Meus verdes anos III

Para o Allan:

Nunca pensei nisso, mas acho que o segredo para sobreviver é só fazer o professor rir uma ou duas vezes, e tirar boas notas. Acho que era por isso que eu me controlava nas aulas de matemática.

(Encontrei um antigo professor de matemática no aeroporto este ano. Ele estava com uns amigos e eu disse que ele tinha me posto para fora da sala uma vez — foi o único professor de matemática a conseguir essa façanha. Ele disse que eu devia ter aprontado alguma, mas perguntou: “Mas eu era bom professor, né?”. Respondi: “Porra nenhuma, eu não sei polinômios até hoje”. Os amigos dele gargalharam. E mais uma vingança foi tirada do freezer. O pior é que foi injusta, porque ele era um excelente professor: tanto que anos depois montou um bom colégio.)

No caso da Rosa Virgínia ela não entendeu o espírito da coisa e resolveu sacanear: me deixou em recuperação por faltas, mesmo com minha média sendo boa. Fez por sacanagem, porque independente da sua média, em recuperação por faltas você tinha que tirar 8 na prova. Tirei 10.

Acho também que um mínimo de dignidade ajuda. Por exemplo, uma vez emprestei um isqueiro para um colega acender um daqueles “barbantes cheirosos”. Ele era incompetente e foi pego. Além de incompetente era um sujeito sem honra e me dedurou. Passei uma hora diante da coordenadora de disciplina, ela tentando me fazer dizer quem tinha me dado o isqueiro.

Eu não disse. Já estava ferrado, mesmo, aí aproveitei para dar uma de durão. Eu não iria me tornar um dedo-duro. Ela tentou todos os argumentos possíveis, e aquilo acabou se tornando uma discussão sobre filosofia e ética.

De qualquer forma, dizer que eu tinha pego escondido de minha mãe não ia ajudar em nada. Ia parar por ali e pronto. E eu não ficaria com a fama de sujeito de princípios firmes.

Aquele alcagüete hoje é advogado. Aposto que é do tipo que faz tudo por dinheiro.

3 thoughts on “Meus verdes anos III

  1. Taí, eu fazia rir aos professores. Apesar de sentar no fundo da sala com a turma da bagunça, eu também tirava boas notas. Menos em matemática e física.
    Conheço um dedo-duro que também virou um advogado, mas como todos os que não possuem dignidade, tornou-se um medíocre advogado.
    Ciao.

  2. Acho que muitos dos meus professores sequer souberam , algum dia, que era aluno deles. No colegial, matava todas as aulas que podia, ficava jogando truco com os amigos num bar das redondezas ou indo paquerar as meninas dos outros colégios. Aulas? Assistia apenas às de história e geografia, com prazer. Às demais, faltava ou dormia no fundo. Mesmo assim, nunca fiz feio, nas provas. Para que não pense que sou um incompetente, juro que fui um bom e assíduo aluno, durante a faculdade. Criei juízo a tempo! Ufa. :c)

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