Alter, não lembro de ter falado que porque alguns médicos não prestam a medicina é ruim; não há falsa analogia aqui. É como dizer que, pelo fato de a maioria dos advogados ser desonesta, o Direito deve ser abolido. Ah, não.
Mas essa não é a questão principal. Pelo que pude entender, você considera a publicidade por não mostrar o lado ruim do produto anunciado. Acontece que essa não é sua função. E qualquer pessoa que leia um anúncio sabe disso. Se fosse, o nome não seria publicidade: seria jornalismo. E mesmo assim, jornalismo de um tipo cada vez mais raro: analítico, investigativo. Publicidade é outra coisa. Quanto a mostrar o lado bom da concorrência… Você acha justo — aliás, justo não, mentalmente são — pagar para elogiar a concorrência? Você faria isso? Aliás, alguém vai dizer que você é aético porque, ao cantar uma mulher, você omite alguns detalhes pouco lisonjeadores sobre você? Duvido.
Acho que essa questão sequer devia ser discutida, porque a liberdade de expressão e de concorrência são princípios básicos da Constituição.
Além disso, o que há de aético em um comercial que diz simplesmente “Conjunto estofado: X reais”? Isso é informação pura (e, geralmente, má propaganda no que diz respeito à criatividade); o que a caracteriza como publicidade é o fato de ser veiculado mediante pagamento. Isso, sim, é falsa analogia. Ou eu não tenho o direito de falar o que quero, e de usar um espaço que você me vende para isso?
A publicidade seria aética quando mentisse, dizendo que determinado produto tem qualidades que não tem. Isso é proibido por lei, e ainda que não fosse, qualquer publicitário sabe que fazer isso é praticamente declarar a morte do produto.
Mas é claro que há momentos em que se faz publicidade de produtos ruins. E por isso ela é aética? Não. Um advogado é aético por defender um criminoso? Um médico é aético por tentar salvar um latrocida ou um matricida? Nem de longe. É a sua função, está na base dos pilares da sociedade e que ele a desempenhe da maneira mais eficiente possível. No caso da propaganda, o máximo de que você pode acusá-la é de parcialidade — sendo que essa é a sua própria natureza. Quem deve ser imparcial é o jornalismo. Raramente o é, mas as pessoas preferem bater na publicidade.
É curioso que, se um médico se esforça ao máximo para salvar alguém que ele despreza, ele é considerado um herói. Mas se um publicitário tenta descobrir todo e qualquer ângulo positivo em um produto ele é aético. De novo: ah, não. Não vale definir um padrão para médicos e outro para publicitários.
Mas eu dei a entender que os CRM não são muito afeitos a padrões éticos, sim.
Veja só: o CONAR age imediatamente quando uma denúncia contra um anúncio ou comercial é feita. Quantos anúncios foram tirados do ar por ferirem a ética publicitária? Um exemplo são as brigas constantes entre Antarctica e Coca-Cola. Na verdade, o CONAR elaborou regras éticas rígidas para a publicidade antes mesmo da existência de lei a esse respeito. É isso que ele significa: Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária.
Enquanto isso, a regra dos CRM, em que pesem alguns exemplos contrários, não é essa, e você sabe disso. A expressão “máfia de branco” não nasceu à toa. Não é que todos os médicos sejam ruins; ninguém é louco de dizer isso. E ninguém com um mínimo de juízo vai crucificar um grupo apenas pela atitude de alguns. Mas quando se fala no CRM não se trata de médicos individualmente, e sim da entidade que teoricamente deveria fiscalizar a atividade. O fato de aparecer um ou outro médico condenado — e aqui eu não estou levando em consideração processos na justiça comum –, geralmente porque foi um caso que chegou à imprensa, não quer dizer que ele seja eficiente; não é verdade que a maioria dos casos termina em pizza? Amigos médicos me contam casos que seriam hilários, se não fossem praticamente criminosos; mas mesmo eles evitam se meter com o CRM. Ah, signore Bonasera, por que o signore não veio falar comigo antes? O signore desprezou a minha amizade…
Acho que o único aspecto da publicidade que mereceria algum debate sobre sua ética seria o marketing político, por ser mais delicado. Mas aí vale uma outra analogia, falsa ou verdadeira: se um médico salva a vida de um homem e ele sai do hospital para cometer os crimes mais hediondos possíveis, isso quer dizer que o médico é aético? Acho que não. Ele apenas cumpriu sua função social. Assim como um publicitário não pode responsabilizado se um candidato promete algo que não pretende cumprir; e assim como um eleitor não pode ser responsabilizado acreditar nessas promessas e votar nele.
E antes que eu esqueça: quero esse exemplo de morte decorrida em função de má propaganda.
(P.S.: Por curiosidade, aqui tem um artigo sobre ética e propaganda de remédios. E aqui um sobre propaganda e política.)
Ih, rapaz, antes que você realmente fique bravo e ache que a minha provocação (sempre provoco os amigos, não tem jeito) foi mal intencionada, acho bom eu ficar quieto! Temos um problema de paradigmas, aqui!!! A menos que queira que eu fale, aí eu falo tudo. ;c) Abração! Valdemar
Ué? Eu não tô com raiva. 😉 Manda. 😉
Estou sentada no camarote assistindo…Continuem por favor.
Ok, então! :c) Vou responder, mas no meu blog, até o fim de semana! Nessa semana estou sendo ameaçado de morte por optometristas, brigando contra a AMIL, consultando advogados do CRM e estudando para uma palestra que darei. Mas vamos continuar, então! :c)))