Durante muito tempo achei que a canção mais revolucionária da tal swinging London era Satisfaction. A principal razão era a letra:
When I’m driving in my car
And a man comes on the radio
He’s tellin’ me more and more
About some useless information
Supposed to fire my imagination
(…)
When I’m watching my TV
And a man comes on and tells me
How white my shirts could be
But he can’t be a man ‘cos he doesn’t smoke
The same cigarettes as me
(…)
When I’m riding ’round the world
And I’m doing this and I’m signing that
And I’m trying to meet some girl
Tells me “Baby better come back maybe next week,
‘Cos you see I’m on a losin’ streak”
É praticamente um sumário da revolução de costumes dos anos 60, mais forte na Inglaterra que em qualquer outro lugar. Gosto mais dela que de My Generation, por ser menos óbvia, mais irônica. Mais que o conflito de gerações expressa da maneira mais explícita possível na música do Who, Satisfaction trata demonstra esse conflito incidentalmente, enquanto mostra o que realmente incomodava aquele pessoal: a incapacidade de aceitar os valores impostos pela geração anterior e aquela desgraçada que se recusa a dar porque está menstruada. I can’t get no girly action.
Acho que por isso demorei a entender que revolucionária, mesmo, era Please Please Me, dos Beatles.
Não é a letra que importa em Please Please Me. Ela é só uma brincadeira disfarçada sobre sexo oral — please please me, like I please you, da maneira domesticada como os Beatles sempre falaram as coisas. Havia um comedimento natural na forma como eles se expressavam que impedia que suas letras, grosso modo, tivessem a ressonância de um Bob Dylan, por exemplo.
O que há de revolucionário na canção é o ambiente sonoro que ela cria. Toda a música pop inglesa deriva de Please Please Me, nesse aspecto. E nisso até mesmo Satisfaction, agressiva, franca, deve muito a ela. Ali, os Beatles inauguraram a música que, depois de tomar de assalto os Estados Unidos, definiria os caminhos do pop de todo o mundo. A música popular não seria mais a mesma, e não pode haver revolução maior que essa.
Satisfaction, se ainda é uma das melhores canções da história do rock, é menos a deflagadora de uma revolução musical do que a crônica, acurada e brilhante, de uma situação já consolidada. O que não é pouco, nem de longe.
E isso leva a uma conclusão tão óbvia que quase me envergonho de assumir que demorei a tirar: não eram as letras. Era a música.
please please é puramente sobre sexo oral – os beatles não podem ser vistos como ingênuos, já que se fizeram músicos tocando na zona de hamburgo.
já satisfaction é uma grande canção, um bom riff, mas alguns anos atrasada em termos de perversão.