A nova esquerda brasileira

No país inteiro o PSOL optou por sair sozinho.

Em Aracaju ele continua sendo aquela coisa maluca que já deu Avilete Cruz ao mundo, e agora tem a velha e boa Meire repetindo bordões cansados, encarando uma eleição municipal como se fosse congresso de sociólogos e apresentando como vice algum estudante que parece pensar estar em um sarau universitário.

Em Salvador o PSOL prefere amargar o traço nas pesquisas em vez de apoiar a Alice Portugal — não que isso pudesse barrar o passeio absolutamente compreensível de ACM Neto. Em Recife a situação é parecida. A estratégia parece só estar dando certo em Belém e Porto Alegre.

No Rio, o Freixo recusou a união das forças de esquerda já no primeiro turno. Sua sorte é que Jandira e Pedro Paulo têm um número até significativo de votos para forçar um segundo turno; não fosse isso Freixo ia para o saco ainda mais rápido, numa eleição que é do Crivella — o que, por sua vez, é algo mais grave e com piores consequências do que as pessoas parecem se dar conta.

Mas em São Paulo a coisa é mais grave. O candidato natural era o Haddad. Ao dividir o campo, Erundina e o PSOL abriram caminho para o crescimento da Marta. Direito deles, claro, e é compreensível que vejam num momento surreal como o atual a chance de se afirmar como uma nova opção. Mas o resultado pode ser esse que está se desenhando: vai entregar Sumpaulo para o Dória. Ou para a Marta, na melhor das hipóteses.

O PSOL está reprisando, com 30 anos de atraso, a mesma estratégia que deu certo para o PT nos anos 80, se distanciando “do que está aí”. Mas eles são incapazes de uma leitura sensata da realidade. Os anos 10 não são os anos 80. A redemocratização é um momento diferente do pós-derrocada do PT. O PSOL, que em algum momento até guardou uma promessa de futuro, acaba sendo uma versão estereotipada e empobrecida do PT de outros tempos, sem a base sólida que os movimentos populares emprestavam ao PT.

E isso é o mais triste. De certa forma, e em alguns aspectos, o PT representou um avanço em relação aos partidos comunistas; o PSOL é apenas um retrocesso. (PSTU e PCO não devem ser levados em conta porque já completaram a transferência para uma dimensão alternativa, e a Rede — bem, a Rede tem Marina Silva; que o pano da decência caia sobre esse cenário.)

Numa das primeiras manifestações contra o impeachment em Aracaju, os batuqueiros do Levante da Juventude desfraldaram um imenso painel pedindo “assembleia constituinte já”. Parecem não ter ideia do descalabro que seria uma constituição produzida hoje. Deu vontade de dizer: “guardem essa miséria e vão pra casa estudar, meninos”.

E essa é a nova esquerda brasileira. Uma esquerda pueril, atrasada, desconectada da realidade e com problemas sérios de compreensão de conjunturas, que parece definir seus programas através de temas e likes de Facebook. Acima de tudo, profundamente ignorante e aferrada aos seus bordões fáceis. De vez em quando acho que eles poderiam ler o capítulo 9 de “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”. Mas nessa nova e natimorta esquerda, se ainda há uma sombra de debate acadêmico sobre Marx, falta uma releitura de Lênin — muito mais importante hoje, na minha opinião. Não por acaso o sujeito que disse que a prática sem a teoria é cega, e a teoria sem a prática é estéril.