alavanca não apenas para o alívio da situação de desespero de milhões de famílias brasileiras, mas em um instrumento de desenvolvimento social.

Os números são os seguintes: há 19.653.677 famílias no Cadastro Único, que mapeia as famílias pobres e servem de base para a definição das políticas sociais do governo. Dessas, 15.729.878 famílias têm perfil para serem atendidas pelo Bolsa Família — ou seja, estão abaixo da linha de pobreza. Finalmente, desse universo, 12.494.008 são atendidas pelo programa.

Não é só isso. O PSDB/DEM, expressando o tipo de pensamento mais canhestro da direita brasileira, alega que o Bolsa Família incentiva a “vagabundagem”; não é incomum ver idiotas de classe média ou alta dizendo em tom jocoso que as pessoas não vão mais trabalhar, vão apenas fazer filhos para receber o benefício — é um desrespeito ao povo brasileiro dizer algo do tipo, levando-se em conta que o Bolsa Família é uma renda complementar e não é suficiente para sustentar completamente uma família.

Felizmente os números desmentem esse tipo de imbecilidade: de acordo com o IBGE, 77% das famílias atendidas pelo BF trabalham formal ou informalmente (entre os não beneficiados, o número cai para 73%). Mais ainda, 99,5% dos beneficiados que tinham algum tipo de ocupação não deixou de trabalhar porque passou a receber o Bolsa Família. Na verdade, o programa acaba incentivando o empreendedorismo, ao dar mais possibilidades aos beneficiados de gerar mais renda.

O Bolsa Família é dado às famílias, não a indivíduos. Às mães, preferencialmente, por serem elas as cabeças da maior parte das famílias pobres e porque, quando há um chefe masculino, ele não é exatamente confiável. Curiosamente, isso acaba modificando bastante as relações de gênero justamente entre as camadas mais baixas da sociedade. Além disso, o Bolsa Família não tem prazo de validade. É concedido enquanto as famílias precisem delas, e suspenso definitivamente apenas quando sua faixa de renda muda. Ou seja: quando melhoram de vida.

O principal diferencial do Bolsa Família e os programas assistenciais anteriores está em um fator simples, mas decisivo: a condicionalidade. Para receber o benefício, cada família precisa cumprir algumas condições básicas. São condições simples, como manter os filhos na escola, seguir o calendário de saúde — vacinação, pré-natal, etc –, e participar dos programas de capacitação profissional e geração de renda. Ou seja: em vez da esmola que o PSDB dava a uns meninos por aí, o Bolsa Família é um processo amplo e consequente de inclusão social.

Uma das vertentes do discurso do PSDB/DEM de demolição do Bolsa Família é o de que falta uma porta de saída. Falam isso por ignorância ou por má fé. Porque o próprio mecanismo do Bolsa Família é, por si só, uma porta de saída. Assistencialismo barato como o praticado pelo PSDB/DEM é dar o dinheiro e fim de papo. Em vez disso, para poder receber o Bolsa Família cada família beneficiária precisa cumprir uma série de condicionalidades, além da óbvia que é estar comendo o pão que o diabo amassou com o rabo. O Bolsa Família obriga as pessoas a estudar, a cuidar da saúde. Isso é a porta de acesso à cidadania. E de saída da miséria.

Mais objetivamente, eles esquecem que, além dos cursos de qualificação e geração de renda diversos, o governo Lula lançou, ano passado, o mais específico Plano de Qualificação Profissional para Beneficiários do Bolsa Família, uma série de cursos profissionalizantes que buscam aumentar o nível de empregabilidade dos beneficiários. Os primeiros cursos se dirigem à construção civil, setor da economia que tem absorvido mais mão de obra em grande parte devido às obras do PAC.

Finalmente, o Bolsa Família movimenta a economia. Por causa da renda complementar proporcionada por ela, as pessoas compram em suas comunidades — para horror do PSDB/DEM, que se irrita ao ver que as pessoas votaram em Lula e vão votar em Dilma porque depois de muito tempo passaram a realizar esse ato tão insignificante do ponto de vista macroeconômico chamado “comer”. Comprando, elas fortalecem o comércio, que se anima a vender a prazo porque sabe que vai receber no dia certo. O Bolsa Família acaba gerando mais empregos; para usar uma expressão cara aos tucanos, cria um “ciclo virtuoso”.

Ou seja: é um programa completo dentro de suas atribuições, que vai muito além do meramente “assistencialista”, como gostariam os tucanos olhando com saudade para o seu Bolsa Escola — que para outros é apenas a prova de sua incompetência na área social.

Diante disso, o discurso do PSDB/DEM tem sido, no mínimo, esquizofrênico. Há os que atacam o programa dizendo que ele não presta, sem nunca citar números. E há aqueles que tentam reivindicar sua paternidade creditando todo e qualquer programa social do governo Lula a Fernando Henrique. O Bolsa Família, então, seria apenas o Bolsa Escola com outro nome.

A única coisa que realmente foi feita durante o governo FHC foi o início da formação do Cadastro Único, em 2001. Só isso, mais nada. A não ser, claro, que se tente creditar ao Bolsa Escola, o programa assistencial de Fernando Henrique, a origem do Bolsa Família.

O problema é que comparar os dois é, para usar a única palavra adequada, uma palhaçada.

O Bolsa Escola tucano era dado a crianças que freqüentassem a escola, ponto, e não cobrava nenhuma condição além da frequência escolar. O benefício era suspenso quando ele completasse 14 anos, independente de sua situação.

Resultado: não resolvia o problema, porque não havia um sistema de promoção social. Pior ainda, muitas vezes até agravava a situação, porque assim que o menino completava 14 anos e o benefício era cancelado a renda de famílias inteiras diminuía repentinamente. Isso, sim, era esmola. O Bolsa Escola fazia parte da mesma tradição paternalista que deu ao país o vale leite e o vale gás, e que possibilitou as imensas filas em frentes às sedes estaduais da antiga LBA.

Enquanto isso, do Bolsa Família uma família só sai se deixar de cumprir as condicionalidades — quando, aí sim, o programa passaria a ser esmola, porque seria dinheiro apenas dado, sem compromisso de melhoria social — ou se seu nível renda aumentar e ela se erguer acima da linha de pobreza — em outros termos, quando ela passa a não precisar mais do auxílio do governo. É isso, essa consistência e consequência, que faz do Bolsa Família um projeto diferente e tão bem sucedido.

Desde a criação do programa, 4,1 milhões de famílias foram desligadas do programa, porque seu nível de renda aumentou.

4,1 milhões de famílias que saíram da miséria. E eles são só uma parte dos 23 milhões de pessoas que, ao longo do governo Lula, saíram da linha de pobreza absoluta.

Apenas para efeito de comparação, durante todo o governo de Fernando Henrique Cardoso apenas 2 milhões de pessoas trilharam o mesmo caminho. Talvez não pudesse ser diferente: a cada crise econômica — e eles conseguiram quebrar o Brasil três vezes –, a primeira coisa que o governo FHC fazia era cortar os investimentos sociais, porque afinal de contas tinha o tal do superávit primário para manter. Também para efeito de comparação, é só lembrar que na crise de 2008, que a boa governança brasileira transformou em marola, o governo brasileiro na verdade aumentou os investimentos nessa área.

O PSDB/DEM sabe disso, embora não alardeie por aí porque faz mal à sua imagem. É por isso que quando os tucanos falam que o Bolsa Família aprofunda a miséria, é porque partem do exemplo do projeto pífio que conseguiram realizar. Se baseiam na própria incompetência para julgar a competência dos outros. O Bolsa Escola é só o que eles sabem fazer, e só o que conhecem. E não concebem que alguém possa fazer algo melhor.

De volta ao futuro

Nos próximos dias, este blog vai recauchutar alguns posts de quatro anos atrás.

As razões são simples.

Um dos trolls de estimação de blog, vendo o que ninguém vê e achando que Serra realmente tem alguma chance de ganhar esta eleição que, ainda nem começada, o mostra em queda constante nas pesquisas, lembrou que a alternância de poder é necessariamente algo benéfico. O Jean disse que acha que a Petrobras nunca esteve na mira da privatização. E quase todo mundo parece achar que Bolsa Escola e Bolsa Família são a mesma coisa.

Pode parecer loucura, mas é como se o PSDB/DEM tivesse ficado congelado no tempo. Uma espécie de Austin Powers político, eles ainda não compreenderam que os parâmetros para que se possa discutir avanço mudaram. O PSDB/DEM continua sem conseguir apresentar uma alternativa real, diferente da que apresentaram em 2002 e 2006. Eles têm na cabeça o mesmo modelo que implementaram no país e continuam a implementar em São Paulo.

O mais grave na situação do PSDB/DEM não é sequer o fato de que eles não souberam como trazer o país ao atual patamar de desenvolvimento: é o fato de que eles não sabem o que fazer com o Brasil atual.

O que parece difícil que eles entendam é que alternância de poder é boa se ela não representa retrocesso. A volta do PSDB/DEM ao poder significa exatamente isso: uma volta indesejável a uma fase do país que, 8 anos depois, já devia ter sido esquecida, porque foi superada. Eles ainda não conseguiram responder às perguntas básicas: para que vocês querem chegar à presidência da República? Qual o projeto de governo de vocês? O que vocês têm a oferecer que seja melhor do que o governo Lula tem feito e a Dilma pretende fazer nos próximos anos?

Sem apresentar uma alternativa concreta, o discurso de alternância do PSDB/DEM é pouco mais que “por favor, me dê o poder de volta”.

Os posts serão republicados com algumas variações porque o nível de argumentação do PSDB/DEM não é apenas baixo: é velho, também.