Notícias estranhas em um blog esquisito (IV)

Um cambojano cortou o próprio pênis para oferecer a quatro espíritos famintos que o visitaram em sonho, justamente quando ele não tinha galinha ou pato para oferecer, como é costume em sua região.

Os quatro espíritos comeram. O cambojano não come mais.

***

Há algumas semanas um menino lá daquelas bandas do Oriente puxou a faca para o pai quando ele desligou seu vídeo-game. Agora é a vez de uma menina de 14 anos correr atrás da mãe em Hong Kong, também armada com uma faca, porque ela confiscou seu celular.

Quem quiser montar uma empresa de exportação de palmatórias para aquelas bandas vai se dar bem. Pelo menos tem gente precisando.

***

Para aqueles que detestaram “A Paixão de Cristo”: um neo-nazista norueguês confessou dois atos terroristas cometidos dez anos atrás. A confissão se deu graças a uma crise de arrependimento motivada pelo fime de Mel Gibson.

Ruim ou não, o filme já cumpriu todas — e mais algumas — das expectativas de Gibson. Podem ter certeza de que quando esculhambarem de novo o filme ele vai ter essa resposta na ponta da língua.

***

Os conselheiros municipais da cidade polonesa de Ustka decidiram que a imagem da padroeira de sua cidade, uma sereia, terá que cair no bisturi porque seus seios são pequenos demais e seus quadris muito largos.

A coroa recauchutada e turbinada agora vai exibir seus peitos novos, mais de acordo com os tempos de imbecilidade que vivemos. Deve posar para a Playboy nos próximos meses. E vai fazer isso pela arte.

Nova Pompéia

ChernobylEm abril de 1986 aconteceu o maior desastre atômico da história, com a explosão da usina de Chernobyl. Por desastre, claro, entenda-se a morte de pessoas sem que haja a intenção declarada de matá-las; quando isso acontece é guerra.

Questão de semântica.

Lembro bem da notícia, como todo mundo na época: uma usina nuclear havia explodido, e isso era algo espantoso.

Mas nunca tive uma noção exata do que realmente aconteceu ali.

Chernobyl não foi um simples acidente, foi uma tragédia. Até agora, mais de 300 mil pessoas morreram em decorrência da contaminação. Nos próximos 30 anos, um número talvez ainda maior de pessoas vai continuar morrendo.

Hoje, Chernobyl é uma cidade fantasma, proibida para muitos e indesejada por quase todos. É um local perigoso. A radiação continuará infestando a área pelos próximos 48 milênios. As pessoas só poderão voltar a morar lá daqui a 900 anos. Aos poucos.

Elena é uma motociclista ucraniana que faz passeios de moto por Chernobyl. Ela é filha de um físico nuclear que faz pesquisas na área. As fotos que ela tira mostram uma cidade que parou no dia 26 de abril de 1986, um sábado, em que pessoas deixaram para trás suas vidas e suas memórias.

É no site de Elena que se pode encontrar a melhor definição de Chernboyl: a cidade é uma Pompéia dos dias modernos.

Mas enquanto Pompéia narra uma tragédia repentina e inevitável, Chernobyl conta uma história mais triste, o epílogo de uma novela de abandono e fuga. E como toda fuga, é uma história contada pelo que se deixou para trás, retalhos de vidas que deixam intuir mais do que contam.

O site de Elena é provavelmente um dos melhores documentos que já se fizeram sobre Chernobyl, porque suas fotos, tiradas com a simplicidade de uma documentarista, falam por si sós.

Dead man walking

Ela era professora de criminologia e delegada.

Resolveu fazer um debate na sala sobre a pena de morte. Cada aluno deveria dizer qual a sua posição, e justificá-la.

A maioria, politicamente correta, éramos contra — imagino quantos de nós não mudamos de opinião, tantos anos passados. Alguns poucos eram a favor, e tentaram se justificar sob os olhares de censura dos colegas.

No final ela deu sua opinião e sua justificativa. Ela era contra a pena de morte porque não admitia que o Estado mobilizasse sua estrutura para matar friamente seus constituintes. Acrescentou que se alguém fizesse algo a sua filha ela o mataria, sem arrependimentos, mas não reconhecia esse direito ao Estado.

E então percebi como os argumentos das pessoas, quando definem suas posições políticas a partir da observação das posturas dos outros, como bons animais sociais, são falhos.

Tecnicamente ela era a favor da pena de morte; apenas arrogava a si o papel de júri, juiz e carrasco. Mais importante, no caso, era o detalhe de ela falhar em perceber uma coisa: o aparato estatal é mobilizado justamente para que não se cometa injustiças, em princípio. A pena de morte, pelo menos em teoria, é uma medida de proteção da sociedade. Não é vingança. Utiliza um processo lento e cheio de subterfúgios para que se evite matar um inocente, e nem sempre consegue.

A professora de criminologia e delegada estava nos ensinando a ser hipócritas e sequer percebia isso.

Tróia renasce

Tenho sido um amante relapso, confesso. Não estava a par das últimas novidades a respeito de Tróia, minha paixão de infância, namorada fugidia e misteriosa.

As ruínas no estreito de Dardanelos que Schliemann descobriu nunca foram reconhecidas definitivamente como o reino de Príamo. Na verdade, havia várias cidades superpostas, de épocas diferentes, mas nenhuma delas tinha o tamanho suficiente para justificar a grandiosidade atribuída por Homero. Todas aquelas cidades, certamente, cairiam em algumas semanas, e nunca resistiriam a um sítio de 10 anos.

Por causa disso, o quase-consenso era o de que nunca houve uma Tróia específica, e que Homero tinha amalgamado uma série de guerras e lendas diferentes em uma só narrativa. E isso independe de Tróia ter existido ou não: a Ilíada e a Odisséia vêm de uma tradição oral de séculos, e quem conta um conto aumenta um ponto.

Maquete de TróiaPara a arqueologia, era mais simples creditar a existência da cidade à poesia e à imaginação dos gregos.

O único detalhe é que tinha que haver uma Tróia; uma cidade cujo cerco tenha sido importante e demorado o suficiente para se tornar legendário em seu próprio tempo e dar nome à saga. Não importa que ela tenha sido muito menor, que o cavalo de Tróia nunca tenha existido, que Páris, Helena, Menelau, Agamenon, Aquiles e Ulisses tenham sido apenas invenções — ou idealizações de reis de épocas diferentes. Uma grande guerra precisava ter acontecido, para só a partir daí Homero e os outros menestréis poderem embelezar a narrativa com as intervenções olímpicas e os ódios e amores dos aqueus.

Mas parece que depois de anos sendo considerado um amador que deixou sua fascinação pela lenda turvar sua capacidade de julgamento, Schliemann finalmente está sendo redimido. As últimas pesquisas em volta do sítio arquelógico que ele chamou de Tróia revelaram uma grande cidade. Além disso, encontraram vestígios de que a cidade foi submetida a um cerco, e derrotada.

No dia em que finalmente encontrarem o cavalo que Ulisses concebeu, juro que saio cantando pelas ruas de onde eu estiver. Porque ao contrário de praticamente todo o mundo, conheci Tróia antes de ouvir falar nos livros de Homero. Sua importância, para mim, não está em ser o enredo da matriz da literatura ocidental, mas no fato de existir ou não. E assim como Schliemann, eu acredito em Tróia.

Velhos jornalistas e jovens publicitários

Um jornalista de Aracaju, homem entrado em seus 60 anos que escreve em um dos jornais mais influentes da cidade, fez um comentário ácido sobre uma campanha publicitária do Banco do Estado.

O redator responsável pela campanha, menino de 26 anos e cheio daquela agradável arrogância que faz da juventude o motor da transformação do mundo, não gostou. Mandou uma carta para o jornalista, com cópia para o jornal em que ele escreve sua coluna — que ocupa toda a página 5 da edição de domingo — e para o presidente do banco.

Se o comentário do jornalista foi agressivo e pesado, a carta-resposta era ainda mais. Chamou o jornalista de analfabeto, entre outras coisas, por não ter entendido a campanha (a propósito, a campanha é mesmo ruim). Provavelmente, ao colocá-la no correio o redator se sentiu com a alma lavada, certo de que tinha mostrado que com ele ninguém mexe impunemente.

Ontem, domingo, a carta foi publicada na coluna do tal jornalista, com uma “nota do redator”. E ficamos sabendo que o presidente do banco, assim que viu a carta, ligou para o jornalista dizendo que não concordava com o seu conteúdo e, pior, que concordava com o texto da crítica. Disse também que o rapaz não tem maturidade para atender a conta do banco.

Qualquer bola de cristal prevê tempos difíceis para o relacionamento entre a agência e seu cliente — ou ex-cliente.

Espero que o moço tenha pelo menos aprendido algumas lições de vida, muito úteis para qualquer publicitário:

1 – Nunca brigue com um jornalista.

2 – Nunca brigue com um jornalista que ocupa toda uma página em qualquer jornal.

3 – Nunca brigue com um jornalista que ocupa toda uma página em qualquer jornal, principalmente se for a página 5.

Conselho aos publicitários: quando algum jornalista importante criticar um trabalho seu, ouça calado, finja que não foi com você e vá chorar no ombro do seu cliente. Explique a ele novamente os objetivos e razões da campanha, e reze para não perder a conta. E depois escreva uma carta amigável para o jornalista, elogiando seu texto, agradeça a atenção, diga que suas críticas são bem vindas e explique novamente as razões da campanha.

Eu quero uma casa no campo

Uma pesquisa mostra que mulheres com mais educação formal têm mais tendência a fingir orgasmos (homens também fingem, mas quem está interessado neles?).

Agora entendo a preferência de tantos homens por comerciariazinhas, por camponesas — enfim, por gente simples do subúrbio e do campo. Aquelas mulheres de beleza rústica e simples, normalmente pouco óbvia mas traduzida na impressão indescritível de amor genuíno ao esporte, que falam alto demais, comem com a boca aberta e lhe envergonham diante de conhecidos.

Bem aventurados aqueles que enxergam a verdade por trás das aparências.