Sei lá por quê, mas lembrei de um colega de faculdade.
Era novembro de 1994. Tinha acabado de terminar uma campanha e voltado à universidade. Foi lá que encontrei um amigo, um grande câmera. Tiramos o fim da manhã e a tarde para beber e conversar. E então ele me chamou para ir ao restaurante de uma amiga.
Funcionava num lugar simples — aquele “simples” que a gente usa como eufemismo para pobre em dinheiro e pobre em horizontes –, restaurante e residência ao mesmo tempo.
Fiquei sabendo a história de sua vida. Abandonada pelo marido, teve que fazer das tripas coração para sustentar os filhos. Era uma história de luta e de esforço. O tipo de luta que mesmo o cínico mais empedernido tem que respeitar.
Quando ela ficou sabendo que eu fazia direito na Federal, ficou empolgada e orgulhosa. Seu filho mais velho também estudava direito lá. Era meu colega. Fiquei imaginando o seu esforço em dar a melhor educação possível ao filho.
Quando o encontrei de novo, comentei que tinha ido à casa dele e conhecido sua mãe.
E então ele ficou vermelho, se pôs na defensiva, se apressou em encerrar a conversa.
Sua mãe era uma heroína, e ele tinha vergonha dela e de sua pobreza.
Sobre isso, acho o seguinte: quando a gente é figura de classe média, às vezes não sabe o quanto ser um cara fodido no meio de universitários de vida mais tranqüila pode intimidar. Não estou desculpando o filho da dona do restaurante – e muito menos condenando. Só estou falando que é mais fácil pra gente digerir e louvar a batalha de uma mulher quando não é nossa mãe que a gente vê passar por aquela situação. Sabe-se lá o que passava pela cabeça desse filho dela, e sabe-se lá se todo mundo tem força pra se bancar e para ser nobre como seria bonito ser. Auto-estima não é fácil não. Às vezes as pessoas se escondem atrás de disfarces, finge pros outros que nossa vida é mais colorida do que é, e nem é por empáfia, mas por se estar justamente se sentindo intimidado.
Quanto ao tal “olhai os lírios do campo”, fico pensando: essa historinha é um calo no meu sapato. Fazem parecer que é muito fácil ser “lírio do campo”, mas não é não.
ERRATA fazem parecer: trocar por “faz parecer”. E onde escrevi: “Às vezes as pessoas se escondem atrás de disfarces, finge pros outros que nossa vida é mais colorida do que é, e nem é por empáfia, mas por se estar justamente se sentindo intimidado.” ——————– O certo é: “Às vezes as pessoas se escondem atrás de disfarces, fingem para os outros que suas vidas são mais coloridas do que são de fato, e nem é por empáfia, mas por estarem justamente se sentindo intimidadas.”
Triste qdo um filho nutre tal sentimento por um Pai ou uma mãe…
Ah, Paulo. Não estou falando que é o caso aqui, mas depende do pai, depende da mãe…
Digamos que tal pai e tal mãe sejam mesmo uma vergonha… Não deixará de ser triste…rs
Quanto ao livro “olhai os lírios do campo”, adorei a história e acho que isso se reflete muito nos dias de hoje. A vergonha dos pais, o interesse pelo dinheiro, a ganância, a pobreza, a injustiça, a nobreza, enfim, altos e baixos, acontecimentos que marcam e fazem história. Erico Verissimo surpreende a cada livro mais; seu estímulo, suas experiências, seu modo de ver a vida que retratou em muitos de seus livros. Prefiro deixar a parte possíveis críticas quanto a obra e, apenas confirmar meu excitamento quando à li.
esse cínico seria vc?