A Brigada Humphrey Bogart acaba de decidir, em assembléia democrática da qual só participou o seu presidente, o seu hino oficial.
O hino não poderia ter sido feito por outra pessoa que não Serge Gainsbourg. Ele morreu em 1991, depois de uma vida de devoção à música, ao escândalo, à bebida e a mulheres como Brigitte Bardot e Jane Birkin.
E, claro, aos Gitanes.
Foram os Gitanes que o mataram em um ataque cardíaco, aos 63 anos, tendo apenas um terço do fígado — embora isso tenha sido culpa do álcool, ao qual ele também se manteve fiel até o fim. Ainda mais que a birita, foram os Gitanes que fizeram parte indissociável da sua imagem de gênio que seria maldito, se não fosse tão popular.
Gainsbourg se torna um ídolo ainda maior quando lembramos que aqueles cigarros — aos quais ele se referia no feminino, como um amante consciencioso — são mata-ratos muito piores que Derby. Eu, que sempre fumei muito, fiquei um ano inteiro com um maço de Gitanes na gaveta.
Um dia, quando a Brigada Humphrey Bogart finalmente erigir sua estátua, vai imortalizá-lo montando uma loura sexy, cabelos longos à guisa de rédeas, ajoelhada com os dois braços levantados, porque Serge Gainsbourg foi um herói que morreu em batalha. A mão que segura os cabelos da loura segura também um Gitane, com aquele jeito francês que tenta traduzir em gestos o spleen baudelaireano; a outra erguerá bem alto uma garrafa, em celebração à boa vida. No pedestal, a letra brilhante de Je T’Aime, Moi Non Plus.
Por isso o nosso hino é uma canção de Gainsbourg cantada em dueto com Catherine Deneuve, e que eleva o tabaco e aquele alcalóide chamado nicotina a uma condição quase divina.
Dieu fumeur de havanes
Dieu est un fumeur de havanes
Je vois ses nuages gris
Je sais qu’il fûme même la nuit
Comme moi, ma chérieTu n’es qu’un fumeur de gitanes
Je vois tes volutes bleues
Me faire parfois venir les larmes aux yeux
Tu es mon maître après DieuDieu est un fumeur de havanes
C’est lui-même qui m’a dit
Que la fumée envoie au paradis
Je le sais, ma chérieTu n’es qu’un fumeur de gitanes
Sans elles tu es malheureux
Au clair de la lune ouvre tes yeux
Pour l’amour de DieuDieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi loin de lui
J’aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi, ma chérieTu n’es qu’un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond des mes yeux
Aime-moi, nom de DieuDieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi loin de lui
J’aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi, ma chérieTu n’es qu’un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond des mes yeux
Aime-moi, nom de Dieu
Q estátua, Rafa!!! Dá pra vê-la, de tão bem (d)escrita.
Beijão, lindinho!
Na condição de ex-fumante que, após cinco anos, ainda tem vontade de fumar, apoio integralmente a homenagem. A estátua, então, é perfeita!
Podem dizer o que quiser mas que é charmoso um cara fumando ah isso é…
Só por hoje! 😛
rendeu-se ao FRANCÊS, hein, bonitão?
:>)
Francês é chato.
Os franceses Gitanes mas tambêm o Gauloises são uma delícia. Fumei muito disso e adorava mas acho que contribuiram com minha decisão de parar de fumar. Tem que ter muita baixa auto-estima pra levar avante essa vida. Falar a verdade ultimamnte quero voltar com os estourapeitos.
Caro Rafael Galvão/ Esse texto é muito bom/ Mas uma coisa me intriga/ E penso que é de bom tom/ Você traduzir pra gente/ A letra dessa canção
O q seria de Pablo Picasso, Jean-Paul Sartre, Albert Camus sem Gauloises e Gitanes?
Montparnasse e Saint-Germain-des-Prés sem aqueles pretinhos ñ teriam sentido.
Só pra lembrar, Rafa: A fábrica da companhia de cigarros Altadis, em Lille, fechou. Agora só vão fabricar em Alicante, na Espanha.