Mais drops de anis e comentários sobre o Oscar

Assim como o Inagaki, eu adoro Frank Capra. Divergimos apenas em termos de filmes preferidos: o Ina prefere Mr. Smith Goes to Washington, eu prefiro You Can’t Take it With You.

Sobre o título em português de Mr. Smith, eu falo amanhã.

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Peter Bogdanovich (além do fato de ter sido casado com a minha musa de adolescência, Cybill Shepherd) daria um excelente professor de cinema. Em qualquer universidade do mundo.

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Concordo que Bronson está bem em “Era Uma vez no Oeste”. Mas eu não consigo deixar de achar que aquele papel pertencia, desde o início dos tempos, a Clint Eastwood. O interessante é que, segundo a lenda, Leone pensou em colocar Eastwood entre os pistoleiros que morrem logo no início do filme. Seria uma idéia genial.

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Mas discordo do Bia quanto a essa história de filme adiante do seu tempo. Não acho que “2001” estivesse à frente; pelo contrário. Estava mais que inserido em seu momento histórico, as vésperas da descida do homem na lua. É isso que faz um grande filme, captar o subconsciente coletivo de sua época. E cá para nós, em vários aspectos é um filme extremamete reacionário.

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“Matrix” foi uma inovaçao visual, sim. Mas, comparativamente, “O Exterminador do Futuro II” foi uma inovaçao maior ainda. Estava vendo Paycheck ou outro desses filmes, e percebi uma coisa: em pouco tempo mal se vai conseguir distinguir um filme de um desenho animado, pela onipresença de CGI em todos os filmes.

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Não, De Palma não inova.

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Não li “Laranja Mecânica”. De Burgess só li “Enderby por Dentro”, um livro que começa maravilhosamente e termina de maneira tediosa.

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“A Última Sessão de Cinema” não é sentimental. Pelo contrário. É um filme triste, amargo, cínico.

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Star Wars é um dos roteiros mais bobos que conheço. Com exceção de Alec Guiness, é um bando de atores de segunda brincando com sabres fálicos de luz. mas é um dos filmes mais importantes da história. Foi um dos que redefiniram a indústria cinematográfica.

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“A.I.” é um filme esquisito, não é? Eu não consigo ter certeza sobre ele. Tenho a sensação de que, se não fosse o final idiota e se fosse um pouco mais curto, ele poderia ser um belo filme.

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Não assisti a Hotel Rwanda ou Kinsey, mas teria votado em Portman para atriz coadjuvante.

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Se eu fosse mulher eu dava para o Pierce Brosnan.

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Teria votado em Million Dollar Baby para roteiro adaptado. O trabalho foi maior, e o resultado muito melhor.

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Um dia ainda entendo por que sou tão absolutamente fascinado por Al Pacino.

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Nossinhora, como morreu gente ano passado.

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Hillary Swank tem dois Oscars de melhor atriz. Quem diria. Eu apostava que ela ia ganhar um Oscar e sumir.

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Downfall, pela cena que apareceu, parece ser muito interessante.

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Dois negros ganhando o Oscar de ator e ator coadjuvante. Isso é bom. Mas Morgan Freeman continua sendo sacaneado.

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A melhor coisa do Oscar ainda são as expressões dos perdedores.

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Parir fez muito bem a Julia Roberts.

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Eu teria dado o Oscar de melhor diretor a Martin Scorsese.

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A elegância de Morgan Freeman é uma coisa absurda.

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O José Wilker acha que Million Dollar Baby é um amontoado de clichês bem dirigido. Nao acho que seja só isso. Acho que é um determinado grupo de clichês até certo ponto, e depois muda para outro amontoado. É a junção dos dois que faz o filme excelente.

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Chris Rock é um bosta.

Dia da Árvore

Há um anúncio, escrito pelo Roberto Duailibi nos anos 60, quando era apenas redator da Standard (hoje Ogilvy), que deveria ser lido por todo estudante de publicidade. Por tudo o que hoje, com raras e excelentes exceções, falta na publicidade brasileira.

Esqueça o tom alarmista típico de ecologistas alucinados, ou que as previsões não se concretizaram. Preste atenção ao ritmo, ao encadeamento de idéias, a pequenos detalhes que fazem deste anúncio um dos melhores da história da propaganda brasileira.

Em tempos em que 11 em cada 10 anúncios são compostos de títulos engraçadinhos com duas linhas de texto, e em que a Petrobras coloca no ar um dos comerciais mais ridículos que já vi — a do cartão Petrobras –, é uma boa lembrar desses tempos heróicos.

Hoje é um dia triste.
É o Dia da Árvore.

Como nos anos anteriores, comemora-se hoje mais um Dia da Árvore.

Como nos anos anteriores, as crianças plantam mais uma arvorezinha no pátio da escola e recitam poesias para as professoras.

Como nos anos anteriores, mais de 500 árvores estão sendo derrubadas em todo o Brasil — apenas nos 2 minutos em que você lê este anúncio.

Assim.

Sem controle algum.

Sem que ninguém se preocupe em replantá-las.

É por isso que desde 1962 não se encontra nenhuma árvore produtora de madeira mole em todo o Estado de São Paulo.

É por isso que dentro de 10 anos o Brasil será obrigado a importar também madeira mole se o reflorestamento não for iniciado imediatamente.

E é por isso que nosso clima já não é o mesmo. Os verões estão muito mais quentes. Os invernos mais curtos. As chuvas já não irrigam: destroem.

Estão transformando o Brasil num enorme deserto.

É bom que você fique alerta.

Cada árvore derrubada deve ser substituída por três árvores plantadas.

Cada área de floresta deve ser preservada, tratada, conservada.

Madeira é riqueza. É indústria. É economia.

Madeira é matéria-prima para fazer a cadeira em que você senta. A casa em que você mora. Os remédios que curam seu filho.

O Governo Brasileiro está oferecendo todas as vantagens para quem investir em reflorestamento: desde dedução de tributos fiscais até prioridade de crédito.

Mesmo assim continuam derrubando árvores.

Derrubando. Derrubando. Derrubando.

E nunca plantando.

Por isso o Dia da Árvore é um dia triste.

Ele nos faz lembrar o grande deserto que será o Brasil dentro de poucos anos se uma atitude drástica não for tomada agora.

O que você deve fazer:

Avise seu amigo empresário ou fazendeiro das vantagens oferecidas pelo Governo para os investimentos em florestas e reflorestamentos.

Faça-o anotar estes endereços:

Informações: “Operação Reflorestamento” — Av. Brig. Luís Antônio, 554, 8o andar. S.P. Ministério da Agricultura — IBDF dependências locais.

Distribuição de mudas: Serviço Florestal do Estado: Departamentos na Capital e no Interior.

Plante você mesmo uma árvore onde puder.

Se todo brasileiro fizer isso, teremos mais de 80 milhões de árvores no Brasil.

O estranho caso do professor Idelber e do doutor Avelar

O chat em que o Alexandre deu uma entrevista ao Blogólogo continua rendendo confusões. O Idelber fez a denúncia: alguém chamado Menard ocupou seu espaço e fez o possível para avacalhar a entrevista.

Nós devíamos ter percebido. O sujeito, além de usar palavras de baixo calão, não podia ver um rabo de saia entrando que atacava. Enquanto isso, o Idelber estava preparando um paper para uma palestra.

A polícia mineira identificou o IP do sujeito e o prendeu. O mais chocante é que foi o mesmo que ocupou o blog do Idelber se dizendo aluno dele. É uma confusão só, que até agora não conseguimos entender. Tivemos acesso aos registros do interrogatório, mas não nos ajudou em nada.

Qual o seu nome?
Joaquín Daneri Menard.

De onde o senhor conhece o professor Idelber?
Não o conheço. Acompanho sua atividade incendiária e irresponsável por livros, jornais e agora esse blog.

Por que irresponsável?
Dedica-se a atacar irresponsavelmente instituições da nossa cultura como a Revista Veja, o deputado Aldo Rebelo e a Federação Mineira de Futebol.

Mas a Federação Mineira de Futebol é uma instituição inatacável. O senhor é ligado a ela?
Não, com a exceção de três primos, dois cunhados, irmã e mulher empregados lá, eu não sou ligado a ela, não.

Então o senhor é mineiro. O senhor diz que nunca teve nenhuma relação com o sr. Avelar. Mas circulam boatos de que na verdade a sua mulher o conhece.
É calúnia. O sr. Idelber é um reconhecido Don Juan, mas não teve nada com a minha mulher.

O senhor Idelber é um acadêmico de reputação inatacável, até mesmo no Carnaval de New Orleans. Segundo os logs do referido chat, foi o senhor que teve um ataque de priapismo.
Se o Sr. Idelber é inatacável, por que sempre há alguém atacando-o, até mesmo na sua própria caixa de comentários? Eu jamais clonei comentaristas de blog. Seria muita humilhação.

Voltando à sua esposa. O senhor diz que o professor Idelber é um Don Juan mas continua negando que sua esposa o conhece. No entanto, temos aqui fotos que provam que em pelo menos uma ocasião os dois se encontraram. O senhor continua negando que sua motivação é o ciúme?
Eu e minha mulher temos longa relação. Foi um deslize da parte dela, já conversado e perdoado. Desse renovado vínculo com minha esposa cresceu meu desprezo por intelectuais donjuaneiros como o sr. Idelber.

Foi bom para ela também?
Acho que sim. Ela animou-se inclusive a voltar para o supletivo.

O senhor falou da sua relação com sua esposa. Mas não é verdade que o senhor atacou sem dó duas mulheres no referido chat?
Eu estava meramente demostrando quais são os métodos desse crápula: puxa conversa, diz que mora nos EUA, pergunta de onde é a garota, fala que passa bom tempo todo ano no Brasil e invariavelmente diz que chega pela cidade da felizarda, mesmo que seja Mossoró ou Uruguaiana.

Qual a sua idade?
33 anos.

O senhor nega que deu descaradamente em cima de uma senhora de 59 anos?
Não, não nego. Mas ela apreciou minha delicadeza e gentileza genuínas, diferentes do donjuanismo barato do sedutor que eu clonava.

O senhor nega que trocaram fotos?
Eu enviei fotos do crápula, porque a sra. disse que gostava de barba e cabelos lisos. Mas a sra. disse que as fotos jamais chegaram. Ela não retribuiu. Será ela também uma impostora?

Quer dizer que o senhor nao sabe se ela dava um caldo, correto? E foi por isso que o senhor caiu matando de maneira canalha em uma pobre mulher solitária de 42 anos?
Eu a utilizei para demostrar quantas vítimas o sr. Idelber já fez nas suas donjuanescas andanças.

O senhor “a utilizou”? O senhor sempre se refere dessa forma a seres humanos solitários?
Eu sou um ser humano criado em solidão profunda. Minhas únicas companhias eram He-Man, Asterix e o Flamengo.

O senhor é flamenguista? Isso o torna um pouco melhor, porque o professor Idelber é atleticano.
Sim, sou flamenguista. Os atleticanos morrem de despeito porque lhes roubamos o campeonato brasileiro de 1980 com José de Assis Aragão e a Libertadores de 1981 com o grande estadista José Roberto Wright.

Nós não roubamos nada. Temos culpa de ter um time com Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior, Andrade, Adílio e Zico, Tita, Nunes e Lico?
O deles era superior: Reinaldo, Cerezzo, Éder, Chicão, Luizinho, Palhinha, Nelinho. Todas as vezes que se jogou em campo neutro com juiz isento eles ganharam

Vamos deixar o futebol de lado. O senhor falou que era um solitário. Foi quando desenvolveu uma fixação no professor Idelber?
Sim. Sujeito metido a besta, vive cercado de gente e ti-ti-ti. É aquela pior espécie, o intelectual feliz.

O senhor continua negando que o conhece?
Sim.

Por que o senhor Idelber? Há outros blogueiros por aí.
Porque o sr. Idelber é particularmente nocivo, porque traz a irresponsabilidade própria dos blogueiros para dentro dos muros da sacrosanta universidade.

O senhor tambem é acadêmico?
Comecei um curso sequencial e abandonei, depois de ser condenado a ter aulas de história com uma lésbica.

Qual o nome da sua professora?
Rodinete.

Por causa dela o senhor desenvolveu o comportamento criminoso de falsidade ideológica em chats lésbicos?
São umas depravadas. Além de inverter a sexualidade normal, sistematicamente ficam dando pistas falsas de que gostam de homens. As lésbicas inventaram a clonagem e a falsificação de identidades.

O sehor sabia que a senhora Rodinete Santana Travassos tem 42 anos e freqüenta chats de lésbicas?
Não, não sabia.

O senhor sabia que ela atua nesses chats sob a alcunha de solitaria 4.2?
Não, não conheço as atividades da sra. Rodinete fora da sala de aula.

O senhor nega então que, no chat do dia 24 de fevereiro de 2005, quando o senhor avacalhou a entrevista do senhor Alexandre Cruz Almeida, o senhor utilizou a identidade do professor Idelber para saciar a sua tara inconfessável pela senhora Rodinete Santana Travassos, vulgo solitaria 4.2?
Sim, nego. Eu não tenho tara por lésbicas, acredito que o que estava presente ali não era o senhor Alexandre Cruz Almeida e só quis demonstrar as práticas nefastas do sr. Idelber nas suas donjuanagens.

O senhor agora insiste que o entrevistado era também outro impostor?
O senhor presente no chat não tinha nada em comum com Alexandre Cruz Almeida. Falou inclusive de uma estranha bolsa de estudos que, como sabem os blogólogos que lêem diariamente o seu blog, na realidade não existe.

As donjuanagens do Sr. Idelber, então, dizem respeito basicamente a lésbicas?
O sr. idelber é um depravado que não escolhe suas vítimas segundo preferência sexual, raça, cor, credo ou filiação partidária. Só não aceita torcedoras do Flamengo.

A leitura dos logs mostra que havia um senhor bêbado que passou o tempo orientando todos os presentes a darem um uso estranho à sua parte posterior, identificando-se apenas como Biajoni. Era um impostor também?
Tudo indica que sim. Aquele senhor tinha um estranho padrão de uso de maiúsculas e corrupção das palavras. E uma verdadeira obsessão com sexo anal

O senhor está insinuando que o senhor Biajoni, o impostor que se fez passar por ele, tem tendências homoeróticas?
Sem dúvida. Quem mais ia ficar pedindo sexo anal num chat de blogueiros? Quem chegaria a esse estágio de desespero? (gente, tá ficando bom demais)

O senhor acha que conseguiu seu intento de difamar o professor Idelber? Ele chegou a falar com o senhor depois de tamanha difamação?
Não falou não. E acho que no fundo o intento foi fracassado porque, pelo que me contaram, o Sr. Idelber criou um falsário completamente fictício em seu blog, que não tinha nada a ver comigo. Fez palhaçadas copiando a identidade de seu copiador, e dizem as más linguas que ele até anda por aí inventando falsas entrevistas!

Depois de ler o interrogatório, algo não bate. Ele se diz flamenguista, mas só alucinados atleticanos fora de seu juízo perfeito acham que o time campeão do mundo do Flamengo roubou aqueles campeonatos. Não se conformam com a realidade. Estão no mesmo nível de torcedores do Sport, que acham que o Flamengo não foi campeão brasileiro em 1987 porque se recusou a referendar seu título jogando com um time da segunda divisão.

Algo muito estranho está acontecendo.

Drops de anis

O Ina perguntou qual o meu problema com “Aconteceu Naquela Noite”. Acho que todos. Dos filmes de Capra -– e eu sou um bobão fã do carcamano –- é o que eu menos gosto. Posso até estar sendo injusto, ele pode ser o protótipo de todos os road movies que vieram depois; mas é uma questão de gosto, mesmo.

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Eu não gosto muito de “O Grande Ditador”. Alguém já disse e eu concordo: um filme falado de Chaplin é como uma criança colocando versos na Quinta de Beethoven. É bem verdade que piorou depois; “Luzes da Ribalta” é ruim, “Um Rei em Nova York” é muito pior. Para mim, seu único grande filme falado é “Monsieur Verdoux”, provavelmente seu filme mais cruel. “O Grande Ditador” tem qualidades, sim — entre as quais não incluo o discurso final, em parte porque não agüento mais o pôster em que o transformaram –, mas não suficientes para fazer dele um filme como os melhores de Chaplin.

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Eu sou fã de “Anatomia de um Crime”. Mas ainda acho que “Ben-Hur” deveria ser o vencedor naquele. Provavelmente pelas mesmas razões pelas quais, mesmo preferindo “Menina de Ouro”, acho justo que “O Aviador” ganhe o Oscar esse ano — e tenho quase certeza de que vai ganhar. É mais “cinema”, e mais Hollywood.

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Não acho que “Cidadão Kane” não tenha vencido por estar adiante de seu tempo. Acho que não ganhou por duas razões: por não ser o estilo de filme que a Academia gosta, mas principalmente pela polêmica que gerou desde muito antes do seu lançamento. Irritar Hearst não valia a pena naqueles tempos. Quanto a Pulp Fiction, alguém ainda acha que haja filme à frente de nossa época?

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“Era Uma Vez no Oeste” foi o melhor filme de 1969. Cada vez que assisto a ele fico mais e mais impressionado com a genialidade de Sergio Leone. Só consigo ver um defeito no filme: Charles Bronson no lugar que pertence, por direito divino, a Clint Eastwood.

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Eu acho “Assim Caminha a Humanidade” interessante — principalmente por James Dean, que rouba todas as cenas em que aparece –, mas daí a ser o melhor filme do ano vai uma grande distância. Em certos momentos é episódico demais (o que era necessário: alguém já viu o tamanho do livro da Edna Ferber?), o final é muito abrupto, além de outros defeitos.

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“Moulin Rouge”: não que seja um mau filme. Eu gostei, achei legal, uma boa sacada. Ewan McGregor até canta Silly Love Songs, um dos melhores riffs de baixo de que me lembro. Mas não vi essa maravilha toda que muita gente, como não vejo essas coca-colas todas no Boaz Davidson.

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É, eu realmente prefiro “A Bela e a Fera” a “Silêncio dos Inocentes”. Nunca consegui sentir esse suspense todo no filme; não vi sequer essa maravilha de atuação da Jodie Foster. E “A Bela e a Fera”, por sua vez, é o melhor desenho que a Disney fez em décadas. Ela faria melhor depois, mas cá entre nós: um desenho animado concorrer a melhor filme é uma maravilha e a chance deveria ser aproveitada.

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Eu gosto muito de “Assassinos por Natureza”. Mas jamais o indicaria a um Oscar.

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Deer Hunter foi desprezivelmente traduzido em português por “O Franco-Atirador”.

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E eu gosto mais de “A Última Sessão de Cinema” do que “Laranja Mecânica”. Mas pode ser injustiça. Vi o filme do Kubrick há quase 20 anos, quando lançaram em vídeo, havia toda aquela polêmica em torno de seu censura no Brasil, e achei superestimado. É bem provável que eu não tenha entendido o filme na época, mas é essa impressão que carrego até hoje.

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Não acho que “Amnésia” tenha absolutamente nada a ver com Pulp Fiction. Este é alinear, enquanto “Amnésia” é totalmente linear. Seu ovo de Colombo é o fato de contado de trás para a frente. E sua garantia de excelência é o fato de funcionar brilhantemente se visto em ordem cronológica.

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Me passei quando disse que “O Sexto Sentido” ocupa mais espaço no imaginário popular. O Ismael tem toda a razão, é “Matrix”. E assim como ele, eu também acho uma grande bobagem aquele amontoado de filosofia em bar de nerd.

Os novos tumbeiros

Depois da Revolução Francesa, traficantes gauleses de escravos rebatizaram seus navios negreiros de Liberté, Egalité e Fraternité. Se isso parece hipócrita, talvez não tenha sido na época: é bem provável que eles acreditassem tanto nos ideais da revolução quanto no seu direito de comprar e vender gente.

Há algo parecido com os ultra-liberais brasileiros. Advogam causas tão utópicas como o velho e bom comunismo, com a diferença de aceitarem tacitamente a crueldade inerente ao liberalismo, onde teoricamente os mais “adaptados” sobrevivem muito bem e a maioria pasta no arroz e feijão; e isso no liberalismo ideal, porque a prática tem se mostrado contrária. A repetição da mesma ladainha do Estado mínimo, em que até sua função reguladora é minimizada em função da ordem divina do mercado, não costuma passar disso.

Até onde sei, o modelo liberal advogado por eles é inspirado pelos Estados Unidos. O curioso é que esses mesmos EUA são um país reformulado por uma das maiores intervenções estatais específicas na economia de um país fora do bloco socialista, o New Deal. O Estado teve que salvar o país dos exageros do tal mercado — como acontece sempre, em todo lugar.

Podem dizer, claro, que a questão do pensamento liberal é definir um ideal. Mas isso também vale para o comunismo, até mesmo para o anarquismo. Aí podem dizer que a experiência real do comunismo foi trágica. Verdade. Mas a experiência real do capitalismo também tem sido trágica. Outra pausa para dizerem que os lugares onde as coisas estão mal não praticam o bom liberalismo, e isso me lembra os comunistas dizendo que a experiência comunista não era comunista de verdade.

A aplicação prática das teorias liberais são sempre um mero detalhe. Eu também fico imaginando o que farei quando ganhar sozinho na Mega Sena acumulada. O detalhe de eu nunca ter jogado é só isso, só um detalhe.

No fundo, tudo isso é muito velho, a mesma velha postura da elite brasileira, que começa a se coçar quando imagina que o seu dinheiro, aquele que o Estado lhes consegue tomar depois de tantas isenções e outros subterfúgios, vai servir para algo mais que garantir as condições necessárias para o seu próprio crescimento. O Estado brasileiro nunca foi pródigo em relação ao seu povo. Nunca deu nada, ou quase nada — as tentativas mais consistentes até agora, as medidas getulistas, sempre estiveram sob fogo cerrado. Sob certo ângulo, as posturas neo-liberais de nossas elites são exatamente as mesmas daqueles que lutaram encarniçadamente para manter a escravidão. Mudaram apenas os tempos.

E talvez esse seja o efeito mais pernicioso da hecatombe socialista de 15 anos atrás. Uma sociedade inteira voltando a acreditar que a desigualdade social é não só natural, mas desejável. Antigamente era a vontade de Deus. Hoje é a mão invisível do mercado.

Oscars

A sessão de masturbação coletiva de toda uma indústria conhecida como Oscar vem aí. Faz tempo que não assisto, desde o vexame da Miramax em 2000, mas obviamente já tenho o meu favorito para melhor filme: “Menina de Ouro”.

Aí me veio a sensação de que minhas preferências raramente são as mesmas da Academia.

Resolvi então dar uma olhada nas listas dos indicados ao longo desses quase 80 anos, e fazer uma lista comparando vencedores e meus preferidos.

Eu estava certo: nossas opiniões raramente combinam. A culpa, claro, é deles. Um pessoal que escolhe “Como Era Verde o Meu Vale” em vez de “Cidadão Kane” não pode ter juízo. E quando elege “O Bom Pastor” em vez de “Pacto de Sangue” é porque fugiu do sanatório.

Utilizei alguns critérios para tornar a coisa mais simples. Só poderia escolher entre os indicados. O que quer dizer que não poderia votar, por exemplo, em “Tempos Modernos”, porque um dos dez melhores filmes da história simplesmente não foi indicado.

A lista segue abaixo, escondida porque é grande demais; e não é todo mundo que tem saco para ver uma bobagem dessas.

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Cena baiana III

Outubro de 1995.

Volto à agência esperando pegar o meu dinheiro e ir embora, depois de um freelance de um mês em que tudo deu absolutamente, completamente errado, e eu estava estafado e devendo a mim mesmo dezenas de horas de sono. Quem diz que baiano não trabalha não sabe o que é isso: chegar à agência às seis da manhã de domingo (vindo da farra, certo, mas ninguém tem nada com isso) e só sair de lá na sexta, às sete da noite, dormindo duas ou três horas por dia, como aconteceu em uma daquelas semanas.

Mas eles ainda têm uma provação para mim, que o meu lugar no céu só vai conseguido depois de muito sacrifício. Lomanto, prefeito de Jequié, quer que um redator vá até lá. Qualquer um. Não é nada grave, nada importante, mas ele quer, ué. E uma das funções de uma agência de propaganda é puxar o saco do cliente até ele gritar.

Eles têm urgência. Eu e o atendimento vamos para o Dois de Julho, pegar um táxi aéreo.

A gente entra em um Bandeirante. Eu nunca tinha andado em um avião tão pequeno, e acho estranho ter que andar abaixado, a proximidade do piloto, a caixa térmica fazendo as vezes de aeromoça.

O Bandeirante, que provavelmente tinha pertencido à FAB, liga os motores. Primeiro o da direita, e a hélice gira ao máximo. O avião treme como se tivesse visto alma penada, talvez o fantasma de Amelia Earhart. “Isso não vai dar certo”. Agora o da esquerda, a mesma tremedeira. “Esta porra vai cair”.

O avião levanta vôo, e no fim das contas é uma viagem até interessante. Ele voa baixo e eu aprendo o que é um avião de verdade. Nada daqueles Boeings cheio de traquitanas. Aquilo é leite pasteurizado.

Já estamos pousando em Jequié quando, sem aviso — sempre é sem aviso –, o avião embica para cima. Não lembrei de encomendar a alma a Deus naquele momento, não lembrei de nada além do proverbial puta que pariu. Mas entre os grandes orgulhos de minha vida está esse: eu não borrei as calças.

Fazemos a volta, repetimos os procedimentos de aterrissagem, e finalmente pousamos. É quando me explicam a razão do arremetimento repentino: havia crianças brincando na pista.

Quando saímos do avião o filho do prefeito está nos esperando. É ele quem explica melhor o que aconteceu.

Antigamente o zelador do “aeroporto” tinha uma bicicleta. Quando avistava um avião chegando, e via que crianças brincavam na pista, ele pegava a bicicleta, ia até lá e afugentava a criançada. Mas haviam roubado a bicicleta do zelador.

Só não me explicaram que o Bandeirante tem um problema de construção que faz o seu motor fundir fácil demais em casos de retomadas um pouco mais bruscas que aquela.

Em terra firme, ouvimos o prefeito, anotamos as modificações, fomos para o lançamento de um shopping e voltamos para Salvador à meia-noite.

De ônibus.

Três filmes

Há três filmes que sempre penso em colocar na minha lista de 100 melhores.

***

O Show de Truman” é um daqueles filmes cuja idéia central é absolutamente visionária, e não são muitos os que podem ostentar esse título. Pode ser visto como uma crítica ao poder da mídia, um elogio ao livre arbítrio, uma crônica do relacionamento do homem e seus deuses. Pode ser uma antevisão dos reality shows que têm infestado o mundo nos últimos cinco anos. Há subtextos suficientes para fazer dele uma obra suficientemente profunda, e sua realização é brilhantemente comedida. “O Show de Truman” poderia, sim, ser um dos melhores filmes da história.

Mas ele tem Jim Carrey.

Não que ele seja um mau ator — assisti de novo dia desses a “Cine Majestic” e, com exceção do seu discurso ufanista e piegas diante da comissão mccarthista, sua interpretação é decente. Mas se hoje ele ainda carrega aquele estigma de humorista careteiro, isso era ainda mais verdadeiro em 1998.

O resultado é que eu não consigo levar Truman a sério. Estou sempre esperando uma piada, uma careta — e em alguns momentos ele chega muito perto disso.

***

No Oscar 2000, eu torci por “Beleza Americana”. Eu estava errado.

Alguém consegue lembrar de uma frase sequer de “Beleza Americana”? Duvido. Eu, pelo menos, só consigo lembrar dos peitinhos da Mena Suvari — e dos peitões da Thora Birch. Mas “Sexto Sentido” nos deu uma das maiores frases da história do cinema, e você sabe qual é, e lembra exatamente da cena em que ela é dita, e lembra da expressão de quem a diz.

Nenhum filme nos últimos 10 anos conseguiu um lugar tão grande e sólido no imaginário popular.

Por outro lado, “Beleza Americana” não vai muito além de uma narrativa pretensiosamente glorificadora da vida nos suburbs americanos. Uma espécie de “Seinfeld” sem humor: um filme sobre o nada, que provavelmente seduziu a crítica americana por colocar um verniz europeu em toda aquela banalidade.

Mais: “Sexto Sentido” tem um dos mais bem escritos roteiros da história. É um filme redondo, um dos mais redondos que eu conheço. Nenhuma cena é dispensável. Sei de gente que diz ter percebido que o personagem de Bruce Willis estava morto; eu não. E depois do filme passei horas relembrando todas as pistas que Shyamalan vinha nos dando ao longo do filme, maravilhado com a grande peça que ele tinha me pregado. Revi o filme apenas procurando falhas, e com exceção de um reflexo de Bruce Willis numa maçaneta, não consegui achar nenhuma. É extremamente cuidadoso (certo, tem alguns erros de continuidade, mas esses não contam).

Talvez “Beleza Americana” fosse mais ambicioso que “Sexto Sentido”, mas certamente não chegou tão longe.

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O terceiro filme é “Amnésia“. É um filme revolucionário, uma história contada de trás para a frente com um brilhantismo absurdo. Há algo de genial quando você consegue contar uma história que faz tanto sentido, e é igualmente eficiente, de trás para frente e de frente para trás. “Amnésia” é um filme pioneiro e brilhante.

Mas eu não vi “Irreversível”.