Pela primeira vez vi um filme da série Braddock, com Chuck Norris. Na adolescência corri dessas coisas como corria de mulher feia e cachorro grande, mas o tempo nos amolece.
É interessante. Pelo menos em filme, Norris ganha sozinho a guerra que os americanos perderam para um bando de mortos de fome, maus como uma legião de demônios (convenientemente esquecendo My Lai, claro).
O filme me trouxe boas lembranças. Aquela metade dos anos 80, pelo menos para mim, foi marcada em parte pelos filmes em que os americanos, escorraçados de Saigon, recorriam à fantasia para tirar a forra.
Eu pensava que era apenas um trauma antigo que se recusava a afundar no subconsciente. Só agora percebi, de verdade, como tudo aquilo era tão recente: entre a queda de Saigon, em 75, e “Rambo II” decorreram apenas 10 anos. E isso é muito pouco tempo. Na época, para mim, a Guerra do Vietnã era quase tão distante quanto a II Guerra Mundial. Para um país humilhado, certamente não era.
A ferida talvez tenha começado a cicatrizar depois do “sucesso” em Granada; os americanos voltaram a achar que poderiam ganhar uma guerra, como se tivessem ganho alguma depois de 1945.
Provavelmente esses filmes desempenharam um papel importante em fazer o povo americano voltar a achar que era imbatível, que ganhava todas. Fizeram com que o trauma submergisse diante da hipnose coletiva de que, afinal, eles poderiam ter vencido.
O resultado disso foi a invasão do Iraque. E não dá para deixar de lembrar do que Kaká disse em “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”: a história só se repete como farsa.