Uns anos atrás fiz este post dizendo que o House, aquele doutor do seriado, era entre outras coisas gay.
O resultado foi uma enxurrada de gente argumentando, reclamando ou simplesmente me xingando. Não, não, seu burro, House não é gay. O amor óbvio entre ele e Wilson é só amizade. Como pode alguém que eu admiro tanto ser gay? Não, Rafael, você entendeu tudo errado, você é um idiota que fica denegrindo as pessoas, viado é a mãe.
Em tantos anos de história deste blog juro que nunca vi tanta gente tão zelosa quanto às pregas dos outros. Pior: pregas fictícias.
Então o seriado acabou esta semana. Leio no jornal que, nele, House forja sua própria morte para poder passar os últimos meses de vida de um Wilson com câncer terminal ao seu lado.
Por isso retiro o que mais eu disse sobre House. Ele era um bom homem, no fim das contas, capaz de se sacrificar pela felicidade do seu grande amor. Não é todo mundo que é capaz de algo assim, de tamanho altruísmo. Só o amor verdadeiro é capaz de um gesto tão nobre, de se dar dessa forma.
E as pessoas que vieram aqui me contradizer e me xingar e negar a homossexualidade de House e o seu amor verdadeiro e feérico por Wilson deviam se envergonhar do que fizeram.
Há muito tempo não assisto a House, mas não acho que esse final seja necessariamente prova de homossexualismo.
A Literatura, irmã mais velha e respeitável da Televisão está cheia de amizades assim. Segundo a Bíblia, Davi amava Jônatas e a recíproca era verdadeira. ” E aconteceu que, assim que Davi acabou de falar ao rei Saul, a alma de Jônatas (filho de Saul) se ligou à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como à sua própria alma.” “Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa, e no segundo dia do mês não comeu; pois se magoava por causa de Davi, porque seu pai o tinha ultrajado.” “Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou muito mais.” Em Moby Dick, Ismael dividiu a cama com Queequeg, ficou desesperado quando pensou que ele estava morto e tratou dele quando ele ficou doente. Otelo, na peça de mesmo nome, decidiu matar a mulher porque Iago, “meu amigo, teu marido[de Emília, camareira de Desdêmona], honesto, honesto Iago”, andou colocando umas ideias estranhas na cabeça dele. E por aí vai.
Entretanto até aí tudo bem, a única coisa que eu achei injusta (é, eu estou defendendo o personagem de ficção) é atribuir a House pé-frio. O sujeito é pago para resolver os casos complicados (por isso, chegam a ele). Ou seja, causa e consequência estão invertidas no seu texo: ninguém fica muito doente por ver o doutor House, elas acabam vendo o doutor House, que só aceita ver o paciente depois que “seus lacaios” não conseguiram resolver o problema, porque estão muito doentes. Ele também atende casos rotineiros na clínica-e odeia-, mas ninguém que ver um seriado sobre a emocionante prescrição de AAS infantil.
Cara, e o Bob Sponja e o Patrick?
Num episódio, um presenteia o outro no Valentines Day. É gay?
Putz …
Quer saber, se foda.
Bob Sponja, o surtado, é bom que nem que dar com pau em doido.
De resto, não assisto House. De tudo que me interessei em termos de não-comédia, foram, somente CSI pré-Laurence Fishburne (nada contra o cara, mas a perda do mentor da série fez toda diferença, como não poderia deixar de ser), e, mais recentdmente, essa nova série, boa até certo ponto (às vezes, cai no pieguimos, mas tem uma trama muito boa), do J.J. Abrams, esse Persons of Interest.
Afora isso, The Bing Bang Theory, é booooooooa pacas.
Antes, somente o que a Globo nos trazia, e que já era, como Dallas, Casal 20 e Magnum (todas não-comédias).
House não é gay (não somente). É (também) ruim.