Eqüinoterapia

Como Figueiredo, prefiro o cheiro de cavalos a cheiro de povo.

Essa é, aliás, a única razão pela qual admiro o bronco. Gosto da honestidade canalha do sujeito. E nossa estética olfativa semelhante me faz pensar que aquele sujeito não era tão mau assim.

Já fui mordido, escoiceado, derrubado. Já caí sozinho, também, naquelas mostras de idiotice que fazem as pessoas rirem de você por anos. Já caí na conversa de cavalos manhosos que fazem o que querem quando percebem que você não tem pulso suficiente para mandar.

E também já fiz minhas maldades, já recorri com liberalidade a uma combinação cruel de esporas e bridão quando algum cavalo tentou me derrubar sem que eu considerasse a tentativa justa.

Entre tapas e beijos, a gente vai seguindo em frente.

É por isso que nunca consegui entender, de verdade, a sensação de pessoas que se deslumbram quando aceleram seus carros a 160, 180 quilômetros por hora. Porque não acho que isso possa se comparar a sensação de deixar o seu corpo acompanhar o movimento do cavalo em seu galope, em ter nas rédeas o seu único e frágil controle. Selas não têm cinto de segurança.

Um carro é só uma máquina. Anda se você acelera, pára se você freia. Mas sobre um cavalo há sempre um confronto de vontades, a sua e a dele. São dois seres vivos que querem coisas diferentes.

Se eu tivesse algum problema neurológico sério, além daqueles com os quais já convivo há tanto tempo e que disfarço na medida do possível, eu iria querer que me matriculassem num curso de eqüinoterapia. Aposto que eu seria feliz.

6 thoughts on “Eqüinoterapia

  1. acho cavalo o maximo.. só que nunca montei um!!! nunca tive coragem um cavalo manso e alguem com pacienncia , tudo simultaneo, pra me ajudar… e agora tenho 2 hernias de disco..hehehehe
    forget, só pra olhar mesmo..

  2. Vim aqui pelo link do Libertino e me encantei com seu blog. Muito bom mesmo. Essa comparação entre cavalos e carrões é de uma sensibilidade e lirismo impressionantes.

    Nunca montei, mas lembrei imediatamente do primeiro livro que li na vida: “Viagens de Gulliver”. Já leu? Na sua última viagem o protagonista descobre um povo eqüino muito mais civilizado que os humanos.

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