Ela era professora de criminologia e delegada.
Resolveu fazer um debate na sala sobre a pena de morte. Cada aluno deveria dizer qual a sua posição, e justificá-la.
A maioria, politicamente correta, éramos contra — imagino quantos de nós não mudamos de opinião, tantos anos passados. Alguns poucos eram a favor, e tentaram se justificar sob os olhares de censura dos colegas.
No final ela deu sua opinião e sua justificativa. Ela era contra a pena de morte porque não admitia que o Estado mobilizasse sua estrutura para matar friamente seus constituintes. Acrescentou que se alguém fizesse algo a sua filha ela o mataria, sem arrependimentos, mas não reconhecia esse direito ao Estado.
E então percebi como os argumentos das pessoas, quando definem suas posições políticas a partir da observação das posturas dos outros, como bons animais sociais, são falhos.
Tecnicamente ela era a favor da pena de morte; apenas arrogava a si o papel de júri, juiz e carrasco. Mais importante, no caso, era o detalhe de ela falhar em perceber uma coisa: o aparato estatal é mobilizado justamente para que não se cometa injustiças, em princípio. A pena de morte, pelo menos em teoria, é uma medida de proteção da sociedade. Não é vingança. Utiliza um processo lento e cheio de subterfúgios para que se evite matar um inocente, e nem sempre consegue.
A professora de criminologia e delegada estava nos ensinando a ser hipócritas e sequer percebia isso.
“Permite-se o erro aos homens, mas não ao Estado”.
:c) Mas concordo contigo. Aliás, a legislação é hipócrita, porque o legislador o é. Por exemplo, dizer que a cadeia tem finalidade sócio-educativa, ao invés de punitiva é, no mínimo, hilário. A FEBEM e aquele código para a infância e a adolescência nem merecem comentários.