Durante muitos anos acreditei que macumba era coisa de baiano pobre.
No modo simplório como eu via as coisas, gente com algum nível econômico simplesmente evitaria essas obrigações, por não acreditar, por estar enraizada na tradição iluminista ocidental.
Mas a vida vai nos ensinando algumas coisas.
Moro em um bairro bem razoável de Aracaju, a 13 de Julho. Para os padrões da cidade, bem diferentes dos cariocas, é um bairro razoavelmente caro. De acordo com aquela tese, seria o último lugar onde despachos dariam o ar de sua graça.
Um domingo desse eu ia caminhando pela rua com minha Febem particular (minha filha e meus dois sobrinhos) rumo a uma doceria que minha filha adora. E de repente vejo no chão algumas tigelas de barro quebradas e dois bonequinhos de pano, pretos como azeviche.
Yo no creo en brujas mas não custa desviar.
Os dois bonequinhos provavelmente significam que aquele é um “ebó de amor”, que alguma mulher (é sempre mulher que faz essas coisas) alucinada de paixão resolveu que um homem vai ser seu — ou que não vai ser de outra pessoa. Não é uma encruzilhada; está diante de um edifício, onde ele ou ela — ou quem sabe os dois juntos — devem morar.
Escrevi paixão, mas ainda não me convenci. Isso não pode ser paixão, e ainda menos sonhar em ser amor. É algo pior, baixo, mesquinho.
É ódio.