O Hermenauta fez um post comentando uma tal lista de “pensamentos perigosos”. Lendo a lista, percebe-se que de perigosos os pensamentos não têm nada. Na verdade, pensamento não é perigoso, nenhum pensamento.
No caso da lista, a coisa é ainda mais complicada: algunsdos “pensamentos perigoso” são francamente imbecis e não resistem à simples comparação com a realidade.
Mas este blog também é meio imbecil, e aí vou eu, comentando a lista do tal Steven Pinker:
A média das mulheres tem um perfil de aptidões e emoções diferente do dos homens?
Eu diria que há um certo nível de diferença, sim. Mas muito menos do que as pseudo-feministas gostariam que houvesse.
Os eventos narrados na Bíblia eram fictícios — não apenas os milagres, mas aqueles envolvendo reis e impérios?
Quem pensa uma coisa dessas não sabe como contar uma boa mentira, não sabe misturar fatos e ficção para que tudo seja mais crível. Isso quer dizer que nenhum texto do Antigo Testamento poderia ter sucesso se não fosse fortememente baseado na realidade. No caso do NT isso é ainda mais claro: não se falava de coisas acontecidas há muito tempo num cu de mundo, mas de eventos ocorridos ali na esquina, há apenas algumas décadas. Obviamente, alguns fatos sofreram alterações, pequenas licenças poéticas. Por exemplo, um fato: Herodes foi o rei da Judéia. E a licença poética: Herodes mandou matar todas as criancinhas.
O estado do meio-ambiente melhorou nos últimos 50 anos?
Não.
A maior parte das vítimas de abuso sexual não sofre danos para o resto da vida?
Algo semelhante a essa tese já foi defendido brilhantemente pela Camille Paglia. Em um artigo chamado “Rape and Modern Sex War“, ela secundariamente dizendo algo análogo: estupro é algo que não pode ser tolerado em uma sociedade civilizada. Mas para uma vítima de estupro raramente é o fim do mundo, e ela segue sua vida. O mesmo vale para o abuso sexual. É torpe, desperta ganas de castração, mas continua sem ser o fim do mundo.
Os índios americanos se empenharam em genocídio e em esbulhar a paisagem?
Quanto aos índios gringos eu não sei; mas os brasileiros, com certeza. Basta ver o modo de vida dos ianomami, que precisam de grandes extensões de terra porque arrasam completamente os lugares onde vivem e têm que se mudar periodicamente.
Homens têm uma tendência inata ao estupro?
Diria que têm tendência inata a combinar seus genes com a maior variedade possível de outros conjuntos genéticos, como forma de preservação de seu DNA e de sobrevivência da espécie. Em bom português, um instinto danado pra sair comendo o que quer que use saia, o que em alguns casos pode incluir o Caetano Veloso. Em determinados momentos da história essa necessidade se manifestou de maneira fácil no estupro, porque se combinava sem muito controle social com outra tendência: a da agressão.
A taxa de crimes diminuiu nos anos 90 porque duas décadas antes mulheres pobres abortaram crianças que se inclinariam para a violência?
Improvável. Se fosse assim não haveria ricos ladrões.
Terroristas suicidas são bem educados, mentalmente saudáveis e guiados por um forte senso moral?
Sim, são. Sob o seu ponto de vista, e dentro de sua escala de valores, são homens superiores e heróis. São pessoas capazes de sacrificar suas vidas por um bem maior e coletivo.
A incidência do estupro diminuiria se a prostituição fosse legalizada?
Quem pergunta isso não sabe absolutamente nada sobre a vida. Nada. Porque a resposta é não, não diminuiria. Ninguém estupra porque não pode pegar uma prostituta. Estupro tem a ver com poder e força, não com dinheiro.
Afro-americanos têm níveis de testosterona, na média, mais altos que os dos brancos?
Eu não entendo de homens. Mas diria que eventuais diferenças sexuais têm mais a ver com o ambiente do que com níveis de testosterona. E isso deveria ser muito, muito simples de averiguar cientificamente. Só que a preguiça não deixa.
A moral é só um produto da evolução de nosso cérebros, nem nenhuma realidade inerente?
Uma das perguntas mais cretinas de todas. Em termos de estágio de evolução filosófica, está mais para Platão que para Kant. Alguém devia mandar esse sujeito ler Hegel.
A sociedade seria melhor se a heroína e a cocaína fossem legalizadas.
Não. Ela é melhor porque o álcool e o tabaco são legalizados? A idéia de que um traficante, ao ver as drogas legalizadas, vai procurar um emprego estável de salário mínimo é impressionamente tola.
Homossexualismo é sintoma de uma doença infecciosa?
Não. Mas homofobia é sintoma de outra doença, essa sim altamente infecciosa: imbecilidade.
Seria condizente com nossos princípios morais dar aos pais a opção de eutanizar recém-nascidos com defeitos que os condenariam a uma vida de dor e incapacidade?
O problema aí está no “nossos”. Esse é o tipo de pensamento estéril, que não leva a lugar nenhum. E extremamente covarde. Em vez de ficar se perguntando abstratamente em “nossos princípios morais”, que se lance o debate na sociedade.
Os pais exercem algum efeito no caráter ou na inteligência de seus filhos?
Ah, tá. Viadagem é doença, estupro é hereditário, pobre é ladrão ou assassino, filhos não herdam nada dos pais. Isso não é uma coletânea de pensamentos perigosos. É uma coletânea de pensamentos obtusos.
As religiões mataram uma maior proporção de pessoas que o nazismo?
Novamente, is não é questão de pensamento. É de dados concretos. Coisa de professor universitário preguiçoso: em vez de ir até a biblioteca e fuçar dados simples, fica deitado na cama pensando besteira.
Danos decorrentes do terrorismo seriam reduzidos se a polícia pudesse torturar suspeitos em circunstâncias especiais?
Ué, a polícia não tortura presos em circunstâncias especiais e não tão especiais? Cadê Jack Bauer?
A África teria mais chances de sair da pobreza se abrigasse mais indústrias poluidoras ou aceitasse o lixo nuclear europeu?
Não. Só iam ser miseráveis mais sujinhos e mais radiativos. O problema da África é mais embaixo.
A inteligência média das nações ocidentais está declinando porque pessoas mais burrinhas estão tendo mais filhos do que pessoas mais inteligentes?
Se for, a culpa é das mulheres, que andam escolhendo mais babacas. Enquanto isso os espertos ficam ali, assistindo a Star Wars, mantendo vivo o Cobol, comendo Cheetos, colecionando bonequinhos dos X-Men e rindo de piadas de engenheiros de sistemas. Ninguém disse que este mundo não é cruel. Nem que este questionário não é um reflexo cristalino das taras e recalques de quem pensa essas coisas.
Filhos não desejados estariam melhor se houvesse um mercado de adoção, com bebês indo para quem desse o lance mais alto?
Filhos não desejados estariam melhor se houvesse o direito ao aborto. Se bem que não tenho moral para falar desse assunto porque não dá para ser imparcial: eu certamente encalharia nesse mercado.
Vidas seriam salvas se instituíssimos um mercado livre de órgãos para transplante?
Dificilmente. Aliás, o problema dos transplantes raramente é a disponibilidade de órgãos, e sim a compatibilidade.
As pessoas deveriam ter o direito de clonar-se, ou incrementar as características genéticas de seus filhos?
E o mundo se tornaria uma daquelas distopias de ficção científica, com ricos física e mentalmente superiores e pobres sub-humanos. Tem gente que parece só ter uma coisa na mente: deixar o mundo um pouco pior. Além disso, o que o mundo faria com dois de mim? Quem merece isso?
É isso. Cada um pensa o que quer.
Esse post era para ser sério? Porque, honestamente, muitas das suas “respostas” são absurdamente simplórias e parecem demonstrar ter faltado entendimento sobre o que levou à criação da lista de perguntas.
pois é
eu por exemplo penso que o brasileiro é um tanto de ianomami
🙁
Rafael, entendo o post e ele é sério sim. O problema não está se o pensamento é perigoso ou não, ou se ele é moralmente bom ou mau. O problema é que dessas formulações são inexatas, ou tem a construção tola. Isso quando a pergunta não é tendenciosa. Veja o exemplo da “A maior parte das vítimas de abuso sexual não sofre danos para o resto da vida?” O conceito de “maior parte” vai desde, no mínimo, metade mais a menor unidade de contagem, até o inteiro. Pode ser 50,1% ou 90%, ou 99,9%. Ninguém define de que conjunto de pessoas se fala. Na mesma linha de usar conceitos soltos para confundir, “dano” é uma palavra bastante vaga. Não se fazem avaliações quantitativas de “dano”, e isso é o que a pergunta quer. Digamos que a gente defina a priori o que é “dano”, e saia a pesquisar de maneira correta. Depois de vinte anos, a gente descubre que os danos são mínimos e momentâneos. E daí? Isso faz da violência sexual um crime menor do que é?
A pergunta sobre o aborto está muito mal feita.
Ela se baseia em uma pesquisa científica muito séria, exaustiva, que demonstrou alterações sensíveis nos índices de criminalidade em cada estado norte-americano, uma geração após a liberação do aborto. Esse padrão se repetiu em cada estado, e o autor da pesquisa fez o possível para isolar os outros fatores, chegando à conclusão que é isso mesmo: menos filhos indesejados, menos criminalidade.
A pergunta é imbecil porque dá a entender que o problema é as mulheres serem pobres; não é. O problema é elas não desejarem os filhos e serem obrigadas a tê-los.
Eu imagino que filhos não desejados têm menos possibilidade de receber uma boa educação, atenção e carinho dos pais, e portanto mais chances de enveredar pela criminalidade.
Essa lista é apenas uma forma de empacotar várias idéias que se chocam com o senso comum, estejam elas corretas ou não; para o autor, aparentemente, só essa característica já é suficiente para validá-las.
Vc já pensou se naquela época houvesse internet? Fiquei imaginando Herodes mandando um e-mail para todos os cantos da Judéia. Jesus não teria tido chance. Tsc.
Galvão, estupro não é o fim do mundo? Pera lá! Claro que é. A pessoa toca a vida porque tem que tocar, né? Mas acho que vive assombrada pelas visões do acontecido. É o fim do mundo, sim. Quem faz isso tem que morrer e não nascer de novo.
eu fiquei aqui pensando num comentário decente quando lembrei da última frase do post.
são pensamentos obtusos, concordo. muitos pensamentos, muito obtusos 😉
e de fato a frase sobre a moral ser uma *evolução* dos nossos cérebros é de uma estupidez quase gostosa.
“E o mundo se tornaria uma daquelas distopias de ficção científica, com ricos física e mentalmente superiores e pobres sub-humanos.”
como se isso já não acontecesse. na áfrica crianças morrem com menos de um ano de idade, enquanto que na islândia alguém provavelmente vai morrer sem saber o que é uma doença mais grave que uma catapora. e olhe lá.
Muitissimo sensato seu comentário sobre comedores de cheetos colecionadores de X-Man.
Eu até poderia colaborar para um mundo melhor e dizer que, já que eu me casei com um ser desses ai e ainda por cima sou uma fêmea dessa espécie. Mas a gente é inteligente demais para achar que ter filhos sejam uma boa idéia. Deve ser por isso que quanto mais inteligente, menos sexualmente atraente para “a geral”, alguém fica.