Numa livraria na Rua do Ouvidor, babando incontrolavelmente sobre “Retratos da Bahia”, de Pierre Verger (fãs de Cartier Bresson Sebastião Salgado, vocês precisam conhecer a beleza ensolarada de Verger).
Ele chega e discretamente pergunta se eu não sei de um lugar onde precisem de garçom. Não, não sei; é melhor procurar em restaurantes que eles podem te indicar.
Contato feito, agora é hora de desfiar a história. Ele é desenhista. Veio para o Rio trabalhar com uma arquiteta, mas algo deu errado e ele está na rua há 3 dias. Entrou em um restaurante e pediu um prato de comida em troca de trabalho, mas o dono do restaurante disse a ele que isso é coisa de cinema.
Ele é de Recife, diz. Pergunta se sou carioca; e ao saber que sou baiano diz que o povo do Rio é muito ruim, frio, não é, quase-conterrâneo?
Ele me mostra o verso de uma carteira de identidade para mostrar que é pernambucano. O nome que consta ali é Waldih.
Ele se lamenta da sorte, diz que é uma humilhação para alguém como ele, e então dou a ele tudo o que tenho na carteira: 3 reais e algumas moedas. E então ele vai embora, grato.
Provavelmente vai embora rindo por dentro, achando que enganou outro otário.
Conheço bem o sotaque pernambucano; é o único sotaque brasileiro que acho feio, com seus “tu visse”. E o sotaque do Waldih, decididamente, não era de Pernambuco. Era sotaque do sul do país, o que inclusive combina com seu tipo físico, italiano de olhos claros.
Por outro lado, não conheço malandro que não seja documentado. Trabalhadores podem se dar ao luxo de andar sem documentos, mas malandro sempre tem uma carteira de trabalho, uma carteira de identidade, uma receita de remédio para provar que está falando a verdade. O homem que dizia se chamar Waldih tomou o cuidado de não me mostrar a foto da carteira de identidade.
Mas a verdade é que a conversa e a verve do homem que se dizia chamar Waldih valia, e bem, os 3 reais que ganhou. Assim como “Retratos da Bahia” vale os 140 reais que custa.
Mas ele pelo menos tentou imitar o sotaque pernambucano para ganhar os três reais? Bom, gosto muito das fotografias do Cartier Bresson. E do sotaque pernambucano. As fotografias de Pierre Verger não conheço. Afinal, sou muito comodista. Já que a existência desse “Retratos da Bahia” caiu no meu colo através deste post, vou ali digitar “Pierre Verger” no Google.
Mas lá em pernambuco tem branco dos zôio azul, também, visse???
Não, confunda sotaque recifense com sotaque pernambucano.Nem todo o estado fala esse irritante visse que tbm odeio.
Oxe Rafael…Fala isso do sotaque dos pernambucanos nao..Tanto que eu gosto de vir aqui..Só falta conhecer teu rosto…