“Mãe, é isso que eu faço”

O presidente da Vésper diz que “a empresa passou a imagem errada”.

Bidu.

Ainda lembro da campanha de lançamento da Vésper, em 98 ou 99. Imagens belíssimas de formiguinhas trabalhando, o grandioso espetáculo da natureza saído diretamente de um documentário de Walt Disney. E no final, um sujeito dizia emocionado: “Mãe, é isso que eu faço”.

Equivalia a dizer: “Mãe, eu sou um vagabundo e não faço droga nenhuma; sou fiscal da natureza”.

O comercial, criado pela W/Brasil, era muito bonito, muito gracinha, mas absolutamente equivocado. Não dizia absolutamente nada. Não informava absolutamente nada. Quem via o comercial continuava sem saber que a Vésper era uma empresa de telefonia. Aquele comercial era um presente para a beleza em nossas redes de TV, mas um desserviço à empresa que pagou a conta.

Ao contrário de outras empresas de telefonia leiloadas naquela época, a Vésper nascia do nada. Tinha que construir toda a sua infra-estrutura. Se a Telerj, por exemplo, colocasse sua marca nesse comercial faria mais sentido: seria um bom institucional, embora ainda assim talvez pouco pertinente, porque a hora era de redefinição de mercado e início de uma era mais complicada para as empresas.

Isso quer dizer que a Vésper, que já começava o jogo em desvantagem, jogou para o alto a chance de se posicionar. Alguém, naquele momento, resolveu que era o momento de ser criativo demais e bonito. Mas criatividade fora de lugar é a coisa mais prejudicial que se pode imaginar, é a sua antítese. Naquele momento, a propaganda da Vésper deveria ser simples, direta, informativa e, se possível, indicar quaisquer vantagens que pudesse ter sobre as outras teles. Se para isso fosse necessário um comunicado grosseiro, daqueles com lettering subindo tela da TV acima, que assim fosse.

A primeira idéia da Vésper foi tentar empurrar umas linhas vagabundas para as classes mais baixas, achando que porque o sujeito é pobre vai se contentar com um serviço abaixo do aceitável. Não deu certo. Depois se tornou uma espécie de mistura de telefonia fixa com móvel; e essa foi uma boa idéia, mas algo deu errado e agora eles estão entrando no mercado de satélites.

Pode dar certo, pode não dar. Mas nada vai tirar da minha cabeça que as coisas mostraram que dariam errado quando a Vésper colocou aquele comercial no ar.

 

6 thoughts on ““Mãe, é isso que eu faço”

  1. O mercado de teles é cruel porque leva vantagem quem chega – e “finca o pé”, ou seja, se posiciona – primeiro. A Intelig até agora está correndo atrás do “21”, e agora veio com esse apelo anódino do “saia da rotina, faça um 23”. A Vivo está se esfalfelando pra tentar nos convencer de que “CDMA é a tecnologia do futuro”. Chegar depois e se posicionar erroneamente, então, é um baita – e milionário – abacaxi, já que se trata de um setor que requer mídia cara e intensiva.

  2. eu fui pioneira dessas linhas vésper-pra-pobre, com um plano de “fale-à-vontade-por R$”, há uns 4 anos, que, surpreendentemente, funciona muito direitinho até hoje, inc. a assistência técnica! mas nos últimos 2 anos, a vésper vem fazendo de-um-tudo pra eu mudar de plano; até que recebi um telefonema no início do ano, avisando que o plano ia acabar! ora bolas, retruquei, e acenei com procons e etcs. Nada aconteceu até hoje; meu vésperzinho velho está aqui, funcionando direitinho como sempre, no mesmo plano em que foi adquirido.
    parabéns pelo blog. passo sempre por aqui.

  3. Infelizmente moramos em um pais que as leis foram feitas para não serem respeitadas.Somos lesados de todos os lados. A vesper simplemente roubou cinicamente a todos os consumidores que adiquiriram uma linha fale a vontade. Todas aquelas propagandas engana besta funcionou. E a ANATEL é conivente com tudo ,se diferente fosse tomaria providências cabiveis. Honraria o seu nome. Mas todos, todos são uns porcos que iludem, engamam falcratuam e continuam tudo como esta numa boa, não aconteceu nada UM PAIS DE MERDA.

    Niedja

  4. Alguém lembra qual era a música na voz da Maria Bethânia que serviu de trilha sonora para o comercial da formiguinha?

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