Amazing comments

Comentário recebido por este blog durante o fim de semana, a um dos posts mais agradáveis da história deste blog, sobre a trégua de Natal da I Guerra Mundial. O (ou a) comentarista se diz chamar “não te entereça“:

oi meu querido profisional da inteligencia artificial….
digo que vc e um grade nerde que nao sabe bem o que quer da vida….
odeio pessoas que contam aquilo que poderia ter acontecido…
mais nao gostei nem um pouco das informaçoes que vc me deu…
pois ao inves de me tirar uma duvida colocou outra..
por isso meu caro colega….
digo-lhe que vc deveria estudar mais um pouco antes de vir escrever alguma coisa na internet….
seu burro iguinorante…
vê se vai ler um pouco mais…
seu retardado ….
seu idiota…
entre outras coisas que prefiro nem comentar….
bjinhos e desejo que vc estude um pouco mais …
para poder escrever igual a gente inteligente….
fica com Deus,pois o Diabo ta de ferias….

E depois disso, eu escrevo o quê? O resto é silêncio.

A diferença entre Walt Disney e Maurício de Sousa

Minha infância foi passada entre revistinhas em quadrinhos da Disney. As revistas de Maurício de Sousa já existiam, mas ainda não eram as mais vendidas nem estavam entre minhas preferidas. Eu sou de outro tempo, uma época em que as revistas Disney no Brasil traziam histórias de Carl Barks e de um grande italiano chamado Marco Rota.

De lá para cá, muita coisa mudou. O Estúdio Maurício de Sousa se consolidou como o maior do Brasil, e suas revistas (que passaram da Abril para a Globo e mais recentemente para a Panini) são campeãs de vendas. As revistas Disney decaem a cada dia, e estão longe de representar o portento que representaram nos anos 70 e começo dos 80. Pior, nos anos 80 e 90 protagonizaram uma crise criativa impressionante, protagonizada por histórias ruins dos estúdios italianos — que já tiveram grandes criadores, como o Rota citado acima —, enredos neuróticos que raramente conseguiam um final adequado.

Mas a coisa parece ter mudado. Uma nova geração — na qual se sobressai Don Rosa — deu fôlego novo aos quadrinhos Disney. E ajudou a lembrar uma diferença fundamental entre os quadrinhos Disney e os de Maurício de Sousa.

O universo dos quadrinhos Disney é infinitamente superior ao de Maurício.

Lendo uma história de Barks ou de Don Rosa (descoberta tardia que devo ao Ina), uma criança tem acesso a um universo muito mais amplo que aquele mostrado pelas historinhas de Maurício de Sousa. As histórias da Disney tendem a ser mais universais. O horizonte não está circunscrito à rua, ou mesmo ao seu país. Há um mundo inteiro lá fora.

Talvez isso se deva ao papel geopolítico desempenhado pelos Estados Unidos a partir da I Guerra, quem sabe, ou mesmo à própria concepção de quadrinhos americana, ou ainda à composição do público leitor. Seja qual for a razão, a diferença pode ser exemplificada em uma constatação simples: enquanto o Cebolinha sonha em ser o dono da rua, o Tio Patinhas sonha em ser dono do mundo.

Com a cidade de Patópolis, a Disney criou um universo próprio e relativamente complexo que reflete, ainda que de maneira necessariamente infantilizada e esquemática, uma cidade real, com toda a sua complexidade social. Enquanto isso, os quadrinhos de Maurício de Sousa são simples, limitados, quase alienados. Alguém sabe no que o pai do Cebolinha ou o da Mônica trabalham? As histórias de Maurício de Sousa têm a idade mental de seus personagens: seis anos.

São boas histórias, mas mal saem do quarteirão onde esses meninos moram. Projetam uma imagem onírica da infância, que parecem viver no limite entre o campo e a cidade. O universo oferecido por elas às crianças é restrito, limita-se em grande parte à exploração do que já é conhecido — as brigas para saber quem é o dono da rua, o gato bobo que apronta das suas, ecologia piegas e simplista nas histórias do Papa-Capim. No fim das contas, as histórias do Maurício de Sousa não ensinam nada de maneira consistente: apenas trabalham emoções fáceis de maneira simplória.

Isso não é necessariamente ruim. Algumas histórias da Turma da Mônica são brilhantes, e todas são agradáveis. São leitura segura para todos, e com o adicional da “brasilidade”, interessantes para todos. Como o Allan disse uma vez, são no mínimo “certinhas”.

Mas, enquanto isso, não posso esquecer que foi numa história do Zé Carioca que eu soube que existiu um navio chamado Lusitânia, torpedeado durante a I Guerra Mundial. Talvez tenha sido numa história dele, também, que eu soube que nos Andes existia uma ave chamada condor. E com certeza foi lendo as aventuras da Maga Patalójika que soube de um vulcão na Itália chamado Vesúvio. São inúmeras as palavras que vi pela primeira vez em alguma revista Disney. Dervixe, rúpia, sarraceno são apenas algumas delas.

As histórias de Maurício de Sousa trabalham com o conhecido de crianças pequenas, é essa a sua matéria prima. Mas as histórias da Disney apresentavam o novo, e dialogavam com o mundo exterior de uma forma que Maurício de Sousa prefere evitar. E essa diferença é fundamental. Nos quadrinhos Disney as aventuras se estendem pelo mundo inteiro; pelas savanas africanas, pelas selvas brasileiras, pelos desertos asiáticos. O mundo de Disney é infinitamente maior que o de Maurício de Sousa, mais colorido, mais diverso. É essa compreensão do mundo, essa idéia de que a aventura não está apenas no bairro e no universo limitado de crianças de seis anos, que faz das histórias da família Pato algo superior.

Que se danem Mattelart e Dorfman, autores de um livro que qualquer pessoa com juízo se deveria recusar a ler, chamado “Para Ler o Pato Donald”, uma espécie de denúncia do caráter imperialista dos quadrinhos Disney. Nunca li o livro, apenas folheei, e tenho certeza de que sua análise está correta. Mas é preciso ser um canalha para tentar destruir um universo tão bom.

Republicado em 27 de setembro de 2010