Em 1981 um sujeito foi até a agência onde meu pai trabalhava.
Era ilustrador e tinha uns 50 anos. Havia trazido algumas peças, e tinha carinho especial por um jornal ilustrado, ou algo parecido, que estava tentando lançar e cuja boneca trazia consigo. Talvez trouxesse outras coisas de que não me lembro. Eu dormia às 8 da noite, e já tinha dormido em algum canto quando ele chegou. Acordei umas duas horas depois.
Eu tinha 10 anos, e naquela noite aprendi muitas coisas. Uma de suas histórias era sobre um pracinha brasileiro que, na Itália da II Guerra, sofria de “paúra” — foi quando li a palavra pela primeira vez. A capa do seu jornal trazia um alferes Joaquim José da Silva Xavier jovem, bonito, barbeado. Ele explicou que a iconografia tradicional de Tiradentes era uma mistificação, que por ser alferes Tiradentes seria necessariamente enforcado com a barba feita, em respeito à honra e hierarquia militares. Sua barba, seus cabelos longos eram apenas a tentativa da história oficial de aproximá-lo de Cristo e criar um herói nacional de caráter semi-divino e inspirador.
Pelo que consigo lembrar dele, o sujeito era um grande desenhista, de traço acadêmico, mas extremamente sólido. Pertencia a uma geração em que o respeito à anatomia e ao desenho, ao detalhe, eram fundamentais; uma época em que artistas primeiro aprendiam a técnica para só então se aventurarem a quebrá-la. Os que conseguiam transcender se tornavam estrelas; os que não conseguiam se restringiam à batalha cotidiana.
Mais tarde foram comer algo num restaurante que ficava no térreo do edifício Sulacap, na praça Castro Alves. Àquela hora, madrugada avançada, eu estava em um novo mundo. E sempre aprendendo: ele falaria que tatu transmite lepra, coisa de que jamais esqueci.
Depois daquela noite eu nunca mais veria o sujeito. Ele não conseguiu os freelances que queria, e eu só não esqueceria dele porque, afinal, tinha aprendido muito naquelas poucas horas.
10 anos depois, a Playboy trazia Ísis de Oliveira na capa e, no miolo, uma matéria revelando a identidade de Carlos Zéfiro. Era um funcionário público e co-autor de alguns sambas, como “A Flor e o Espinho”, chamado Alcides Caminha.
Junto com o furo de reportagem ela trazia outra, desta vez não tão interessante: um baiano tinha tentado aplicar um golpe na revista se dizendo passar por Carlos Zéfiro. Mas a revista foi avisada a tempo e revelou a fraude que tinham tentado lhe aplicar. O engraçado é que o sujeito tinha um traço infinitamente melhor que Carlos Zéfiro. Mas, infelizmente — embora tenha provavelmente desenhado algumas histórias pornográficas –, não era Zéfiro.
E minha mãe, ao ver o nome do sujeito, comentou comigo: “Você lembra dele, Rafael? Ele foi uma vez na agência, atrás do seu pai.”
Rafael,
Tentei achar teu e-mail mas nada aconteceu.
Só para avisar que o carreirasolomudou de url, ok?
Atualiza ae!!!!!
rafa querido, boa historia do quase zefiro… mas eu preciso tirar uma duvida cruel, de cunho ecológico: porque os rapazes alegres, homossexuaisou simplesmente gays, evam tambem a alcunha de viados? ou veados? o q o garboso bichinho tem a ver com a etmologia( ou deveria dizer ecologia) do apelido? me esclareça please!!!
Rafael,
Certa vez comprei um livro com uma coletânea do Carlos Zéfiro e presenteei uma tia. Ela agradeceu e foi “ler” o livro com o namorado. Voltou sem. Me arrependo até hoje de não ter comprado uma cópia para mim, mas minha tia não se arrependeu de ter dado pro namorado.
🙂
Ciao.
vista http://www.carloszefiro.com e goza.