A estranha saga de uma carteira

Mal acordo, ainda zonzo da viagem, e a moça do banco me liga, dizendo que acharam minha carteira. Deve ter sido uma triangulação e tanto: ligaram para o Rio, onde deram o telefone daqui, e então me acharam.

À tarde fui no banco. Peguei a carteira e tenho uma surpresa: o dinheiro estava lá, pelo menos quase todo, não sei. Perguntei à moça o que era aquilo. Então ela me disse que uma senhora Maria de Lourdes tinha achado a carteira na rodoviária, mas tinha adoecido e só tinha podido entregar hoje.

Tudo bem. Eu fiquei sem saber se xingava a mulher ou agradecia: afinal, já tinha tirado outra carteira de identidade e cancelado cartões e bloqueado cheques. A essa altura, a volta da carteira não faria mais diferença nenhuma, além de uma certa tranqüilidade.

À noite a tal senhora me ligou. Sotaque sulista. Disse que não tinha podido entregar antes porque tinha adoecido, e viajado, e voltado a Aracaju só para me entregar a carteira. E aí a pulga pulou na minha orelha. Agradeci, e quando ela percebeu que não haveria recompensa ainda teve tempo de dizer um “certo”meio incrédulo com a minha ingratidão antes que eu desligasse.

O vacilo com a carteira não demorou 30 segundos. Ela sumiu assim, rapidinho, do balcão da lanchonete. Ninguém viu. Procurei em volta e fui no balcão de informações, que abriu o sistema de som e perguntou quem tinha achado uma carteira. Nada. Passei meia hora procurando a carteira, para ver se tinham tirado o dinheiro e jogado ali por perto. Nada. E agora aparece essa mulher com uma conversa estranha dessas.

Não sei qual o esquema, nem sequer se há algum, mesmo. Mas me pareceu estranho. Muito.

De qualquer forma, ainda que ela tenha sido bem intencionada, eu não daria recompensa nenhuma. Primeiro porque o proejuízo que tive com isso foi muito grande. Se ela achou a carteira, deveria ter levado ao balcão de informações, ou ao setor de achados e perdidos. Para não ter nos visto, nem ouvido que estávamos procurando uma carteira, ela teria que ter pego a danada e corrido. Não é o comportamento mais honesto do mundo. Além disso, ali dentro tinha duas passagens para dali a 15 minutos; ela deveria ter percebido que o dono estava ali ainda.

E finalmente é mais fácil eu acreditar em disco voador que em alguém que viaja para me devolver 20 reais e cartões e talões de cheques que certamente sabia cancelados.

Acho que estou ficando cético demais.

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