A aula era de Política I. 8 da manhã. Seria a minha primeira aula, porque a disciplina era matutina e eu nunca, nunca estava acordado pela manhã. Além disso, já àquela altura eu só ia para a universidade para ficar atrás da meninas de psicologia e tentar fazer com que nossas subjetividades se encontrassem.
O professor, um historiador famoso em Sergipe, com seus 60 anos, estava falando sobre como Marx previa a extinção do direito na sociedade comunista.
Levantei a mão para sugerir que Marx não tinha previsto isso, porque ele não tinha sequer previsto como seria o Estado comunista; seria anti-dialético, já que uma sociedade comunista seria construída pelas contradições do socialismo (ou algo parecido; faz muito tempo que não toco num livro de Marx, e não pretendo voltar a tocar; a essa altura da vida eu só leio bula de remédio), ainda inexistentes na segunda metade do século XIX. Aliás, o marxismo tem relativamente poucos princípios fundamentais em relação à construção do socialismo.
Acho que o velho estava num dia ruim. Ele teve um ataque histérico. Ficava repetindo que “tinha aprendido Marx nos livros, e não em cartilhas de partidos”. O velho tremia, e não era Parkinson. De onde ele tirou a idéia àquela altura equivocada de que eu era militante de algum partido eu não faço idéia; provavelmente deve ter achado que apenas militantes discutiam Marx.
Normalmente eu gostava de discussões. Mas nesse dia fiquei tão assustado que resolvi me calar e esperar o ataque do velho amainar. Me parecia que, do jeito que estava, o velho só teria duas alternativas: se levantar e correr para cima de mim, para tentar me dar uma porrada, ou ter um ataque cardíaco e cair ali, durinho.
Nas duas hipóteses eu ficaria numa situação delicada. Aquela foi minha última aula de Política I, e abandoná-la não foi difícil: como dizia um amigo, se você me mostrar um “cientista político” eu te mostro um picareta.
E não seria eu a matar um velho do coração. Ele tinha mais de 30 e isso não se faz.
Ah esses professores… alguém deve merecer…
adorei a história
beijos!
pow, rafa! você tinha que NÃO CONFIAR no cara em DOBRO – o cara tinha era mais de 60!!!
E quem disse que so aparece gente normal?? hahahaa Eu tive que dar uma editada ne? Até pedofilia com os próprios filhos estavam buscando.. eu sofro muuuuuuuuuuuito.. rs Beijos!!!
Meninas da Psicologia.. como diria Lacan, o significante se desloca 🙂
Qdo temos argumentos sólidos,não “trememos”.