Acabei de desistir de um livro de Peter Handke. Tentei, juro que tentei, e tenho orgulho da minha valentia, mas fui expulso na metade.
O livro tem um posfácio de algumas páginas em que uma mulher tece loas a ele. Discordo, porque defino Handke — ou pelo menos o livro em questão — em uma palavra: chato.
E além de chato falta verdade em suas alegorias, também. Percebo isso na miopia do título de um dos seus livros, que naturalmente jamais lerei: “A Angústia do Goleiro na Hora do Pênalti”.
Se Handke realmente soubesse das coisas entenderia que a verdadeira angústia não é a do goleiro, que afinal não tem a obrigação de defender um pênalti. A angústia é de quem cobra. Ele devia ter perguntado isso a Zico, em 1986, e a Roberto Baggio em 1994.
Mas talvez isso seja só implicância minha. Handke é alemão. Alemães não entendem de futebol.
Pena que tenhas desistido de ler Peter Handke. Realmente, o livro que desististe de ler é angustiante no verdadeiro termo da palavra. Mas recomendo-te que leias «A Hora da Sensação Verdadeira». Deixo-te um pouco do texto desse livro
«Vi-te hoje na cidade. Estavas diferente. Quando te encontrava das outras vezes eras sempre o mesmo no entanto eu via-te sempre de maneira diferente. Era bom! Mas hoje tu estavas mudado porque procuravas desesperadamente parecer-te com aquele que sempre escondes. No entanto, tu nao me consegues enganar. Nem sequer te podem passar o saleiro com medo que te tornes transparente. O que é que tu escondes? O que é que tu escondes? O que é que tu escondes?»