Ao panamá

Que voltem os chapéus.

Chapéus são necessários. Mas isso vai além da sua necessidade óbvia e mesquinha, a mera proteção contra o sol. Que não nos restrinjamos às obviedades, porque o que está em discussão aqui é algo mais que isso; é o que nos faz humanos, é a busca e a necessidade do supérfluo. Não é por serem úteis que chapéus são importantes. É por serem belos.

Ah, que se olhem as fotos de 50 anos atrás. Homens em ternos de linho muçulmanicamente branco, preces vivas a Oxalá e um desafio mudo ao calor dos trópicos, traziam nas cabeças seus chapéus, faziam deles extensões de sua personalidade, e em retribuição amorosa eles moldavam-se com tamanha perfeição ao seus donos que muitos deles não podem ser sequer concebidos com a cabeça descoberta.

Um chapéu deve ser visto como uma gravata; algo cuja única finalidade realmente importante é estética, é diferenciar um ser humano de outro. Não precisa de uma razão de ser, além da certeza de que, delicadamente pousado sobre uma cabeça, é um elemento que revela a superioridade humana sobre o resto da Criação.

Em vez disso, o que temos hoje? O boné. Arremedo mal ajambrado, primo pobre envergonhado de seu passado majestoso, medíocre em sua pala, emblema estúpido dos bebedores de cerveja sem cérebro. Ou ainda o único sobrevivente que mantém uma semelhança razoável com seus antepassados, o Stetson americano, que grita histericamente a um mundo exalando estrume que o seu portador é um vaqueiro.

Esses são bastardos, indignos de sua herança, porque sinalizam que seus donos fazem parte de uma tribo, qualquer tribo. São a negação do espírito do chapéu, porque apontam para o coletivo. O verdadeiro chapéu é símbolo da singularidade, da consciência tranqüila de que não interessa que sejam apenas um grão de areia no Cosmo — porque o que é realmente importante é que é um grão de areia único, seja qual for o seu tamanho. A importância de um dono de chapéu não está nos outros; está em si mesmo.

Que voltem os chapéus — os panamás a zombar do sol, os chapéus de feltro em cores discretas e circunspectas, até mesmo o chapéu coco inglês. As cabeças dos homens foram feitas para algo mais que apenas pensar.

3 thoughts on “Ao panamá

  1. Ah… num sei não. É bonito, mas… sei não. Ia ser mais uma coisa pra se esquecer nos lugares. O Chapéu.

  2. ps. O espação entre o post e assinatura parece que curou-se, né? Num tô dizendo? Funciona quando quer. hehehehe

  3. Pois eu acho que chapéus coco podem ser uniformizantes, assim como os panamás, assim como os chapéus de “cowboy”. E acho que, da mesma forma, bonés podem ser ridículos ou belos. Eu tenho uma predileção pelas boinas e gorros. Mas o assunto aqui é: acho que esteticamente tudo pode ser belo ou feio. O que muda o valor estético é o uso, a atitude e a forma como se trabalha com os elementos. Ou você acha que era original quem usava chapéu coco no início do século XX no Reino Unido, por exemplo? E, por falar em Reino Unido, se tem alguém que é original ao usar chapéus é a nada simpática Queen Bethie. E essa originalidade não tem relação nenhuma com beleza estética. Se é que beleza estética é conceito que se possa definir.

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