Uma das razões para eu esperar com certa ansiedade o novo disco dos Beatles, que deveria ser o Get Back original finalmente lançado, é que ele finalmente daria forma a uma teoria maluca que eu tinha.
Eu acreditava que as capas dos discos dos Beatles, mais que qualquer outro grupo, contavam visualmente a sua história, refletindo as transformações ao longo de sua carreira.
O primeiro disco, Please Please Me, mostra os garotos que finalmente conseguiram gravar um disco. Ainda frescos, estão orgulhosos de estar na escadaria da grande gravadora que os colocou sob contrato.
O segundo, With The Beatles, mostra as estrelas da música pop finalmente estabelecidas, já com certo glamour, com um estilo próprio perfeitamente definido.
A Hard Day’s Night mostra a consolidação definitiva, em que eles seguem os passos de Elvis e adentram a outra grande mídia da indústria cultural, o cinema, no ápice do primeiro grande fenômeno mundial da cultura de massas mundial, a beatlemania.
Em Beatles For Sale o que se vê são aqueles mesmos aqueles garotos, mas já cansados do furacão, uma sensação de que deram o que tinham que dar e que não querem mais isso. E no disco seguint,e Help!, eles finalmente pedem socorro, ainda que disfarçamente.
Rubber Soul mostra o início do rompimento com a imagem dos fab four. É um disco de transição e seus rostos distorcidos mostram que sua própria percepção da realidade mudou.
Em Revolver vem o rompimento definitivo com a beatlemania, mas em vez de ceder ao mainstream, o que se vê é uma psicodelia contida, típica da banda.
Em Sgt. Pepper’s a psicodelia explode de uma vez, e os Beatles se assumem como porta-vozes de uma geração que achava estar transformando o mundo.
O Magical Mystery Tour é uma brincadeira a que os grandes ídolos, blasés, se sentindo onipotentes, se permitem. É leve, descompromissado, e um reflexo da psicodelia da época.
O White Album mostra não apenas um retorno à simplicidade, na contramão da época, mas assim como o branco é a soma de todas as cores, reflete a variedade de estilos presentes no disco.
(Deixa eu pular o Yellow Submarine, que poderia ser descrito como a incursão definitiva ao imaginário da pop art mundial, mas que na realidade tem pouco a ver com os Beatles.)
Era aqui que viria o Get Back. A capa, uma cópia do Please Please Me 7 anos depois, mostrava que os Beatles estavam fechando o círculo, e que são e não são os mesmos de 1962.
Finalmente, o Abbey Road mostraria os Beatles indo embora do estúdio, dando por finalizada a sua tarefa. E Paul estava morto.
Mas aí a Apple resolve lançar o Let it Be… Naked. E estraga toda a minha teoria.
Uma ou outra eu gosto…