A carinhosa senhora Amair e o seu doce pequeno comentário

Normalmente este blog não se presta ao papel de correio elegante.

Mas o comentário e pedido deixado aqui pela senhora Amair é singelo o suficiente para merecer um reforço e uma pequena moção de apoio.

Eu mulher de 56 anos, divorciada, quero muito conhecer homens, viuvos, ou divorciados, do rio assima de 50 anos com residencia fixa, que tenha pret de vir se casar novamente com senhore carinhosa, trab, fiel.E evangelica da Igreja do Nazareno

O e-mail da dona Amair fica retido para sua segurança e obediência às normas auto-impostas deste blog, mas excepcionalmente está à disposição de senhores que se encaixem no perfil acima e que queiram estabelecer contato com ela.

Fica desde já esclarecido que a Igreja do Nazareno não tem nada a ver com o antigo personagem de Chico Anysio.

A menina e o padre

Talvez o que mais impressione na reação popular à morte da menina Isabella Nardoni e à do padre Adelir de Carli seja a diferença dos critérios do público.

Não se trata apenas da algazarra canalha e baixa criada pela imprensa em torno da morte da menina, e de forma diferente no caso da morte do padre aviador. Se ela explora o mundo cão, só podemos imputar-lhe a hipocrisia do discurso ético, que traveste de “interesse público” o que é pouco mais que briga por audiência e vendas; mas ela faz isso porque é o que queremos ver, de certo modo ela apenas dá o que pedimos.

Há tanta hipocrisia em tudo isso. Estamos chocados como se nunca tivéssemos visto algo parecido.

No entanto, em todo o país assistentes sociais se irritam com a abordagem dada ao caso Nardoni, porque sabem mais do que isso. Para eles é revoltante assistir à explosão de indignação da opinião pública, esse ultraje diante do vislumbre da possibilidade de crueldade e insensatez humanas, algo tão fora de seus padrões éticos altíssimos. Porque assistentes sociais vêm casos como esse todos os dias — há algumas semanas um pai sergipano trancou o filho em um quarto escuro no seu casebre e o espancou até a morte, mas isso não se transformou em suíte de jornal. Assistentes sociais vêem mais, na verdade. Vêem também pais estuprando e violentando filhos, pais torturando filhos, pais utilizando os filhos para pedir esmola. Isso acontece todos os dias. Essa é a matéria-prima de seu trabalho.

Nada disso, no entanto, gera sequer uma parcela da indignação que se vê na reação à morte da menina. Não porque não são noticiados, porque são, essa também é matéria prima dos jornais; mas porque acontece com pobres, gente abaixo dessas pessoas que se horrorizam antes um vislumbre do que o ser humano pode ter de pior, abaixo do seu nível de sofisticação social e familiar.

Porque esse tipo de desgraça é aparentemente raro na classe média. A mesma classe média que, absolutamente infensa à miséria cotidiana, aproveita uma chance rara como o assassinato de uma menina para fingir tão completamente uma indignação digna de Pessoa. E que faz isso, talvez, porque sabe que essa reação é compartilhada pelos seus iguais, e assim se torna uma indignação confortável e segura.

A diferença entre a morte dessa menina e a dos outros está no fato de ela ser jogada da janela? Se está, então somos todos imbecis, porque morte é morte, é esse substantivo que conta, e não os adjetivos. Morreu queimado ou espancado, qual é realmente a diferença? Mas parecemos ter uma facilidade confortável para transformar o fato principal em um mero detalhe, enquanto damos ao acessório destaque prioritário. Talvez porque se reconhecêssemos que o problema aí é tão somente o assassinato da menina, e não o local ou a forma, então teríamos também que nos indignar com o menino morto na favela, a menina estuprada na rua, e tanta indignação nos cansaria e tiraria o foco de nossas próprias vidas.

Horrorizarmo-nos ao ponto da histeria coletiva com a morte da menina enquanto ignoramos as centenas de outros assassinatos de crianças todos os anos é hipocrisia e depõe contra todos nós.

Mas é a diferença entre as reações à morte da menina e a do padre que chama a atenção e que revela, de maneira ainda mais clara, a miséria humana de todos nós. Tenha sido o padre idiota ou não, arrogante ou não, essencialmente foi um ser humano que morreu. Se foi por sua culpa, isso apenas diz que não há outros culpados, ao contrário da menina.

Isso, no entanto, não dá direito a que os mesmos que se ultrajam e enojam com a morte da menina riam do padre otário.

Para nós, não importa o desespero do padre ao se ver diante da morte, ele não vale o mesmo que a dor da menina. As duas mortes nos fazem felizes, por motivos diversos. A menina caindo do sexto andar nos faz sentir vivos e capazes de sentir pena e solidariedade humanas; a morte do padre nos faz felizes porque somos melhores que ele, somos mais espertos e mais inteligentes. Podemos vir a morrer atropelados por um policial bêbado, podemos nos estraçalhar em um avião — mas não, nós não vamos ser estúpidos o bastante para morrer da mesma forma que o padre, e isso nos faz sentir bem. Ninguém pensa em rir da menina porque, afinal, ela teve o azar de estar do lugar errado e na hora errada. Preferimos nos reconfortar com o fato que, por ser uma criança, ela não tinha escolha nem chance, enquanto o padre, o imbecil, procurou a própria morte.

Como se isso tornasse uma morte menos “morte”.

Isabella vira anjo, o padre é indicado ao Darwin Awards. Embora por motivos diferentes, as duas mortes são dignas de pena; no entanto, uma gera comoção nacional e a outra vira a grande piada do país.

E assim a vida continua. O padre vai ser esquecido logo. Em alguns meses ninguém lembrará da menina, porque a dor dos outros tem prazo de validade curto. E vamos esperar outro evento assim, porque então poderemos voltar a mostrar nossa humanidade indignada, caso seja outra menina assassinada, ou rir daqueles que nos parecem burros demais para merecer continuar vivendo.

Republicado em 01 de outubro de 2010

Da incompreensão e da injustiça humanas

Olha o que é a vida.

Você passa uma existência inteira tendo que lidar com uma falsa imagem de cafajeste e machista. Sua namorada, a mulher da sua vida, diz que você é cafajeste. A sua mãe, a outra mulher da sua vida, diz que você é cafajeste. Suas amigas dizem que você é cafajeste. A sua filha graças a Deus ainda não sabe o que é isso, e se depender da escopeta encostada atrás da porta não vai descobrir nunca, mas nem mesmo ela acredita nas histórias que você conta.

Ter fama de cafajeste é ruim e prejudicial, porque a moda é ser sensível, este é um século inapropriado para pobres paraíbas pouco sofisticados. Ter fama de cafajeste não vale a pena, isso é certo. Porque toda e qualquer mulher que você conheça tem uma amiga que diz “olha, ele é um cafajeste, vá com calma”, e por causa disso você acaba tendo que se esforçar mais, por causa de uma sociedade incompreensiva você acaba acuado, e para sobreviver se vê obrigado a utilizar, sim, de expedientes que talvez, com muita má vontade, pudessem ser considerados cafajestes, e faz sua aquela canção da Lílian: “Eu sou rebelde porque o mundo quis assim”. É ruim porque você não esquece de ter passado anos na universidade atrás de uma bunda — e ah, que bunda — que dizia que não daria para você porque você era safado, mentira vil e soez, mas ela dizia isso com convicção e certeza infundadas, e sabe você o mal que essas calúnias faziam à sua reputação na universidade, que já não era das melhores.

Tudo isso acontece enquanto você sabe que tem uma alma sensível e doce, que o gosto atávico por putaria e safadeza não faz de você menos humano e sensível, muito menos cafajeste. Você sabe como é bom ver o pôr do sol atrás das montanhas e o nascer do sol na praia, se enternece ao ver a lua emergindo amarela do mar, Iemanjá se desnudando diante de seus filhos. É essa discrepância entre o que percebem em você e o que você sente que entristece a sua alma.

E então você se aquieta, encontra uma mulher que ama e deixa de se preocupar com a imagem que o mundo faz de você, porque agora não passa os dias e as noites atento a oportunidades escondidas por um sutiã malcriado ou um jeans apertado, e se não pode deixar de olhar para peitos e bundas na rua não é como se olhasse para alvos em potencial, mas sim porque anos e anos de prática lhe deram uma capacidade formidável de avaliação e compreensão, além de uma acurada compreensão estética, visual e tátil, habilidade que não pode ser desperdiçada e que para seu orgulho deveria ser passada de geração a geração.

É justamente aí, quando você parecia ter superado todas essas injustiças, quando você finalmente tinha se erguido acima das gentes, que vem o desgraçado do Sergio Leo e esculhamba você.

E então você fica numa dúvida atroz que lhe consome os dias e atormenta as noites, porque não sabe se agradece ao sujeito por perceber que afinal de contas você tem uma alma feminina e sensível, como sempre tentou mostrar sem sucesso às pessoas, ou se manda o filho da puta tomar no olho do cu.

Republicado em 29 de setembro de 2010

De comentários e de desejos sexuais

O João Neto é um caso clássico de alucinado. Lê este blog há alguns anos, mandou muitos e-mails que não foram respondidos e então descobriu que, a depender do conteúdo, seus comentários aqui seriam liberados.

Foi como abrir uma porteira. O João Neto está sempre aqui, comentando. É o tipo de gente que lê um blog apenas para reclamar ou xingar, que transfere para o blogueiro uma eventual relação mal-resolvida com o pai. O João Neto é um fã ao avesso.

Não importa que este blog aqui ande muito meia bomba: ele sempre está por aqui. De vez em quando alguns dos seus comentários são liberados, outras vezes são relegados ao nada.

Mas o último comentário do sujeito merece um post (e eu tenho a impressão de que finalmente atendi a um antigo sonho do sujeito) :

Dois pontos:

1)A classe média de qualquer cidade, estado ou páis é a pior coisa que existe em quaisquer quesitos, então não fique irritado com Sào Paulo.
2) São Paulo é uma cidade maravilhosa e ninguém, de nenhum outro estado do Brasil, tem sequer condição de dar opinião, quanto mais falar mal. A única cidade que importa no Brasil é São Paulo o resto é resto. Fique nesta sua cidade porcaria, com sua qualidade de vida bucólica e não venha aqui. Pare de criticar quem é melhor que vocês em tudo. Aquela estória: “Se o baiano gosta tanta da Bahia, porque não fica lá?”, vale pra você também!

É curioso como em poucas linhas o João Neto consegue falar tanta coisa: “a única cidade que importa no Brasil”, “sua cidade porcaria”, “não venha aqui”, “melhor que vocês em tudo”.

O João é burro mas não sabe, ou se recusa a admitir. E sem querer, justificou para sempre a minha política de moderação de comentários.

***

Outro comentário que chama a atenção é o do Cayo:

Descubri seu site buscando informações na Net sobre a nova reforma ortográfica, e tenho de confessar uma coisa que não tem nada a ver com o assunto: a foto nela estampada é de deixar qualquer podólatra (como eu) louco. Só para constar…

É extremamente agradável saber que meus membros inferiores fazem o mesmo sucesso que os superiores. Ou melhor, seria. Porque a foto daí de cima não é minha: foi arranjada às pressas nas internet. Veio bem a calhar porque meus pés são feios que doem, e só servem para andar, dar topada, chutar gato e doer no fim do dia.

Mas como seria bom ser um símbolo sexual para alguém. Me sinto como a mulher feia que, diante de um elogio educado ouvido de um desconhecido cortês na rua, fica horas no espelho admirando a sua beleza recém-descoberta, percebendo-se finalmente uma Ana Hickman. Elogios: quanto mais imerecidos, mais agradáveis.

Por isso é com pesar que me vejo forçado a abdicar dos meus sonhos de símbolo sexual de pé, e a dizer ao Cayo que não, que os pés que tanto chamaram a sua atenção não são os meus, que os delírios eróticos devem ser direcionados a um sujeito desconhecido. E digo isso com tristeza e com pesar; colocando um véu sobre o espelho, porque sei que ele nunca mais vai dizer que eu sou bonito como a Ana Hickman.

Sumpaulo

Foi basicamente o seguinte: chegar a Sumpaulo na segunda pela manhã, embarcar para o Rio na terça às sete horas e voltar a Sumpaulo ao meio-dia para uma maratona que só terminou na sexta. Tudo isso acordando às três, cinco horas da manhã — para um sujeito que só consegue dormir tarde, esses horários significam uma variante mais terrível de tortura chinesa. Junte a isso uma série de compromissos pequenos, e o que se tem é um sujeito cansado, que chegava à noite ao hotel e não tinha ânimo para muita coisa, ainda por cima com um pequeno problema no ouvido causado pelo excesos de vôos turbulentos em pouco tempo.

Só para constar, foi uma viagem cansativa e pouco proveitosa na perna paulistana; triste ao ver que o negócio publicitário está virando uma idiotice burra cega e autofágica, e que eventos que já foram importantes se tornam a cada dia caça-níqueis estúpidos; irritante ao constatar mais uma vez a grosseria antipática dos paulistanos de classe média e a delicadeza do povão, numa generalização que, claro, admite uma infinidade de exceções; mas que valeu a pena por umas poucas horinhas em que levaram um paraíba em Sumpaulo, com a namorada e um amigo, para um restaurante nordestino.

Foi bom matar a saudade do Doni, conhecer o Hermenauta e a Lu, o Ina, a Olívia e o Roger, o Branco Leone e a dona Leone, o Ratapulgo — que me lembra alguém que conheço, mas não consigo lembrar quem, exatamente.

Para um sujeito cansado, funcionando a meio vapor, ficam alguns detalhes bobos, simples. Como a suavidade e a tranqüilidade da voz do Hermê, a beleza e a delicadeza das mãos do Ina (instintivamente recolhidas diante da constatação; o Ina é tímido). Ou a genial camiseta azul da Olívia (Era What would Phillip Marlowe do?, se não me engano?).

E ficam também as desculpas, por ter aproveitado tão pouco, por ter conversado tão pouco mesmo sabendo que poderia aproveitar muito mais. Sumpaulo é uma cidade ingrata, principalmente para quem está de passagem com uma série de compromissos e saiu de uma cidade que foi eleita recentemente pelo Ministério da Saúde a capital brasileira que oferece melhor qualidade de vida aos seus moradores. Mas então a gente fica lembrando que logo no primeiro dia encontrou um monte de gente que fez a viagem valer a pena.

Blogoseira em chamas — ou quase

Discussão curiosa, essa que está se espalhando na blogoseira a respeito do que chamam de monetização (eu chamo de descolar um troco) dos blogs.

É uma espécie de guerra verbal entre militantes de duas visões diferentes de blogoseira. Um lado vê a bichinha como uma oportunidade de ganhar dinheiro, uma espécie de nova fronteira; outro vê a dita como uma grande plataforma de comunicação social, também uma espécie de nova fronteira. É essa diferença de visões que gera a discussão.

Mas essa discussão já está cansando. Porque não tem solução, até porque não há realmente um problema. Principalmente porque estão partindo de um pressuposto errado.

O principal equívoco nessa discussão é o fato que os dois lados estão tentando definir o que deve ser a blogoseira, a partir de suas próprias visões de mundo. E isso é impossível: blogs, afinal de contas, não passam muito de uma ferramenta, e o que faz a diferença é a maneira como ele é utilizado. Isso quer dizer que tantos tipos de blogs e abordagens existem quanto existem pessoas diferentes neste mundo. Esse é um universo amplo demais. E que evolui a despeito das visões das pessoas envolvidas.

Ou seja, independente das vontades individuais ou mesmo de grupos, a blgooseira vai fatalmente comportar todas essas manifestações. Vai haver espaço para condomínios idealistas como o Verbeat ou o Insanus, e para empresas como o Interney.

Não há nada mais válido e justo do que alguém querer viver do que escreve em um blog. Nem tampouco de alguém que quer — e aqui eu parto descaradamente para a auto-defesa — usar a internet para falar as bobagens que bem entender, brigar com pseudo-feministas e quetais. Ou para quem quer simplesmente comer uma moça bonitinha e gostosinha e com bom remelexo, porque blogs para comer mulher são sempre uma boa alternativa, é só fazer uns textinhos bonitinhos beirando a pieguice, dizer que é gente boa, que respeita o sexo feminino — essas coisas que nego diz na cara de pau por causa da danada da testosterona.

E há espaço para todas essas manifestações. A questão é que a escolha quem faz é o leitor. Por tudo isso, a discussão é boba e desnecessária. Cada um faça o seu, como quiser. É tão simples.

(Obviamente, quem me vê falando assim acha que eu não gostaria de ganhar dinheiro com o meu blog. Equívoco, dos grandes. É claro que eu gostaria. Eu gostaria de acordar todo dia no começo da tarde, sentar diante do computador, escrever duas ou três bobagens, e depois ter a noite e a madrugada livres sabendo que no fim do mês teria dinheiro suficiente para as minhas garrafas de Jack Daniel’s. Mas também gostaria de ganhar dinheiro como gigolô de velhinhas carentes, mesmo gordo demais para isso; comer velhinhas carentes não deve contar como luxúria, não deve ser pecado sequer venial. No fim das contas, eu gostaria de ganhar dinheiro de qualquer jeito, velho avarento que sou, Gobseck da caatinga. Eu gostaria de tantas coisas.)

As vozes da taba

No caderno Eu&Fim de Semana do Valor de sexta-feira passada, Wanderley Guilherme dos Santos escreveu tudo o que eu queria dizer sobre eleições americanas mas não tinha tido saco.

Num artigo intitulado “Nem Obama nem Hillary. Não sou americano”, Wanderley resume bem a situação. Faz notar o seu espanto diante da extensão do envolvimento do que chama a intelectualidade nacional com a campanha eleitoral americana. E nota um equívoco primário na expectativa de que “a vitória de um ou de outra trará modificações de espetaculares conseqüências para o resto do mundo e, portanto, para o Brasil”. Wanderley aponta para o que chama de sunken costs para lembrar que as mudanças, se vierem, serão gradativas, não importa quem ganhe. Porque os Estados Unidos são muito maiores que seus presidentes.

O artigo de Wanderley me lembrou que essa situação é a exatamente a mesma na blogosfera. A discussão das eleições americanas é talvez o principal tema nos blogs brasileiros atualmente. E nisso o equívoco é ainda maior. Porque enquanto Hillary e Obama jogam seu xadrez político, no Brasil começam a se definir os cenários das eleições em milhares de municípios.

Goste-se ou não, reclame-se ou não da falta de glamour nas eleições em João Pessoa ou Chapecó — nem de longe comparáveis à briga pela eleição do grande imperador ociental –, elas são de importância fundamental para o país. Em outubro se definirá uma parte significativa da configuração política nacional para os próximos anos. Muitos dos candidatos a prefeito ou vereador serão candidatos à Câmara ou ao Senado Federal em 2010. É essa configuração que definirá a correlação de forças naquelas eleições, é ela que vai influir pesadamente na política de alianças de todos os partidos nos próximos dois anos; e se não fosse por isso, é daí que vão sair os pedidos de verbas, quando menos. Eleições municipais são o varejo da política, digamos assim; mas o mundo não vive de atacadistas.

Do ponto de vista interno, essas eleições municipais são muito mais importantes do que a eleição de Clinton ou Obama, até mesmo que a eleição de McCain. É essa política de varejo que cria a política nacional. É ali, nos municípios, que em última análise se definem os avanços e os retrocessos deste país.

À grande mídia nacional, claro, isso importa pouco. Centra-se fogo nas eleições das duas maiores cidades do país, às vezes incluindo Salvador e Belo Horizonte, e sem contar Brasília. E só. Enquanto isso, dezenas de outras capitais, e milhares de pequenas cidades e redutos eleitorais de políticos nacionalmente importantes, simplesmente não existem.

É esse vácuo que a blogoseira poderia aproveitar. Ao se debruçar sobre o seu universo local poderia fazer diferença, oferecendo ao mundo uma perspectiva que, normalmente, apenas jornais locais oferecem. Mas esses jornais locais têm limites de circulação, coisa que um blog não tem. A partir de pequenos pedaços, a blogoseira poderia enriquecer o debate nacional e a cultura política do país.

No entanto, de modo geral parece perder tempo se limitando a reproduzir ou, no máximo, interpretar o que a mídia — e por mídia entenda-se também os grandes blogs — diz. Desempenha apenas o seu papel de caixa de ressonância. Um papel legítimo, nada desprezível — mas muito inferior ao que poderia exercer.

Talvez isso reflita uma certa alienação da tal “intelectualidade” tupi, que se contenta em refletir o mesmo comportamento antigo, e que diante de um meio novo e cheio de possibilidades, o utiliza apenas para repetir as mesmas coisas. Os índios da taba continuam repetindo o que ouvem o branco falar.