Vida de fã é uma merda.
No sábado fiquei acordado esperando ver McCartney nos trechos do Rock in Rio Lisboa (se eu fosse português boicotava o festival só pelo nome sem noção). Nada, mas pelo menos teve “Faça a Coisa Certa”, do Spike Lee — e eu gosto muito do neguinho.
Hoje anunciaram McCartney e mais uma vez a anta aqui ficou esperando.
Mas esse eu deixo por último.
O sujeito que comentava o programa apresentou Peter Gabriel como um sobrevivente que depois de sair do Genesis fez um sucesso “gigantesco”. Peraí: o Genesis é dos anos 70. Nessa época, quem fez sucesso gigantesco foi o Led Zeppelin e os Wings de Paul McCartney. Nos anos 80, foi a vez de Michael Jackson e Madonna. Aliás, o próprio Genesis só fez mais sucesso quando Gabriel saiu: Phil Collins assumiu os vocais e fez a banda aderir ao pop. Para falar a verdade, do Peter Gabriel eu só lembro é de Sledgehammer, de 86. Depois dessa apresentação vem o sujeito — e eu fico impressionado em ver como ele envelheceu. A música, no entanto, não me impressiona: é a mesma coisinha chata e metida a cool de sempre. Mas agora parece mais com os piores momentos do Pink Floyd.
Depois vem a banda pela qual “todos estavam esperando” mas da qual nunca ouvi falar: Evanescence. Muito prazer. Eu sou então apresentado a um cruzamento chato de Siouxsie (alguém lembra dela?) com Courtney Love, dirigido a adolescentes que acham que sua dor é a primeira e a maior do mundo. Imediatamente, classifico-a na pasta “bandas que são um porre e que eu não faço questão de ouvir novamente”.
Kings of Leon, agora. Aclamada como “a salvação do rock” no ano passado. E eu, sempre atrasado, pensando que esse cargo ainda era dos Strokes. Envergonhado pela minha ignorância, prometo a mim mesmo que vou prestar atenção para não perder a “salvação do rock” do ano que vem. A música é bem melhor que o Evanescence, mas isso não quer dizer muita coisa. O vocalista é uma mistura de Kelso, do That 70’s Show, com Julian Casablancas. Ele tem uma cara de “quer-saber?-eu-montei-esta-merda-pra-ver-se-pego-umas-mulé”. Tá certo, ele.
E então os Xutos & Pontapés. Eu ouvia falar dos sujeitos há 20 anos, e é a primeira vez que ouço. Os velhinhos, aos quais não mostraram respeito e mandaram abrir o show (mais ou menos o que fizeram com Gilberto Gil no dia anterior, ultraje do qual o ministro se vingou com um show bem vagabundo), mostram felicidade por estarem ali. Mas a música é irremediavelmente anos 80, chatinha como tudo daquela década.
E eu passei por tudo isso para assistir ao meu velhote.
McCartney teve 3 músicas apresentadas nessa colcha de retalhos: Get Back, She’s a Woman e Live and Let Die. Com exceção de She’s a Woman, são músicas que estão em virtualmente todo disco ao vivo. E o set list do show tem algumas preciosidades, como You Won’t See Me, Helter Skelter e I’ve Got a Feeling, que nunca ouvi ao vivo.
Essas três músicas mostram algumas coisas tristes. A primeira é que McCartney não tem mais voz. Ele não consegue mais alcançar as notas mais altas de She’s a Woman. Está velho, coitado. E o show pirotécnico durante Live and Let Die mostra que, há 15 anos, seus shows são sempre a mesma coisa, com pequenas mudanças no repertório para que as pessoas esqueçam que ele é um dinossauro sem remédio. Mas a sua simplicidade e a aura que o ex-beatle ainda traz fazem com que ainda valha a pena.
Agora é esperar que César Maia (diz isso a ele, Quintino!) consiga trazer McCartney para um show no Rio. Se conseguir, eu até encaro a multidão no Aterro. E esse é o maior sacrifício que um sociopata como eu é capaz de fazer.