As alegrias que o Google me dá (VI)

como ganhar dinheiro
a) Trabalhando;
b) Dando o golpe do baú;
c) Acertando na Mega Sena;
d) Matando seu pai para pegar a herança e, como vão descobrir, aparecer na TV usando camiseta Essencial e se converter na prisão a qualquer dessas igrejas pentecostais. Depois, com o dinheiro da herança você monta sua própria igreja e enche o rabo de dinheiro.

resenha os elefantes nunca esquecem
Esqueci. Me desculpe.

doenças transmitidas por turistas para os soteropolitanos
Tudo começou com Caramuru, que comeu a Catarina Paraguaçu e, dizem, a cunhadinha Moema. Se deu bem, embora Moema tenha se dado mal. Isso estabeleceu o padrão de nossas relações com os gringos. Mas não tenho certeza de que não são as moças do lupanar de Salvador que passam determinadas “doenças do mundo” para os turistas bobos.

Debra Lafave
A campeã deste mês, disparada. De repente uma luz se acendeu no imaginário de adolescentes espinhentos e mãos cabeludas, me deixando com a firme impressão de que o problema educacional deste país não é a falta de alunos interessados ou professores engajados. Não é sequer o descaso do governo. O problema deste país é a falta de professoras pedófilas. Salvem a professorinha e dêm aos estudantes o que eles realmente querem.

como evitar a queda de um asteroide na terra?
Rezando, meu filho. Rezando muito. De preferência para Júpiter.

arquétipo do vigarista
Um bom vigarista tem o arquétipo do homem honesto. Se não tem, não é bom.

nomes de bandas que tem pactos sanguinarios
Mastruz com Leite, Chiclete com Banana, entre muitas outras. Fizeram um pacto para destruir meus ouvidos e minha paciência.

como saber cantar?
Sinceramente, você acha que se eu soubesse estaria aqui? Eu seria um rock star, faria turnês pelo mundo todo, diria que sou mais famoso que Jesus Cristo, seria indecentemente rico e morreria de overdose de heroína na semana que vem — e ainda sobrariam uns malucos para não acreditar e dizer que “Rafael não morreu”.

elas fodem em aracaju
Minha Nossa Senhora. Isso parece título de pornochanchada de Juan Bajon:
Elas Fodem em Aracaju (BRA, 2004).
Dir.: Juan Bajon. Com Bonnie Boquete e Peter Pinto. Participação especial de Uçá, o siri avantajado.
Durante uma excursão, colegiais se perdem em manguezal e são brutalizadas por gangue de caranguejos.

curso de detetive particular em belo horizonte
Você seguiu uma pista falsa. Você acaba de ser reprovado.

fatos engracados de degradação do meio ambiente
Ah, tem muitos. Aquele menino que pegou esquistossomose, por exemplo. Aquele senhor que morreu em decorrência de ar poluído. As voçorocas que destruíram o sítio daquele lavrador. A miséria dos pescadores que assistem à morte do rio de onde tiram seu ganha-pão. Rapaz, tem tanta coisa engraçada na destruição do meio-ambiente que nem sei como começar.

porque pessoas com dinheiro e status na maioria desrespeita os outros?
Porque o dinheiro transforma as pessoas. Porque a soberba macula quaisquer outras virtudes que se possa ter. E porque pobre é recalcado e tem complexo de inferioridade.

coca cola com café é abortivo
Em que fria você se meteu, hein? Imagino que a coisa esteja complicada. Mas se quer um conselho — além do óbvio: camisinha é barata e os postos de saúde dão de graça –, em fria maior você vai se meter se continuar acreditando nisso. Pior: sem conseguir sequer dormir.

games que tenha caras que roubam carros entre em predios casas sera que a google pesquisaria para min?
Pesquisa, sim. Você pediu com tanto jeitinho… O nome do jogo é Grand Auto Theft. E mande lembranças à Maga Patalójika.

O Brasil no espelho

Recebi um e-mail intitulado “Cada um tem o governo que merece”. Anexadas, algumas fotos de chefes de Estado: a família real britânica, a sueca, duas que não reconheci e, finalmente, Lula e Mariza vestidos como caipiras. A intenção óbvia é mostrar o descompasso entre a nobreza européia e nosso casal presidencial proletário e irreparavelmente brega.

O governo Lula tem uma série de deficiências, algumas das quais irritantes. De certo modo, até o tal Arraiá do Torto é exemplo delas. Por um lado reflete uma certa demagogia populista de um governo que, em muitos aspectos, está perdido e com muitas dificuldades; por outro perpetuou em sua estrutura alguns dos velhos vícios da política brasileira, como bem sabem Zezé de Camargo e Luciano. Pode-se acusar o governo de incompetência em algumas áreas, de continuísmo em outras.

Mas não é disso que o e-mail trata. Ele não trata de política ou economia; trata de estética. E nisso reflete uma postura elitista brasileira, os preconceitos de um povo que sempre se recusou a ver sua imagem no espelho.

Somos uma sociedade que tentou, sem sucesso, instituir o chá das cinco para nos diferenciar da gentiaga que comia quitutes vendidos por escravas descalças. Nossa história é a de ricos enfatuados em roupas pesadas e suando, suando e suando sob o calor insuportável do verão carioca. Tentamos falar francês como a aristocracia russa, outra que sempre se recusou a se ver como era e acabou nas mãos dos revolucionários bolcheviques. Somos brasileiros, com orgulho, mas não queremos nas costas toda a carga que isso nos traz.

Uma coisa é tentar se superar, e é isso que a grande maioria dos brasileiros faz todo os dias; outra, completamente diferente, é tentar ser o que não se é.

Estabelecemos comparações entre a nossa breguice luliana e a sofisticação da corte elizabetana, mas extrapolamos a medida da vontade de superação quando fazemos questão de esquecer que, tendo-se em vista a história recente dos Windsor, é muito melhor ser Mariza do que Elizabeth e seu cotidiano de pequenas tragédias humilhantes, que fazem a delícia dos tablóides ingleses.

O diabo é que a imagem que vemos no espelho incomoda. E acaba nos cegando.

A culpa de todos nós

Europa Europa é um filme baseado na auto-biografia de Shlomo Perel, adolescente judeu que, para sobreviver na Alemanha nazista durante a II Guerra, mentiu sobre sua ascendência, juntou-se à juventude hitlerista e chegou a lutar na Wehrmacht.

(Não foi um caso isolado. Além dos milhares de Mischlinge — pessoas com “metade ou 1/4 de sangue judeu” — que lutaram do lado dos nazistas, vários judeus também fizeram o que precisavam para sobreviver.)

Assisti ao filme há dez anos, numa madrugada qualquer na Globo. Tinha acabado de terminar uma campanha e me dedicava ao que mais gosto nessa vida: trocar o dia pela noite. A lua me trata com mais carinho que o sol, diz coisas mais bonitas ao meu ouvido.

Europa Europa me impressionou não tanto pelo que dizia de verdade, mas pelas pequenas mentiras óbvias que contava.

Por exemplo, há um momento em que ele se torna amigo de um oficial nazista homossexual. Quando o oficial descobre que ele é judeu, não o delata por simples amizade. Eu acredito nisso, porque também acredito em Papai Noel. Mas o mais provável, mesmo, é que Perel tenha se abandonado a doces brincadeiras com o oficial para salvar sua pele.

Tem mais. Quando sua namorada alemã fala mal dos judeus e ele lhe dá um tapa, cria-se uma situação em que nem eu acredito. Parece lógico que, se ele conseguia se controlar diante de todos, se controlaria diante dela. Mais uma vez, o que estava em jogo era a sua pele, e isso vale, cá para nós, muito mais que palavras ditas por uma menina que com uma certa dose de boa vontade pode ser desculpada como apenas o produto de sua época.

Mas a parte mais interessante é aquela em que, no campo de batalha, ele consegue falar com o inimigo russo pelo rádio. Conta quem é e propõe se render; e quando se dirige à trincheira russa, os alemães a invadem e vencem a batalha, e o parabenizam pela “estratégia brilhante”.

O mais provável é que isso tenha sido uma estratégia alemã. Que Perel tenha sido apenas parte da tática alemã naquele momento; não duvido sequer de que ele tenha proposto o truque, para provar sua lealdade ao Reich. Por umas dessas tortuosidades da psique humana, ele tinha que ser mais nazista que os nazistas.

Não acho que nada disso seja condenável. Quase tudo é válido para que se consiga sobreviver em tempos muito difíceis. É fácil falar de heroísmo. Difícil é ser herói quando o seu está na reta.

Mas a maneira como Perel mascara sua história, como edulcora episódios que julga humilhantes e pouco heróicos mas que garantiram sua sobrevivência em um momento em que o seu povo virava pizza kosher, fala muito a respeito da culpa que as vítimas sentem. É engraçado que possamos fazer de tudo para sobreviver, e essa mesma sobrevivência eventualmente se torne um fardo incômodo, às vezes insuportável.

A vida é muito estranha.

Nessa sagrada colina, mansão da misericórdia

Passei rapidamente por Salvador há duas semanas. Queria ir ao Bonfim comprar um novo escapulário. Mas achei que minha filha não ia gostar muito dos ex-votos, e sabia que não conseguiria entrar na igreja sem que ela os notasse. Para ela a Igreja de S. Francisco (“Toda de ouro?!”, ela arregala os olhos) seria muito mais interessante.

Passei mais de 10 anos sem ir ali. A visão das pernas, braços e cabeças de parafina e plástico, as fotos de misérias humanas concebíveis e inconcebíveis, tudo aquilo não dava, a mim, a sensação de gratidão pela graça alcançada, e o conseqüente reforço da fé. Era justamente o contrário: a visão de um mundo de dor e sofrimento que desliga qualquer um da noção de Deus. A Sala dos Milagres me deixava com uma sensação que deve ser muito semelhante à claustrofobia.

Da última vez que fui lá ela tinha sido saneada; os ex-votos mais impressionantes tinham sido mudados para o andar de cima e, embaixo, ficaram apenas objetos e fotos quase inocentes.

Mas a lembrança dos ex-votos do Bonfim não sai da minha cabeça.

Não fosse por isso, de todas as igrejas da Bahia a do Bomfim estaria ali, no meio-termo. Para mim há igrejas mais interessantes; uma delas é a do Rosário das Mercês, cuja nave central tem uns poucos metros, mutilada quando abriram a Avenida Sete no início do século passado. É um dos poucos casos de igreja destruída por outra religião que não era deística, mas secular: a do progresso. (Há outro caso parecido, a da Igreja da Ajuda, construída na época de Tomé de Souza e demolida e reconstruída do outro lado da rua no começo do século XX; e Jorge Amado credita a demolição da antiga Sé, cujos alicerces são hoje sítio arqueológico ao lado do Belvedere, à ganância da empresa de bondes da época.)

Ou a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, uma das mais conhecidas de Salvador por ficar no Pelourinho, e que abriga um cemitério de escravos.

O mais engraçado é que a maioria dos baianos sabe quase nada sobre suas igrejas. E o pouco que sei aprendi simplesmente me aproveitando dos grupos de turistas que contratavam guias: eu, menino, quando me batia com um desses grupos ficava por perto e ia aprendendo. Foi o meu modo de receber educação pública e gratuita de qualidade.

Eu devia ir mais ao Bonfim. Deveria ser obrigação de filhos pródigos de Oxalá como eu.

Na garganta

Como se sabe, brasileiro é um povo muito tolerante, exceção aberta àqueles milogueiros da seleção argentina de futebol.

Principalmente quando ela usa o seu porta-voz, o Olé.

Na segunda, até que foram sóbrios enquanto choravam a derrota na Copa América. Elogiaram Adriano, falaram a verdade — que a Argentina jogou melhor mas o Brasil teve mais vontade –, no máximo ensaiaram umas provocaçõezinhas dizendo que não íamos para as Olimpíadas porque eles nos deixaram de fora, o que é admissível.

Mas à medida que o tempo passa a má-índole do Olé vai tomando forma. Na terça, ainda tentando entender o que havia acontecido, botavam a culpa no inferno astral de Bielsa, lembravam mais uma vez que as uvas estavam verdes que não iríamos à Grécia, demonstravam que aquela derrota continuaria em sua garganta por muito tempo.

Ontem ele ainda estava remoendo a humilhação de perder para os reservas do Brasil. Uma matéria resolve detonar Edmílson, cujo grande crime é, claro, ser brasileiro, por uma falta pesada — é engraçado que a terra de Simeone reprove alguém por jogar sujo, mas… Nos chama ainda de “los campeones de los arañazos” (que diabo é arañazo?), e Crespo faz do jornal divã, ao dizer que não pôde jogar a Copa América porque precisava de férias para “reencontrar-se“. E depois se perguntam por que perderam. Aliás, se perguntam por que há tempos não ganham nada.

Há também uma entrevista de Luis González avaliando a derrota. Ele diz que pênaltis são sorte. São mesmo, quando você chuta certo. Quando chuta para fora é só incompetência.

Hoje publicam uma entrevista com Edu. O engraçado é que eles têm uma necessidade estranha de nos ouvir dizer que sim, que eles jogaram melhor. Curioso. Freudiano, isso. Obviamente, terminam a matéria lembrando que não vamos à Grécia.

Certo. Mas deixa eu lembrar um episódio das olimpíadas de 96.

Quando a Argentina soube que iria disputar a final contra a Nigéria (que tinha despachado o Brasil), o Olé (ou o Clarín, não lembro) tascou a manchete asquerosa:””¡Que vengam los macacos!”.

Os macacos foram e engoliram os bananas.

Mas parece que os hermanos não aprendem.

Notícias estranhas em um blog esquisito (XVIII)

Um sujeito foi preso nos EUA porque chupou os dedões e beijou os pés de duas mulheres e uma garota, de surpresa e sem o seu consentimento, claro.

Já sabem qual a identidade do sujeito, mas ainda assim é bom lembrar que o Alexandre já tem um álibi.

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Joanne Webb tem três filhos e já foi professora.

Deve ter sido o seu passado no magistério que a fez explicar didaticamente como funcionava o vibrador que estava vendendo a um casal numa festa. Mas os pombinhos lúbricos eram dois policiais disfarçados, que a prenderam por isso.

Segundo a lei do Texas (não custa lembrar: é a terra de Bush), você pode vender acessórios sexuais, mas se mostrar como eles são usados, vai em cana. Não importa que esteja vendendo para adultos. É atentado ao pudor.

E assim mais um aspecto da conjuntura perniciosa que gerou os Novos Estados Unidos é explicado.

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A tripulação de um vôo russo, de lata cheia, desceu o sarrafo num passageiro.

Tudo bem que o excesso de vodca deve ter ajudado na iniciativa da tripulação. Mas quando lembro das aeromoças das empresas brasileiras — que certamente já foram mais bonitas e mais gentis –, tenho a leve impressão de que não vai demorar muito até esse hábito se tornar praxe no Brasil.

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Uma cartomante foi presa sob a acusação de tentar roubar uma grana de uma moça.

Incompetente. Se ela não consegue prever que vai em cana, como vou acreditar que vou ser rico, ferreamente saudável e cheio de mulher?

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Um alemão de 76 anos foi dar aulas de direção à sua esposa, de 78. A velhinha, tadinha, errou muito — e irritou o marido a ponto de ele encher-lhe de porrada.

Nunca é tarde para aprender. Nem para quebrar a cara daquela velha chata que não larga do seu pé há tantos anos.

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Peter Frampton está processando uma fábrica de biquínis por ter colocado em um de seus modelos a frase “Baby, I Love Your Waves“, e um retrato seu na parte de trás.

O que está em questão aqui não é o direito autoral. É a diferença entre esses saxões e os baianos.

Dorival Caymmi e Jorge Amado discutiam sobre as avenidas que levam seus nomes, em Salvador. Caymmi se sentia superior, e com razão, porque a sua tinha mais motéis. Aquilo era uma honra que poucos merecem.

Esses ingleses não entendem nada da vida. Nós, baianos, teríamos muito orgulho de tão bela homenagem. A bundinha, hein?

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Um ladrão, ao roubar apressadamente um carro, levou junto a sogra do dono

Infelizmente bateu o carro 40 minutos depois, e fugiu deixando a senhora no carro.

O genro está desesperado. Que ninguém se admire se ele oferecer uma recompensa para que o ladrão volte e termine o que começou. Ele não aceita devolução. Coisa feia, dar esperanças durante 40 minutos a um pobre sujeito e então tirar o doce de sua boca.

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80% das alemãs solteiras dizem que são perfeitamente felizes sozinhas.

Elas estão com a razão. Não deve haver coisa pior que viver com um alemão no seu pé.

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Camareiras de hotel na Noruega (para ver como o pau está comendo nesse aspecto por lá, dêem uma olhada neste post da Liza no Culture Kitchen) estão pedindo que os hotéis parem de disponibilizar canais pornô, alegando que os hóspedes empolgados ficam dando em cima delas.

E eu acho que elas apenas estão cansadas de achar a vida gozada.

Misérias são diferentes

Eu sempre impliquei com uns versinhos inteligentes dos Titãs. Aqueles que dizem que “Miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes”.

Não é verdade. Nunca foi.

A riqueza é bem parecida em sua alegria. Ricos brasileiros, argentinos, americanos e ingleses são sempre iguais. Uns têm classe, outros não, uns são inteligentes, outros não. Mas não é a riqueza que é diferente, são as pessoas. Riqueza é a mesma coisa em qualquer lugar. Significa poder — poder não fazer o que não se quer e poder fazer o que se quer.

A miséria, não. A miséria é diferente, porque não há escolha possível. O miserável que se esconde em um vão de escada na Barroquinha, esperando o teto centenário cair na próxima chuva, não é o miserável europeu. Não é sequer o morador do Rato Molhado.

Se alguém tem dúvidas disso, é só ler o belíssimo post do Allan no Carta da Itália.