Réquiem para mim mesmo

Sabe, olhando para trás vejo com uma certa surpresa que não tenho medo de muitas coisas, porque sei que sobrevivo a tudo, e as coisas sempre melhoram e sempre pioram e sempre melhoram de novo. No fundo, a vida me ensinou a ser imortal como todo adolescente, achando que coisas ruins, realmente ruins, jamais vão acontecer comigo.

Mas hoje eu fiquei com medo, um calafrio ruim percorreu minha espinha, uma ânsia de vômito apareceu assim, do nada. Percebi que coisas ruins podem acontecer, sim, a pessoas boas como eu. E é uma sensação angustiante, essa, uma certa impotência diante do imponderável, a sensação de ser tão menor que o mundo.

A filha do Biajoni está namorando um goiano.

Logo o Bia, pobre Bia, que sempre disse que “as goianas eram as mais poutas” e indiretamente causou uma cruzada dos michês goianos contra este blog. Isso é tão grave que não permite o Schadenfreude, clama somente pela solidariedade mais sincera, pela dor compartilhada e pelo medo, sempre o medo, um medo terrível que torna o provável quase certo.

Porque ao ver a tragédia que aconteceu com o Bia vi que ela pode acontecer a mim também, que minha filha pode namorar um goiano, um daqueles michês que vêm dizer desaforo neste blog. E nas reuniões de família vou ter que agüentar um sujeito que ouve Bruno e Marrone, Chitãozinho e Xororó, Chato e Enjoado, sei lá seus nomes. Um sujeito que fala de carros como quem fala dos peitos da Vanusa Spindler. Que usa calças apertadas com fivelas de vaquejada, e camisas abotoadas nos pulsos. Que não sabe quem é Humphrey Bogart, e nem quer saber. Os meus pequenos motivos de orgulho — como gravar um disco com músicas bobinhas dos Beatles como Ob-La-Di Ob-La-Da para minha filha e ver que ela prefere um blues pesado como I Want You — podem se esvanecer para sempre, porque o Bia acabou de me dizer que seus pesadelos se tornaram realidade, e sua filha namora um goiano para desgosto eterno de seu pobre pai, num gesto de revolta juvenil auto-destrutiva e aprofundamento do abismo entre gerações.

Se isso acontecer comigo vou ficar que nem o Bia, vou rasgar minha túnica e espalhar cinzas em minha cabeça sem sequer o consolo de escrever um salmo. Vou sair por aí pedindo para alguém por favor dar um tiro na minha cabeça: a dor não pode ser maior.

Tristes, os diálogos que se prenunciam:

“E aí, Rafael, como você está?”

“Meu genro é um goiano.”

E se tal desgraça pode acontecer, se esse cenário de apocalipse é possível — ai, quantas coisas mais podem acontecer agora? Minha mulher pode me dar um pé na bunda e eu posso namorar uma neopolitana: embora eu não tenha nada contra neopolitanas, ela infelizmente me traria um cunhado neopolitano. Agora, por causa da tragédia que aconteceu com o Bia, posso morrer espancado a pauladas por uma legião de moços de pinto pequeno — restando apenas o consolo de saber que eles vão ter que procurar cacetes de tamanho razoável por aí afora, mas consolo para morto é como pente para careca. Posso ser trucidado por uma legião de adolescentes de trinta anos em sua histeria — e que consolo resta aí, saber que para seu azar há menos um homem no mundo? Isso não é o bastante.

De repente o mundo ficou menos seguro para mim.

O medo é uma coisa ruim, que corrói a gente. E hoje eu não pretendo sair de casa, vou dormir com a cabeça debaixo do lençol, e vou tremer embaixo dele ante a mais fugidia sombra que aparecer, porque descobri que sou vulnerável e Deus nem sempre é justo, e coisas ruins podem acontecer comigo.

Post para uma amiga que não me entende

Oi, magrela.

No meio da campanha você leu este post e reclamou comigo que não ficava bem para o dotô redatô aqui escrever sobre putas quando tanta coisa estava em jogo. Aí esse conselho ficou passeando pelos becos da minha cabeça, até que agora consegui pensar numa resposta, que dou agora.

O post era inveja pura, não sei se você notou. Eu queria ser empresário do Paulinho, se ele aceitasse os conselhos que dei, porque fico maravilhado ao ver tanta gente ganhando dinheiro com música ruim. Sabe, tem umas coisas para as quais não tenho talento, mas tenho vocação; empresário de cantor brega era uma delas. Eu não sei cantar como o Paulinho, não sei compor nem fazer verso, toco uma guitarra ruim e um baixo pior ainda. Mas mesmo assim acho que ficaria bem no papel de empresário. E cantor brega sem isso, minha filha, está condenado ao oblívio. Ou, em palavras que seriam mais facilmente associadas a mim, está fodido.

Do jeito como eu vejo as coisas, o principal papel de empresário de cantor brega é arranjar umas putas bem voluptuosas, apetitosas, um monte de osas, com aqueles bundões enormes e cheios de celulite, para fazer no palco coreografia ruim de menina de 13 anos em festinha americana, e balançar a bunda para a platéia. Precisa de mais que isso, não. E tem que ser puta, mesmo. Moça séria que se respeita vai é terminar o segundo grau para ser comerciária. Moça direita não faz a platéia gritar em êxtase diante de uma rebolada mais bem dada ou uma baixaria mais bem feita.

E o único lugar que tenho para falar dessas minhas vocações desprovidas de talento é aqui neste bloguinho.

Me desculpe, mas sou sério o suficiente o tempo todo. Na verdade até que tenho feito um bom trabalho nesse troço de seriedade. Em nome dela, até escrevo direitinho quando a pressão é grande. Sabe, eu não tenho lá muitas ambições literárias. Eu gosto mesmo é de ver que o que escrevi funcionou e convenceu gente. É por isso que adoro os meus clichês: “Mas Fulano fez mais: construiu sei lá o quê, implantou aquilo e garantiu mais etcetera e tal.” Sabe Deus quantas vezes já escrevi isso na vida, e espero escrever muitas mais ainda. Porque se uma coisa é clichê é porque funciona, e o resto é bobagem.

Mas mesmo assim, mesmo ligando pouco para as musas feinhas, a cabeça da gente funciona de maneiras esquisitas, e de vez em quando sinto vontade de escrever umas coisas que não se encaixariam bem em uma locução em off. É por isso que tenho um blog, que se chama tão pura e simplesmente “Rafael Galvão”, e não “Rafael Galvão, Redator Publicitário À Disposição”: para escrever os merdas, bocetas e putaqueparius que eu quiser.

Não fosse por isso, por que caralhos eu manteria este blog depois de tantos anos? É difícil achar um tema sobre o qual eu não tenha escrito uma besteira qualquer. Acho que já escrevi mais sobre pinto pequeno que a Marta Suplicy — com uma leve diferença de enfoque, é claro. Não acho que tenha mais nada de relevante para dizer sobre qualquer coisa. E ainda que tivesse, foi escrevendo coisas relevantes que eu sempre ganhei a vida, ou achei que ganhava enquanto ela ria e se referia a mim à Providência como “aquele otário”. Eu já escrevo demais. Repetir tudo isso num blog deve ser um saco. Ter um blog, portanto, só serve se a gente puder falar as bobagens que quiser.

(A propósito, caralho é uma palavra que eu tento evitar, sempre. Acho que fica feio para mim, um rapaz de tão boa família, cuja ascendência mistura nobres franceses e escravos africanos, ser visto assim, cheio de caralhos na boca. Por isso que quando dou uma topada, ou esbarro nas coisas como vivo esbarrando, ou derrubo copos em mesa de bar, eu tento gritar: “Boceta!”. Sabe como é. Acho mais masculino.)

Por tudo isso é fundamental que aqui eu possa escrever puta, e esse é um direito do qual não posso abrir mão. Puta puta puta puta puta. Puta é um nome de que eu gosto, assim, de graça. Acho sonoro, rico, o U amacia a boca enquanto sai correndo mundo afora a 340 metros por segundo. É por isso que quando falo “puta que pariu” me demoro tanto no U: puuuuuuuta que pariu. Às vezes até dispenso o “que pariu”, e deixo que as pessoas presumam o que vem depois. O que importa é a puta, sempre.

(É diferente do porra, entende? No porra o que fica são os RR: “Porrrrrr (e então vem uma pausa imperceptível em que o R se revolve sobre si mesmo, e rasca a garganta como se estivesse se preparando para o apocalipse, mais ou menos como buquê de vinho na taça) — ra”. Mas deixe para lá, esquece isso. São as filigranas da boca suja, não é nada muito interessante.)

Obviamente, sei que talvez parecesse mais respeitável se eu escrevesse “prostituta”. Mas, com toda a sinceridade que posso encontrar neste pobre corpo combalido e preguiçoso, acho prostituta um nome horroroso, pernóstico se falado ou se escrito — a não ser quando alguém pronuncia “protistuta“, aí eu acho engraçado; fora isso prostituta é nome feio, uma combinação infeliz de sons. Fale alto agora, “prostituta”, e veja como soa feio. É antipático. E eu posso ser arrogante, metido e meio descompensado, mas antipático, nunca.

Mas puta, não. Puta é simples, leve, bonito. É também mais abrangente, porque prostituta é só aquela que dá por dinheiro, enquanto puta pode ser qualquer uma — “aquela puta”, por exemplo, pode muito bem ser a vagabunda que não deu para mim, ou a piranha que me deu um tranco no supermercado e não pediu desculpas. Puta, basicamente, é qualquer mulher de quem eu não goste. Devia estar no Houaiss: Puta (s.f): Qualquer mulher com cujos cornos Rafael não vá.” Puta é puro Bauhaus, é minimalista, e acima de tudo é um grande deus ex-machina — quando não resta mais nada a dizer, quando não há solução, é só soltar um “puta que pariu” incisivo que pelo menos uma parte da tensão se vai, você fica com a impressão de ter feito o que podia fazer.

É por isso que cortar a minha boca suja é uma injustiça comigo, porque é só aqui que eu deixo a coisa correr solta. Eu normalmente sou tão sério que não envergonho ninguém, só a mim mesmo, porque não falo o que penso e me conformo com um pensamento singelo: “Vou falar o que penso sobre isso no meu blog”, uma espécie de esprit d’escalier ainda mais vagabundo.

Então, se eu não posso escrever puta neste bloguinho de que eu gosto tanto e que minha mãe lê todo dia, o que vou fazer da vida? Me deixe cá com minhas putas e meus caralhos, é um precinho pequeno que minha credibilidade e respeitabilidade de homem sério têm que pagar para que eu possa dormir um pouquinho melhor à noite. A felicidade me custa tão pouco.

O Homem-Aranha, ressuscitado

Eu estou rindo muito.

Não. Na verdade eu estou gargalhando.

Ontem, na banca de revistas, eu vi uma “Homem-Aranha” na prateleira e as chamadas de capa me chamaram a atenção: “Nova fase!” “Novos vilões!” “Novas aventuras!” Parecia uma chamada dos meus tempos de pré-adolescente.

“Mais uma ‘nova fase'”, eu pensei. Essas reviravoltas são tão constantes nos quadrinhos que já se tornaram a norma. É por isso que se tornaram tão chatas, tão previsíveis, tão cansativas.

Pior: eu já não agüentava mais. Há muito tempo tinha deixado de comprar essas revistas porque, afinal, elas eram confusas, cheias de falsas novidades; acima de tudo, tinham perdido o que o Homem-Aranha tinha de melhor: uma simplicidade e um frescor que o faziam agradável ao público adolescente. A última revista do Aranha que comprei, sabe Deus por quê, foi uma em que ele morre e depois renasce com mais poderes, essas coisas. Era uma série de quatro histórias; não fiz questão de comprar a última. O Homem Aranha estava morto.

Na verdade, eu já tinha dito isso antes algumas vezes aqui no blog: aqui e aqui, por exemplo.

Mas ontem, talvez por força do hábito, passei os olhos na revista e comecei a rir. Porque finalmente eles ligaram o botão do foda-se e fizeram o que deviam ter feito há muito tempo: jogaram para o alto a tonelada de besteiras que vinham fazendo nos últimos anos e resolveram recomeçar do nada. Pelo visto houve uma série de histórias em que se resolveu isso, chamada “Um Dia a Mais”. Eu não li, não sei como foi, e não me importo em saber se foi boa ou não. O que importa é que tiveram a coragem de fazer o que deveriam ter feito há muito tempo, e isso é fantástico.

Melhor ainda, eles foram além. Em vez de simplesmente tentar consertar as coisas (como eu, em seu lugar, faria), jogaram a toalha e voltaram à estaca zero. Agora Peter Parker nunca foi casado. May Parker nunca soube que ele era o Homem-Aranha. Harry Osborn nunca morreu. Está tudo como d’antes no quartel de Abrantes. Jogaram fora pouco mais de 20 anos de histórias, quase metade do tempo de vida do personagem — e fizeram certo, porque tudo aquilo foi um grande equívoco. Agora, sim, o Homem-Aranha tem a chance de voltar a se conectar com o seu público, e de avançar.

Basicamente, eu sempre achei que os dois grandes erros dos roteiristas do Homem-Aranha foram casar o sujeito e permitir que as suas histórias adquirissem aquela atmosfera apocalíptica das histórias dos X-Men (que na minha opinião são chatíssimos, com aquela coisa de destruir o mundo a cada três dias). Aquilo não era o veklho e bom cabeça de teia. Ao perpetrarem seu casamento, uma das maiores imbecilidades já feitas a um super-herói, fizeram com ele envelhecesse automaticamente — os problemas de um homem casado não são os mesmos de um jovem urbano solteiro e sem dinheiro. Tornaram-no mais chato, apenas mais um super-herói como tantos outros. Pior que isso, limitaram as possibilidades de desenvolvimento de novas histórias, ao mesmo tempo em que paradoxalmente se obrigavam a encontrar situações cada vez mais mirabolantes para garantir um mínimo de interesse em um personagem cada vez mais limitado. Deram uma de Cortez e incendiaram seus navios, mas não souberam dar cabo de Montezuma.

Estava tudo errado. Se alguém quer saber o que fez do Aranha o super-herói mais popular da história, precisa apenas dar uma lida nas revistas Amazing Spider Man dos anos 60, até a morte de Gwen Stacy em 1973. O Homem-Aranha era, principalmente, as desventuras de Peter Parker, adolescente, azarado, sempre levando na cabeça. Suas histórias tinham um tom leve e agradável. Tinham uma empatia natural com o seu público.

Agora eles têm a chance de reconquistar isso, fazer a coisa certa. É uma boa notícia, e eu provavelmente vou comprar a revista do mês que vem.

Mas não é por isso, exatamente, que rio. Rio porque eu (e mais um bocado de gente no mundo, é verdade) cantava a pedra há muito tempo. Aquele ritmo de coisas era insustentável. E essa decisão desesperada da Marvel, para mim, apenas prova que sou mais inteligente que aquele bando de roteiristas da Marvel, que durante anos tentaram fugir das conseqüências das idéias imbecis que tiveram e apenas encalacravam ainda mais o pobre Amigão da Vizinhança.

As alegrias que o Google me dá (XXXVI)

exeste alguem no site que trabalhe de graça de amarração de amor
Tem eu. Sabe, eu tenho uma queda por gente que minha avó chamava de détraqué. Pessoas assim como você. Por isso, me mande mil reais para eu convencer o santo que eu faço com que o otário que pegou você numa noite de cachaça fique contigo para sempre.

quero saber se a boneca puca tem alguma relacao demoniaca
Tem. A Pucca é filha bastarda da Hello Kitty com Sailor Moon. E aquele gatinho preto é Asmodeu.

o cinema perdeu a sua simplicidade
Pois é. A vida tem dessas coisas. Quem diria que um operário francês ia ficar desse jeito, esnobe, arrogante? Isso aconteceu quando ele se mudou para Hollywood. Hollywood acaba com as pessoas.

o que é pansexual
Viado.

o tamanho do penis do pai é igual ao do filho?
Fique tranqüilo. Seu filho, se Deus quiser, vai ter melhor sorte que você. Ele tem uma grande chance de puxar ao pai verdadeiro.

rimas com fica
Na boca, esta cica
Distante como Jacarecica
Nada conta e nada explica
É translúcida como mica
E assim sendo, indica
Que o amor que fica
É amor verdadeiro
Porque aqui não vai sair
A porra da rima que você quer

menina de porto feliz faz boquete video
Agora eu sei por que a cidade tem esse nome.

necessidade da pele de chinchila?
Nenhuma. A gente as usa por maldade, mesmo. A gente gosta assim.

sobre os dízimos deve pagar sobre o salário líquido ou bruto
Você está tentando enganar Deus, cão infiel? Está tentando regatear com Nosso Senhor Jesus Cristo (a claque agora faz: “Aleluia!”)? Você não vale sequer as palavras que o pastor grita no púlpito, pechincheiro desgraçado. Tu vai é pro inferno.

www.zoofiliacaseira.com
Deve ser interessante. Sexo oral nas baratinhas. Espanhola nas ratinhas. Sexo anal com as muriçocas, que em meio ao prazer alucinante gemem assim: “Zzzzzzzzzzzzzzzzz! Zzzzzz!!!”. Meu filho, esse site deve ser uma loucura. Sexo animal, mesmo.

boca fedida hamster
Você deve ter vindo do site acima, né? Bobão, se apaixonou pelo hamster. Não sabe que nesses casos não se beija na boca?

e verdade que as mulheres tem 3 buracos para fazer sexo
Não, é mentira. Quem disse isso para você estava mentindo e zombando da sua cara de menino virgem — o que não é vergonha para ninguém — e burro — o que, sim, é extremamente vexaminoso.

porno gratis com mãe do amigo pagando boquete de manhã
Amigo é mesmo coisa para se guardar debaixo de sete chaves. Valorize seus amigos, meu filho, porque para encontrar outro com essas qualidades vai ser difícil. O mundo é cheio de gente ingrata.

dicas para conseguir meninos nas ruas para eu pagar boquete
Eu não sei o que é pior. Se o fato de você ser um pedófilo, ou se o fato de você ser tão incompetente ao ponto de não conseguir pagar um boquete em ninguém.

mulheres transando com extra terrestre
Primeira vez na minha vida que eu vejo um tarado esotérico telúrico. Que coisa linda.

rimas com presunto
A Mamma Mia era uma pizzaria
Que ficava ao lado de uma funerária
Má vizinhança, o dono sabia
E uma mudança era necessária
Porque quando alguém chegava lá
Pedindo uma pizza de presunto
O dono dizia: “Vai na funerária, Osmar
“E vê se já chegou um defunto!”

gay men fazendo boquete em si vidio gratis
Você deve estar se referindo ao volume 3 da espantosa saga “Os Fabulosos Tenores Boqueteiros”.

filme prono do rafael galvao
Olha, eu gostaria muito, sabe? Tem gente que não sabe cantar e acha que daria um bom tenor; eu sempre achei que daria um bom ator pornô. Mas a vida não sorriu para mim, fez de mim esta pobre titica, e esse filme só existe na minha imaginação.

o que os padres fazem para conseguir viver sem sexo?
Mentem.

bater poeta aumenta o penis
Eu tenho cá uma pinimba com a poesia, sabem bem os leitores deste blog. Ela não gosta de mim, eu não gosto dela. Mas nem por isso eu saio por aí achando que bater no poeta vá aumentar qualquer coisa.

trabalho numa empresa o cartão de ponto manual foi trocado como fazemos muitas trocas e temos que bater o cartão do colega como fasso
Olha, eu gostaria muito de dar essa contribuição para o aumento do PIB brasileiro. Eu sou baiano, sabe?, então qualquer tentativa de enganar o trabalho me é simpática. Mas infelizmente eu não posso te atender. Não pela má vontade que se vê nos outros itens deste post, mas por pura ignorância, mesmo. Vai desculpando aí.

relação de lps gravados por richard clayderman
Respeite este blog. Minha posição sobre discos de Richard Clayderman é a mesma que sobre o refino de cocaína: ainda que eu soubesse, eu jamais passaria informação sobre essa droga para você.

nome mais esquesito do mundo
Rafael Galvão. Até hoje não me acostumei com ele. Eu sempre achei que tinha cara de Valdemar.

um texto q fale sobre as bem aventuranças
Tadinho. Com certeza veio parar aqui. Eu gostaria de ter visto a sua expressão ao ler esse texto.

por que nos contos de fada o lobo sempre acaba mal?
Porque esses contos são anteriores à nova consciência ambiental. Porque naquela época as pessoas cruéis e insensíveis caçavam os lobos até sua extinção. Porque não havia um cinegrafista da National Geographic filmando a triste sina de um lobo que apenas tentava se alimentar comendo a vovozinha, a Chapeuzinho e os Três Porquinhos. Mas essa é apenas a minha interpretação, absolutamente primária. Como tem gente que vê grandes significados de repressão sexual nos contos de fadas, eu posso arriscar que é porque eles foram criados por mulheres solteiras de trinta anos.

mulher sem bunda nao e mulher
Não faz assim. Mulher sem bunda ainda é mulher. Prejudicada, mas ainda assim mulher. Só para lhe dar uma idéia: por exemplo, você tem pinto pequeno e ainda assim é homem.

biajoni desenhos disney
Pelo amor de Deus, pára com isso. Você não faz idéia do que o Bia fez com a Hello Kitty. Não dê idéias a ele. Porque eu não vou tolerar — repito, não vou tolerar — que ele faça algo semelhante com a Sininho.

meninas de 10 a12 anos que estao fazendo sexo ao vivo vidio gratis
Confirmado: pedofilia deixa você analfabeto.

diferença entre nazista e judeu no sexo
Err… Bem… O judeu pede: “Me bate! Me bate!” E o nazista: “Não bato… Não bato…”

psicografia algum bebê que nao nasceu ja fez contato?
Já. Em 1976 foi registrado o grito ectoplasmático de um bebê em Caxias gritando: “Cytotec nãããããããããão!”

videos curtos de mulheres transando com maquinas de foder
Eu sempre achei que esses meninos muito tarados tinham um quê de viadinhos, uma certa recusa em admitir que o fogo de sua carne não era exatamente por lolitas, mas por varões. Essa era a prova que faltava: às moças ele se refere como “mulheres”. Mas os homens, essas coisas maravilhosas, ah, esses são “máquinas de foder”.

foto um homem mao na bunda mulher
Você traz a sua mulher que a mão eu arranjo, fechado?

uma coisa interessante q aconteceu no início século xx em sergipe ?
Minha bisavó nasceu. Não tem nada mais importante do que isso. Porque se ela não nascesse, minha avó não nascia. Se minha avó não nascesse, minha mãe não nascia. Se minha mãe não nascesse, quem você iria xingar depois de perder tempo lendo este post imbecil?

rafael viado
Seu pai, aquele corno.

Sobre os 80 blogs da revista Época

A Época fez uma lista de 80 melhores blogs. Obviamente, eu discordo de grande parte dela. Eu e todo mundo — mas é justamente por isso que listas são gostosas. Mesmo quando são ruins, servem para alimentar o debate. Pessoalmente, gostei da inclusão do Nelson Moraes, do Inagaki, da Lucia Malla, do Pedro Dória, gente que eu leio. São grandes blogueiros. Por outro lado, não gosto dos assuntos da maior parte dos blogs citados. Não gosto de bichos. Não gosto de moda. Não gosto de fofocas de artistas. Não me importo muito com dicas para ganhar dinheiro com a internet, até porque ainda não consegui ganhar dinheiro nem mesmo fora dela. Isso não implica um julgamento de valor sobre qualquer desses blogs: apenas mostra que nenhuma lista vai ser considerada “perfeita” porque preferências individuais nunca coincidem completamente com estatísticas.

Mas acho que a lista da Época tem um grande problema conceitual, e é isso que me incomoda.

Boa parte dos blogs com cuja inclusão eu concordo são blogs jornalísticos. No fundo, se se deixar de lado o nome que adotaram, são colunas jornalísticas em um meio diferente e aceitando comentários. Os blogs do Noblat, da Miriam Leitão, do Reinaldo Azevedo, do Josias de Souza são isso: a mesma velha estrutura da imprensa institucionalizada adaptada a uma nova mídia. São importantes, claro, mesmo fundamentais; mas seria mais adequado classificá-los como a estratégia de sobrevivência (bem sucedida, a propósito) de uma estrutura antiga do que aquilo que se entende — ou entendia — como blogs. Independente de sua importância, são apenas seções de revistas e jornais. São uma velhinha de pernas bonitas que passou a usar minissaia.

Esse é o problema com a lista, a ênfase no que se pode chamar de blogs da grande mídia, que têm a estrutura de empresas tradicionais de comunicação. Se é possível fazer alguma distinção entre jornalismo e blogs, ela está justamente na “pessoalidade” dos blogs. Não é exatamente o conteúdo que faz um blog, mas a maneira como ele é disponibilizado. Conteúdo se acha em jornal, em revista — e quanto mais profissional a estrutura por trás deles, melhor tem condições de ser o tal conteúdo. Mas nos blogs o que se pode achar é algo diferente, sempre pessoal. Num blog como o do Pedro Dória, não é sequer a informação o mais importante: é o seu trabalho de edição e a sua opinião.

O que faz a graça da blogoseira é justamente a superação da necessidade de infra-estrutura jornalística por indivíduos comuns. É, para usar uma expressão até antipática de tão usada, a democratização da produção de informação. O que a blogoseira fez foi trazer um bocado de vozes para a ribalta, gente ouvida por milhares de pessoas ao mesmo tempo e que não teriam outra possibilidade de expressão. E de vez em quando essas vozes são tão boas que merecem ser ouvidas.

Citando apenas um blog de que senti muita falta na lista, O Biscoito Fino e a Massa, não custa lembrar que o Idelber fez um grande trabalho nas últimas eleições presidenciais americanas e municipais brasileiras. Não apenas fornecendo informação, mas principalmente boa análise e pontos de vista que merecem reflexão. E logo depois lembrou a todos que a questão israelense-palestina, mesmo longe das manchetes, está longe de acabar. Não é o trabalho de uma equipe profissional; acima de tudo é o resultado de um ponto de vista único.

É essa característica individual dos blogs que faz a sua força. No caso do Idelber, ao falar sobre o problema na Palestina ele apresenta uma alternativa aos meios tradicionais de informação que só é possível porque qualquer um, inclusive ele, pode montar um blog. O resto é apenas tecnologia de publicação, mais nada. Algo que pode ser feito — e mais bem feito, diga-se de passagem — por meios de comunicação tradicionais.

O americano Nick Carr falou recentemente da morte da blogoseira. Tem lá seus bons argumentos. Mas além de forçar uma mudança nos meios de comunicação — se tanto: nada garante que essa mudança não ocorreria se não houvesse blogs, e na verdade fala-se em interatividade nos meios de comunicação desde muito antes de o primeiro maluco escrever um diário online –, e mesmo que milhares de blogs desapareçam todos os dias, há muita gente por aí que continua fazendo um belo trabalho, sobre os mais variados assuntos. Assuntos que não teriam lugar em outros meios de comunicação porque não apelam a muita gente.

Por isso não tem graça escolher um monte de blogs jornalísticos. Por isso a indicação de blogs como os do Nelson, do Pedro e do Ina é tão importante. São blogs como deveriam ser. É bom encontrá-los em meio a tantos blogs corporativos.

Nós cagamos para “Limite” — os 25 melhores filmes brasileiros de acordo com Galvão & Biajoni

Eu e o Bia resolvemos fazer uma lista dos melhores filmes brasileiros. Era pra ser os 10 melhores, passou para 20, e finalmente fechamos em 25 para não avacalhar demais.

O primeiro ponto a ser notado sobre é que nós cagamos solenemente para “Limite”, o nosso “Encouraçado Potemkim”. O filme de Humberto Mauro pode ter a importância histórica que tiver; mas é um filme chato e que só interessa a arqueólogos do cinema. (Embora nós dois adoremos o filme do Eisenstein.)

Achamos que a mitologia em torno de “Limite” prejudicou o cinema brasileiro. Às vezes a gente tem a impressão de que todo cineasta sério tinha que fazer filmes densos, esquisitos. Foi por isso que Glauber fez tanta coisa ruim e é incensado até hoje. O resultado foi um cinema que se distanciou do seu público, ao se contentar em ser elogiado pelos seus pares.

É bom lembrar também que esta é uma lista de melhores filmes brasileiros. Isso quer dizer que os critérios de escolha levaram em consideração outros fatores: históricos, comerciais, afetivos.

São critérios estéticos razoavelmente claros. Quando se fala em filme brasileiro de “catiguria” as pessoas pensam naqueles filmes confusos, metafóricos, cheios de mensagens subliminares e diálogos pseudo-intelectuais. Mas nós preferimos, decididamente, o Nelson Pereira dos Santos inteligível de “Vidas Secas” e “Rio 40 Graus” ao Nelson hermético e alegórico de “Fome de Amor”, cuja única qualidade real são os peitos e rosto bonitos da Leila Diniz e que hoje é algo tão longínquo quanto a ditadura.

É por isso que “A Menina do Lado”, um filme que sob critérios puramente objetivos seria considerado no máximo mediano, está na lista. O filme de Alberto Salvá é um dos melhores da década de 1980, com uma leveza e sensibilidade que faltava então ao cinema brasileiro, no que foi a sua pior fase.

Além disso, uma lista desse tipo implica negociação e concessão. O Bia não gosta de “Eu Te Amo”, eu não gosto de “Alma Corsária”. Para incluir “Todas as Mulheres do Mundo”, de que o Bia não gosta e eu acho um dos melhores exemplos do cinema novo, eu tive que concordar com “Redentor”, para ele dos melhores filmes dessa fase recente do cinema nacional. O Bia sugeriu “O Cheiro do Ralo”, mas eu o considero apenas um filme razoável engrandecido por um grande tipo, vivido por Selton Mello. “Auto da Compadecida” foi vetado porque tem uma linguagem excessivamente televisiva e porque, afinal de contas, a minissérie de TV original é bem melhor que o filme. Finalmente, quando um insistiu muito em um filme que o outro não tinha visto, decidiu-se dar um voto de confiança. Assim eu incluí “Mineirinho Vivo ou Morto”, enquanto o Bia emplacou “A Dama do Cine Shanghai”. O Bia tentou incluir “Não por Acaso”, mas não conseguiu. Eu tentei empurrar alguns títulos da pornochanchada, mas o Bia foi firme.

Eu consegui emplacar uma chanchada, pelo menos, mas o Bia vetou completamente Mazzaropi, cujo “Candinho” é bom.

Havia dois problemas a serem resolvidos. O primeiro é Walter Hugo Khoury. Nem eu nem o Bia duvidamos que ele seja um dos mais importantes cineastas brasileiros; mas não conseguimos achar um filme, especificamente, suficientemente bom. O melhorzinho de todos nos parecia “Amor Estanho Amor”, mas ele simplesmente não parecia ser filme suficiente para uma lista dessas. A não ser que se considere o “conjunto da obra” do Khoury.

O segundo é Nelson Rodrigues. Nenhum autor brasileiro foi tão castigado por cineastas quanto o anjo pornográfico. O tratamento dado a Nelson por cineastas como Neville d’Almeida prejudicou um dos maiores dramaturgos brasileiros da história. E no entanto, a filmografia baseada nele é extensa e importante. O melhor filme feito sobre uma obra de Nelson é “Toda Nudez Será Castigada”, mas aí era Jabor demais em uma lista só. Pelo Bia, não entrava nem mesmo “Eu Te Amo”.

Eu vejo na pornochanchada qualidades reais, um cinema que mesmo comercial era verdadeiro e representava uma evolução natural da chanchada; o Bia acho que a pornochanchada é mais uma curiosidade, não revelou algo de cinematograficamente grande. O gênero não entrou.

Há um terceiro problema, ainda: o da ignorância pura e simples. Tanto eu quanto o Bia conhecemos melhor o cinema estrangeiro que o brasileiro — que sempre enfrentou sérios problemas de distribuição. E nem sempre dá para ver tudo, porque afinal de contas alguém tem que garantir o leite das crianças. É por isso que alguns filmes não entram porque, em primeiro lugar, não vimos: “Edifício Master”, por exemplo. Além disso, certas coisas, cá entre nós, é melhor mesmo não ver.

É isso. A lista está aí. Que sirva de roteiro para que as pessoas passem a gostar mais do cinema brasileiro.

Update: Por favor, parem de deixar comentários lembrando que “Limite” é do Mário Peixoto. Ninguém parece ter entendido a piada. Como não viram que o Barreto que fez “Dona Flor” não foi o Fabio.

Todas as Mulheres do Mundo

  1. Alma Corsária — Carlos Reichenbach
  2. Assalto ao Trem Pagador — Roberto Farias
  3. O Bandido da Luz Vermelha — Rogerio Sganzerla
  4. Bye Bye Brasil — Cacá Diegues
  5. O Cangaceiro — Lima Barreto
  6. Carnaval Atlântida — José Carlos Burle
  7. Central do Brasil — Walter Salles Jr.
  8. Cidade de Deus — Fernando Meirelles
  9. A Dama do Cine Shanghai — Guilherme de Almeida Prado
  10. Deus e o Diabo na Terra do Sol — Glauber Rocha
  11. Dona Flor e Seus Dois Maridos — Fabio Barreto
  12. Eu Te Amo — Arnaldo Jabor
  13. Lucio Flávio, o Passageiro da Agonia — Hector Babenco
  14. Macunaíma — Joaquim Pedro de Andrade
  15. A Marvada Carne — André Klotzel
  16. A Menina do Lado — Alberto Salvá
  17. Mineirinho Vivo ou Morto — Aurélio Teixeira
  18. O Pagador de Promessas — Anselmo Duarte
  19. Pixote — Hector Babenco
  20. Redentor — Cláudio Torres
  21. Rio 40 Graus — Nelson Pereira dos Santos
  22. Terra em Transe — Glauber Rocha
  23. Todas as Mulheres do Mundo — Domingos de Oliveira
  24. Tropa de Elite — José Padilha
  25. Vidas Secas — Nelson Pereira dos Santos

Barroquinha

Uma barroca é uma “passagem funda entre penedos ou barrancos”. O nome que foi dado à Barroquinha, que desce da Praça Castro Alves em direção à Baixa dos Sapateiros, é a única lembrança de que houve um tempo em que ela estava além dos limites urbanos da cidade da Bahia; mas não demorou a ser ocupada, enquanto as classes mais altas se expandiam em direção ao sul, provavelmente atraídas pelo cheiro agradável da maresia da praia aos pés do Forte de Santa Maria e finalmente se fixando no alto das escarpas da Vila Velha, que depois se transformaria em Vitória.

Foi ali perto, no Largo da Barroquinha, onde na metade dos anos 70 vi pela última vez um tipo que desapareceu com o tempo: um sujeito que carregava umas maquininhas semelhantes a máquinas fotográficas, amarradas a um pau por pequenas correntes, contendo seqüências de slides a que se podia assistir, como em um binóculo, por 50 centavos de cruzeiro. Aquele trazia cenas de “Zorro” em um tom azulado — não o Lone Ranger, mas o de capa e espada, o do Sargento Garcia. A televisão e a sofisticação do mundo acabariam logo com esses pequenos mascates, talvez até mesmo nos grotões mais escondidos do interior. Mas em 1977, o que para mim era apenas uma experiência curiosa, para os meninos que moravam ou passavam entre a Baixa dos Sapateiros e a Avenida Sete ainda devia ser algo novo e fascinante, pelo menos a ponto de o mascate tentar ganhar seu pão ali.

Descendo a Ladeira da Barroquinha e dobrando à esquerda na primeira esquina, bem depois da igreja, chega-se à Visconde de Itaparica, uma rua estreita, antiga, de pedras gastas pelo tempo parecidas com as do Pelourinho a algumas centenas de metros dali. Mas ao contrário do Pelourinho a Barroquinha nunca pareceu bonita o suficiente aos olhos do Patrimônio Histórico. Foi abandonada pelos ricos ainda no século XIX, ocupada pelo povo baiano, negros livres e escravos, e abandonada está até hoje. Na esquina oposta havia uma padaria, que mais tarde daria lugar a uma das tantas lojas de roupas baratas que hoje fazem a vida do lugar.

Nos fios elétricos que se espalham dos postes da Visconde de Itaparica gerações de meninos jogaram barbantes amarrados em pedras, e aqueles barbantes ficavam meses, até anos enrolados ali, enegrecendo com o sol e a chuva, e criavam uma imagem típica e inesquecível — ao mesmo tempo repetida em várias outras partes da cidade e do mundo, em todos os lugares onde a escravidão deu lugar à miséria.

Noblesse obligesNa casa de número 24 um brasão antigo, quase soterrado por séculos de camadas de tinta, atesta que aquele foi um dia um edifício importante. Talvez um edifício público, historiadores devem confirmar essa hipótese com mais propriedade; mas prefiro a idéia de que aquela foi a residência de um nobre qualquer, um conde, visconde ou barão que trouxe sua fidalguia antiga e sólida de Portugal — ou de alguém que queria se dar ares de importância e arranjou para si um brasão bonito, para se legitimar diante de uma sociedade que se apoiava nas costas de milhares de escravos. Sua fidalguia não durou muito, no entanto, porque seus herdeiros foram obrigados a transformar a casa nobre que ostentava um brasão em um cortiço — uma casa de cômodos, como se diz em Salvador.

Eu lembro dessa casa. Era a típica casa colonial brasileira, mais comprida do que larga, com portas altas e janelas com sacadas elegantes de onde se podia olhar abaixo o populacho em sua faina diária, sacadas de onde moças recatadas namoravam, com olhares tímidos e sorrisos castos, pretendentes encasacados que escondiam sob a pudicícia provinciana as incontroláveis safadeza e descaramento baianos. Mas isso foi eras atrás, quando ainda se vendia aluá nas ruas de Salvador. Quando eu a conheci ela abrigava apenas miséria, só isso.

Decadência é issoNo lugar de latifundiários, garçons; em vez de donzelas à espera de um marido, lavadeiras; nenhuma delas lembrando que aquela casa foi moradia de fidalgos, ou pretensos fidalgos, que deixaram a casa se deteriorar àquele ponto apesar do brasão pretensioso em sua porta.

Na soleira da porta havia um batente alto, proteção contra uma rua que alagava facilmente e que não tinha esgoto. Na entrada, um sapateiro consertava sapatos em uma banquinha, igual a milhares de outros espalhados por toda Salvador, mas principalmente no centro antigo. Salvador tinha muitos sapateiros. Herança das ruas de pé de moleque e dos tempos da escravidão, semelhante ao canto dos encanadores no Relógio de São Pedro: até os anos 1980 quem passava por ali podia encontrar vários encanadores com suas caixas de ferramentas e seus maçaricos, esperando que alguém precisasse dos seus serviços. Mas o tempo passou; primeiro sumiram os maçaricos junto com as tubulações de ferro, e depois foi a vez dos próprios encanadores.

Da porta do edifício da rua Visconde de Itaparica um grande corredor com chão de cimento queimado seguia até uma escada antiga, com corrimãos de boa madeira escura. Os degraus de madeira gasta rangiam a cada passo. Por ela se subia até o primeiro andar, outro grande corredor com vários quartos de cerca de 8 ou 12 metros quadrados onde, às vezes, viviam famílias inteiras. A escada fazia uma volta e continuava até o segundo andar.

Nem mesmo o céu continua azulNos quartos, inúmeras mãos de tinta ruim se acumularam por décadas nas paredes, formando uma espécie de pentimento desarmonioso. Janelas sem vidraças traziam grades de ferro bem trabalhadas, atestados de que houve um tempo em que as coisas eram feitas para durar uma eternidade e que eram orgulho dos artesãos mulatos que as fundiam.

Em cada quarto o mínimo necessário para se viver: cama, fogão, mesa e armário para guardar as poucas coisas, umas panelas baratas e uns copos se arranjavam onde desse, às vezes um móvel que fazia as vezes de aparador. E por todos os quartos varais, sempre muitos varais, onde era estendida a roupa lavada.

Isso era bonito 200 anos atrásApenas um banheiro, grande, servia todo o andar. Em vez de chuveiro uma bica, que caía forte sobre o piso cimentado. E aquele banheiro tinha um cheiro estranho, único: mofo, água e sabonete e perfumes baratos. Não era cheiro de sujeira, mas tampouco podia ser cheiro de limpeza: era um cheiro único, cheiro de miséria e de luta pela sobrevivência.

A casa da rua Visconde de Itaparica está fechada há alguns anos e suas portas e janelas foram lacradas com tijolos. A casa do lado já desabou há muito tempo; não deve demorar muito até que o número 24 desabe também. E talvez aí esteja a maior ironia, porque seguindo a rua, em direção à Ruy Barbosa, está o IPHAN, que assiste quietinho e bonitinho à decadência literal de uma das áreas mais bonitas da cidade da Bahia.

Hulk, quase 30 anos atrás

1979, Barra, Salvador, Bahia.

Nós — e por “nós” eu lembro de mim, de Jailton, filho de Joel, o alfaiate que ainda hoje dá expediente no edifício Monterey e é um dos meus mais antigos amigos, e de Pedrinho; mas talvez houvesse mais gente, talvez Marquinhos Moreno, que deixei com um olho roxo por semanas depois que ignorou meus avisos para me deixar em paz, talvez Marquinhos Louro, menino sempre tranqüilo — nós o chamávamos de Hulk.

Era um menino magrinho. Aparentava ter, como nós, 8, 9 anos, mas talvez tivesse mais, talvez fosse pequeno para a idade.

Eu não sei como começou. Mas acontecia assim: nos fins de tarde ele ia comprar pão na padaria que ficava na rua Presidente Kennedy, pouco depois da mercearia San Remo, de um italiano cujo neto mais tarde estudaria comigo, e do Chico Bar — o mesmo Chico Bar que até hoje tem o mesmo cheiro inconfundível e agradável, trinta anos depois.

Assim que a gente o via se aproximar, nós o cercávamos. E então começava a sua transformação. Ele repetia todo o gestual do Lou Ferrigno no seriado “Hulk”: grunhia, fazia poses de halterofilista, e então eu tentava prendê-lo com os braços. Não era briga, porque não se davam socos ou pontapés, e nem havia raiva. Para nós, pelo menos, era apenas uma brincadeira.

Gosto de pensar que ele realmente acreditava que se transformava no Hulk, pelo menos uma transformação interior, invisível a quem não tinha a sua imaginação. Talvez a repetição do mise en scène lhe despertasse uma força insuspeita. O Hulk tinha uma idade em que algumas coisas são permitidas.

Eu era bastante forte, mas ele sempre conseguia se soltar. E ia para a padaria vitorioso, provavelmente já tendo voltado a ser apenas David Banner. O Hulk sempre nos humilhava, principalmente a mim.

Mas um dia as coisas mudaram. Nós o vimos quando ele já voltava da padaria, carregando um saco de pão e um de leite. Nós o cercamos, como sempre. E nesse dia, não sei por quê, ele entrou em pânico. Nós não íamos bater nele; e ele devia saber disso, porque tudo aquilo já tinha acontecido tantas vezes antes. Mas ele ficou com medo, e correu.

Ele não percebia que isso é algo que não se faz diante de uma pequena matilha de crianças, porque quando sentem o cheiro do sangue elas se tornam piores do que o que são, e o espírito leve da brincadeira dá lugar a uma ferocidade divertida e mal-disfarçada. E nós corremos atrás dele, o cercamos como lobos cercam um alce doente. Desesperado, o Hulk tropeçou, se esborrachou no chão, o saco de leite rolou mas não estourou.

Então ele correu para a rua Oliveira Salazar, uma pequena rua ligando a João Pondé à Oito de Dezembro onde eu já tinha deixado um bom nacos de carne em uma queda memorável durante uma corrida de bicicleta — mas Bal tinha se dado pior, ele estava na minha frente e caiu primeiro, e se eu fiquei com o ombro em carne viva ele teve que tomar quatro pontos no queixo.

Eu não podia deixar passar a chance de saborear a vingança por tantas pequenas humilhações — como era que aquele magrelo raquítico se soltava tão facilmente de mim? — e corri atrás dele, nem um pouco disposto a soltar uma presa que sempre nos escapava. Ele entrou em um prédio, sempre comigo atrás dele, e fiquei sabendo onde ele morava. Subiu as escadas.

E então, no meio do caminho, ele de repente se desesperou completamente. Encostado à parede, ele chorava apavorado. Pedia que, por favor, eu não contasse à sua madrinha que ele estava brigando na rua, porque ela iria bater nele. A brincadeira já tinha ido longe demais.

O Hulk se tornou meu amigo até muito tempo depois, mesmo anos depois de eu me mudar. Da última vez que o vi, em 1983, ele ainda morava lá. Tinha crescido, já não era o mulatinho magrelo de alguns anos antes. Foi ele quem me reconheceu. Eu espero que ele tenha se dado bem na vida, porque era um bom menino. Muitas vezes, depois daquilo, me peguei pensando em como eram as relações dele com a madrinha, qual o seu papel naquela casa. E sempre lembro dele quando vejo alguém falar em escravidão e em sua herança, e lembro como eram complexas as relações de classe e cor na Salvador dos anos 70, e que aqueles americanos não entendem nada do que se passa abaixo do Trópico de Câncer.

Dos que dispensam o que não lhes é oferecido

Comentário recebido a este post e, infelizmente, não publicado:

Henrique:
Pega esse seu pau e soca no cú…

E isso me lembrou tantos episódios na vida de tanta gente.

Um menino pede uma volta na bicicleta nova do amigo, que agora poderoso esnoba, diz que não vai dar, manda esperar que talvez ele lhe faça esse favor; e então o menino, já irritado, vira as costas depois de dizer: “Pega essa sua bicicleta e soca no cu!”

O garoto corre para mostrar o seu novo iPod aos amigos. Mostra, explica como funciona, mas nega a eles a experiência sensorial, a concretização do desejo, não os deixa colocar os fones nos ouvido nem mexer nos controles. Exerce de maneira sutil e comum uma variedade leve de sadismo. E os amigos, cansados de ser ludibriados pelo garoto que agora se acha superior, cansam da pantomima e já irritados, viram as costas depois de dizer: “Pega esse seu iPod e soca no cu!”

É sempre isso, uma reação do orgulho ferido, uma afirmação última da própria dignidade e reconhecimento do egoísmo alheio, ações e reações tão antigas quanto este vale de lágrimas que atravessamos.

Mas em tantos anos de vida e de observação nem sempre paciente da natureza humana, tanto mais impressionante quanto mais diversa e distinta ela se mostra, eu nunca tinha visto essa atitude de despeito diante do falo alheio.

Pessoas normais podem talvez reconhecer o portento de um John Holmes sem sentir inveja ou ódio pelo que lhes foi negado na concepção, como um mau ator pode se espelhar em um Paulo Autran em vez de compará-lo à sua própria mediocridade. Os moradores de Pompéia, com a grandeza do Império Romano, entendiam isso. E desenhavam figuras e dependuravam imagens de Príapo em suas casas. Almas grandes podem caber em pintos pequenos, esse talvez seja um dos mais importantes princípios clássicos ignorados pela metafísica.

Mas não no Henrique.

O Henrique sente apenas mágoa e despeito. Talvez servisse de consolo a ele saber que não está sozinho, outros vieram antes a este blog com o mesmo sentimento: com ódio no coração, porque o coração do Henrique, claro, é um órgão maior e com maior capacidade.

Tudo isso turva a visão e embota a mente. A miséria econômica causa tristeza e disfunção comportamental; mas também a miséria anatômica alcança esse resultado, e o moço que provavelmente veio parar neste blog em busca de “métodos grátis para aumentar o pênis” saiu daqui um pouco pior, tentando acreditar que o desaforo dito remediou uma vida de inconformismo com a pequenez.

Essa pequenez gera também ambição e ganância, percebo agora, e um psicólogo do meu baixo nível pode chegar à conclusão de que foi esse tipo de pequenez que gerou o crash de Wall Street. Ou pelo menos um tipo análogo de ganância. Porque o pobre Henrique não se contenta com os milhões de spams que recebe todo dia, e assim como quer mais tamanho e volume por sob as calças quer também mais informação, corre o Google atrás de novas soluções, um elixir ou bálsamo milagroso, uma simpatia talvez, algo que ele sinta que vai finalmente dar certo, que não vai iludi-lo apenas para deixá-lo frustrado mais uma vez.

Deixe-me ser solidário, Henrique, e deixe que eu me junte à sua raiva. Porque intuo que a origem de tudo isso é uma mulher, não é sempre uma mulher a origem de toda a felicidade e de toda a dor neste mundo? Uma mulher que, assim como você, não conseguiu esconder sua frustração e lhe disse com desprezo, “Pega essa sua mixaria e soca no cu!”, enquanto se vestia apressada e ia embora para nunca mais voltar. E embora não sinta a sua dor eu me compadeço dela, mesmo sabendo que você, com esse seu orgulho dos oprimidos, certamente me diria altivo: “Pega essa sua compaixão e soca no cu!”.

Talvez você não entenda e não me acredite, porque sei que agora não vou conseguir conquistar sua confiança e uma amizade jamais nascerá deste pequeno diálogo de surdos; mas essa sua sensação é tão parecida com o que sinto quando vejo meu extrato no banco, e sinto que é tão pouco, e esse pouco me faz sentir que eu poderia ter sido mais que isso, um Marlon Brando dizendo a Rod Steiger, “I could have had class! I could have been a contender!

Uma vida de tristezas cegou o Henrique, e ele não consegue compreender o que leu. Na inferioridade que sente ele olha a todos como superiores. “Pega esse seu pau e soca no cu”, diz o Henrique, e embora um tanto atônito pela conclusão a que ele chegou sozinho, me sinto honrado pela sua presunção enorme, quase lisonjeado, e esqueço de dizer que aquele post não diz nada sobre mim.

Eu não tento entender a mente do Henrique. Mas a minha também funciona de maneira esquisita e às vezes incompreensível até a mim, e um sadismo de que eu me julgava isento se manifesta diante da ofensa. Um sorriso discreto vem à minha boca enquanto escrevo isso. E mal consigo conter a vontade dizer ao Henrique que ele misturou sentimentos, nada aqui lhe foi oferecido ou mostrado, ele não tem porque dispensar uma oferta que não lhe foi feita, até porque eu não sei se ele tem bunda grande.